Ampulheta escrita por hina dono


Capítulo 6
Rihan do Leste


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo só sobre o vilão da história? É isso mesmo produção? Vou confessar que me deu vontade de escrever uma fanfic inteira só sobre o Rihan e sua turminha ai ai kkkk
Boa leitura :)



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Falta: 1 ano

 Rihan,

 Foi com grande surpresa que recebi sua carta. Sim, o Norte e todas suas delícias encontram-se no mais perfeito estado, assim como há cento e trinta e dois anos, quando você nos deu a honra de sua presença pela última vez - temo dizer que mesmo a bebida não tenha encontrado grande mudança nesse ínterim. Fique à vontade para nos visitar assim que seus afazeres como Lorde permitirem. Sei bem  que os deveres atrelados à posição, demandam esforço e tempo além do natural. Por isso, serei breve em minha carta e espero que compreenda.

Fico feliz por ter estendido a mim seu convite para uma visita ao Oeste, mas temo ter de declinar. Sesshoumaru, você bem sabe, nunca foi o youkai mais social entre nós - e isto vem de um rabugento como eu, veja só! Assim, creio que importuná-lo durante tal fase de sua vida doméstica - a propósito, deixe-me agradecê-lo por ter informado-me acerca deste assunto -, seria de mau tom. Já no que toca a escolha de noiva do seu primo: tendo convivido com o pai de Sesshoumaru, Inu no Taishou, não posso dizer que estou realmente surpreso. Só espero que assim como o General Cão - que apesar do mau hábito de tomar humanas como amantes, nunca fraquejou em um campo de batalha até o fim de sua vida -, Sesshoumaru saiba definir suas prioridades.

 Atenciosamente

 Norio, Lorde do Norte

 - Demorou três meses para responder-me e ainda vem com uma recusa?! - Rihan amaçou o pedaço de pergaminho, abrindo a mão depois para que a leve brisa do entardecer levasse os resquícios dele com ela. - Aquele velho prepotente... 

Devia saber que seu querido tio recusaria-se a unir forças a um bastardo. No fim, o crime de ter nascido fora de um casamento legítimo continuava sendo mais grave do que casar-se com uma humana e ter filhos com ela, poluindo assim a linhagem sanguínea de um dos Quatro Dai-Youkais.

 - Mate-o por essa afronta - sussurrou a serpente em seu ouvido. 

Tsc. Tola.

 - Nem mesmo eu ousaria desafiar o mais velho dos Irmãos Cachorro, Chinatsu, querida - respondeu, convidando-a para seu colo. 

 Chinatsu, filha primogênita de Chiyo do Sul, Princesa-Herdeira do Sul, e seu fardo para suportar durante as próximas Eras - era o que aquela youkai de cabelos vermelhos e pele escura representava. Sempre que a via, Rihan sentia seu sangue ferver em ódio e suas presas coçarem para se enfiar na garganta dela e estraçalhar...

Deus, como desprezava-a.

E mesmo assim, mesmo que sentisse asco de si mesmo por isso, deu a ela exatamente o que esperava: segurou-a em seus braços, beijou-a nos lábios por um momento, e então sorriu gentil, como se amasse-a.

 - Hmm - resmungou, manhosa. Depois, abriu os olhos amêndoas, lentamente, como se despertasse de um sono tranquilo, e sorriu maldosa, dizendo: - Você não melhorou nem um pouco nisso. Seus sorrisos são medíocres demais para conseguir mascarar sua sede de sangue! - Seu sorriso transformou-se em uma gargalhada divertida. - Honestamente, primo, às vezes pergunto-me como foi capaz de chegar ao trono sendo tão mau ator!

 - Simples: trucidei todos que estavam em meu caminho.

Como Chinatsu havia parado de jogar, ele tinha permissão para deixar sua máscara cair. Bem, pelo menos uma delas.

 - Hum, isso faz sentido - sussurrou, movendo-se para conseguir sentar de pernas abertas em seu colo. Ignorando toda a energia maligna que ele liberava no momento, aproximou-se de seu rosto, roçando os próprios lábios nos dele, e acrescentou: - Mas sabe... Considerando o rumo que a situação tomou, tenho certeza que, caso você pudesse voltar atrás, não teria rejeitado-me, não é mesmo?

 Rihan limitou-se a sorrir sarcástico, dizendo depois: 

— Eu teria te fodido de todas as maneiras possíveis, minha querida. Faria você gritar como uma cadela no cio.

 - Ah, eu tenho certeza que sim! Tenho uma boa audição, você sabe. Ouço... Barulhos à noite. - Sorriu maliciosamente.

Rihan não perguntou sobre o que ela falava. Não era preciso.

Recebendo apenas seu silêncio como resposta, a cretina continuou:

 - Mas não posso negar que nossa relação atual é muito mais agradável do que uma noite pecaminosa o seria. Posso dizer que encontrei em você, Rihan, uma fonte inesgotável de prazer.

 - Gostaria de poder dizer o mesmo.

 - Não seja assim, primo. - A vadia tinha a audácia de parecer desapontada. - Não seja tão rancoroso! Sabe que tive razões para ser tão cautelosa durante nossas negociações! 

— Eu não chamaria de "cautela" ter me ludibriado, prima. - Seu tom de voz tornou-se baixo; profundo; ameaçador. Rihan assumiu a postura de um predador, avisando sua presa que não deveria fazer nenhum movimento brusco, a não ser que quisesse ter uma morte lenta e dolorosa. - Ao torná-la minha noiva, eu te libertei das garras de sua adorável mamãe. Ao colocar Lady Chiyo em um sono profundo, eu assegurei que você herdasse todo o território do Sul. E, em troca, eu pedi somente uma coisa - sua voz tornou-se gutural conforme a transformação tinha início -, apenas uma pequena coisa, mas você, sua cadela gananciosa, quis mais!  

Nesse ponto, Chinatsu não sorria mais. Era divertido provocar Rihan quando pensava nele como um filhote encoleirado, mas aquela criatura em sua frente estava muito longe de ser um filhote indefeso. Aquilo era puro ódio enclausurado em uma casca de aparência humana. Nenhum dos Dai-Youkai que ela conheceu anteriormente, exalava tal energia maligna - e  ela havia convivido por mais de trezentos anos com o monstro que era sua mãe!

Ia chamar a atenção de seu primo para que ele controlasse a si mesmo, mas teve sua oportunidade tomada por outra pessoa. 

— Rihan, controle-se! - Seu irmão mais novo, Chiyoko, parado na entrada do cômodo, gritou.

 Ao contrário do esperado, a voz do jovem youkai não surtiu efeito algum sobre Rihan. Chinatsu teve de reprimir um grito de dor quando seu primo, parcialmente transformado, enfiou as garras em ambas as suas pernas. Felizmente, Chiyoko não era tão resistente a dor quanto ela. Assim que ouviu seu irmão soltar um grito surpreso pela dor repentina, Rihan voltou ao normal. Interrompendo imediatamente sua transformação, ele soltou-a - ou seria melhor dizer "jogou-a como um saco de batatas no chão"? -, e foi acudir Chiyoko.

 - Você está bem? - perguntou. 

 - Sim, não é nada demais. Foi só a surpresa. - Ergueu parte de sua yukata para mostrar as pernas amarronzadas, onde agora só havia filetes de sangue. - Viu? Já curou. - Sorriu. 

 - Desculpe - sussurrou, Rihan. - Não quis machucá-lo. 

 - Com licença? - disse Chinatsu, tentando chamar a atenção para si. - Você não deveria estar pedindo desculpas para outra pessoa, primo? - Levantou-se do chão, tirando a poeira do belo vestido que usava. - Você arruinou meu vestido e era um dos meus favoritos! 

 - Chi-chan! — exclamou o mais novo. Se sua irmã continuasse provocando Rihan, ambos morreriam naquela mesma tarde. 

 Atendendo ao pedido silencioso do irmão, Chinatsu parou de reclamar. Mais calmo, Rihan apenas levantou-se e saiu da sala sem responder aos chamados do outro youkai.

 - Deus, ele é tão dramático! - Revirou os olhos para a atitude do primo. - Como você o suporta, otouto? 

 - Onee-sama - começou a falar em um tom de aviso -, você o provoca demais. Rihan é o Lorde do Leste por um motivo, não se esqueça disso. 

  - Tenho tudo sobre controle, Chiyoko. Não se preocupe. - Sorriu, convencida.

 - Não foi o que pareceu há poucos minutos. Ele estava prestes a te matar!

 - Então sua entrada repentina veio em um bom momento! - cantarolou, aproximando-se dele. Dando um beijo estralado em sua face esquerda e sussurrando um "obrigada por lembrá-lo do porquê ele não pode", saiu pela porta, sorrindo como se não houvesse nada além de felicidade no mundo. 

 ***

 - Rihan - chamou pelo Dai-Youkai, ao entrar nos aposentos do mesmo, mas não obteve resposta. 

 Caminhando pelo tão conhecido cômodo, notou as vestes que ele usava no encontro com sua irmã queimando junto ao fogo na lareira. Suspirou. A relação entre aqueles dois ficava cada vez mais instável e era tudo culpa sua.

  Abriu a segunda porta do quarto e mais duas depois dela, até chegar onde sabia que ele estaria: na sala de banho.

Assim como imaginou, Rihan encontrava-se na chamativa banheira com patas de cachorro firmando-a no chão.

 - Rihan - chamou-o novamente. E, de novo, não obteve resposta.

Irritado com o silêncio do outro, resolveu tomar uma atitude: retirando suas próprias vestes, juntou-se a ele no banho.

 - Não venha...

 - Tarde demais, já estou aqui! 

Apesar do tom convencido que usou, Chiyoko mantinha uma distância segura do outro youkai. Não sabia se ele já tinha voltado cem por cento ao normal. Se bem que nem mesmo seu "normal" era totalmente confiável.

 - Do que está rindo? - perguntou Rihan.

 - De você. 

 - Tsc. Vejo que instinto de sobrevivência não é algo comum na sua família. 

 - Você também faz parte da família... primo - ironizou.

 Isso fez com que Rihan finalmente esboçasse uma reação condizente com sua personalidade. Após abrir seu único olho, o brilho sarcástico fazendo o que costumava ser um preto opaco ganhar vida, ele riu, dizendo:

 - Nunca te contaram que sou bastardo? 

 - Talvez tenham mencionado em algum jantar de família, mas eu estava ocupado demais flertando com os rapazes, filhos dos empregados, para ouvir - respondeu, ouvindo um rosnar do outro como resposta.

Rihan sempre ficava irritado quando ele mencionava seus antigos casos; o que era bem irônico já que, comparado à sua, a experiência dele na arte da sedução era bem maior. Não apenas pelo Dai-Youkai ser mais velho, mas também por ser um completo depravado, devorador de virgindades - pelo menos esses eram os termos usados pelos Anciões para referirem-se a ele. Bem, esses e "bastardo assassino, filho de uma meretriz". 

 - Definitivamente, nenhum instinto de sobrevivência. 

 Rindo, Chiyoko aproximou-se - ele já tinha acalmado-se. Contudo, apesar de ter seu abraço aceitado, seu beijo foi negado. 

— Não. Você sabe que ela tocou-me.

 - Tudo bem. Já estou acostumado.

Não, ele não estava. Mas ninguém tinha de saber disso. Caso Chinatsu soubesse que o jogo de "casal feliz" que ela forçava Rihan a jogar o incomodava, iria querer mais de seu amante do que meros beijos. E se ela somente sugerisse isso, ele mesmo a mataria. O que acabaria sendo um suicídio, já que a vida de ambos estava ligada.

 - Mas eu não estou.

 - Sinto muito. - Suspirou. - Estou causando problemas demais a você.

 - Não sinta - respondeu Rihan, acariciando seu rosto. - Você vale a pena.

 Chiyoko não tinha certeza disso. Valeria a pena iniciar uma guerra com o Lorde do Oeste por ele? Lembrava-se muito bem de que foi Sesshoumaru o responsável por tomar um dos olhos de Rihan, durante uma batalha no passado. E agora seu companheiro pretendia novamente enfrentar aquele poderoso inimigo, tudo por culpa de sua gananciosa irmã.

Ao providenciar o veneno que eles usaram em Chiyo aos poucos, durante quinze anos para ser exato, até que ela caísse de cama, incapaz de governar, Rihan havia os libertado das garras de sua louca mãe. Nesse meio tempo, pediu Chinatsu em casamento, o que serviu  para afastá-la de pretendentes indesejáveis até que pudesse subir ao trono - ao mesmo tempo em que usava-a como desculpa para encontrá-lo, é claro. Independente de seus motivos, no entanto, era inegável que Rihan os havia salvado de um futuro incerto. E ele fez tudo isso pedindo  somente uma coisa em troca: o apoio de Chinatsu, a futura Lady do Sul, para que, quando chegasse a hora, ela aprovasse oficialmente a união dos dois, evitando, assim, que os outros Lordes tentassem tomar o Leste quando percebessem que Rihan não planejava ter herdeiros.

Ele só pediu isso: apoio. Porém, sua irmã quis mais; foi além.

Percebendo que Rihan realmente importava-se com seu irmão mais novo, ela resolveu chantageá-lo: só os apoiaria caso ele conquistasse o Oeste para ela. E sabendo que o Lorde do Leste veria sua chantagem como uma traição, escondeu um Às sob a manga: uniu sua própria vida à de seu irmão. Assim, caso fosse morta, Chiyoko também seria.

Um plano mortalmente brilhante que vinha funcionando exatamente como ela queria já há algum tempo. 

Exalando pesadamente, Chiyoko sussurrou:

 - Gostaria que houvesse outro jeito...

— Não se preocupe. Depois que eu conquistar o Oeste e der metade dele para a cadela da sua irmã, vamos nos livrar dela, e então ficaremos aqui, só nós dois. - Enquanto falava, puxou-o para um abraço carinhoso. Com seu corpo, Chiyoko podia sentir todos os músculos maravilhosamente rígidos dele.

 - Eu vou lutar com você - disse, tentando concentrar-se na conversa e não no que estava acontecendo abaixo de sua cintura. 

 - De jeito nenhum - Rihan retrucou, usando seu tom mais gélido. - Estou começando uma guerra por você, não vou arriscar que seja morto em batalha! - No entanto, ao notar o olhar contrariado do outro, suavizou o tom de  sua voz: - É melhor que fique aqui, cuidando de Chinatsu. Lembre-se que estão conectados agora. 

 - Chinatsu pode muito bem cuidar de si mesma. - Fez pouco caso.

 - A bruxa da sua irmã só é boa com feitiçaria e essas coisas levam tempo. Se um soldado de Sesshoumaru vê-la, ela estará morta antes de notar. E você com ela - pronunciou a última parte de forma amarga.

 - Tudo bem. - Suspirou, vencido. Não iriam chegar a lugar algum com aquela discussão, então era melhor nem tê-la. - Eu fico. 

 - Ótimo. - Sorriu, satisfeito. 

 - Mas, Rihan - começou a falar em um tom de urgência -, tome cuidado. Se for demais, recue. - Quando percebeu que ele iria retrucar, segurou seu pálido rosto com firmeza, e, a mesma força que aplicava nas mãos, usou em sua voz ao continuar: - Não há vergonha alguma em recuar quando se está perdendo! É isso o que um líder sensato faz! Prometa-me, Rihan! 

 - Tsc. Criança tola.

Aquela foi a única resposta que Chiyoko recebeu. Bem, a única resposta verbal, por assim dizer. Já que, com o seu corpo, Rihan fez todas as promessas que ele queria ouvir, e mais.

 Ao beijar-lhe os grossos lábios, prometia que tomaria cuidado.

 Ao marcar-lhe a pele escura com mordidas e tapas, prometia que lutaria com todo seu orgulho de Dai-Youkai no campo de batalha.

 E ao possuí-lo por trás, fazendo a água da banheira transbordar com seus movimentos violentos, deixava claro que voltaria vitorioso daquela guerra e, com o apoio do Sul ou não, assumiria-o perante todos do reino. 

 Era uma promessa.  


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Notas finais do capítulo

Vcs gostaram? O que acharam do Rihan? Acabei dando uma humanizada nele sem querer kkkkk E ELE É GAYYYY o/ eu espero que ninguém se incomode com isso (2k18 pessoal), pois eu planejo inserir outras personagens LGBTQ+ ao decorrer da fic ♡ bjs :*



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