Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 18
A Távola dos Seis




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Eu sinceramente gostaria que o cocheiro fosse um pouco mais talentoso. Não consigo exatamente me segurar agora, visto que, bem, não consigo usar nenhum dos braços direito. Cortesia do falecido Oswald Cross. Agora isso. No meio da crise que é o desaparecimento de Vincent Grinn, uma convocação da Távola. Alguém precisa dar um jeito na cadeia de comando de Baronesa, eu só não esperava ser convocada para a eleição.

— Chegamos, senhorita! São quarenta rainhas e vinte príncipes - mas que praga. Vir até esse fim de mundo e pagar essa fortuna. Tem gente que trabalha pra conseguir 20 rainhas por mês. Dei as moedas, com muita dificuldade, e saí da carruagem. Ainda tive que ser ajudada. Uma vergonha, evidentemente. Um homem qualquer abriu os portões do castelo que, ao ser adentrado, mostrava-se sobrenaturalmente vazio. Apenas alguns criados mostrando as direções. É a primeira vez que eu sou convocada para a Távola. Não posso dizer que estou animada ou que me sinto honrada. É apenas natural que eu tenha sido convocada. A morte de Oswald apenas acelerou o processo. Um dos criados abre a porta para a reunião da Távola. 

É uma visão… interessante. A de Delula DeWrigg. Eu sinceramente achei que a Bruxa Imortal era só uma lenda. Ver essa coisa velha recostada numa cadeira de rodas olhando pra mim com esse olho verde estranho é desconcertante. De qualquer forma, mesmo nunca tendo a visto, eu poderia reconhecer a aura de uma bruxa, ainda mais uma tão lendária quanto Delula, era algo muito, muito fácil. Ela gargalhou de um jeito estridente e arranhado, dizendo:

— É essa aí que veio substituir o Cross? - ela deu a mesma gargalhada mais uma vez - Ela não é muito crua ainda não? - ela parou de falar, mas não parou de olhar pra mim. Saindo das sombras, a representante dos assassinos surgiu com o sabre apontado para o meu rosto.

— Eu devia te matar agora mesmo, sua vadia. Onde está o meu filho? - Carmela Grinn. Alguém que eu não esperava ver aqui. Realmente, como eu explicaria?

— O falecido Oswald Cross o levou, Carmela - é, é sempre mais fácil do que parece. Não desviei os olhos do sabre dela. Excelente trabalho mágico. Se essa espada me acertasse, eu teria problemas. Parece que alguém continuou o trabalho de matador de magos de Drake Grinn. 

— O falecido Oswald Cross, é? - essa velha não para de rir, provavelmente. Aquele olho verde parecia brilhar, mais ainda agora - Me diga como foi isso, diga. - e fechou a cara, interessada. Isso sim, foi surpreendente.

— Eu enfrentei Oswald Cross no Teatro de Baronesa, bruxa - Carmela baixou o sabre, graças ao Rei, que fez uma mesura para que ela se acalmasse. O próprio Rei era uma figura que eu nunca tinha visto. Seus cabelos curtos e castanhos caíam da coroa e seus olhos estavam fortemente fechados. Suas roupas eram simples, apenas um terno escuro - Dei o meu melhor para evitar ataques aos visitantes, mas eu já estava debilitada de um embate contra os capangas dele - mostrei meu braço esquerdo - e acabei sendo superada. Logo depois, Vincent Grinn assumiu a luta, causando uma ferida mortal no mago. Mesmo assim, Cross continuou atacando. Era a Sombra - percebi que Delula mudou o semblante, apenas por um instante, ao ouvir sobre a Sombra. Ela sabia algo - que o estava controlando. Vincent me mandou ir embora, e eu sei que, depois disso, a Sombra apareceu ainda mais forte. Ela parecia estar controlando Vincent no final. Eu disse que Oswald o levou, mas na verdade, foi Vincent que levou o corpo de Oswald embora. Eu apenas sei que foi a Sombra que arquitetou tudo isso.

— Então você foi a única que viu a tal Sombra, estou certo? - o Paladino coçava a barba loira dele. Era uma acusação?

— Acredito que Vincent Grinn a tenha visto também, Ujalen. Se você conseguir contatá-lo, eu ficaria feliz - eu ri, irritada. Se eu tivesse matado Vincent Grinn, eu estaria dando uma festa para afundar as mágoas e, de preferência, bem longe desse lugar. Estaria chorando em alguma praia ao sul, tenho certeza - É por isso que estou aqui? Para responder sobre a morte de Oswald Cross e o sumiço de Vincent Grinn? Isso é sério mesmo? - o Feiticeiro Mudo desviou o olhar.

— Bem, Oswald Cross denunciou uma invasão numa das festas que ele organizou. Agora você é a última pessoa vista com ele e alega que ele está morto. É suspeito, não concorda? - como eu gostaria de matar esse paladino, agora mesmo. Tudo bem, talvez matá-lo não fosse a coisa certa a se fazer, mas se ele precisasse de mim pra salvar a vida dele, eu deixaria que ele caísse de um penhasco.

— E não, Abigail, você foi trazida aqui porque eu reconheço os teus feitos. Você, entre todos aqui, foi quem chegou mais perto do Estilhaço de Mentira, que apenas Delula, entre todos aqui, parece ter tido prova concreta da existência - o Rei, ao dizer isso, abriu bem de leve os olhos, fazendo com que toda a luz do lugar se concentrasse ali. O brilho dourado que saía dali me fazia lembrar do sol, em pequena escala. Rei Brocizen guiava sua visão para a bruxa Delula, deixando que o brilho de sua íris focasse no assento das bruxas e no assento ao lado esquerdo, o dos extintos druidas. Ninguém aqui esqueceu que foram as bruxas as responsáveis pela queda deles - O filho de Carmela disse alguma coisa antes do dito sequestro? - Brocizen fechou os olhos e a luz voltou ao lugar. Eu adoraria saber que arte paladina é essa. Acho que teria que me deitar com ele para descobrir. Trabalho demais. O Rei não é exatamente o meu tipo.

— Sim, Vossa Majestade. Disse-me para me encontrar com Lawrence, um de seus guarda-costas, e… como era? Tinha algo que eu teria que resolver por ele, mas eu não sei o que era

— Com o Lawrence? Por que ele? - os lábios de Carmela tremiam. Ela estava realmente preocupada com o filho dela. Tocante. Quase me faz querer chorar. 

— Eu também não sei, Carmela. Não tive tempo para procurá-lo, para ser honesta. Estava me recuperando.

— Então o curso de ação é óbvio, não é mesmo? Procure Lawrence, ele deve ter alguma pista do paradeiro de Grinn e, com isso, poderemos esclarecer o caso de Oswald Cross. No momento, achar Vincent Grinn é nossa prioridade. - disse Ujalen, coçando a barba novamente. Acho que é só isso que paladinos fazem. 

— Sim, sim, certamente, Ujalen - a bruxa respondeu - Eu mandaria alguém para o caso, mas estou sem pessoal no momento. Estou tendo alguns problemas internos - Delula anotou alguma coisa.

— Então, meus amigos, quem será o responsável pela busca? - essa pergunta do Rei me dava um péssimo pressentimento. Eu já sei quem eles vão indicar.

— Eu vou. Eu preciso achá-lo. Preciso achar meu filho - Carmela claramente não estava em condições de coordenar essa busca. O Feiticeiro Mudo encarou-a cheio de dúvida. Não poderia dizer que alguém a encarava de forma diferente. Se existisse um druida, ele daria o mesmo olhar.

— Eu diria que a maga é quem está mais perto de descobrir qualquer coisa - a bruxa disse, sem rir pela primeira vez. O Rei concordou com a cabeça. O Feiticeiro Mudo também. É, parece que eu ganhei um emprego novo.

— Tudo bem, já entendi. Eu vou cuidar do que Vincent me pediu pra cuidar. E descobrir o paradeiro dele - as palavras pesavam na minha garganta. Isso não seria nada fácil.

— E descubra também sobre essa tal Sombra, minha querida. Assim que eu puder, lhe mandarei assistência - ela voltou a rir entre as palavras. Delula é a pessoa menos confiável da qual eu já ouvi falar. Pelo menos, vou descobrir que ligação é essa que ela tem com a tal Sombra.

— Estão dispensados, Távola - O Rei abriu os olhos apenas por um segundo, trazendo de volta aquela escuridão dourada. Todos nos levantamos(exceto, é claro, Delula) e nos dirigimos à saída. O Paladino me ajudou a subir na carruagem que me levaria de volta para casa. Amanhã de manhã, eu me encontraria com Lawrence e veria o que ele tem pra mim. A volta para casa foi muito mais rápida que a ida ao castelo, não sei se por impressão ou pela diferença na qualidade do cocheiro. Consegui descer sozinha e usei a mão direita para pagar a viagem cara demais. Desfiz a barreira que esconde meu endereço e entrei em casa. Só vou resolver tudo isso depois dessa merecida noite de sono.


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