Card Captor Chronicle escrita por teffy-chan


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mentiras




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Por mais que não quisesse admitir, Touya era um irmão bastante ciumento. E isso ficava evidente ao chegar em casa deparar-se não apenas com o "moleque" que ele tanto detestava como também por encontrar dois homens desconhecidos no quarto de sua irmãzinha.

— Eu perguntei quem são esses homens, Sakura — Touya repetiu, sem tirar os olhos dos dois desconhecidos.
— Ah… bem, eles… eles são… hã… — Sakura atrapalhou-se com as palavras, sem saber o que responder. Como poderia explicar a presença de Fye e Kurogane, que Touya nunca tinha visto (e que ela mesma tinha acabado de conhecer também) para o seu irmão evidentemente furioso?
— Somos parentes de Tomoyo — Fye disse abruptamente. Todos viraram-se para ele de olhos arregalados, mas o homem continuou sorrindo, como se estivesse dizendo o óbvio — Você conhece Tomoyo, certo?
— Lógico que conheço a melhor amiga da minha irmã — Touya respondeu. Não parecia convencido com aquela explicação tão vaga.
— Ah, então você é o irmão da Sakura-chan! É tão bravo quanto ela disse — Fye riu como se Touya não estivesse fazendo cara de quem queria estrangulá-lo — Enfim. Meu nome é Fye. Esse é o Kuro-chan…
— É Kurogane! — ele ralhou — Mas acho que você tem razão em ficar zangado. Eu também não gostaria de chegar em casa e encontrar minha irmã com dois desconhecidos. Isto é, se tivesse uma.
— Ah, então você não é irmão da Tomoyo? Seu amigo ali, ou parente, ou o que quer que seja, disse que vocês eram parentes dela — Touya disse como quem fala do tempo. Se ele se contradissesse, aí sim poderia dizer todas as coisas que estavam entaladas em sua garganta.
— Ela é nossa prima — Fye respondeu antes que Kurogane falasse algo— Viemos do exterior para visitá-la.
— É mesmo? — Touya ergueu uma sobrancelha. Aquele homem parecia ser um ótimo ator — Bom, já que a Tomoyo é prima de vocês, então por que vieram até aqui ao invés de irem até a casa dela?
— Ela estava aqui até agora a pouco! — Sakura enfim recuperou a fala — Ela, Syaoran-kun e eu viemos para casa junto com eles.
— Sim — Syaoran falou da porta do quarto — Estávamos ensaiando… para a escola… como se chama…?
— Uma peça de teatro para o Festival Escolar — felizmente Sakura entendeu o que o garoto queria dizer, embora tivesse ficado surpresa por não existirem Festivais Escolares no lugar de onde ele tinha vindo — Mas a câmera da Tomoyo-chan quebrou. Ela foi até a casa dela buscar outra. Você não encontrou com ela pelo caminho?
— Não, não encontrei a Tomoyo. Só esse moleque invadindo a nossa cozinha — Touya apontou para Syaoran atrás dele.
— Bem, então acho que essa é a nossa deixa. Desculpe o incômodo, irmão da Sakura-chan — Fye levantou-se, seguido de Kurogane — Vamos indo também, Syaoran-kun?
— Mas e a…?
— Eu acompanho vocês até a porta! — Sakura exclamou, já imaginando o que o garoto ia dizer.

Os quatro desceram até o primeiro andar e pararam na porta de entrada. Para quem que olhasse de longe, parecia apenas uma cena de despedida. Mas o diálogo era bastante diferente.

— Eu não posso partir sem a Princesa.
— Mas eu já disse que não posso deixar que ela saia do quarto agora que o meu irmão está em casa — Sakura falou angustiada — Se ele ver uma menina igual a mim andando por aí… não faço a menor ideia de como ele pode reagir, você viu como ele ficou quando encontrou vocês no meu quarto.
— Olhe, eu realmente sinto muito pelo que aconteceu, não queria te causar problemas — Syaoran falou com sinceridade — Mas eu não vou embora daqui sem a Princesa. E além do mais — ele apontou para si mesmo — "Eu" não fui embora, não é? Lembre-se de que ainda tem um garoto escondido no seu quarto.

Ele tinha razão. Li ainda estava no quarto dela. Se Touya decidisse revirar suas coisas enquanto ela estava lá embaixo conversando com eles, acabaria encontrando o garoto. E a Princesa que se parecia com ela também.

— Ah, céus… preciso tirar ele do meu quarto… o que eu vou fazer?
— Não faço a menor ideia, mas é melhor pensar rápido, garotinha — Kurogane aconselhou — Antes que o seu irmão encontre ele. Ou que o garoto aqui perca a paciência e acabe entrando de novo para buscar a Princesa — ele apontou para Syaoran.
— O que? — Sakura recuou alguns passos — Você não faria isso, não é?
— Eu realmente não posso ir embora sem ela — foi tudo o que ele disse, o que só serviu para deixar Sakura ainda mais desesperada.
— Tem mais uma coisa, Sakura-chan — Fye abaixou-se para encarar a menina — Nós deixamos Mokona no seu quarto. Precisamos dele também.
— Ah… aquele bichinho rosa com uma pedra vermelha na testa? — ela perguntou e o homem assentiu — Ele parece um bicho de pelúcia, então eu posso ir buscá-lo… ah! Isso me dá uma ideia de como tirá-los do meu quarto! — ela exclamou esperançosa — Por favor, finjam que estão indo embora antes que o meu irmão comece a desconfiar e se escondam atrás do muro da casa do vizinho. Eu volto em alguns minutos com os dois.
— Está bem — Syaoran concordou, sem ter outra opção.

— Você demorou, hein? Que despedida mais longa — Touya comentou, sentado em uma das cadeiras da cozinha.
— Sim… estávamos conversando sobre alguns detalhes da peça — Sakura sorriu sem graça.
— É mesmo? Sabe o que é engraçado, Sakura? — o rapaz perguntou — Se me lembro bem, ainda não estamos na época de Festivais Escolares.
— Hã… eu sei que é um pouco cedo, mas… minha classe gosta de começar os preparativos com antecedência, sabe? Para não ficar tudo em cima da hora…
— Isso tudo está me parecendo uma desculpa esfarrapada — Touya interrompeu — A começar por aquele moleque. Ele não era o moleque de sempre, era?
— Como assim?
— É claro que não era. Parecia estar um pouco mais alto e, sempre que eu o chamo assim, você diz "não chame ele de moleque!" — Touya imitou a voz esganiçada da irmã — Por que não fez isso dessa vez?
— Porque… — ela fez uma pausa, pensando no que responder. Touya tinha razão, ela sempre brigava com o irmão quando ele implicava com Syaoran. Mas não tinha dado importância daquela vez porque aquele menino não era o "Syaoran" de quem ela gostava. Era apenas um garoto parecido com ele que Sakura tinha acabado de conhecer. Mas precisava responder algo que deixasse Touya satisfeito — Bom, porque… porque o Syaoran-kun já cresceu o suficiente para eu não precisar mais dizer isso, como você mesmo viu! E eu não tenho que ficar te explicando a mesma coisa várias vezes! Fye-san e Kurogane-san são primos da Tomoyo-chan, e o Syaoran-kun apenas ficou um pouco mais alto sem que você percebesse, e isso é tudo! — Sakura apoiou as mãos nos joelhos e respirou fundo, sem fôlego por ter falado tanto de uma vez só. Também estava surpresa e um tantinho orgulhosa de si mesma por ter enfrentado Touya daquele jeito — Aliás, acho que vou jantar na casa da Tomoyo-chan hoje à noite…
— Hoje não — Touya interrompeu. A menina virou-se para encará-lo e viu que o irmão a observava, entre zangado e magoado. Espere, magoado? Mas Touya não ficava magoado! Seja lá o que fosse aquilo no olhar dele deixava claro que seu pequeno ato de rebeldia não tinha sido uma boa ideia — Já faz algum tempo que não temos uma refeição decente em família, não é? O papai ainda está viajando, mas hoje eu consegui voltar mais cedo para casa. Vá visitar a Tomoyo amanhã e jante comigo hoje.
— Hm… está bem — Sakura não sabia se aquilo era um pedido ou uma ordem, mas achou melhor concordar — Eu só… vou trocar de roupa. Ainda estou usando o uniforme escolar.

Ela correu até as escadas e subiu para o quarto. Quando abriu a porta, Li quase bateu nela com um taco de baseball.

— Ah, graças aos céus é você — o garoto suspirou, baixando o taco.
— Sim, sou eu! Onde você arranjou esse taco de baseball? — Sakura exclamou.
— Eu emprestei para ele — a Princesa falou, literalmente saindo do armário — E não é um taco de "sei-lá-o-que".
— É verdade, isso é muito mais legal do que um taco de baseball, olha só — Li apertou um botão escondido na base do objeto, que ficou cheio de espinhos. Apertou de novo e ele se transformou em uma comprida escova de banho com a qual a pessoa podia esfregar as costas. Apertou outra vez e ele se tornou um prendedor de cabelo no formato de flor. Apertou de novo e o objeto voltou a se parecer com um taco de baseball — Viu só? É multiuso!
— Mas o que vocês andaram fazendo enquanto estavam aqui sozinhos? — Sakura indagou atordoada.
— Bom, eu estava contando para ele sobre os vários objetos que meus amigos e eu juntamos durante nossas viagens…
— Foi uma pergunta retórica — Sakura interrompeu a Princesa — Quem você pretendia golpear com isso, aliás? Meu irmão?
— Devo admitir que vontade não me falta — Syaoran murmurou, devolvendo o taco de baseball para a Princesa. Ela apertou o botão do objeto várias vezes até ele assumir a forma de um prendedor de cabelo para que ela o recolocasse na cabeça — Mas isso não importa. O que aconteceu depois que vocês saíram do quarto?

Sakura narrou os fatos, o que deixou os dois ainda mais preocupados, por motivos diferentes. Syaoran estava preso no quarto da garota que gostava e não podia sair porque o irmão zangado e excepcionalmente ciumento dela estava no andar de baixo. E a Princesa estava longe dos seus amigos, em um mundo onde não conhecia ninguém e não sabia como as leis de lá funcionavam.

— Seus amigos estão na casa ao lado te esperando, Princesa — Sakura explicou — Mas vocês têm para onde ir?
— Na verdade não… assim que chegamos a esse mundo encontramos vocês dois, então não tivemos tempo de interagir com mais ninguém.
— Foi como eu pensei — Sakura começou a andar de um lado para o outro. Tudo isso porque ela achou que a menina era uma nova Carta a ser capturada. E veja só a confusão que tinha feito na vida daquelas pessoas! — Na verdade eu estava pensando em pedir ajuda da Tomoyo-chan para arranjar um lugar para vocês ficarem…
— Ah, ela com certeza vai adorar ter uma outra Sakura para provar novas fantasias — Kero riu, imaginando a cena.
— Essa é a amiga da escola que você mencionou, não é? — Mokona perguntou.
— Sim. Mas o problema é que meu irmão não quer me deixar sair — Sakura explicou, parando de frente para Li — E, se ele te ver aqui no meu quarto…
— Já sei, já sei. Você vai se meter em encrenca — ele adivinhou.
— E das grandes — Sakura respondeu.
— Escute, aqui é apenas o segundo andar. Eu posso sair pela janela — o garoto falou — Só preciso que alguém distraia a atenção dele para que ele não olhe na minha direção.
— Ainda bem — Sakura suspirou aliviada — Desculpe te fazer passar por tudo isso, Syaoran-kun…
— Tudo bem. Mas e quanto a ela? — ele apontou para a Princesa — Sem querer ofender, mas você não tem cara de quem sabe escalar uma parede… ou voar…
— Eu realmente não sei — a Princesa encolheu os ombros.
— Princesa. Preciso de um favor — Sakura deu um passo na direção dela — Fique aqui por algumas horas e finja ser eu.
— O que? — ela exclamou, recuando um passo.
— Por favor! Eu preciso levá-los até a casa da Tomoyo-chan, mas não posso sair de casa.
— Ei, se é para levá-los até a casa da Daidouji, eu posso ir. Sei onde ela mora — Li ofereceu.
— Não, tem que ser eu! Tomoyo-chan é minha melhor amiga, só eu posso fazer isso — Sakura segurou as mãos da menina parecida com ela — Por isso, por favor, Princesa, finja ser eu apenas por algumas horas.
— Mas… mas eu não sei nada sobre a sua família… ou como vocês vivem, os costumes daqui… — a garota choramingou — E se alguém descobrir?
— Não tem como alguém descobrir, somos praticamente idênticas — Sakura riu. Ela tirou algumas roupas comuns do armário e colocou em cima da cama — Aqui. Vista isso, são as roupas que usamos neste mundo. Você só precisa jantar com o meu irmão que está no andar de baixo, o nome dele é Touya Kinomoto. Mas lembre-se, ele não sabe nada sobre as Cartas e nem sobre o Kero! — ela acrescentou — Vamos, Syaoran-kun. Você também, Mokona — ela usou a Carta Voo e deixou o quarto pela janela, aproveitando o poder da Carta para dar uma carona para Syaoran e carregando o pequeno animal rosado.

Sakura saiu com tanta pressa que não percebeu a expressão de choque estampada no rosto da Princesa ao dizer o nome de seu irmão.

— Ela disse… Touya…?


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