Shard of Lies escrita por XIII


Capítulo 11
Sombra e Fé




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— Ali, ali! Aquela é uma réplica da lâmina do Shadowkill! - Lawrence realmente estava animado. Shadowkill foi um assassino da época de Crown e, pelo o que o meu avô já muito velho diz, era rival do próprio.

— E você conhece os feitos do homem? - um funcionário do museu surgiu do inferno. Lawrence ficou distraído com ele, coisa de gente inteligente. Falaram algo sobre corpos de vítimas sempre sumirem das cenas, mas isso não é interessante o suficiente. Eu não sei mesmo como descrever museus, pois não é de meu gosto pessoal. Tem muita coisa aqui que poderia render sua própria história, até mesmo como a tal lâmina do Shadowkill. Me perguntei o porquê de uma lâmina dele estar num museu dedicado ao Mago Crown. A história da rivalidade deve ser verdade, então. Esse lugar só tem réplicas, infelizmente. Bem, se ele tivesse artefatos originais, teria que ser uma fortaleza, então é razoável. Caminhando, deparei-me com um artefato interessante. Era um orbe maciço e mesmo a sua réplica puxava a minha atenção. O Coração do Mago, era o nome que a placa indicava. “Com o auxílio da Mente, o Coração é capaz de abrir todos os caminhos”. Parecia uma charada, uma bem óbvia, na verdade. O Coração do Mago deveria ser usado com o Grimório da Mente. Crown não era bom com charadas.

— Há quanto tempo está aí? - Mas era óbvio que eu não obteria resposta. Sombras não respondem. A cartola que ficou nos meus pesadelos por semanas - Hein, Cross?

A sombra aproximou-se de mim, lentamente. Inacreditavelmente, passos puderam ser ouvidos, como se dentro da minha mente. Mais passos, mais próximo. A sombra foi cobrindo as imagens de Crown do corredor. Todo símbolo, todo quadro foi sendo obscurecido enquanto a sombra chegava mais perto. Saquei a Corta-Relâmpago, encarando a aproximação escura. Senti a vibração no rosto, como alguém ao pé da minha orelha.

— Você está errado - falando à minha mente, mas como se fosse ao meu ouvido. Sumiu imediatamente, me deixando sem ar. Esquecer de respirar é uma merda. Eu estou errado? Como assim? E quem é você pra me falar sobre estar errado, Cross?

— Encontrou alguma coisa importante, Lawrence? - perguntei, levemente irritado.

— Ah sim, claro. O Manto do Anfitrião foi doado a um clérigo há um ano. Ele prega num dos templos aqui da cidade - arregalei os olhos. Eu jurava que este seria tempo perdido - Ser gentil paga bem, Vincent - sussurrou, apontando para o funcionário com quem estava conversando. Sorri. Gentileza paga bem.

Passamos no bar para avisar a Rodge que teríamos que visitar… a igreja. Eu tenho certeza de que ele recusou-se a compreender, mas tudo bem. Bêbado do jeito que estava, não seria de qualquer ajuda.

— Oqui cês vão fazê na ingreja? - como acreditar que esse homem foi quem controlou a mente de dezenas há alguns dias?

—  Você tem certeza de que quer falar disso aqui? - Lawrence estava certo, mas pude detectar certa inimizade entre ele e Rodge. Talvez ele não goste de pessoas com pernas aleijadas.

— Oqui tem dimais nissu? - ele balançava a caneca na nossa direção. O quão longe da própria mente ele estava?

— Esteja sóbrio à noite, Rodge. Precisarei de você - e assim demos as costas a Rodge. Como um manco como ele se move bêbado?

 

— A Magia, meus irmãos, é movida por diversas emoções humanas, mas nenhum meio une mais os seres humanos que a fé. A fé une seus corações num único sentido, buscando o mesmo objetivo! Juntos, irmãos, podemos realizar milagres! Venham, tragam o homem para cá!

O clérigo falava alto, cobrindo todo o templo com a sua voz. Ao redor do corpo dele, inconfundivelmente, o Manto do Anfitrião. Levaram um homem cego a ele. Ele repousou a mão no rosto do homem e ergueu o cajado. Senti a mana do lugar se concentrar ao redor dele. Fé. Nunca tinha visto a mana se comportar desta forma. Todas aquelas pessoas, unidas com um único objetivo. A mana se concentrou no cajado e correu pelos corpos dos dois no altar. Depois de alguns segundos, o homem ajoelhado pôs-se a chorar. Todos entenderam o que havia acontecido. Magia, de um jeito novo. Normalmente, em histórias como essa, o padre teria algum podre ou seria um excelente alvo para adagas perdidas. Lhe afirmo que este homem era apenas um bom homem com uma importante missão. Ele fixou seus olhos em mim. Lawrence se inquietou, mas sinalizei para que não fizesse nada. O clérigo andou na minha direção, com olhos preocupados e um sorriso no rosto.

— O que lhe aflige, meu jovem? - me assustei. O que esse homem tem?

— Infelizmente, nada que o senhor possa corrigir, com todo o respeito - abaixei o rosto ao falar com ele, mostrando o respeito que eu realmente tinha.

— Estamos num lugar de milagres, rapaz! Tem certeza que eu não posso fazer nada por ti? - Caso não tenha percebido, ele ignorou os efeitos do Não-Me-Note. Ele também não pode ser subestimado - Nem mesmo ajudar-lhe com essa turbulência que machuca a sua mente?

— Essa turbulência foi causada por problemas grandes demais, senhor. Desculpe-me por interromper a sua cerimônia. Devo me despedir agora. Como se chama? - estendi a mão. A atenção exagerada, vinda de todos os presentes, já estava me espetando.

— Sou Oliver Saint, meu rapaz. Pode me procurar na hora que quiser, estarei aqui para ajudar-lhe - assenti com a cabeça e fui embora. É uma pena, mas este homem vai ter que perder o artefato. Uma pena mesmo

 

Esperei até a meia-noite, reunindo Lawrence e um semi-sóbrio Rodge. Estarei procurando-lhe, padre, mas não para o que o senhor desejaria. Rodge se dirigiu para uma entrada lateral, afinal, não é como se ele fosse um corredor. Lawrence vai esperar um sinal meu, mas a principal ocupação dele é impedir que o clérigo fuja. A função de Rodge é criar a trilha sonora certa para que eu vença. Não que eu espere muito do padre, mas é bom ser precavido. Entrei pela janela, garantindo a vantagem do Não-Me-Note. O padre estava trocando velas no altar e não pareceu ter notado a minha presença. Me aproximei lentamente, o máximo que pude. Quando ele me percebeu, eu já estava bem próximo.

— Sabe, jovem, eu o vi assim que chegou à cidade. Vi que sua mente estava turbulenta, guiada. O que houve? Para o quê precisa da minha ajuda?

— Senhor, eu… O senhor não poderá me ajudar, não hoje, provavelmente nunca. Você sabe o que eu vim buscar.

— Mas isso eu não posso entregá-lo - ele se aproximou, apoiando-se com o cajado - Você sabe, mesmo que esse lugar tenha um prefeito, é a mim que procuram quando estão necessitados. Imagino que precise muito, mas ceder-lhe o Manto do Anfitrião é dar as costas a todos eles. É um poder do qual eu não posso abrir mão, compreende? Existem milagres que só podem ser realizados com o poder de Crown.

Suspirei. Saquei as minhas duas adagas. Uma, a Corta-Relâmpago, a outra, apenas uma peça afiada de metal. O padre recuou dois passos, assustado.

— Que o senhor me perdoe, então.


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