Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 17
Morrer é a Parte Fácil


Notas iniciais do capítulo

SoL está de volta com a segunda temporada!



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Levantar foi a parte complicada. Sabe, acho que já perdi as contas de quantas vezes já me vi nesta mesma situação. Bom, pelo menos assim, vou poder procurar quieta. A organização já suspeitava de Oswald Cross há alguns anos, mas essa foi a primeira vez que uma bruxa chegou tão perto. Talvez seja a primeira vez que alguém chegou tão perto. As portas nesse mundo intermediário estão confusas aqui na mansão. Tudo bem, só uma terça-feira comum. Ali. Aquele homem está perdido. O filho da puta que me atravessou com aquela espada. Bem, um deles. 

— Queeeee lugaaaaaar éeee eeeeesse? - fazia tempo que eu não conversava com um deles. Essa voz arrastada só me irrita, mas fazer o quê? Não é como se eu estivesse ocupada com alguma coisa no momento.

— A mesma mansão, meu amor. O problema é que você morreu - ninguém nunca gosta dessa revelação.

— Quêeeeeeeeee? - Ah é, o primeiro grito. As paredes ondulantes desse mundo tremem, como se gemessem com ele. O outro filho da puta roubou minhas manoplas. A falta de respeito com os mortos… Como eu vou resolver essa merda agora? Que nem a porra da primeira bruxa, mas que merda. O lamuriante veio pra cima que nem um acéfalo. Bem, não é como se ele tivesse um cérebro no momento. Desviei como se eu estivesse dançando e ele bateu na parede como um boi desgovernado. Deu pra sentir a vibração em todo o espaço. Enquanto ele se balançava pra recobrar os sentidos, eu me aproximei e o mordi no pescoço, sugando a essência dele, talvez o suficiente para poder voltar pro meu corpo, só falta achar. Mais gemidos no corredor, que parecia maior agora. Ah, como eu odeio esse plano. Os lamuriantes me viram e começaram a rastejar na minha direção. Quantos primeiros gritos será que eu vou ter que ouvir nessa pós-vida?

Quando os outros quatro lamuriantes me alcançaram, eu achei que estaria acabada. Não tinha essência pra combater todos eles e voltar pro meu corpo, e estou velha demais pra encarar outro recomeço. Provavelmente eu pediria as contas e dormiria. Ah, pensando assim, parece até uma boa ideia. Tudo estaria perfeito, se não fosse por aquilo. Primeiro eu percebi que tinha algo muito errado quanto os lamuriantes saíram correndo na direção oposta. Sabe, quando essas coisas veem qualquer entidade com essência que não seja um lamuriante, eles se ocupam em transformá-la. A presença das bruxas nesse plano é basicamente uma declaração de guerra. Mas então, o que eles estavam fazendo agora? É claro, foi só olhar pra trás. Que clichê, o autor da minha vida deveria estar envergonhado. 

O plano dos mortos estava distorcido, misturado com o plano dos vivos. Aquela coisa vinha na minha direção(que nem absolutamente tudo desde que esta missão começou), mas não estava exatamente me notando. Era Oswald Cross, que eu me surpreendo de lembrar o nome, já que, no momento, não consigo lembrar do meu. Ele carregava aquele homem loiro, o que eu acho que me beijou. Rapaz legal, ele. Até, claro, tramar a minha morte. Eu vou tratar de me vingar apropriadamente. Mas não foi a presença de Oswald que espantou os lamuriantes, não. Foi aquela sombra. Não me entenda errado, a sombra era de Cross. Estava grudadinha aos pés dele e acompanhava cada movimento, mas ainda assim, a coisa tinha uma consciência própria, uma vontade que fazia com que o plano dos mortos recuasse. Abri a porta que estava do meu lado. Apenas um corredor infinito, e Cross estava lá também, afastando a dimensão. Ele vinha na minha direção com a calma de um caçador e eu tinha a certeza de que ele não estava me vendo. Preciso achar o meu corpo. Merda, que tipo de magia essa sombra é? Não é coisa de mago, eles são proibidos de mexer com as dimensões. Já estava correndo pelos corredores sem nem perceber. Se eu estivesse viva, já estaria sem fôlego. Nenhum encantamento de nenhum feiticeiro no mundo falharia em me perceber aqui se estivesse me procurando, forças vitais são a coisa deles. Não importava pra onde eu corresse, Oswald Cross estava se aproximando e eu nem sei o que aconteceria comigo se ele me forçasse pra fora da dimensão dos mortos assim. Eu renasceria novamente? Minha essência sumiria? Nenhuma das opções presta. Um druida? Não, eles estão extintos. Paladinos são santos demais pra brincar com os mortos, assassinos não fazem magia. Merda, achei meu corpo. É pra onde Oswald Cross está indo. Ele ficou alguns segundos parado diante dele, calado.

— Tem o cheiro da Delula - mas a voz não era a de Oswald. Quem falava era a sombra - Mas uma boneca dela não morreria aqui sem objetivo. O que significa… - o mago virou-se na minha direção, fazendo a sombra se afastar. Ufa - Que você está por aqui, não é? Meu bem, eu não vou queimar o seu corpo, pro caso de você ser uma bruxa. Mas avise à mentirosa da Delula que… - Cross pegou algo do bolso do terno. A mera presença revelada do objeto fez vários cortes no plano. Merda - Quando eu terminar o trabalho que eu tenho a fazer com esse garoto, eu mesmo irei atrás dela. E não importa pra onde ela reviver, eu irei caçá-la e queimá-la quantas vezes forem necessárias. Porque eu finalmente consegui meu cavalo pra assassinar a rainha e - ele deu um passo à frente, na minha direção. Pra quem não sabia se estava ou não falando sozinho, ele estava muito preciso. E expositivo. E arrogante. Matar Delula? Isso é impossível. Oswald segurou o objeto até sua mão sangrar e a força liberada em seu corpo fez suas veias ficarem escuras. O mago começou a tossir sangue, mas sua sombra ficava mais escura que o preto. Ele cortou o ar à sua frente e deu um passo pra dentro do plano dos mortos. Eu prendi o fôlego e segurei o grito, mesmo sem cordas vocais pra gritar de verdade - ele já tem a arma para o serviço.– e sumiu, com sombra e tudo. Eu corri sem pensar duas vezes pro calor do meu corpo. Senti minha essência acordar cada fibra, músculo, osso e qualquer outra coisa que eu tenha. Chequei as novas cicatrizes de morte. Mais quatro pra maldita coleção. Mas enquanto minha real visão se recobrava, com elas voltavam minhas reais memórias. Morrer é a parte fácil.

Eu sou uma bruxa, do clã das bruxas. Sirvo à primeira bruxa, Delula DeWrigg. Esta é a minha décima-oitava vida. Me levanto e estalo as juntas, que ainda não haviam ficado rígidas. Fugir de algum lugar com rigor mortis nunca é uma boa ideia. Eu sou Elena Hartwill, e devo matar Milark Antoniete.


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