O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 5
Capítulo 4 - Primeira Noite


Notas iniciais do capítulo

Olá, marujos! Aqui está mais um capítulo fresquinho. Boa leitura!



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Ao ouvir o apito que sinalizava perigo vindo do marinheiro da gávea, ele saiu correndo de sua cabine. Milton latia enlouquecido na superestrutura.

— Estão preparando o canhão, capitão! — o marinheiro do caralho gritou.

— Rápido! Usem o balão! — comandou Leonardo se apressando pelo convés.

Quase que o capitão não chegava ao timão à tempo. Desvirou alguns metros para boreste (ou direita) bem na hora em que a esfera lançada pelo canhão do Escafandro atingia a água próxima ao navio provocando uma onda que balançou a embarcação de forma violenta e acordou quem já estava dormindo. A onda havia encharcado os marinheiros e o convés, antes apenas úmido pelo sereno da noite. Muitos tripulantes haviam caído no chão devido ao impacto e a lança da proa no navio havia se quebrado.

— Eles não estão brincando, capitão! — gritou o marujo do caralho. — Estão se preparando para mais um tiro!

Os tripulantes que estavam dormindo saíam de seus quartos divididos entre o sono e o alarme. O Escafandro não avançava, apenas se preparava para atirar e desviar o Salamandra do Mar de sua rota.

— Capitão! — Juliano veio correndo e derrapando pelo piso de madeira molhado. — Devemos revidar?

— Não! — gritou Leonardo correndo na direção da cana do leme para uma mudança mais brusca na direção. — Quem está no caralho?

— Não sei! — gritou Juliano. — Precisamos de força na sala das máquinas!

— Mande qualquer um, Juliano!

Com alguma dificuldade, Leonardo virou o leme inteiro para a direita, se afastando cada vez mais do Escafandro. O segundo tiro causou menos impacto, porém as ondas estavam um mais brutas agora e o navio chacoalhava muito além de estar encharcado. Ele correu os olhos pelo convés. Todos estavam correndo, tentando achar algo para se ocuparem enquanto o capitão desviava o navio da linha de ataque do Escafandro. Veronica estava abraçada com seus filhos encostada na parede da cozinha em um visível desespero.

— Mais um tiro vem ai! — Leonardo ouviu o marujo gritar do caralho antes de ouvir mais um tiro sendo disparado porém esse mal afetou a embarcação.

Se afastou da cana do leme e cravou uma alavanca no timão para que o navio continuasse em frente e se reuniu à tripulação no convés. O Escafandro estava longe e eles estavam completamente fora da rota, porém isso nem passava pela cabeça de Leonardo. Seu sangue fervia ao ouvir ao longe gritos de comemoração e chacota da tripulação do Escafandro.

— Todos estão bem? — perguntou mirando os olhos despertos que o encaravam.

Os marujos concordaram e assentiram, comentando entre si que apesar de inesperado, o ataque havia sido leve e agradecendo a seus deuses que ninguém havia saído machucado. Os olhos de Leonardo rasgaram o navio procurando algum marujo ferido ou algum dano aparente, porém o ataque havia sido feito para assustar e intimidar os tripulantes do Salamandra do Mar, entretanto Leonardo conhecia seus homens e sabia que três tiros na água não causariam medo algum. Marco, com toda a sua prepotência, estava querendo exibir sua fina artilharia.

— Cristiano está acordado? — perguntou o capitão para João que estava empenhado em jogar o excesso de água acumulado no convés para fora do navio.

— Sim, senhor — respondeu o marujo.

— Peça para ele consertar a lança da proa pela manhã.

Ele nem deu tempo de resposta antes de sair andando.

Veronica estava mais afastada do acúmulo de marujos no convés. Se encontrava de braços dados com Gregório e Teófilo, ainda alarmada. Se sentindo culpado por sua falta de educação e descontrole mais cedo, Leonardo se aproximou da mulher e perguntou diretamente se ela estava bem. Ela assentiu com um sorriso sem graça.

— Só um pouco assustada como sempre — brincou. — Mas com esses seguranças aqui sei que não iria sair machucada — disse, passando as mãos nos cabelos dos filhos que sorriram um pouco envergonhados.

— Tentem dormir um pouco — recomendou encarando Veronica. Ela sorriu antes de puxar os meninos pelo corredor. — Tudo está bem agora.

— Boa noite, capitão — disse e entrou em seu quarto.

Ele suspirou e tentou focar seus pensamentos na situação. Precisavam corrigir o curso do navio. Procurou Juliano na multidão e o pinçou de sua conversa com Aluisio, o arrastando para o timão.

— Nos guie para noroeste — comandou para Juliano após consultar o mapa e a bússola algumas vezes. — O navio é seu essa noite.

Juliano mal conseguiu conter sua empolgação.

— Pode ir dormir tranquilo, capitão — bateu uma continência com um sorriso e foi se posicionar atrás do timão.

Aos poucos os marujos foram se dispersando novamente de volta para suas cabines para tentar dormir. Contrariando o desejo de Veronica e o pedido de Juliano, Leonardo Leão permaneceu acordado e não teve uma boa noite.

No cockpit, Juliano segurava o timão com firmeza, mirando o mar escuro pontilhado pelas bolinhas de luz das lanternas do navio. Os marujos remanescentes faziam a guarda do convés e todos pareciam compenetrados demais em sua função para reparar na figura que praticamente se deslocou das sombras. A brasa de seu charuto surgiu antes dele. Cristiano Teixeira comandava a sala de armas e a sala das máquinas. Era uma figura ímpar e misteriosa. Um dos melhores amigos do capitão Leão. Ao vê-lo se aproximando envolto na sua típica nuvem de fumaça, Juliano se retesou por completo atrás do timão.

— Boa noite, Cristiano — cumprimentou cordial.

— Boa noite — respondeu simples, soprando fumaça no rosto de Juliano, que revirou os olhos e desviou o olhar para o mar novamente. Não cederia às provocações de Cristiano naquela noite nem se quisesse pois estava guiando o navio.

— Você não devia estar dormindo? — se arrependeu da pergunta no momento que ela saiu da sua boca sem autorização.

— É difícil dormir as vezes — respondeu Cristiano em mais uma cortina de fumaça o mirando com intensidade.

— Bem, você deveria começar a tentar agora então.

Cristiano o olhou desacreditado. Juliano ansiou por seu toque, porém ficou quase feliz quando o homem jogou o charuto na lata de lixo e saiu andando na direção de seu quarto. Com um suspiro pesaroso, Juliano manteve-se firme no timão não só pelo controle do navio, mas também pela lembrança de Cristiano em sua última tarde na cidade rodeado de mulheres no bar Pérola Negra, próximo ao cais.

— Eu sou flexível — havia sido sua fala antes de debandar do estabelecimento sem pensar duas vezes.

Estava chateado, porém antes chateado em terra firme do que feliz em um mar de incertezas.


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Notas finais do capítulo

Ih rapaz, o que dizer desse momento Cristiano e Juliano? Espero que tenham gostado, vejo vocês no próximo capítulo!