Ampulheta escrita por hina dono


Capítulo 7
Jogo de Poder




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— Por que eles não falam? - perguntou a menina de cabelos brancos. 

 Sentada no chão da ala sudoeste do castelo de seu pai, Lorde Sesshoumaru, a pequena Yuki brincava com os filhotes recém-nascidos da cachorra de estimação de um dos empregados.

Apesar de legítima, sua pergunta divertiu Danai - uma das soldados enviadas por Kuryuu para proteger o castelo de seu Lorde. Porém, ao responder à criança, não havia sinal algum de diversão em seu rosto. 

 - Por que eles haveriam de falar? 

— Bem, eu falo e também sou um cão. Ou um youkai-cão...? - Fez uma expressão de dúvida.

Realmente, ela era uma criança adorável. E olha que Danai nunca foi particularmente afeiçoada ao tipo dela! Quase dava para esquecer que a Princesa Herdeira do trono do Oeste era uma hanyou.

Quase. 

 - São apenas cães comuns, princesa. Não compare-se a eles, por favor - respondeu. 

— Mas... 

 - Yuki! 

Ao ouvir a voz de seu pai, a menina rapidamente levantou-se do chão. De pé, ela aparentava ter bem mais que seus poucos cinco anos de idade. 

 - Chichiue - falou docemente, tentando escapar de uma reprimenda. Diferente da mãe, seu pai era bem mais severo com relação aos seus modos de portar-se. 

 - Pensei ter dito que essa ala está fora dos limites para você. O que faz aqui? - perguntou.

Como o esperado, Danai foi totalmente ignorada pelo Lorde. Honestamente, preferia assim. Poucas coisas neste vasto mundo causavam arrepios de medo nela - aquele Dai-Youkai estava na lista. 

 - Sabe o que é, Chichiue? - disse Yuki, dando as costas ao pai por um momento, para pegar um dos filhotes no colo. - Olhe! - Ergueu o cãozinho preto com orgulho. - Não é lindo? Eles nasceram faz três dias e o senhor Jaken disse que iria me trazer aqui para vê-los, mas não trouxe! - acusou o velho youkai, emburrada. Porém, logo voltou a sorrir, prosseguindo: - Então eu vim sozinha! 

 - Jaken está ocupado. E é exatamente por isso que você não deveria estar aqui e sim onde ele possa observá-la. Tenha consideração! 

Cabisbaixa, a garota parou de sorrir e murmurou um "sinto muito". Seu pai vinha agindo estranho desde que todas aquelas pessoas passaram a morar no castelo, meses antes.

 Ignorando a expressão tristonha da filha, Sesshoumaru virou-se e começou a percorrer o caminho de volta à ala sudeste - onde sua família passava a maior parte do tempo - do castelo. 

 - Venha - ordenou.

Após devolver o filhote para a mãe e despedir-se respeitosamente da soldado, Yuki seguiu o pai. 

 Foi somente depois de ambos terem sumido completamente de suas vistas que Danai permitiu-se respirar. Uma longa e profunda inspiração, seguido de um demorado expirar. Como aquela pequena criança conseguiu ter uma conversa normal com o pai - e ainda dar as costas a ele! - era um mistério para ela. Talvez fosse o costume? O fato é que aquele Dai-Youkai emanava tal pressão que durante os poucos minutos que esteve em sua presença, quis fugir, colocando o máximo possível de distância entre eles. 

— Como o esperado do Lorde do Oeste... - sussurrou, amaldiçoando-se internamente por este descuido em seguida.

Deveria guardar para si mesma qualquer opinião que viesse a ter sobre Lorde Sesshoumaru, pois as paredes daquele lugar tinham uma boa audição.

 *** 

— Yuki-chan! - Rin iluminou-se assim que avistou a filha, andando três passos atrás do pai, no corredor do pátio central. - Como são os filhotes? Fofinhos? - perguntou, indo em direção aos dois.

 - Hum, são lindos - respondeu simplesmente. - Hahaue, eu vou falar com o senhor Jaken, nos vemos depois. Com licença. - Fez uma mesura para os pais antes de retirar-se. 

 - O que foi isso? 

 Ainda que tivesse aulas de etiqueta duas horas por dia, todos os dias, Yuki nunca antes havia colocado seu aprendizado em prática.

 - Você sabia que ela estava lá? - Sesshoumaru questionou. 

 - Sim. Ela pediu minha permissão e eu dei. Fiz mal? 

 - Rin... - O tom de voz dele deixava óbvio que estava contrariado.

 - Sesshoumaru-sama, sei exatamente o que vai dizer.

E ela realmente sabia. Seu esposo nunca escondeu a insatisfação que sentia por ela e a filha gostarem de interagir com os servos. Alguns preconceitos estavam enraizados demais para serem facilmente esquecidos por ele.

Suspirando, continuou:

— Yuki pode estar crescendo rápido fisicamente, mas ainda é uma criança. É natural que queira outra companhia além de nós dois. E já que você não permite que ela brinque com os filhos dos empregados, o mínimo que pode fazer é deixá-la brincar com os cachorros deles! - Sorriu, tentando aliviar o clima. 

Sesshoumaru olhou-a fixamente por alguns instantes. Porém, se ia dizer algo perdeu a oportunidade, pois naquele exato momento um grito de dor roubou a atenção de ambos. Vinha do outro lado dos portões do castelo. 

 - Fique aqui - disse Sesshoumaru.

Rin, é claro, não deu ouvidos a ele. Era a Lady daquele lugar e tinha o direito de saber o que perturbava a paz de seu lar.  

Suspirando pela teimosia de sua rainha, Sesshoumaru seguiu em frente, abrindo os portões com um simples empurrar.

A cena com que deparou-se era, no mínimo, inusitada: as soldados que ele escolheu pessoalmente em Kuryuu, cercavam um grupo de três pessoas - todos humanos - apontando suas lanças e espadas para eles. Um dos humanos tinha sangue manchando sua face, proveniente do corte em sua testa. O mesmo sangue também encontrava-se no cabo da espada de uma das guardas.

 Então foi daí que o grito de dor veio. 

 Contudo, antes que pudesse exigir uma explicação para aquela situação, Rin, tomando as dores dos de sua espécie, adiantou-se e perguntou: 

 - O que está acontecendo aqui? 

Ela estava furiosa, mas não  exaltou-se. Muito pelo contrário: sua voz soou calma, uniforme, imponente. Rin dirigiu-se aos seus súditos com a confiança de quem sabia estar no poder. Mais do que nunca, Sesshoumaru orgulhou-se de tê-la como companheira.

Querendo ver mais disso, decidiu deixá-la conduzir a conversa. 

 - Vossa Majestade.

 A líder daquele esquadrão curvou-se levemente, como forma de respeito. As outras somente menearam a cabeça. Era claro como o dia que não a levavam a sério. Para youkais completos, uma humana - ainda que casada com seu líder - não possuía autoridade alguma sobre eles. O único que aquelas pessoas respeitavam - e um respeito advindo do medo - era Sesshoumaru. Exatamente por saber disso que Rin deu um passo à frente, e, com o gelo de uma terrível tempestade de neve em sua voz, repetiu sua pergunta: 

 - O que está acontecendo aqui? 

Notando a mudança no tom de voz dela, a youkai olhou para Sesshoumaru por um instante. Certamente perguntava-se o porquê dele não controlar seu animalzinho de estimação. No entanto, foi inteligente o bastante para limitar-se a responder: 

 - Estas... pessoas tentaram invadir o castelo, mas é claro que não permitiríamos. Fique tranquila, Vossa Majestade está segura. 

 - Isso é verdade? - Rin indagou, olhando diretamente para os humanos jogados no chão. Fingiu não ouvir os murmúrios de indignação soltos pelas youkais por terem sua palavra questionada.

 Eles hesitaram, mas ao ouvirem um curto "respondam" dela, um deles - a mulher com um ferimento na testa - gritou:

 - N-Não tentamos invadir!

 - Criatura mentirosa! - Irritada, uma das youkais levantou sua espada para atacar a mulher, o que ocasionou gritos desesperados dos três. 

 - Chega! - Sesshoumaru pronunciou-se pela primeira vez. A espada, assim como as vozes dos humanos, pararam imediatamente. - Deixe que falem. Eu decidirei o que é ou não verdade. 

 - O que estão esperando?! Respondam! - A líder ordenou. 

 - O s-senhor... O senhor é o Lorde do Oeste, Sesshoumaru-sama? - Um homem de meia idade perguntou.

 - Sim. 

 Entre suspiros de alívio e lágrimas de dor, o homem pôs-se a contar sua história:

 - S-Somos de Nagoya. Viajamos de lá até aqui para contar... pedir... - O homem soluçou, e a jovem mulher abraçou-o em forma de consolo. Seriam pai e filha? - A a-aldeia, nossa aldeia, foi a-atacada... por youkais. 

 - Por que vir de tão longe somente por isso? - Sesshoumaru questionou.

 - Sesshoumaru-sama! - Rin não conseguia acreditar nas palavras do esposo. Quanta insensibilidade!

 - Nós vinhemos, Majestade - o outro homem, um rapaz que devia ter a idade dela, começou a falar -, porque nossa aldeia não foi a única atacada. 

Sesshoumaru não gostou dos contornos que aquela pintura ia ganhando conforme ouvia a história deles. 

 - Explique-se. 

 - Os youkais não atacaram apenas nossa aldeia. Nagoya inteira caiu. 

 Uma cidade inteira destruída por um ataque de youkais? Isso atraiu sua atenção. O fato de que Nagoya sempre foi predominantemente ocupada por humanos? Isso deixou-o imediatamente alerta. Porém, o que o fez ter certeza  de que a hora de agir finalmente chegara, foi lembrar-se onde exatamente Nagoya estava localizada: na fronteira de seu território com o Leste.

 E o primeiro a perder um peão naquele jogo de poder tinha sido Sesshoumaru.  

***

Norio 

 Este Sesshoumaru deseja ter uma audiência com você. Não vejo necessidade em reportar o assunto através desta - creio que já está a par de todos os acontecimentos. 

Sesshoumaru, Lorde do Oeste


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Notas finais do capítulo

capítulo bem curtinho, mas me digam o que estão achando :)



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