Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 12
Irreversível




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— Foi um mago quem te feriu, não foi? - ele estendeu os braços, convidativo, como se quisesse tomar uma facada. As veias em meu rosto estavam saltando. Quem esse homem pensa que é?

— Saint, eu não vim até aqui pra te matar.

— Mas veio pra sacrificar a vida de tantos que necessitam dele… Você entende, não é? - a mana se concentrou ao redor dele - Pelo poder da Magia, pelo poder deste templo santo, pelo Manto do Anfitrião, que nenhum mal caia sobre mim esta noite! - a mana ficou muito mais pesada. O lugar era dele agora, como o manto sugeria. Isso não será fácil.

— Lawrence, Rodge, entrem! - o som das pesadas portas sendo chutadas já foi como música e, quando olhei para trás e vi Lawrence, portando a espada, fiquei mais tranquilo, mas…

— Vincent, onde está o Rodge? - ele ficou ao meu lado, encarando o clérigo. Um rosnado cresceu em minha garganta.

— Puta merda, Rodge! Não se passaram nem cinco minutos! Que merda você tá fazendo?

Enquanto eu reclamava, as portas, ali atrás, começaram a se reerguer. Comecei a notar o poder do padre permear toda a extensão das duas fileiras de bancos sujos da igreja. O lugar era, em todas as definições, dele.

— Perdoem-me, meus filhos. Para que eu possa dedicar minhas atenções aos dois, não poderei permitir outras interrupções.

 

Lawrence partiu pra cima, mas o padre o bloqueou com o cajado. Não era um lutador, mas bloquear espadas assassinas é instintivo. Os dois continuaram a se bater(ou eu deveria dizer que Lawrence não parava de investir, enquanto o padre se defende pela própria vida), quebrando o altar inteiro. Lustres, vasos e outros utensílios que não fui capaz de identificar encontravam seus fins no chão, estilhaçados. Eu me aproximava lentamente. O clérigo já não era capaz de me notar. Como eu tiraria o Manto dele sem matá-lo? Lawrence pressionou Oliver contra uma porta e o padre fez o máximo possível para afastá-lo. O homem não era capaz de superar meu guarda-costas, mas pelo menos ele era determinado.

— Dê-nos logo de uma vez o manto, velho - e Oliver Saint não esperava o soco que Lawrence deu nele. Eu também não esperava. O homem gemeu no chão e se levantou, extremamente sem equilíbrio. O sangue escorria de sua boca e, se eu fosse contar, o número de dentes dele já não era mais o mesmo. Ele se apoiou na porta.

— Não o darei a vocês! Não os deixarei passar daqui! Nenhum mal cairá sobre mim esta noite! - o homem bateu com o cajado no chão, nos jogando para longe. Caí de mau jeito nos bancos, derrubando um deles e sentindo bastante dor nas costelas. Você devia ver como o banco ficou, ele levou a pior. Enquanto eu me retorcia de dor, vi Lawrence, que caiu no meio da igreja, entre os bancos, levantar-se, balançar a cabeça, erguer a espada e correr pra Oliver Saint de novo.

— Você fará de tudo para proteger seu mestre, não é? - o homem estava inteiro de novo, como se nada tivesse acontecido. Os artefatos de Crown são realmente ridículos. Lawrence não respondeu, mas sua determinação falou por ele - Então entende como eu me sinto! Vou proteger o que é importante, jovem! Por isso… - suas mãos começaram a brilhar - Não deixarei que logrem êxito em vossas missões!

 

Só na quinta vez consegui me levantar. Oliver Saint já ofegava e Lawrence já estava cansado de ser arremessado pra lá e pra cá. O poder do clérigo não era pra ferir, agora eu compreendo. Sua intenção não é atacar, mas proteger. Não sei o que está escondido atrás dela, mas ele não pode abrir mão. Só que Cross está esperando. Meu coração bate mais forte só de pensar em colocar as mãos no Manto. É o que Cross quer que eu deseje. O Não-Me-Note não está mais funcionando, pois o padre olha bem no fundo dos meus olhos.

— Por favor, deixe-me ajudá-lo, só não…

— Você não entende, né!? Você é fraco, Oliver Saint! Nunca terá o que é necessário pra desfazer o que Oswald Cross fez comigo! A única coisa que eu posso fazer agora é…

— Vamos, Vincent. Você já sabe o que temos que fazer - disse Lawrence, ao meu lado mais uma vez.

Enquanto Lawrence media forças com Oliver, eu me aproximei. O padre me olhou mais uma vez nos olhos e eu ergui a adaga.

— Eu vou ajudá-lo, Vincent - e eu cortei o pescoço dele com a Corta-Relâmpago.

 

O sangue espirrou em Lawrence, incrédulo. O que… o que tinha acontecido? O homem ajoelhou e caiu no chão. Isso não era uma ilusão. Eu não sei como reagir. Lawrence está parado, me olhando, sem saber o que fazer também. Olhei para a porta. O que o padre estava querendo proteger. Eu não queria matá-lo. Por que ele fez isso? Não queria ter que chegar a esse ponto. Por quê? Abri a porta, tentando evitar a poça de sangue, sem muito sucesso. Uma escada, dando para baixo. Lawrence pretendia me seguir, mas sinalizei para que não o fizesse. Já fizemos o que tínhamos que fazer. Desci o lance de escadas com a imagem do clérigo dizendo que me ajudaria e, logo depois, caindo morto no chão. Eu não gosto de ter que matar pessoas, apenas entendo que isso é necessário. Sim, eu sei o que está pensando. Está se lembrando de Elena, não é? O que você queria!? Era melhor me deixar morrer lá e deixá-la fugir no meu lugar? Bom, não era isso o que eu queria. Eu não sou um herói. Não me arriscaria cegamente por chances tão pequenas. Tudo bem, Oswald Cross me pegou de qualquer jeito. Talvez, se eu tivesse morrido no lugar dela, ninguém estaria nessa situação. Oliver Saint estaria vivo. Se Abigail não tivesse nocauteado todo mundo no bar e me sequestrado, eu nem saberia sobre Cross e aquela sombra não estaria me atormentando. Eu não quero mais ser um peão nesse jogo de magos.

Olho para a Corta-Relâmpago e penso que deveria dar um fim à tudo isso, agora mesmo. Mas quando a aproximo do meu pescoço, não consigo continuar. Cross está me privando até disso. Tudo o que eu posso fazer é continuar por esse corredor iluminado por tochas velhas. Eu não quero mais ser um escravo. Um homem inocente não precisava morrer hoje. Caminho até a última porta, ignorando as outras, pois essa é mais bem cuidada. É como se estivesse me chamando. Abro-a lentamente. Ajoelho-me. Existem coisas que valem a sua vida. Essa aqui precisa de uma vida para manter-se protegida. Era por isso que Oliver Saint não podia morrer, mas também não podia desistir do milagre. Pois seu pequeno filho, magro e doente, estava deitado, ofegante, olhando para a porta. Não segurei as lágrimas. O clérigo não podia morrer, pois tinha uma missão a cumprir. Eu a interrompi. Eu condenei essa criança. Perdoe-me, Oliver Saint. Perdoe-me.


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