O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 34
Durga




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KISHAN

Na manhã seguinte, Phet voltou trazendo todas as armas de Durga. Kelsey parecia tranquila. Anamika estava ao seu lado, visivelmente nervosa, torcendo as mãos. Eu estava apreensivo. Phet deixou claro que Kelsey teria que estar no campo de batalhas. Eu sabia que ela era forte e corajosa, mas como ela iria lutar com um demônio poderoso como Lokesh havia se tornado, sem as armas da deusa?

Phet pegou o Lenço Divino e o segurou em suas palmas.

— Para se tornar verdadeiramente a deusa, deve estar em contato com todos os presentes antes de mudar.

Ele entregou à Anamika o Fruto Dourado, ajustou o fecho do Colar de Pérolas ao redor de seu pescoço e amarrou a Corda de Fogo em torno de sua cintura.

— Agora envolva o Lenço Divino em seu corpo e deseje se parecer com a deusa Durga.

Anamika se cobriu com o lenço. O vento soprou a ponta dele de leve e meu coração começou a bater rápido demais. Antes mesmo de Anamika retirar o lenço, eu fui tomado por uma emoção inexplicável. Eu senti meu corpo se arrepiar e pequenas ondas de choque circularem por minha pele. Meu coração parecia estar sendo puxado para fora do meu peito. Eu nunca tinha sentido nada assim antes.

Quando Anamika se desenrolou do lenço, ela era Durga. Eu já tinha visto ela incorporar a Deusa, na batalha anterior. Mas desta vez foi diferente. Anamika era a deusa que eu conhecera antes, aquela que nos aparecia em seus templos e capturava meus sentidos. A minha Durga.

A Deusa era bela, com seus cabelos longos e negros, movendo-se com a brisa. Sua pele brilhava como se ela estivesse iluminada. Seus olhos verdes olhavam ao redor com segurança. Sua boca vermelha e sensual sorria levemente. Ela era bonita e feroz. E irradiava poder.

— E agora, Quel-si, é a sua vez.

— O quê? — Kelsey gritou, me fazendo voltar a atenção para ela.

— O que você está fazendo? — Perguntei a Phet.

— Não há uma maneira de deixá-la para trás? — Ren protestou.

Phet respondeu a nós dois.

— Sempre foi o destino de Quel-si lutar nessa batalha. É por isso que ela é, foi e sempre será a escolhida. Sem ela — ele olhou para Ren — vocês irão perder tudo.

REN

Estávamos nos preparando para uma nova batalha. Naquela noite, Phet voltou ao acampamento de Anamika e cuidou dos homens ferido e desanimados. O pequeno Xamã conseguiu curar, não só o corpo, mas a alma ferida da maioria dos homens, devolvendo-lhes a esperança da vitória. 

Na manhã seguinte, o xamã orientou Anamika a estar com cada presente no momento em que se transformasse na Deusa. Assim, ele lhe entregou os prêmios e ela se enrolou no lenço. Quando se revelou, era Durga diante de nós. Não a Anamika disfarçada de deusa, como no dia anterior, mas a própria Deusa: forte, segura, poderosa e muito bonita. 

No momento em que Durga surgiu diante de nós, Phet informou que era a vez de Kelsey. Kishan e eu tentamos dissuadi-lo, mas Phet garantiu que sem Kelsey, nós seríamos derrotados. 

Phet pegou o fruto de Durga e o entregou à Kelsey. Durga entregou o colar de pérolas à Kishan e ele o prendeu no pescoço de Kelsey. Eu peguei a corda de fogo e a prendi em sua cintura, depois dei-lhe um beijo na testa e me afastei.

Kelsey virou-se para Phet e perguntou:

— O que eu desejo ser? 

— Você será Durga também.

Eu olhei surpreso para o xamã, mas ele continuava encarando Kelsey. Todos nós a olhávamos enquanto ela se cobria com o lenço, sem questionar. 

Quando ela retirou o lenço, era a visão mais linda que eu já tivera. Ela usava um vestido simples, preto, como o de Anamika. Seus cabelos longos, castanho-dourados se balançavam com a brisa leve que soprava. Sua pele brilhava com uma luz própria. E ela tinha oito braços. Kelsey também era Durga.

ANAMIKA

Quando Phet nos reuniu naquela manhã, eu estava nervosa. Eu sabia que precisava encarnar a deusa novamente e empunhar as armas em batalha. Mas eu estava com medo.

Na batalha anterior, eu fora dominada pelo demônio e quase usei aquelas armas poderosas contra meu próprio exército. Apesar de confiar em meu mestre, eu ainda tinha um pouco de medo de que aquilo acontecesse novamente e eu colocasse tudo a perder. 

Kelsey estava parada ao meu lado e parecia calma. A mais calma entre todos nós, pois Kishan e Dirhen pareciam muito desconfortáveis. 

O mestre me entregou os quatro prêmios e pediu que eu mudasse para a Deusa. Senti meus cabelos e minha pele arrepiarem-se levemente e minhas roupas mudarem. Vi mais seis pares de braços se formarem em meu corpo e então eu era Durga. Diferente do que acontecerá no dia anterior. Senti um choque percorrer minha pele e meu coração bater acelerado. Ele batia tão forte que chegava a doer. 

Quando tirei o lenço, todos me olhavam impressionados. Dirhen me encarava com um leve sorriso de satisfação. Eu sorri de leve ao perceber sua atenção. Então olhei para Kishan e meu coração voltou a doer. Ele me olhava diferente de Dirhen. Ele estava mais que admirado. Parecia emocionado. 

Eu gostei de ter dois homens como Dirhen e Kishan me olhando daquela forma. Eu gostei de saber que eu era uma mulher desejável. Eu me sentia segura e poderosa. 

A atenção deles durou apenas até o mestre anunciar que era a vez de Kelsey. Dirhen e Kishan tentaram convencer Phet a deixá-la de fora. Mas ela teria que participar da luta.

Phet pegou o fruto de mim e o entregou a Kelsey, enquanto eu tirava o colar de pérolas e desamarrava a corda da minha cintura. Kishan se aproximou e me olhou rapidamente, mas intensamente, suspirando de leve e pegou o colar. Dirhen pegou a corda e o mestre pegou o lenço. 

Kelsey enrolou o lenço ao redor de seu corpo e quando se desenrolou, ela era impressionante. Seus belos cabelos castanhos estavam ainda mais belos e brilhantes. Sua pele branca estava luminosa e seu semblante suave parecia angelical. Kelsey era graciosa, mesmo com oito pares de braços, mas parecia tão poderosa quanto eu. 

Kishan e Dirhen olhavam para ela como se nunca tivessem visto alguém mais belo. Sua atenção a ela era total, como se eu não estivesse mais ali. 

— O quê? — Kelsey perguntou a eles. — O que é? É um dos meus braços fazendo algo de errado?

— É que você… Você está… — Kishan começou e engoliu em seco.

— De tirar o fôlego — Dirhen terminou.

Senti ciúmes quando Dirhen ofereceu a mão a Kelsey. Ela colocou uma mão sobre a dele, que a beijou calorosamente, depois esfregou seus dedos sobre o anel que ela estava usando e sorriu. Kishan se adiantou e pegou outra mão, colocando a palma sobre sua bochecha. Eu quase explodi de raiva e ciúmes. Meus dedos faiscaram e meu coração parecia que ia explodir quando ele a beijou. 

Eu era Durga, a deusa predestinada a derrotar Mahishasur. Mas Kelsey também era. E era ela quem tinha a total devoção daqueles dois homens, os quais eu também desejava.

REN

Eu sempre amei Kelsey. Eu sempre soube que precisava dela e que a queria sempre perto. Nas últimas semanas, eu me aproximara de Anamika, ajudando-a a se tornar a deusa Durga. Eu gostava dela, apreciava sua companhia e a achava linda. Comecei a pensar que, talvez, meu irmão estivesse certo e meu destino não fosse ficar com Kelsey. Pensei que eu talvez pudesse me apaixonar por Anamika e ser o consorte da deusa Durga. 

Concluí que tudo o que aconteceu depois que a Deusa levou minhas lembranças de Kelsey, teve um propósito: o de me preparar para abandonar meus sentimentos por Kelsey e criar uma vida nova, com Anamika. Mas ao ver Kelsey como Durga, eu não tive dúvidas: Ela também era uma Deusa, e meu destino era estar com ela e servi-la como ela desejasse. Ainda que Kelsey se casasse como meu irmão e eles tivesse o bebê de olhos dourados, eu ainda estaria com ela, protegendo-a e servindo-a. Eu seria seu devoto mais fiel e dedicaria meus dias para honrá-la. 

A visão de Kelsey como Durga era maravilhosa. Ela exalava poder e luz. Aquela era sua missão. Era ela quem derrotaria Lokesh. Por suas mãos o demônio pereceria e eu seria salvo. 

Aproximei-me da minha Deusa e lhe ofereci a mão. Ela aceitou, colocando uma das mãos sobre a minha. Eu abaixei a cabeça para beijá-la e vi que ela usava o meu anel. A pedra azul estava em seu dedo anelar, como um lembrete de que eu seria sempre dela. Sorri e ela me sorriu de volta. 

Kishan pegou a outra mão de Kelsey e beijou sua palma. Ele também era um devoto da Deusa. Phet avisou:

— Agora usem o seu poder de trazer suas armas até vocês.

Ambas levantara os braços e as armas douradas subiram no ar. As deusas abriram as mãos e armas voaram para elas. O chakram, um broche, o kamandal e Fanindra, foram para as mãos estendidas de Anamika, assim como o Fruto Dourado e o Lenço Divino.

O Colar de Pérolas e a Corda de Fogo ficaram com Kelsey, além de um broche, a gada, o tridente e o arco e flechas. A espada dourada subiu no ar e se dividiu em duas. Uma voou para Kelsey, a outra para Anamika. As armas de Kelsey mudaram de cor, passando de dourado para prateado.

Eu admirava as duas mulheres diante de mim. Era incrível sentir o poder exalando delas. Ambas eram lindas e poderosas, duas faces distintas da mesma Deusa. Duas mulheres diferentes, com um mesmo destino. Eu estava feliz por estar participando daquele momento lendário. 

— Agora vocês estão prontas para a batalha — Phet deu uns tapinhas no meu ombro e continuou — Dhiren e Kishan entrarão em batalha com as deusas e lutarão ao lado delas no caminho que o destino escolheu para vocês. Senhoritas, ativem os seus broches.

As duas tocaram os broches e foram envolvidas por armaduras. A de Anamika era dourada e a de Kelsey prateada, como suas armas. Elas usavam botas até os joelhos e tiaras enfeitadas, dourada em Anamika e prateada em Kelsey. 

Kelsey olhou para a tiara na cabeça de Anamika e riu debochada, depois pareceu descontente ao tocar a própria cabeça e perceber que usava uma tiara semelhante. Ela olhou para si mesma, depois para mim. Então ficou vermelha, o que fez meu coração disparar. 

Então, eu senti a dor da transformação e logo me tornei o tigre branco. Kishan se tornou o tigre negro. Kelsey parecia preocupada, enquanto Anamika apenas observava em silêncio. 

— O que está acontecendo? — perguntou Kelsey a Phet.

— A hora chegou, Quel-si. Eles estão cumprindo seu propósito — disse ele.

Kelsey tocou em minha cabeça com uma das mãos, e com outra tocou em Kishan. Nós fomos envolvidos por placas metálicas leves e uma sela. Kishan era dourado, então, eu era prateado, como Kelsey, que estava à nossa frente.

Anamika ficou entre nós dois e afagou a cabeça de Kishan. 

— Interessante — disse ela.

Kishan rosnou levemente em resposta e se aproximou de Kelsey, colocando a cabeça em uma de suas mãos. 

— Você está brincando, certo, Phet? Isso não é o que acho que é.

— É exatamente isso, Quel-si. Espera-se que a deusa Durga monte em seu tigre para a batalha.


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