Sobre cores e horas escrita por Julia


Capítulo 11
Capítulo 11




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Ellen:

Quinta feira, aniversario de Alex. Já passavam das quatro horas da tarde e só acordei porque Liam me cutucava.

—Mamãe. Mamãe. Fiz um lanchinho para você.

Os lanches que ele me fazia era o que me mantinha de pé, apesar provavelmente serem feitos com pouca higiene já que ele não tem o habito de lavar as mãos por mais que eu o obrigue, e pela combinação duvidosa de ingredientes. Além do excesso de açúcar no chá, café ou qualquer bebida que ele escolhesse. Comia para agradá-lo e por que era ruim.

Tomei um banho e abri meu e-mail, fiquei surpresa ao ver a quantidade de pedidos. Eu deixei bem claro para Tony que o site deveria sair do ar por tempo indeterminado. Vou ter que ligar para ele mais tarde., ou talvez amanhã. Vou perder todos os clientes que tanto demorei para conseguir. Suspirei e fechei o computador. Tomei um susto ao me virar e ver que Liam ainda estava no quarto, deitado na cama com a cabeça para baixo me olhando com cara de tédio.

—Você não tem que estudar?

—Não. Fiz isso quando cheguei. Agora eu não tenho nada para fazer, igual você.

—Como assim nada para fazer? Eu tenho muita coisa para fazer.

—E por que não faz?

—Agora você sabe minha agenda?

—Mas você só dorme mamãe – ele ficou sentou na cama – posso te ensinar a jogar, podemos fazer isso juntos, você treina quando eu não estiver e aí podemos competir quando eu voltar.

—Não! Eu não posso ficar jogando videogame como uma desocupada, eu tenho um monte de pedidos para fazer, você está redondamente enganado Liam.

—Ta bom. Então devia começar.

—Não te dou permissão de falar assim comigo! O que há com você?

—Mas o que eu falei? – Ele levantou os braços frustrado e saiu do quarto me deixando com a sensação que a conversa tomou o rumo errado.

Passei cerca de 2 horas olhando para os pinceis, telas, argila e todo meu material sem saber por onde começar, revirei algumas coisas, arrumei outras, sem ter feito nada de muito produtivo. Joan veio espiar algumas vezes. Não era a mesma coisa sem a presença dela por aqui. Parada na porta conversando. Ou mesmo sentada na minha frente fazendo nada. Ainda assim podia sentir olhares ocasionalmente de Liam e Joan.

—Parem de espiar e entrem.

—Que bom ver você aqui. -Joan sorriu.

—Eu tenho muitos pedidos.

—Um monte deles... – Falou enquanto cutucava um pedaço de argila. Senti uma pitada de sarcasmo no tom dele. Desde quando ele entendia sarcasmo?

—Mamãe e o bolo?

—Liam nós já conversamos sobre a Alex. – Joan falou.

—Mas você disse que não sabe quando ela volta. E se ela quiser voltar hoje e comemorar o aniversário dela com a gente? Se você não sabe quando ela volta não pode ter certeza que ela NÃO virá hoje.

—Talvez...

—Você quer fazer um bolo? – Sugeri.

—SIM!

—Cozinharmos todos juntos?

—Façam vocês. Tenho um trabalho para fazer.

—Que trabalho Joan? Da faculdade que não é.

—É um trabalho pessoal...

—Tudo bem, Liam me ajuda, não é?

—Ajudo a comer.

Queria entender de onde ele tirava aqueles sanduiches horríveis, por que era bem habilidoso na cozinha.

—Quem te ensinou essas coisas?

—Alex. A gente sempre cozinhava. – Falar ou ouvir o nome dela sempre me doía, mas tentei não estragar tudo com ele de novo.

—Eu não sabia. -Forcei um sorriso.

—A gente comia tudo sozinhos. – Ele tentou segurar o riso.

—Por isso vocês não jantavam...

—Doce ou jantar? – Ele fez uma balança com as mãos, a mão do doce lá em cima.

Quando ficou pronto servi uma porção generosa de sorvete e calda quente. Seus olhos cresceram ao ver o pote.

—É para nós dois.

—Ah.

Sentamos na mesa da cozinha e ele desatinou a falar animosamente de tudo que estava acontecendo com ele. Fiquei admirada com o modo com que ele lidava com as coisas. Ele tinha a mais absoluta certeza que Alex voltaria, algo que já não era tão certo para mim. A casa desmoronando por cima dele e ainda assim levava a vida de forma tão normal. Quando eu achava que não ficaria mais surpresa ele começou a falar de xadrez.

—Xadrez? Por que?

—Eu não sei. Comecei a jogar na internet e gostei. Quando a Alex voltar ela vai trazer meu presente de aniversário atrasado. Ela me prometeu um tabuleiro.

—Talvez ela já tenha comprado e esteja no quarto dela. Podemos procurar depois.

—Não. Isso é muito errado. Não pode mexer nas coisas dela.

—Tem razão.

Fiquei admirando ele comer, pensando nas coisas que ele me disse.

—Onde você estava se escondendo? Estou conhecendo um novo Liam.

—Eu estava aqui.

E onde EU estava? Onde Carl estava? Eu o subestimava demais, jamais me passou pela cabeça que ele tivesse tantos interesses diferentes do videogame.

—Vamos levar um pouco para sua irmã?

—Ela não gosta de bolo com sorvete.

—Levaremos só o bolo.

—Não esquece de guardar um pedaço no forno para caso ela venha.

—Fique tranquilo.

Ele encontrou uma vela do aniversário de seis anos dele e cravou no pedaço que sobrou. Fomos até o quarto de Joan. Bati e entrei. Ela estava usando fones de ouvido e mexendo na máquina de fotografia.

—Já terminou o trabalho? - Puxei o fone de sua orelha.

—Bate uma foto minha. – Liam virou a lente para seu rosto e fez caretas.

—Te trouxe um pedaço.

—Obrigada – Ela disse sem jeito.

Eu não deveria, mas fiquei chateada dela não querer ficar comigo. Deixei Liam no quarto com ela e sai, antes de perceber já estava com a mão na maçaneta da porta da Alex. Entrei e fui direto para a cama, buscar traços do seu cheiro que ainda estavam lá. Que pensamentos ela tinha aqui? Será que comeu hoje? Havia passos no corredor, tive outra alucinação de que seria ela entrando pela porta, mas era Carl trazia algumas sacolas em uma mão e na outra um pedaço do bolo. Largou as sacolas na mesa e então percebeu que eu estava ali.

—Oi. – Disse ele com a boca cheia. -O bolo está bom. Cadê o resto?

—O que sobrou dos filhos ou o que sobrou do nosso casamento?

—Não Ellen, hoje não, por favor.

—No quarto da Joan. Liam me ajudou com o bolo e me obrigou a guardar um pedaço para ela, deixou uma vela em cima para cantarmos parabéns. Eu não sabia que ele era um ajudante tão bom.

—Ah sim. Ele tem feito lanches para eu levar para o trabalho. Acho que ele cansou da comida da escola.

—Como assim? E são bons?

—Eu gosto.

—Os que ele faz para mim são terríveis. Será que ele faz de propósito?

—Acho que não, mas os primeiros que ele fez eram bem estranhos, então eu pedi para algumas alterações. Talvez seja esse o seu problema.

—Talvez.

—Você parece melhor hoje.

—Quase foi um dia normal.

Ele sorriu amarelo. Ficamos em silêncio.

—O que tem nas sacolas? – Perguntei.

—Algumas coisas para ela.

—Eu não comprei nada.

—Quando ela voltar vocês compram juntas.

—16.

—16 anos.

—Será que ela está comemorando?

—Não sei. Acho que prefiro não saber.

—Eu achava que 20 horas de parto eram uma coisa dolorida. Mas isso é muito pior. Eu nunca me senti tão cansada. Tão sem rumo. – Senti meus olhos se encherem lágrimas.

—Queria ter ido correr com ela mais vezes.

—Eu queria acreditar que ela possa estar bem, mas eu só consigo imaginar coisas terríveis acontecendo com ela. Liam tem uma esperança tão forte que quase sinto inveja.

Carl ficou olhando para o chão com a cabeça baixa e o corpo apoiado no batente da porta. Ouvimos a risada de Liam.

—Ellen, precisamos fazer algo sobre Joan.

—Seus pais poderiam ficar com Liam no sábado. Poderíamos fazer um jantar e conversar com ela.

 


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