O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 35
A derrota de Mahishasur




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Anamika

Dirhen e Kishan transformaram-se em dois lindos tigres. Dirhen era um tigre branco e usava armadura prateada e sela branca. Kishan era um tigre negro, com seus marcantes olhos dourados e usava armadura dourada como a minha. Acreditei que aquilo significava que ele seria meu companheiro de batalha. 

Eu fiquei entre os dois tigres, encantada pelo tigre negro. Acariciei a cabeça de Kishan, mas ele rugiu para mim e afastou-se, parando do lado de Kelsey e colocou a cabeça em uma das mãos dela. 

Kelsey parecia constrangida por ter que montar um dos tigres. Eu estava frustrada por ter sido rejeitada pelo tigre de ébano e preterida por causa dela. 

— Se você está hesitante, então fique aqui, irmãzinha — Comentei de brincadeira.

— Esta é a minha guerra mais ainda do que sua, irmãzona.

Percebi que Kelsey estava muito segura como deusa. Era como se ela sentisse que seria a deusa responsável pela derrota de Mahishasur. Contrariada, preparei-me para subir em Dirhen, já que Kishan havia deixado bem claro que pretendia fazer par com sua noiva. Joguei a perna por cima da cela, mas caí do outro lado. Levantei-me irritada e tentei novamente, mas voltei a cair.

Eu não entendi o que estava acontecendo. Por mais que eu tentasse, não conseguia montar o tigre branco. Eu segurei o punho sobre seus ombros, mas tentar montá-lo exigiu um esforço monumental de minha parte. Quando Dirhen se inclinou em direção a mim, ele foi violentamente empurrado por uma força invisível, sendo arrastado para longe de mim. 

— Por que isso está acontecendo? — Perguntei irritada ao mestre.

Phet encolheu os ombros.

— Destino, minha querida.

— Destino. — Repetiu Kelsey. 

A deusa prateada segurou a sela do tigre negro e fez força para montá-lo. Ela se afastou de Kishan e comentou:

— Hum, eu meio que tenho o mesmo problema.

Phet tomou a minha mão e colocou na parte de trás de Kishan. 

— Você deve montar o tigre escolhido por você.

Kishan bufou. Eu o olhei ressentida. Agora era eu quem preferia não montá-lo. Olhei para o lado e Kelsey havia montado em Dirhen.

— É como se estivéssemos magnetizados — ela exclamou.

— Você está correta — disse Phet. — Há um poder semelhante que a conecta ao seu tigre como nas extremidades de um ímã. Esta ligação irá ajudá-la na batalha. O metal vai prendê-los juntos para evitar que você caia. Em teoria, você pode até mesmo ficar de pé que suas botas irão travar no lugar como um astronauta de pé em uma nave espacial.

Phet olhou satisfeito para a deusa de prata e seu tigre branco, então dirigiu-se a mim.

Kishan

Eu me senti atraído por Durga desde a primeira vez em que a vi em uma de suas visitas mágicas no templo. E eu me sentia atraído por ela naquele momento. Mas Kelsey era a mulher que eu amava e era com ela que eu pretendia fazer par naquele dia, com minha noiva. Por isso, quando Anamika se aproximou de mim e acariciou minha cabeça, eu me afastei dela e fui para o lado de Kelsey.

Ren usava armadura prateada como a de Kelsey. Percebi que a minha devia ser dourada como a de Anamika. Mas eu preferi ignorar aquilo. Eu não abriria mão de ser montado pela mulher que eu amava. 

Anamika tentou subir em Ren e foi repelida. Kelsey tentou montar em mim e foi repelida. Phet disse que cada deusa deveria montar o tigre que foi escolhido para ela e trouxe Anamika até mim. Eu bufei contrariado e encarei Anamika, enquanto ela me avaliava. Enquanto isso, Kelsey não pensou duas vezes antes de montar no tigre branco. E conseguiu subir nele com facilidade.

Senti uma angustia terrível quando percebi que Kelsey fechou os olhos e envolveu o pescoço de Ren com dois braços. Os dois estavam conectados e não havia nada que eu pudesse fazer. Era como se eu a tivesse perdido naquele momento. 

Irritado, senti Anamika subir em mim e sentar-se facilmente em minhas costas. Eu senti um puxão e uma pressão quando a armadura dela tocou em mim. E então, eu passei a sentir o que Anamika estava sentindo.

Ela estava com medo de falhar novamente. Ela tinha medo de ter que lutar com seu irmão e vê-lo morrer. Ela tinha medo de ficar sozinha. Ela estava com vergonha de ter que montar em mim depois de ter sido rejeitada. 

Era estranho senti-la assim. Eu mal a conhecia e agora, nós parecíamos ligados. Éramos como um só. Ela se perguntou porque eu a odiava tanto. Então, ainda ressentido, mostrei a ela. De alguma forma, ela penetrou em minha alma e eu pude compartilhar com ela minhas lembranças de Durga. Anamika viu como eu me sentia na presença da Deusa, como ela me encantava e como eu a desejava. Ela pareceu se reconhecer naquelas lembranças. Eu senti sua emoção como um caldo morno se derramando em minha alma. 

Então eu mostrei a ela a decepção que senti quando ela me tratou mal, logo que nos encontramos no acampamento e eu me prostrei diante dela. Ela pôde ver que eu fiquei feliz quando ela me chamou para ajudá-la no acampamento e como eu fiquei com raiva por ela não olhar para mim com gratidão, mas me tratar apenas como um animal de carga. Mostrei a ela como tive ciúmes da atenção que ela dava a Ren e da proximidade entre eles. 

Anamika se abriu um pouco para mim. Eu vi que ela tinha sentimentos por mim, mas não sabia lidar com eles. Ela se sentia frágil perto de mim, por isso tentava me manter longe, tratando-me daquela forma. Mas ela me admirava como um estrategista e reconhecia em mim um líder capaz e um guerreiro habilidoso. E ela me achava bonito e se sentia atraída por mim. Ela também admirava Ren, e se sentia mais à vontade com ele, porque ele não a “enfraquecia”.

Sem querer, meus pensamentos voltaram-se a Kelsey. Eu queria estar com ela, para sentir exatamente como ela se sentia em relação a mim e a ele. Anamika ficou triste.

“Sinto muito Anamika”.

“Me chame de Ana”— ela respondeu em meu pensamento, depois falou em voz alta:

— Peço desculpas. Eu não tive a intenção de tratá-lo como um animal de carga.

Ela chutou de leve minhas costelas como se eu fosse um cavalo, o que me deixou irritado. Eu avancei e corri. Anamika corria comigo, respirando no mesmo ritmo que eu. Nós estávamos conectados, nossos corpos como se fossem um só. Eu sentia sua energia através do meu corpo. Aquilo era estranhamente íntimo. 

Chegamos de volta ao centro do acampamento. Homens de cinco nações diferentes ajoelharam-se ao redor de nós, tocando a cabeça no chão em deferência. Eles estavam surpresos com a presença de não uma, mas duas deusas em seu meio. 

Anamika tomou a frente e dirigiu-se ao exército. Ela contou-lhes de um novo plano, que não envolvia os animais, que os demônios poderiam virar contra nós. Esta batalha seria travada a pé. Ela olhou para Kelsey, passando-lhe a palavra. Kelsey respirou fundo e gritou para a multidão, com firmeza:

— A partir deste momento, vocês já não são os exércitos da China, Macedônia, Mianmar, Tibete ou da Índia. Agora vocês são os guerreiros de Durga! Nós já lutamos e superamos muitas criaturas ferozes. Agora vamos mostrar-lhes o símbolo de seu poder!

Kelsey pegou o lenço de Anamika e juntou-o ao colar em seu pescoço. O material de seda atravessou o ar, fragmentando-se e se repartindo, caindo abaixo e se fundindo, dissimulando no vermelho mais brilhante, azul, verde, dourado e branco. Mesmo os porta-bandeira não ficaram de fora e agora carregavam estandartes retratando Durga montando seu tigre para a batalha.

— Vermelho para o coração de uma Fênix que vê através da falsidade! — ela ergueu o tridente— Azul para os monstros das profundezas que rasgarão aqueles que ousam cruzar o seu domínio! Dourado para os pássaros de metal que cortam seus inimigos com bicos afiados! Verde para a Horda de Hanuman que ganha vida para proteger o que é mais precioso! E branco para os dragões dos cinco oceanos, cuja astúcia e poder não tem igual!

Ren ergueu-se sobre as patas traseiras brevemente e rugiu. Todos os homens se maravilharam com o poder exibido. Eu rugi orgulhoso da grande Deusa que Kelsey havia se tornado. Senti uma ponta de tristeza em Anamika. Kelsey entregou o lenço a ela, que lhe prometeu:

— Esta batalha e seu corajoso serviço será lembrado por gerações. Como você nos honra este dia, vamos honrá-la nos dias que virão.

Ren
 

Soldados foram enviados para se preparar, e apressaram-se em obedecer às instruções de suas deusas. O espírito de todos tinha se elevado. Os homens que tinham se desesperado no dia anterior, agora pareciam confiantes de que podíamos realizar o impossível. Kelsey não estava completamente confiante. Uma parte dela ainda tinha medo. 

“Um coração dedicado pode superar qualquer obstáculo, rajkumari. Acredito que vou mantê-la segura.”

Quando tudo estava pronto, Durga- Anamika sorriu com benevolência para nossas tropas e gritou:

— Eu juro que se vocês lutarem ao meu lado, irei protegê-los com todos os meios à minha disposição, e juntos venceremos. Vamos derrotar o demônio. Guerreiros vermelho, azul, verde, dourado e branco, vocês irão seguir-nos para a batalha?

Uma alegria retumbante ecoou pelo acampamento, e todos nós fomos em direção ao Monte Kailash. Quando uma trombeta soou e o nevoeiro dispersou, hordas de soldados demoníacos materializaram-se e começaram a se debater, bater e uivar, à espera que seu líder os libertasse. Os homens de Durga mantiveram-se corajosos e firmes, inabaláveis frente ao inimigo.

Anamika atacou primeiro.

Três catapultas lançaram grandes barris para o ar frio. Eles atingiram a montanha com um estrondo. Os barris explodiram, derramando o conteúdo sobre o exército de demônios. Os demônios balançaram seus braços e cabeças e viram quando mais barris foram lançados. O estrondo da madeira foi acompanhado por um pesado twap quando a carga assobiou através do ar e se quebrou, óleo banhando a cabeça do inimigo.

Em retaliação, os homens-pássaro tomaram o céu, em direção às catapultas. Todo homem que possuía um arco lançava flechas contra os demônios voadores. Anamika levantou os braços e enviou milhares de fios para o ar, que teceram redes grossas e capturaram os pássaros demoníacos restantes. As criaturas caíram pesadamente do ar.

Os sons da batalha foram substituídos por aplausos do exército de Anamika, enchendo-nos de esperança. Foi uma pequena vitória, mas uma vitória, no entanto, e os homens de Kelsey se mexeram com impaciência, esperando a nossa vez de entrar na briga. Os demônios dobraram sua velocidade e trovejaram através do campo. Quando a maior parte deles aproximou-se por nós, Kelsey sinalizou para a tocha no campo de petróleo que tínhamos criado. 

O exército de demônios gritou horrivelmente antes de cair ao chão, sucumbindo a uma morte final. Aqueles que passaram em segurança foram atacados por nossos homens que enviaram uma saraivada de flechas que Kelsey acendeu com poder de fogo. Quando o inimigo caiu, um por um, e as almas dos homens e animais foram libertados, Kelsey murmurou um último desejo:

— Espero que vocês encontrem a paz.

A luta se intensificou e nosso exército era mortal. Kelsey e eu lutávamos em perfeita simetria e éramos uma máquina de guerra. Eu destruía os inimigos que se aproximavam dilacerando-os com minhas garras e dentes. Kelsey como Durga era feroz e poderosa. Com seus oito braços ela empunhava suas armas e destruía aqueles que nos atacavam. 

Em um determinado momento, estávamos sendo atacados por uma horda de animais demoníacos. Kelsey atacou um demônio-urso, partindo-o em dois com a corda que lhe envolveu a barriga. O impulso a puxou para o lado, e ela se moveu ao redor do meu corpo. Somente quando eu saltei, ela agarrou o meu tronco de tigre com um dos braços. Quando eu disparei para frente, ela deslizou para o lugar nas minhas costas na hora certa. Eu saltei de forma leve por cima do corpo do urso e cai levemente em minhas patas dianteiras.

“Não faça isso de novo”.

“você tem que admitir que foi legal.”

“Legal? Você é um anjo da morte. Devastadoramente bela. Se a morte viesse para mim e parecesse com você, eu iria de bom grado.”

Percebendo que eles não eram páreo para nós, os demônios mudaram de curso e foram em direção aos nossos homens.

“Ren, nossos soldados.”

Eu me virei e corri de volta para o pequeno grupo de soldados que ainda estavam vivos. Dobrei as patas traseiras e saltei para o maior dos demônios: um homem-elefante que se sustentava sobre duas pernas poderosas. O demônio levantou uma arma para se defender, mas fui muito rápido. Com um golpe, a arma se foi. Em seguida, pulei, peguei a besta em suas mandíbulas, e com um aperto e uma torção de meu corpo, joguei a criatura para trás. Kelsey o queimou juntamente com uma dúzia de outros demônios.

“Seja cuidadoso. Você não se cicatriza mais por muito tempo.”

“Não se preocupe comigo, Sundari. Hoje eu posso fazer qualquer coisa.”

Usei os dentes para esmagar os ossos de um demônio e pulei para cima de outro, fixando-o no chão para que Kelsey pudesse acabar com ele.

Quando o último dos retardatários foi tirado do caminho, recuamos e nos reagrupamos com os soldados restantes. Nós vencemos várias centenas de demônios com apenas um punhado de homens, mas apenas algumas dezenas de nossas tropas haviam sobrevivido. Kelsey Falou-lhes que tinham a servido bem e disse-lhes para ficar ao redor da fogueira e descansarem.

Juntos, corremos de volta para o campo. Fumaça de corpos queimando infestava o ar. Senti o cheiro de açúcar queimado. Ouvimos o som de luta vindo de além do fogo e o rugido de um tigre distante: Kishan.

“É hora de ir, Kelsey.”

Kishan

A batalha começou. 

Ao longe eu podia ouvir o exército de Kelsey e Ren lutando contra os inimigos. Eles avançavam corajosamente, assim como o exército de Anamika. Ela e eu estávamos conectados e eu sentia todas as suas emoções, como ela sentia as minhas. Eu podia sentir sua hesitação ao pensar em enfrentar seu irmão e tentava animá-la:

“Nao se preocupe Ana, nós não o enfrentaremos.”

“Não estou preocupada Kishan.”

Então Anamika me mostrou a memória da última vez em que viu o irmão. Ela chorava e implorava para que ele ficasse. Ela pressentia que algo ruim aconteceria. Mas Sunil não a ouviu. E foi capturado. Anamika sentiu quando seu irmão mudou. A dor que ela sentiu era a mesma que eu senti quando fui amaldiçoado. Eu entendi que, naquele exato momento, Ana estava sentindo a dor de seu irmão. E Sunil estava sendo escravizado pelo amuleto de Lokesh. Então eu compreendi que os dois estavam ligados pelo sangue, por isso Lokesh a dominou na batalha anterior.

“Ana, eu sinto tanto.”

“Não sinta. Ajude-me a destruir o demônio.”

Embalado por seu ímpeto, corri através do campo de batalha. Nós dois lutávamos bem juntos. Nós pensávamos igual e abatíamos nossos inimigos com eficiência. Em pouco tempo, nossa parte estava cumprida. Havíamos abatido as hordas de demônio e enviamos os soldados para ajudar Kelsey. Anamika queria lutar também, mas nós tínhamos que ficar distantes. 

Um mensageiro veio até nós. Ele nos disse que as tropas de General Amphimachus haviam encurralado Sunil e o separado de seu exército. Acreditavam que a Deusa poderia resgatá-lo e trazê-lo para o nosso lado. Anamika ficou emocionada e olhou para Fanindra em seu braço, lembrando das palavras de Phet, sobre a capacidade daquela serpente, esperançosa em poder trazer seu irmão de volta.

— Onde ele está?

— Está há poucos quilômetros daqui, do outro lado da montanha.

Eu achei aquilo estranho. Sunil era o comandante do exército de Lokesh e dificilmente seria afastado de sua tropa. Eu já o tinha visto em campo e ele era extremamente habilidoso. Mas Anamika estava feliz e me pediu para irmos a ele. Eu acreditei que estaríamos longe de Lokesh e que  a cobra Fanindra poderia ser usada para libertar o espírito de Sunil. Eu a guiei, seguindo o mensageiro. 

Após alguns quilômetros, eu visualizei o campo onde Kelsey e Ren lutavam. Fiquei orgulhoso de ver minha noiva demonstrando tanto poder e destruindo hordas do exército inimigo. Então, mesmo distante, vi quando um redemoinho se formou perto dela e o demônio se materializou diante de Kelsey. Quando dei por mim, estávamos perto demais do campo de batalha. 

Uma fenda surgiu no chão e começou a se abrir, engolindo quem e o que estivesse em seu caminho. Eu consegui me desviar, enquanto Anamika se agarrava a mim. Novos buracos foram surgindo e, para me desviar deles, acabei aproximando-me demais de Lokesh. Só então eu vi o general Amphimancus erguer a espada contra Anamika. Ele lutava pelo lado de Lokesh. Amphimancus não havia sido dominado. Ele havia nos traído. 

Amphimancus ergueu a lança em minha direção e eu o ataquei com minhas garras. Vi Ren se aproximar de nós e então Durga atacou o traidor, derrubando-o com a corda. Mas não era Anamika quem me auxiliava. Era Kelsey. Eu me joguei contra o traidor e rasguei sua garganta. 

— Isso é lamentável. Ele não será capaz de apreciar plenamente sua transformação. Quando estão mortos, não dói — Lokesh zombou e puxou um medalhão do bolso. 

“Anamika, você está bem? “Vamos Ana, reaja, não o deixe te dominar.”

Mas era tarde. Chegamos perto demais, a ponto de Anamika não conseguir resistir à atração de Lokesh. Ela não respondia por si mesma e eu não conseguia mais me comunicar com ela. 

Senti o peso da armadura de Anamika sair de minhas costas. Olhei para cima e a vi segurando a lâmina de sua espada com as duas mãos e uma espécie de pipa presa a ela, elevou-a no ar, para longe de mim. Anamika caiu de pé e retirou suas armas, dirigindo-as para Kelsey, que moveu o corpo para o lado, quase pendurada em Ren quando o chakram voou por sobre suas cabeças. 

Eu havia perdido Anamika. Então saltei para me juntar à Ren e Kelsey. Escorreguei em uma poça de óleo que surgiu no chão e senti meu corpo sendo envolvido pelos fios do tecido divino. Anamika o estava usando contra mim. Eu tentei me soltar enquanto Sunil caminhava com a lança em minha direção, mas não consegui romper imediatamente os fios que me prendiam. 

— Anamika! Pare! — Ouvi Kelsey gritar, então a vi apontando a espada para a garganta de Anamika— Eu não quero te machucar!

Ela jogou a espada de Kelsey e tirou a Corda de Fogo dela colocando-a em torno de sua própria cintura. Usou o Lenço Divino para amarrá-la. Um por um, os oito braços de Ana agarraram os de Kelsey e lutaram para retirar as armas dela. Eu não via Ren. Quando ela acabou, virou-se para Lokesh.

— O que faço agora, Mestre?

— Diga-me, minha menina — ele murmurou em seu ouvido — qual o segredo de seu poder?

— Nosso poder se reside nas armas — explicou em uma voz hipnotizada.

— Será que Kelsey tem algum poder próprio?

Anamika agarrou o pescoço de Kelsey e o apertou:

— Não mais do que eu — respondeu

— Ah, então talvez…

Lokesh gritou quando Ren afundou as garras em suas costas. O demônio caiu no chão e rolou, mas não antes de Ren cortá-lo com as garras e morder seu ombro violentamente. Lokesh torceu-se para trás e usou o chifre para perfurar a armadura de Ren.

Ren ficou em pé, enquanto o sangue escorria de sua lateral. Seus membros de tigre tremiam, mas ele preparou-se para mais um salto. Lokesh levantou-se e gritou:

— Hoje você encontra a sua morte, Príncipe Dhiren!

Ele levantou os braços e lanças surgiram no ar na direção de Ren. Kelsey gritou e levantou a mão disparando uma chama até Anamika, que não reagiu, nem mesmo quando sua pele se queimou. Lokesh formou imediatamente um escudo de pedra. 

Ren saltou em Lokesh, garras e dentes à mostra. O demônio moveu os dardos para acertarem em Ren em pleno voo.

— Ren! — gritou Kelsey.

Ren rugiu e caiu pesadamente no chão. Lokesh baixou seu casco em cima da pata dianteira de Ren, e o osso estalou.

Eu arrastei meu corpo para longe, enquanto Sunil se aproximava e não conseguia mais ver Lokesh ou Ren, mas parei de ouvir o tigre branco e temi que o pior tivesse acontecido. Eu ouvi Kelsey chorar abertamente e gritar o nome de Ren. 

Era difícil me libertar completamente das tramas do tecido, mas eu sabia que Kelsey precisava de mim. Anamika estava dominada, Ren parecia estar fora de combate e nosso exército estava morto ou congelado. Kelsey lutava sozinha contra o demônio.

Consegui soltar as patas da frente quando Sunil se aproximava. Rapidamente eu soltei as cordas da minha boca usando as patas e me continuei me arrastando e tentando me livrar do resto das amarras. Fiquei livre o suficiente para lutar contra meu inimigo. Consegui ferir Sunil gravemente, dificultando sua locomoção, mas o deixei vivo e corri para perto de Kelsey. 

Eu a vi, deitada no chão, amarrada pelo lenço e presa à Anamika, que ainda era Durga. Kelsey chorava, quando Lokesh ordenou que Anamika a matasse. Anamika levantou o chakram e Kelsey não reagiu. Eu saltei para o seu lado e a empurrei com as patas. Então lancei-me contra Anamika.

Anamika e eu lutamos. Ela me atacava cruelmente, disposta a me matar. Eu tentava defender-me e desarmá-la, sem, contudo feri-la mortalmente. Eu ouvia Lokesh gritar de raiva ou frustração e o ouvi chamar por Sunil. Eu consegui perceber quando Sunil se aproximou e gritou com raiva, mas Lokesh jogou-o para longe.

— Esqueça! Eu mesmo cuidarei dessa pedra preta em meu sapato!

Lokesh ergueu a mão e eu vi estacas de gelo vindo em minha direção, à tempo de eu me desviar delas. Curiosamente, Lokesh recuou um passo, como se sentisse dor e quase caiu sobre Ren. Com raiva, ele chutou o corpo inerte do tigre branco à sua frente. 

Anamika havia parado de me atacar, bem como Sunil permanecia onde Lokesh o tinha jogado. Olhei para Kelsey enquanto ela encarava o corpo morto do tigre branco. Eu sabia que ela estava sofrendo. Seu rosto banhado em lágrimas. Vi seus lábios sussurrarem : “Por Ren”.

Então ela se ergueu. Sua face tornou-se escura, sombria. Aquela face que eu vira Kelsey assumir uma vez, quando ela lutou contra os lordes da chama. Eu sabia que Kelsey estava cheia de ódio e queria se vingar. Ela não era Durga agora. Ela era a mais mortal das Deusas. Impiedosa e destruidora, Kelsey era Kali. E sua ira estava voltada a Lokesh.

O demônio parecia enfraquecido. Olhei para sua mão e ela estava negra. De sua palma escorria um líquido dourado: “Fanindra”, pensei. 

Kelsey havia recuperado a corda de fogo e, com um estalo, enrolou-a em torno do pescoço de Lokesh, que gritou em agonia. Ele ergueu as mãos para a Corda, tentou puxá-la e removê-la, mas conseguiu apenas apertá-la. O medalhão ainda estava em sua mão. 

Uma luz dourada e intensa saiu da palma de Kelsey e cobriu a corda. Aquela luz que ela produzia quando Ren estava com ela. A luz resultante da ligação especial que indiscutivelmente existia entre os dois. Vi Kelsey fechar os olhos e soube que o espírito de meu irmão havia deixado seu corpo e estava com ela naquele momento. Ren estava morto. 

O medalhão de Lokesh se transformou em cinzas. Uma onda de ouro mágico fluiu pelo ar. A luz era tão intensa que disparou uma explosão e encheu o céu com a cor. Uma explosão sônica acompanhou o brilho, fazendo com que as montanhas se agitassem e gêiseres de água entrassem em erupção nos lagos próximos.

Com um terrível grito final, tudo estava acabado. O corpo sem vida de Lokesh, caiu pesadamente. Kelsey caiu no chão.


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