O Preço da Glória escrita por Carol Coelho


Capítulo 2
Capítulo 1 - Questões Noturnas


Notas iniciais do capítulo

Olá! Sejam bem vindos novamente. Boa leitura ♥



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Outono, 1917

A noite estava gelada porém muito bonita, com um céu sem nuvens e estrelado. Leonardo Leão apertou o passo na direção do bar Pérola Negra. O vento salgado que vinha do mar alguns metros à frente o deixava tranquilo, o ajudava a clarear as ideias, e isso era tudo o que Leonardo precisava. Recebera naquela manhã um convite do prefeito para um reunião no dia seguinte. Da última vez que ele recebera um convite daqueles, quase fora parar na cadeia por desacato à autoridade. O prefeito o tirava do sério todas as vezes que o chamava para falar de seu pai.

Tudo começou logo após a morte de Eriberto, quando eles se sentaram para discutir sobre o testamento. Araldo Bertoldo, o prefeito, insistira que o pai de Leonardo guardava documentos de Estado que deveriam estar em posse do governo. Uma das muitas coisas que Eriberto ensinara para o filho era que nada de bom podia vir de políticos. À época, Leonardo se irritou veementemente. Indagou o motivo do interesse em cadernos pessoais de seu pai e quando o prefeito voltou a insistir que eram documentos de Estado, Leonardo perdeu a cebeça e acabou por passar uma noite na prisão.

Desde então,vinha se atritando com Araldo, que passou a preferir os serviços de Marco Martins, o capitão do S. S. Escafandro, o grande navio rival do Salamandra do Mar, então Leonardo e sua tripulação foram deixados de lado e enviado para serviços marítimos secundários. Após um tempo, Araldo desistira de convencer Leonardo a entregar os diários de seu pai, e eles não haviam se falado pessoalmente desde então.

Esse era o motivo da surpresa de Leonardo ao receber o convite para a reunião. Jurara não colocar mais os pés na prefeitura, porém estava intrigado pelo convite repentino. Saíra do navio para respirar o ar salgado e clarear as ideias tomando laguma coisa quente no Pérola Negra, onde cheiro de maresia não desaparecia quando ele entrava no pequeno estabelecimento.

— Boa noite, capitão! — o senhor simpático que era pago para tocar piano o saudou assim que ele passou pela porta.

Leonardo apenas acenou com a cabeça e retirou seu chapéu.

— O de sempre, Leão? — perguntou o balconista Julião, já puxando um copo e o enchendo com uísque.

Leonardo sentou-se ao balcão e terminou a dose de uma vez. Julião era um antigo conhecido, porém Leoanrdo jamais deixaria de se assustar com a aparência do homem. Tinha um olho de vidro, muito azul e sempre fixo, enquanto o olho normal e castanho era completamente inquieto.

— Outro — pediu e foi prontamente atendido.

— Fiquei sabendo que você tem uma reunião com o prefeito amanhã. Fiquei bastante surpreso. — comentou Julião.

— Tenho sim — confessou Leonardo.

— Sabe do que se trata? — indagou Julião já se preparando para outro refil.

Em sua mente, Leonardo amaldiçoou a lingua grande dos moradores de cidade pequena. Em suas incursões, já visitara terras longínquas e grandes cidades e nenhuma delas possuía uma conexão tão forte entre os moradores para falar sobre as vidas uns dos outros.

— Não faço ideia, Julião — disse. — O convite me surpreendeu tanto quanto a você, afinal o prefeito me odeia.

— Ele não te odeia.

— Ele odiava meu pai com aquela ideia ridícula de que ele guardava alguma coisa importante — resmungou finalizando outra dose. — O chamava de lunático na frente e pelas costas cobiçava o que ele tinha.

— E o que ele tinha, afinal? — e então, Julião chegou no ponto sensível.

— Você sabe muito bem, Julião, que eu não compartilhava desses ideais do meu pai e de seus amigos pescadores. Não sou religioso, não sou crente em nada que eu não sou capaz de ver ou tocar. Eu acredito no concreto.

Leonardo bateu o copo com força no balcão e parou Julião quando ele ameaçou servir-lhe outra dose. Nessa hora, a porta abriu e Juliano dos Anjos, o imediato de Leonardo, entrou acompanhado de Cristiano Teixeira e os gêmeos Monjardim, todos parte de sua tripulação.

— Capitão! — saudou Juliano.

— Não contra pra minha mãe — pediu Gregório.

Cristiano já se assentava em uma mesa. Leonardo conseguiu sorrir um pouco por ter se livrado do questionário interminável de Julião.

— Cerveja pra todo mundo, Julião! — ordenou Juliano.

— Vou deixar passar dessa vez — disse Leonardo que se sentou ao lado dos irmãos Monjardim.

A cerveja foi servida e a música no piano ia ficando cada vez mais agitada conforme o estabelecimento ia enchendo. A conversa era leve e descontraída e a cerveja estava gelada. Quando perceberam, as canções sobre a mitologia local e orações de marinheiro preenchiam o ambiente e os pescadores já se empolgavam em suas histórias.

Leonardo saiu do ambiente para respirar um pouco. Viu ao longe seu navio atracado com algumas lanternas acesas e um ou outro marujo circulando no convés. Sozinho, voltou a questionar-se sobre as pretensões do prefeito com a reunião do dia seguinte. Perguntou-se se ele iria novamente cometer a besteira de cobrar dele coisas que ele nem acreditava.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Vejo vocês no próximo capítulo!