O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 4
Capítulo 3 - A Partida do Salamandra


Notas iniciais do capítulo

E é aqui que nossa aventura começa! Espero que gostem do capítulo, boa leitura!



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O sol mal raiou no céu e o Salamandra do Mar começou a rasgar as águas, seguido de perto pelo Escafandro. O vento estava ótimo e o sol não estava desconfortável. Os homens tiravam no cara ou coroa quem iria para o cesto da gávea, ou caralho como era popularmente conhecido, fazer a primeira vigia do dia. O caralho era a plataforma cercada no topo de um mastro e nenhum marinheiro gostava de ficar lá, à exceção de um bêbado chamado Aluisio Vasconcellos. Leonardo não ligava que ele bebesse o dia todo, desde que conseguisse falar e enxergar ao mesmo tempo, porém nesse momento Aluisio estava incumbido de lavar os banheiros em que ele mesmo havia vomitado na noite anterior.

— João, vai para o caralho! — anunciou um marujo dando risada da situação do outro que subia o mastro para se posicionar no cesto.

Atrás do timão, Leonardo olhava os marujos circulando pelo navio desempenhando suas funções: limpando o convés e a superestrutura, levando carvão e lenha para a sala das máquinas, levando munições para a sala das armas, mantimentos para a cozinha, manuseando as adriças e escotas, ocasionalmente brincando com Milton, enfim, todas as peças que faziam o Salamandra do Mar funcionar em perfeita harmonia. Seus olhos corriam entre o mapa, a bússola e o mar, tendo a certeza de seu caminho. Estava concentrado, com seus olhos azuis atentos aos movimentos, quando uma voz o sobressaltou e o arrancou de seus pensamentos.

— Bom dia, capitão!

— Bom dia, Veronica — respondeu, tencionando os ombros sem nem perceber e mantendo o olhar fixo no mar.

— Teve uma boa noite? — perguntou ela.

Leonardo a via se aproximando apenas com sua visão periférica.

— Já tive noites melhores — confessou o capitão, coçando a barba cerrada. — Mas você não precisa se preocupar com minhas noites de sono.

— Sei disso, capitão — afirmou a mulher. — Mas, bem, eu me preocupo. Noite mal dormidas deixam as pessoas desatentas.

Ela tocou o ombro de Leonardo e ele não conseguiu não mirar seus olhos escuros que tentavam o decifrar desde o dia em que ela havia pisado no navio pela primeira vez. Leonardo era um homem difícil e fechado.

— Nós não precisamos de um capitão desatento guiando o navio.

Veronica sorriu e se virou de costas para o capitão, mirando o horizonte da cidade se afastando conforme o navio avançava na direção de Ákilah, que era sua ilha favorita dos arredores. Sentou-se no cockpit onde costumava passar boa parte dos dias olhando as idas e vindas da água do mar e ocasionalmente trocando algumas palavras com o capitão. Hoje, ela havia trazido um livro e se matinha entretida na leitura deixando Leonardo imerso na sua miríade de pensamentos.

O primeiro dia de viagem correu tranquilo. O almoço fora servido pouco depois do meio dia e quando o sol começou a baixar, outro marinheiro assumiu o lugar de João no cesto, o jantar foi servido e todos se sentaram no convés para conversar, tocar músicas em um banjo velho e saborear uma cerveja. O Escafandro estava alguns quilômetros atrás, então todos estavam completamente sem preocupações. Milton não estava latindo, o marinheiro do caralho estava quieto, ou seja, nenhuma possibilidade de complicações. Tudo na mais perfeita paz.

***

Naquela noite, como em muitas outras, o capitão Leonardo estava escorado no mastro da proa do navio observando o mar calmo e infinito à sua frente quando Juliano dos Anjos, o imediato, se aproximou com passos largos.

— Boa noite, capitão — saudou, retirando alguns cachos dos olhos.

— Boa noite, Juliano — Leonardo respondeu.

— Quantos dias de viagem o senhor estima? — disse o jovem, dando um gole em sua cerveja e a oferecendo ao comandante logo depois.

Leonardo tomou um longo gole da bebida antes de responder.

— Uns cinco ou seis dias para chegar lá. Outros cinco ou seis de retorno — falou devolvendo-lhe a cerveja. — Temos o suficiente armazenado, Juliano?

— Temos sim, senhor. Mas devo alertar que talvez seja melhor utilizar mais vento e menos carvão — aconselhou.

— Avise Cristiano — pediu. Juliano concordou com a cabeça e saiu andando.

A noite estava calma e estrelada. O vento leve sacudia a barra do sobretudo azul de Leonardo. Ele ainda não havia conseguido afastar de si a sensação estranha que ele havia tomado por ansiedade e isso estava começando a lhe irritar. Ele era um homem bastante centrado e não estar no controle de um sentimento desagradável lhe incomodava.

— Pensamentos demais? — Veronica indagou ao se aproximar, prendendo seus cabelos ruivos em um coque apertado no topo da cabeça.

O capitão apenas desceu seus olhos profundamente azuis para o chão do navio e resmungou algo sem sentido, retirando seu chapéu da cabeça. Veronica escorou do outro lado do mastro e observou o mar também. As lanternas do navio começaram a se acender e a refletir no mar como bolinhas de luz tremeluzentes. Um vento gelado e forte jogou o sobretudo azul marinho de Leonardo para trás e ele mirou a mulher ao seu lado que o encarava.

— Tente não se resfriar — pediu antes de dar meia volta e andar até sua cabine, batendo a porta ao passar.

Veronica suspirou com força e se sentou apoiada no mastro. O capitão Leão era um homem reservado. Ninguém conseguia dizer ao certo o que ele estava pensando, era uma grande incógnita mas também um grande capitão. Nunca havia os colocado em perigo maior do que a profissão naturalmente oferecia e cuidava de todos como se fossem sua família. Era ótimo em linhas gerais, porém Veronica sempre ficava chateada quando era rechaçada assim. Normalmente eles conversavam bastante, então a mulher associou a distância do capitão ao nervosismo da viagem, afinal era uma oportunidade de ouro com a qual Leonardo sonhava há muito.

No convés, os marinheiros do turno começavam a se posicionar em seus postos de observação. Milton assumiu seu lugar na superestrutura. Gregório e Teófilo se aproximaram da mãe na proa, sentando um de cada lado da mulher, que passou um braço por cima dos ombros de cada um, os trazendo para perto e beijando suas testas enquanto observavam o mar.

— Vocês vão acabar pegando um resfriado — Veronica declarou, enfim, após alguns minutos de silêncio. — Já está tarde, meninos. Vamos dormir.

Os três se levantaram e caminharam pelo convés em organização, dando boa noite para os marinheiros que ainda estavam ali. Teófilo abriu a porta que dava para o quarto dos irmãos e da mãe, bem ao lado do gabinete do capitão e acendeu a vela que estava posicionada na estante ao lado da porta.

Os três repousaram as cabeças cansadas no travesseiro e adormecendo de pronto enquanto na cabine do capitão, Leonardo observava o mar escuro pela sua escotilha. O caos organizado do ambiente se dividia entre um baú cheio de roupas, fotos, livros (muitos livros mesmo) e alguns instrumentos uteis como espadas, facas e telescópios presos nas paredes de madeira e bem no centro, uma cama constantemente desorganizada. Saindo de perto da escotilha, ele se encaminhou para a mesinha cheia de mapas e papéis, só para ter certeza do curso mais uma vez. Leonardo Leão sempre era o último tripulante a dormir e naquela noite não foi diferente. A única novidade foi que ele era o primeiro acordado durante o início de um ataque do Escafandro.


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Notas finais do capítulo

E aí? Será que nossa tripulação vai escapar dessa? Nos vemos no próximo capítulo ♥