O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 38
Promessas




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SUNIL

Quando o mestre me disse que eu deveria deixar minha irmã, eu não questionei. Outrora eu fora um cético, um homem controlador e racional, mas tudo o que eu vivenciará nos últimos tempos, levaram-me a crer em coisas que antes me pareciam impossíveis. 

Minha irmã se tornaria uma Deusa, portanto, deveria recomeçar sem mim. Phet me explicou que o destino reservara um companheiro de vida para a minha irmã, um Deus, como ela. E que este Deus estaria a seu lado, cuidando dela e ajudando-a em sua missão. Ele também me disse que o destino havia um lindo presente para mim, portanto, eu deveria seguir com Kelsey para um tempo futuro, muito diferente daquele que eu conhecia, mas que eu iria aprender rápido a viver nesse novo mundo e seria feliz.

Eu estava triste por deixar minha irmã. Ana estava vulnerável, solitária. Nós conversamos na noite após a batalha. Ela se sentia culpada pelo que acontecera ao tigre branco, e mesmo que Kishan o tenha trazido de volta, ela não conseguia se perdoar.

Anamika me disse que se sentia mal em ser chamada de deusa, pois a verdadeira deusa era Kelsey e era ela quem deveria assumir essa função, que minha irmã considerava um presente. Eu disse a ela que o destino de Kelsey era retornar ao seu próprio tempo e viver uma vida comum, que Ana deveria sempre se lembrar dela  e honrar tudo o que foi sacrificado por aquela deusa. Eu não tive coragem de dizer a ela que eu deveria partir.

Eu me preocupava com minha irmã, mas confiava nas palavras de Phet. Eu percebi que o companheiro de Durga, seria um daqueles dois homens que vieram de outro tempo, lutar junto conosco. Anamika me disse que ambos amavam Kelsey e eu percebi que minha irmã amava um deles.

Quando Phet anunciou que, para Kelsey voltar para casa, um dos homens deveria ficar com Ana, eu senti que minha irmã desejava Kishan. E quando ele anunciou que ficaria, eu vi a face de minha irmã se iluminar. Mas quando foi dito que eu deveria partir com os outros, Anamika sofreu. Ela dizia que seu fardo era pesado demais. Mas eu estava tranquilo, confiava que ela ficaria bem. E também estava ansioso.

Eu sentia que não havia mais lugar para mim comandando aquele exército. Os homens seguiriam minha irmã, ela era uma líder natural. Eu queria descobrir novos mundos, explorar novas possibilidades. Estava ansioso para encontrar a felicidade de que Phet falara. 

Assim, lancei-me no vórtice do tempo, seguindo Dirhen e Kelsey. Começamos a girar e gritar dentro da espiral. Senti como se meu corpo desabasse. Meu estômago girou, minha cabeça ficou pesada e eu perdi a consciência.

Acordei em um lugar estranho. Eu estava deitado em um piso macio e quente. Levantei-me e olhei ao redor. Era uma construção grande, branca, repleta de objetos estranhos e brilhantes. havia um instrumento de cordas sobre uma espécie de cadeira comprida e sobre uma mesa, um aparelho cheio de luzes coloridas refletindo na minha pele. 

— Seja bem-vindo à nossa casa — disse Dirhen. — Vamos colocá-lo no quarto de Kishan por hora. 

Assenti distraidamente e estendi a mão para um pequeno quadro sobre a mesa. Nele, havia uma pintura de uma bela mulher. Eu nunca tinha visto aquele tipo de pintura antes. A imagem parecia tão real que me encantou. Mas uma mulher tão bela quanto aquela, só poderia existir na mente de um artista. Ouvi Dirhen falar com alguém.

— Quero que conheça Sunil. Sunil esta é nossa irmã, Nilima.

Quando ergui os olhos, a mulher da foto surgira diante de mim. Nilima era linda. A mais bela mulher que já andou sobre a face da terra. Sua pele era da cor de canela fresca e seus cabelos longos, tão negros quanto a noite e brilhavam como se houvesse estrelas incrustadas sobre ele. Seus olhos negros alcançaram os meus e eu desejei beijá-la.

"Esta é a felicidade que eu desejava encontrar".

NILIMA

Havia 6 meses desde que Kelsey e os outros partiram em busca do último prêmio de Durga. Eu sentia a falta deles e estava preocupada. Eu temia perdê-los como perdi Kadam.

Eu continuava trabalhando muito, como sempre, e procurava passar mais tempo com meus pais, agora que não tinha mais Kadam comigo. 

Por um lado, levar uma vida comum, sem profecias, sem viagens mágicas e inimigos sobrenaturais era bom, era leve. Por outro lado, eu ainda me sentia vazia, como se algo me faltasse. 

Eu havia acabado de chegar à casa de Kadam, após uma viagem de negócios e uma temporada na casa de meus pais. A mansão ficara vazia todos aqueles meses, então eu contratei alguém para limpar, reabasteci as geladeiras e os armários e decidi ficar ali por um tempo. 

Poucos dias após a minha chegada, eu estava no escritório quando ouvi um barulho vindo do saguão. Corri até lá e vi três corpos jogados no chão, longe um dos outro. "São eles", pensei. Aproximei-me de Kelsey, que parecia estar dormindo. Comecei a sacudi-la e chamar por ela, preocupada.

— Kelsey. Senhorita Kelsey. Acorde! 

Ela se mexeu e gemeu. 

— Vamos Srta. Kelsey, por favor.

— Olha, Barbie guerreira mandona, me deixe dormir.

Kelsey se virou e apoiou as mãos no chão, erguendo o corpo. 

— Onde estou?

— Você está em casa — respondi feliz.

— Casa?

Ela se sentou e esfregou os olhos, despertando completamente. Então olhou para mim surpresa e me abraçou. ouvimos um grunhido e nos viramos. 

— Ren? 

Kelsey arrastou-se até ele, que se sentou e piscou algumas vezes. Então olhou para Kelsey e segurou seu rosto, preocupado.

— Você está bem? — Ele lhe perguntou.

Kelsey segurou a mão de Ren e a apertou. Então respondeu triste:

— Eu vou ficar.

Todos nos viramos quando ouvimos um grunhido. Um homem que eu não conhecia ergueu-se, olhando assustado ao redor da casa. Kelsey e Ren levantaram-se, virando para aquele homem, que não parecia ser um inimigo. Eu me coloquei entre os dois, preparando-me para uma luta, se fosse o caso. 

— Seja bem-vindo à nossa casa — disse Ren. — Vamos colocá-lo no quarto de Kishan por hora. 

Eu imediatamente olhei ao redor, procurando por Kishan. Mas ele não estava naquele cômodo. Eu já ia perguntar por ele, quando Ren começou a dizer:

— Nilima, temos muita coisa pra contar. Nossas vidas mudaram muito durante o tempo em que estivemos no passado. Por hora, gostaríamos de lhe apresentar alguém. —Ele apontou para o estranho que encarava um porta retrato sobre a mesa.— Quero que conheça Sunil. Sunil esta é nossa irmã, Nilima.

Então o homem virou-se para mim e eu não pude respirar por alguns segundos. Ele era lindo, e quando me olhou com seus olhos verdes, sorriu como uma criança ao abrir um presente. Então ele tomou a minha mão e curvou-se para tocar a testa em minha palma, de uma maneira formal e antiquada, então disse:

— É uma honra cumprimentar alguém tão bela. Obrigado por sua hospitalidade. 

Eu puxei a minha mão de volta e olhei desconfiada para aquele belo homem.

— Seja bem-vindo — virando-se para Ren, eu perguntei: — Quem é ele? E onde está Kishan?

— Kishan… não irá retornar — Ren revelou baixinho.

Eu me virei para Kelsey, que engoliu em seco e abaixou os olhos cheios de lágrima, enquanto assentia. Eu percebi a dor e o pesar de ambos ao me trazerem aquela notícia. Meu peito se encheu de agonia. Eu não queria acreditar que meu irmão estava morto. 

— Digam que não o perdemos também.

— Ele não seguiu em frente, cara senhorita — Sunil explicou. — Ele ficou no passado para cuidar de minha irmã.

— Quem é sua irmã e porque ela é digna o suficiente para exigir a atenção dele? — Perguntei ressentida e com lágrimas nos olhos. 

— Minha irmã é a deusa Durga. Seu irmão Kishan se tornou o tigre Damon. Ele deve servir ao seu lado. 

Eu já tinha ouvido falar da interação entre Kishan e a deusa nos templos de Durga, então aquilo fez sentido e acalmou o meu coração partido. 

— Entendo. —Eu me afastei um pouco, para processar a informação e tropecei ao andar de costas. 

— Perdoe-me. Lamento que a notícia lhe cause dor. —Falou Sunil, com pesar. 

Ren me abraçou.

— Temos muito a lhe contar. 

Enxuguei as lágrimas, tentando me recompor. Estava triste por Kishan não ter voltado, mas se ele estava vivo, eu ainda poderia ter a chance de vê-lo novamente.

— Talvez seja melhor me contar tudo que aconteceu nos últimos seis meses. Já é junho. 

Nós nos sentamos e Sunil começou a fazer várias perguntas a Ren sobre como eles conseguiram os prêmios de Durga, e parecia fascinado ao ouvir as histórias. Percebi que Kelsey estava muito triste, como se não se conformasse com o destino de Kishan. Ren se manteve por perto, mas parecia triste e frustrado. Kelsey não quis comer e acabou dormindo no colo de Ren. 

Quando ele a levou para o quarto no andar de cima, Sunil e eu ficamos sozinhos. Ele não disse nada por um tempo, apenas me olhou intensamente e sorriu, de uma forma que fez as minhas pernas amolecerem. Pensei que se eu não estivesse sentada, teria despencado no chão na mesma hora. 

Eu já tinha conhecido homens bonitos antes. Ren e Kishan eram bonitos. Eu já tinha até mesmo namorado homens bonitos. Mas Sunil era diferente. Não era só a beleza extrema daquele homem que me desconcertava. A forma como ele me olhava e sorria para mim, seus modos antiquados de um homem que vinha de tantos séculos atrás. Meu coração disparava quando ele me olhava. Eu comecei a falar com ele, tentando disfarçar meu desconforto.

— Então, Sunil, você me disse que é irmão da deusa. Então você é um deus? —Isso faria muito sentido para mim...

Ele sorriu e eu pude ver seus dentes perfeitos.

— Não, eu não sou. Sou um homem comum. Meu avô comandava um dos dezesseis Mahajanapadas, até que esses povos foram conquistados e passamos a servir ao Império Maurya e responder a seu líder, Chandragupta Maurya. Eu era o capitão de seu exército e minha irmã Anamika era minha assessora. Até que eu fui capturado pelo demônio Mahishasur, a quem vocês chamam de Lokesh. Ele me escravizou e me tornou o general de seu exército de demônios. Então Anamika assumiu o comando de nosso exército e partiu para derrotar o demônio, tornando-se a Deusa. Graças a Kelsey e aos outros.

— Entendo. E por que você está aqui?

—Porque me foi prometido que neste tempo eu encontraria a minha felicidade. E me parece que esta promessa será cumprida. 

Sunil sorriu e me olhou nos olhos. Seus olhos verdes chamuscavam o meus. Meu coração se encolheu e depois se expandiu. Meu corpo tremeu e eu me senti leve, como se pudesse voar, mas ao mesmo tempo pesada, como se me afundasse na cadeira e não pudesse mais me levantar.  Se eu fosse uma mulher fraca, teria pulado no colo daquele homem e o teria beijado sem qualquer pudor. Mas eu não era fraca. Eu era uma mulher forte e Sunil não me teria tão facilmente. Eu ainda não o conhecia, não sabia se podia confiar nele. 

Ren voltou e sentou-se ao meu lado. Ele estava abatido e cansado. Pediu desculpas e disse que queria descansar. Chamou Sunil para mostrar-lhe seu quarto. O homem levantou-se e me lançou um olhar desconcertante, segurou minha mão e tocou sua testa em minha palma outra vez, pedindo-me licença. Fiquei sozinha na sala por um tempo, pensando se Durga havia me enviado seu irmão como um presente. 

REN

Enquanto Kelsey despedia-se de Kishan, eu pensava se tinha tomado a decisão correta. Ela o amava e não se conformava com o fato de ele ter que ficar. Ela estava sofrendo. "Será que ela sofreria da mesma forma por mim?".

Fato é que eu não tinha escolha. Ainda que, ao voltarmos para o futuro, Kelsey não quisesse ficar comigo, ainda que ela quisesse voltar aos Estados Unidos e namorar Li ou qualquer outro homem, era melhor do que ficar no passado, tão distante dela, sem a possibilidade de tê-la em minha vida outra vez. Por isso, quando Phet criou o vórtice com a corda. Segurei a mão de Kelsey e lancei-me nele, torcendo para que ficássemos bem. 

Assim, voltamos para casa, para as nossas antigas vidas. Mas havia um vazio e eu estava ciente daquilo. Não tínhamos Kadam, não tínhamos Kishan, não tínhamos o tigre. Mas nós tínhamos Nilima. 

Foi ela quem nos encontrou caídos no saguão de casa e nos amparou. Nós contamos a ela nossas experiências nos últimos 6 meses. Ela ficou triste por Kishan ter ficado no passado, mas se resignou ao saber que ele ficara com a deusa Durga, para se tornar seu tigre. 

Eu esperava que Sunil se assustasse ou estivesse triste por ter deixado a irmã, mas ele não estava. Ao contrário, ele parecia animado e encantado com tudo o que vira em nossa casa, especialmente com Nilima. Assim que Sunil a viu, seus olhos brilharam e ele sorriu galanteador. Nilima assustou-se no início e parecia desconfiada, mas em pouco tempo, parecia ter se simpatizado com o irmão de Anamika.

Enquanto nós quatro conversávamos, notei que a tristeza de Kelsey. Ela pediu para ligar para sua família adotiva. Nilima havia mandado cartões postais para Mike e Sara em nome de Kelsey, então eles acreditavam estar recebendo notícias da filha durante aqueles meses. Ainda assim, eles ficaram muito felizes por falar com ela. Eles conversaram por muito tempo, e isto foi bom para Kelsey. Ela ficou um pouco mais feliz por falar com os pais adotivos e se sentir uma pessoa comum por alguns minutos. 

Kelsey não quis comer. Eu a abracei e ela deitou a cabeça em meu peito, não demorando a dormir. Eu a peguei no colo e a levei a seu quarto. Então a coloquei em sua cama e a cobri com a colcha de que ela tanto gostava. Olhei para o lado, e seu tigre de pelúcia estava ali. 

Eu não era mais um tigre. E sabia que Kelsey amava o tigre e sentiria a falta dele. Lembrei-me de quando eu me transformava à noite e dormia a seu lado, então ela me abraçava e escondia o rosto em meu pelo. Ela conseguia relaxar e dormir assim, mesmo que estivéssemos no meio da selva, dormindo no chão duro, ou em um barco em movimento. O tigre a acalmava. Preocupei-me com o quanto ela sentiria a falta dele. 

Eu quis me deitar a seu lado e dormir abraçado com ela, senti-la perto de mim, tê-la em meus braços. Agora que eu era plenamente um homem, eu me sentia vazio. E eu sabia que precisava dela para preencher esse vazio em meu peito. Mas eu não sabia se ela estava pronta. Eu tinha que dar espaço a ela.

Eu também estava cansado e desejava dormir. Voltei à sala e pedi a Sunil  que me acompanhasse para que eu lhe mostrasse seu quarto. Ele despediu-se de Nilima e me seguiu. 

Na manhã seguinte levantei-me cedo e encontrei Nilima. Ela estava preparando o café da manhã. Comentou que se tivéssemos voltado um dia antes, encontraríamos a casa vazia e não teríamos o que comer, lembrando que não tínhamos mais o fruto sagrado. 

Sunil chegou à cozinha pouco tempo depois e me cumprimentou brevemente. Depois, aproximou-se de Nilima e a cumprimentou tocando a testa em sua palma, então sorriu para ela, encarando seu rosto. Reparei que Nilima corou, tímida. Eu nunca vira Nilima corar.

Sunil começou a fazer varias perguntas sobre os eletrodomésticos e Nilima ofereceu-se para ensiná-lo como tudo  funcionavam. Sunil ficou animado, sem parar de encará-la. A fim de deixar os dois à vontade, saí para andar pela casa.

Havia tantas memórias naquela casa. A primeira vez que eu vi Kelsey em seu sharara azul, todas as vezes em que lemos na biblioteca, Kelsey e Kadam conversando sobre as profecias. Kishan me provocando por causa de seu namoro com Kelsey. Agora que tudo acabara, mesmo as coisas ruins eram boas lembranças. 

Fui até o quarto de Kadam e estava tudo igual. Encontrei um livro sobre o criado mudo e o abri. Havia várias anotações feitas por Kadam e eu sorri ao me lembrar de como ele era detalhista. 

Kelsey entrou no quarto em silêncio. Mesmo sem o olfato do tigre, eu ainda podia sentir seu cheiro. Eu a queria em meus braços. Mas não sabia se ela queria o mesmo. Fechei o livro e segurei sua mão.

— Dormiu bem? 

Kelsey não me respondeu. Ela me olhou como se estivesse ressentida. Senti meu coração rachar. Baixei os olhos, desconcertado e triste.

— Você quer — engoli em seco, temendo sua resposta — quer ir para casa? Para o Oregon? 

— Eu… não sei o que eu quero. Não tenho certeza.

Senti-me um pouco aliviado. Eu queria que ela dissesse que não queria ir embora, mas que pretendia ficar comigo, pelo resto de nossas vidas. Ela não disse isso, mas também não disse que queria ir. Eu tinha medo de que ela me culpasse por Kishan ter ficado e desejasse me deixar. Se esta fosse sua vontade, eu a iria respeitar. Por hora, estava satisfeito por ela ainda não desejar ir embora.

Sem graça, dei-lhe um beijo amigável na bochecha.

— Por favor, deixe-me saber o que você decidir — Virei-me e saí do cômodo.

Durante aquela semana, eu vi Kelsey poucas vezes. Não por minha vontade, é claro. Apesar de eu estar dando espaço a ela, eu não pretendia me afastar, como fiz no passado. Eu ainda queria estar com ela, cuidar dela, ser um bom amigo. Acontece, que eu não era mais um tigre. Eu não tinha mais as habilidades do animal, eu não me curava espontaneamente, não viveria ilimitadamente. Nilima me convenceu a consultar médicos e a fazer alguns exames. Ela também me me colocou a par dos negócios da empresa, e estas coisas demandavam tempo. 

Nilima estava cuidando de Sunil. Ela providenciou documentos para ele e também o levou a um médico. Ele estava se adaptando bem à sociedade moderna e Nilima acreditava que ele poderia trabalhar com ela em pouco tempo, porque ele era inteligente e interessado. Eu sabia bem em que Sunil estava mais interessado. E eu estava feliz, porque Nilima parecia feliz.

Um dia ela me chamou no escritório e me informou que foi procurada por um advogado da empresa pouco tempo depois que ela nos deixou na ilha Barren.

— O advogado me disse que Kadam havia colocado todas as empresas em seu nome e determinado que você assumiria todos os negócios dali há 6 meses.

— Então Kadam sabia quando voltaríamos e que Kishan não estaria conosco.

— Parece que sim. Kadam me colocou responsável pelos negócios durante esses 6 meses e como chefe das empresas até que você se forme na faculdade. Mas você deve assumir a presidência imediatamente.

— Claro Nilima, eu entendo. Mas eu ainda não sei tudo sobre o trabalho. Eu aprendi muito com você e Kadam, mas as empresas são muitas e os negócios variados, eu não posso assumir tudo sozinho agora. — Desesperei-me.

— Claro que não Ren. Eu não vou te abandonar agora— Tranquilizou-me Nilima— Continuarei trabalhando com você, enquanto você me mantiver como sua funcionária e vou te ajudar no que for preciso.

Assim, Nilima começou a me ensinar tudo o que eu precisava saber para gerir as empresas que Kadam me deixou. Então eu tomei uma decisão e chamei os advogados, depois comuniquei minha decisão à Nilima.

Kadam sempre disse que as empresas eram minhas e de Kishan, assim como todos os bens que ele adquiriu durante todos aqueles anos. O fato é que Kadam investiu alguns poucos bens que restaram à minha família e os multiplicou muitas vezes. Foi tudo graças ao trabalho e à inteligência de Kadam. Ele sempre foi leal à minha família e eu lhe era grato. 

Nilima era seu braço direito nos últimos anos. Ela sabia tudo sobre aquelas empresas e ajudou Kadam a mantê-las prósperas. E em tudo ela era como uma irmã para mim. Sem Kadam, eu precisava de Nilima para me ajudar no trabalho. Em pouco tempo eu soube que não seria capaz de cuidar de tudo sozinho. Achei justo que Nilima me ajudasse, mas em uma empresa que também pertencesse a ela. 

Quando eu lhe comuniquei minha decisão, Nilima ficou relutante. Ela não achava justo que eu doasse metade de todas as empresas para ela. Chegamos a um acordo e resolvemos que ela teria  30 por cento de tudo. Ela ficou mais que feliz e me pediu permissão para ensinar Sunil e empregá-lo. Eu concordei satisfeito.

A semana passou rápido, embora os dias se arrastassem sem que eu tivesse Kelsey comigo. No dia 23 de junho, depois de trabalharmos o dia todo, Nilima me perguntou sobre o aniversário de Kelsey:

— Não é amanhã Ren?

— Sim. Kelsey fará 20 anos amanhã. Já são mais de dois anos desde que ela entrou na minha vida.

— E nós não vamos celebrar? Eu posso providenciar algo para amanhã à tarde, se você quiser. 

— Eu acho melhor não comemorarmos esse ano. Kelsey ainda está muito triste. Tenho certeza que ela vai se lembrar de que Kadam e Kishan não estão aqui e vai ficar mais triste. 

— Tem razão. De qualquer forma, vou tirar o dia de folga para mostrar a cidade a Sunil. Acho que ele já está pronto para encarar um Shopping center. O que você acha?— Perguntou animada.

— Acho ótimo! Divirtam-se. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso dormir.

Naquela noite, eu não consegui dormir direito. Depois de me livrar do tigre e de voltar a ser um humano comum, eu me sentia mais cansado que antes e precisava dormir por mais tempo. Apesar do cansaço daquele dia, os pensamentos sobre Kelsey não me deixavam relaxar. 

Fiquei me lembrando do último aniversário dela, em que eu lhe dei meias de presentes e disse que não gostava de pêssego com creme. Eu estava sem a minha memória naquela época, ainda assim, eu me arrependia de tê-la feito sofrer. Depois, no iate, quando eu terminei com Kelsey, todas as coisas horríveis que eu disse a ela, como eu a fiz se sentir rejeitada. Meu namoro com Randi e a forma como aquela mulher desprezível tentava fazer Kelsey sentir-se mal consigo mesma. Em todas aquelas vezes, Kishan esteve a seu lado, cuidou dela e a consolou. Kelsey tinha motivos para amá-lo e para tê-lo escolhido. Eu fiz isso a mim mesmo. Eu fiz com que Kelsey amasse outro homem. E no fim, eu posso ter impedido sua felicidade, ao obrigar Kishan a ficar no passado.

Na manhã seguinte, eu me levantei cedo e pensei se eu deveria fazer algo para Kelsey naquele dia. Pensei em lhe preparar um café da manhã, mas resolvi que eu não era muito bom nisso. Depois pensei em chamá-la para almoçar comigo em um restaurante, ou convidá-la par ver um filme, mas resolvi deixar pra lá. O fato é que eu tinha medo de ser rejeitado. Eu temia que ela dissesse não. Eu estava evitando-a de certa forma, com medo de ela me dizer que pretendia ir embora. Mas nós precisávamos conversar. Eu tinha que encará-la, e aceitar qual fosse sua decisão. 

Eu resolvi sair para comprar um presente para Kelsey, mas não tinha ideia de o que comprar. Quando finalmente encontrei algo de que ela pudesse gostar, já estava anoitecendo.

Encontrei Kelsey sozinha na varanda. Não havia mais ninguém em casa. Eu a vi enxugando uma lágrima e deslizei a porta de vidro. Caminhei até ela, mas parei a poucos metros de Kelsey. Apoiando os cotovelos no parapeito, olhei distraidamente para a piscina, tentando não demonstrar minhas preocupações e falei calmamente.

— Feliz Aniversário, Kells.

— Pensei que você houvesse esquecido — ela falou baixinho. 

— Eu me lembrei. Só não tinha certeza se você queria comemorar. 

— Eu acho que não.

Ficamos ali por alguns momentos em silêncio. Meu coração estava disparado. Havia uma tensão entre nós, como nunca houve antes. Mesmo quando eu estava sem memória, Kelsey nunca tinha estado tão pouco à vontade comigo antes. E eu nunca havia me sentido tão desconcertado. 

Então, após longos minutos em silêncio, Kelsey se virou e falou alto, sua voz quase chorosa:

— Por que está me evitando? Você lamenta por ser a pessoa que me trouxe para casa? 

Eu parei diante dela, confuso.

— É o que você acha?

— Eu não sei o que pensar. Você dificilmente passa mais que dois minutos consecutivos comigo desde que chegamos. Se não me quer aqui é só dizer.

Eu olhei para ela sem acreditar. Eu a amava e tudo o que eu queria era estar com ela. Os olhos de Kelsey estavam cheios de lágrimas, que começaram a descer por suas bochechas. Eu segurei seu queixo e ergui seu rosto para mim. Emocionado, perguntei a ela:

— Você acha que eu não a quero? Kelsey, eu quero você mais do que quero respirar. Eu só queria te dar espaço. Você amou Kishan. Rasgou-te por dentro deixá-lo para trás. Qualquer um podia ver isso. 

Ela segurou meu pulso.

— Eu prometi a Kishan que um pedaço de meu coração sempre seria dele. 

Abaixei a cabeça, decepcionado e me afastei dela, dizendo que entendia. Embora eu não compreendesse.

— Alagan Dhiren Rajaram! — Ela gritou — Não se atreva a se afastar de mim! 

Ela caminhou em minha direção, alcançando-me rapidamente, e colocou o dedo em meu peito.

— Você não entendeu nada! — acusou. — Eu tenho te amado por dois anos. Se você ainda não percebeu isso, então não sei o que te dizer. Eu amei Kishan, mas até ele sabia que eu amo você. Além do mais, você era aquele que estava disposto a ficar para trás com Durga. Se alguém deveria estar se sentindo hesitante sobre nosso relacionamento, esse alguém deveria ser eu! 

Incrédulo, avancei em sua direção. Kelsey caminhou de costas, indo de encontro ao parapeito. Então eu segurei seus ombros e a olhei nos olhos:

— Vamos deixar uma coisa clara, Srta. Hayes. Eu estava absolutamente relutante em te deixar. Eu disse a Phet que não poderia me importar menos com a proteção da história, Durga ou sobre sua necessidade de ter um tigre. Tudo o que eu queria era estar com você. Se isso significasse ficar no passado, então ficaria no passado. Se isso significasse vir para casa, então eu viria para casa. Eu só serviria a Durga se você estivesse comigo Kelsey, eu nunca a deixaria ir.

— Ah.

Eu coloquei minhas mãos ao redor de seu pescoço. 

— Kelsey, minha bela menina teimosa, se você está me dizendo que está pronta para ficar comigo, então deve saber que eu tenho a maldita certeza de que estou pronto para você. 

Eu enxuguei uma lágrima de seu rosto e a encarei por longos segundos, que pareceram horas. Eu estava com sede, e Kelsey era a única capaz de saciar-me. Kelsey ergueu a mão e afastou o cabelo do meu rosto.

— Ren, você é tudo o que eu sempre quis. 

Eu sorri brevemente, aliviado. Nós nos olhávamos nos olhos, meu coração explodindo de emoção. Baixei minha cabeça e encostei meus lábios nos dela, docemente. Havia tanto tempo que eu não a sentia assim. Os últimos beijos haviam sido roubados e ela resistira a eles. Agora não havia nada entre nós dois. Kelsey era minha novamente.

Com este pensamento, o beijo doce e carinhoso transformou-se em um beijo possessivo e cheio de saudades. Cheio de desejos. Se os beijos de Kelsey saciavam minha sede, eu parecia completamente desidratado, seco. Não havia vontade ou necessidade de parar. Eu a desejava.

Desci minhas mão por suas costas sentindo seu corpo junto ao meu. Segui as curvas de seu corpo e agarrei seu quadril, puxando-a para mim. Kelsey colocou as mãos por baixo da minha camisa e passou os dedos delicadamente por meu abdome, enquanto a outra mão subia por minhas costas nuas. Era a primeira vez que Kelsey me tocava assim. Suas mãos quentes sobre minha pele nua era puro prazer. 

Meu corpo tremeu em leves espasmos. Senti meu abdome se contrair e minhas pernas se enfraquecerem de um jeito muito bom. Sussurrei seu nome em um gemido de prazer. Kelsey correu as mãos por meu peito e meus ombros, subiu pelo meu pescoço e agarrou meu cabelo, entrelaçando-os em seus dedos e puxando-os de leve. 

Eu ouvia os gemidos curtos e sussurrados de Kelsey em conjunto com os meus próprios. Deslizei meus lábios por sua pele, seguindo da mandíbula ao pescoço. Kelsey estava completamente entregue e eu não conseguia parar de beijá-la e acariciar sua pele. Eu a puxei comigo e nos sentamos no sofá, sem parar de nos beijarmos. O cheiro de pêssego com creme de Kelsey me inebriava. Eu não conseguia parar. 

Tentando controlar meu desejo, diminuí o ritmo. Então o beijo ficou mais lento e carinhoso. Eu coloquei minhas mãos em seu rosto e a beijei suavemente. E Kelsey respondeu ternamente, acariciando-me lentamente. Eu respondia a suas carícias, completamente extasiado.

Nossa troca de carícias era completamente sedutora. Eu estava hipnotizado pela mulher que me tocava. Só havia ela no mundo. Nada mais importava. Eu a queria e ela a mim. Deslizei meus lábios até a sua orelha e lhe fiz promessas de amor e devoção eternas, confissões de desejos e necessidades. Eu sabia o que queria e sabia o que eu precisava fazer. 

Kelsey estava quase em meu colo quando eu lhe fiz a pergunta. Ela parou assustada, incrédula e me olhou surpresa.

— O que você disse? — perguntou.

Eu não tive qualquer dúvida ou insegurança. Eu sabia que era aquilo o que eu queria e precisava. Sempre foi o meu desejo. Então eu repeti, enquanto Kelsey olhava em meus olhos:

— Eu perguntei se você gostaria de ser minha mulher.

Kelsey olhou em meus olhos por mais alguns segundos, então sorriu, travessa:

— O que você faria se eu dissesse, “Se você tem que perguntar, então a resposta é não”? 

Eu ri e entrei na brincadeira, lembrando-me de um episódio que agora parecia pertencer a uma outra vida.

— Então acho que eu a seduziria até ouvir um “sim” de você.

— Nesse caso, a minha resposta é definitivamente não.

Sorri e encostei meus lábios em sua pele, deslizando-os por sua mandíbula, até as orelhas, murmurando trechos de "A Megera Domada".

— Agora, Kells, sou seu marido. Tu deves se casar não com outro homem, mas comigo. Eu devo e terei Kelsey como minha esposa. 

Kelsey, acariciando minhas orelhas, sussurrou sedutoramente:

— Você me acha teimosa como Katherine Petruchio? 

Eu apertei sua cintura, ainda beijando sua pele macia e quente.

— Ainda não escutei um sim de você. Isso prova que você não somente é teimosa como é inflexível — respondi com um sorriso irônico.

Kelsey não me respondeu. Ao invés disso, ela pulou no meu colo e envolveu meu pescoço com os braços, enfiando os dedos em meus cabelos. Eu a beijei ardentemente por mais alguns minutos. Eu já estava quase não resistindo. Parecia que o auto controle me abandonara junto com o tigre e meus desejos tornaram-se mais intensos. 

— Case-se comigo, Kelsey. Eu quero você…

Ela assentiu, balançando a cabeça, antes que eu terminasse a frase. Eu sorri, com os lábios em seu pescoço.

—… Para ser minha noiva.

Hmm-mmm, era o único som que ela pronunciava.

— Isso não conta — Eu me afastei, tentando ficar sério e segurei as mãos de Kelsey — Kelsey Hayes, eu te amo. Eu pertenço a você. Eu fui seu, corpo e alma por dois anos. Meu destino sempre foi você. Seja meu lar, priya. Seja minha esposa. 

Então Kelsey me olhou e percebeu a seriedade das minhas palavras. Ela também ficou séria e beijou as minhas mãos. 

— Meu coração pertence a você, Alagan Dhiren. Eu ficaria honrada em ser sua esposa. 

Eu sorri triunfante e a agarrei pela cintura, pegando-a em meus braços. Nós sorrimos como duas crianças recebendo um presente. Eu finalmente teria minha família. Kelsey seria minha esposa e nós teríamos filhos. Eu seria feliz e teria a mulher que eu tanto amava e desejava. 

Kelsey entrelaçou os braços em meu pescoço e nós nos beijamos novamente. Então eu me lembrei do seu presente de aniversário. Perguntei entre beijos rápidos e estalados em seus lábios:

— Será… que você… gostaria… de seu presente de aniversário agora?

— Posso esperar até amanhã? 

— Com certeza. 

E voltamos a nos beijar.

 


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