O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 33
Dois lados da mesma moeda - Kishan




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No dia em que Ren pegou a mochila com as armas e saiu para treinar com Anamika, Kelsey ficou perturbada. Ela parecia não se conformar com o fato de que Ren havia entregado as armas à Anamika. Eu também estava um pouco decepcionado. Ren havia excluído a mim e a Kelsey no preparação de Anamika para se tornar Durga. 

Naquele dia, logo após almoçarmos, Kelsey sumiu. Ela não me avisou para onde iria, então eu imaginei que ela tivesse ido atrás de Ren. Perguntei a um dos guardas e ele confirmou que Kelsey foi em direção à floresta. Algum tempo depois, ela passou correndo pelo acampamento. Eu estava ocupado e demorei um pouco para ir atrás dela. Procurei na tenda, mas ela não estava ali. Alguns soldados me disseram que ela tinha ido em direção à tenda de suprimentos. O guarda que vigiava a tenda me disse que ela tinha passado por lá, depois fora em outra direção. 

Encontrei Kelsey sentada no galho grosso de uma árvore. Ela havia colocado a lona de uma tenda sobre outro galho acima e estava sentada com as pernas cruzadas e o queixo descansando em seus punhos. Eu a observei por alguns minutos. Ela não disse nada.

— O que você está tentando fazer, Kelsey?

— Obter certa distância — falou de forma abrupta.

— De mim? — perguntei suavemente.

— De… tudo — murmurou.

Percebi que Kelsey estava magoada. Ela sentia-se traída e queria ficar sozinha. Eu pretendia respeitar sua vontade. Puxei a lona da árvore e percebi como era pesada. 

— A lona é pesada. Estou surpreso que você tenha conseguido subir na árvore sozinha.

— No auge da raiva não há diferença.

Eu subi na árvore e fiquei sentado por algum tempo ao lado dela. Eu queria que Kelsey soubesse que eu estava ali por ela. Se ela precisasse conversar, desabafar, eu a ouviria. Mas ela permaneceu em silêncio. 

— Se gosta de sua própria barraca longe de todos nós, providenciarei isso, mas não a deixarei desprotegida. Atribuirei soldados para você do meio daqueles que confio. Isso te agradará?

Sem olhar para mim, Kelsey concordou com a cabeça. 

Eu desci e a deixei sozinha. Pedi a alguns homens que montassem uma tenda confortável para Kelsey. Mandei que ficassem de guarda e a protegessem a qualquer custo. Também avisei aos homens que se ela quisesse falar comigo, a qualquer hora, eles deveriam me chamar.

As semanas se passaram e Kelsey não me procurou. Mesmo de longe, eu cuidei dela, inspecionando com os guardas se ela tinha tudo o que precisava. Eu soube que ela estava treinando com as outras mulheres do grupo. Eu estava ajudando na preparação dos homens para a batalha e não a vi nas semanas seguintes. Ela nunca mais veio para o nosso meio. 

Ren também estava preocupado e constantemente perguntava por ela. Os guardas me diziam quando ele ia até eles perguntar por Kelsey. E isto acontecia todos os dias.

Quando nosso exército estava pronto para a batalha, nós mudamos o acampamento para um lugar mais estratégico. Anamika, Ren e eu, decidimos que Kelsey não participaria da batalha. Então, decidimos não dizer a ela.

Antes de partir escrevi uma carta e mandei o guarda entregar a Kelsey, ordenando que eles não saíssem de perto dela e não permitisse que ela saísse do acampamento. A carta dizia o seguinte:

Estamos indo para a batalha hoje, Kelsey. Nós três decidimos que seria melhor que você ficasse para trás. Ter você na guerra seria somente uma distração para nós e queremos que essa guerra acabe o mais rápido possível. Por favor, entenda que apenas gostaríamos de mantê-la a salvo. Na semana passada, instruí os guardas a te trazerem a mim no instante em que você perguntasse por mim, mas você nunca veio.

Eu te amo, Kelsey. Gostaria que você soubesse pelo o que estávamos lutando.

— Kishan

Chegamos ao campo de batalha muito confiantes. Nossos soldados eram numerosos, nossos generais habilidosos, havíamos estudado o inimigo e preparado a melhor tática para vencê-lo. Anamika estava montada em seu cavalo, entre Ren e eu. Ela estava sob a forma da Deusa Durga e era gloriosa. Eu não conseguiria descrever a emoção que eu senti em lutar ao lado dela.

Quando o exército inimigo veio a campo, Lokesh não estava com ele. À frente, estava o irmão de Anamika. Vi que ela ficou abalada, mas não se abateu, mantendo-se firme.

Quando a luta começou, a superioridade do exército inimigo era clara. Eles tinham magia. Lokesh controlava toda a sorte de animais selvagens e os usava contra nossos homens. Nós esperávamos que o demônio estivesse na batalha, contando que a história estivesse certa e Durga o vencesse. Mas ele não estava lá.

Ren me pediu para dar cobertura, pois ele e Anamika iriam atrás de Lokesh Eu o fiz, enquanto os dois galopavam em direção às montanhas. Estava claro que se não destruíssemos Lokesh, nosso exército não teria chance contra suas forças malignas.

Quando eu vi meu irmão de novo, nós já estávamos nos retirando do campo de batalha. Nosso exército estava destruído e Anamika obviamente não conseguiu encontrar Lokesh. Ela estava em sua forma normal, com apenas dois braços e sem as armas, que estavam em uma bolsa com Ren.

Nós nos preparávamos para recuar e voltar ao acampamento, quando vimos ao longe, uma série de fenômenos sobrenaturais atingirem e destruírem-no. Sabendo que Kelsey estava lá, Ren e eu galopamos a toda velocidade para encontrá-la. Então encontramos os guardas que deveriam estar cuidando dela. Eles nos disseram que Kelsey havia saído mais cedo e ainda estava no penhasco. Antes que eu pudesse me virar, Ren foi atrás dela.

Voltei ao acampamento e só havia destruição. Anamika arrasada tentava cuidar dos feridos. Me ofereci para ajudá-la e ela me pediu para voltar ao campo de batalha e ajudar a resgatar aqueles que estivessem muito feridos para voltar sozinhos. Eu fui e voltei trazendo homens feridos algumas vezes. Então, fui surpreendido por uma figura no meio dos doentes: Phet. Ele estava montado na égua de Kelsey e sorriu ao me ver.

— Olá tigre negro, o pai de muitos. Estou vendo que o dia foi ruim para vocês.

Boquiaberto, falei como  o xamã.

— Phet? O dia realmente não foi bom. O demônio nos venceu, mesmo com a deusa à frente da batalha. Mas como o senhor chegou até aqui? E o que veio fazer?

— Eu vim ajudá-los a derrotar o demônio. Vamos, leve-me para o acampamento. Precisamos nos reunir.

Assenti e me virei, para que Phet me seguisse. Eu queria saber como ele chegara ali e estava intrigado.

Chegamos ao acampamento e eu ouvi a voz de Ren e Anamika. Desci logo do cavalo e entrei com pressa na tenda. Ren tentava consolar Anamika, que parecia estar com raiva de alguma coisa. Kelsey os observava de costas para mim.

Eu estava feliz e aliviado por vê-la bem. Estava com saudades dela, pois havia muitos dias que não a via, já que ela se isolara longe de todos. Meu coração ansiava por ela. Eu a puxei para mim, mantendo-a junto ao meu peito.

— Você está bem? Está machucada em algum lugar?

— Se ela estiver machucada, é provavelmente devido à atenção generosa que você tanto derrama em cima dela — Anamika respondeu irritada. — Há muito trabalho a ser feito aqui.

— Receio que o trabalho tenha de ser delegado a outros.

— Phet! Você voltou.— comemorou Kelsey ao ver o velho homem.

— Kishan me encontrou e me trouxe para o acampamento.

Ren apertou a mão de Phet.

— Estamos felizes de ter você. Bem-vindo.

Então Ren encarou Kelsey. Eu me coloquei à frente dela, desafiando meu irmão. Ren queria tudo para si: o comando do exército, o respeito da tropa, a atenção de Anamika, o crédito por Durga e o amor de Kelsey. Este último, eu não permitiria que ele tomasse de mim.

Por um segundo. A tenda ficou em silêncio, a tensão entre nós pairando no ar. Então Phet se aproximou e deu tapas na minha bochecha e na de Ren.

— Venham, tigres. É tempo de dois filhos dignos da Índia cumprirem o destino de suas vidas.

— Mestre? — ouvi a pergunta numa suave voz feminina.

Ficamos de lado quando Phet avançou.

— Anamika, que bom vê-la.

— Eu nunca pensei que fosse vê-lo novamente. Você não nos disse que ia embora. Como chegou aqui depois de todos estes anos?

Kelsey levantou a mão.

— Espere um segundo. Mestre? Anos se passaram? Phet, você se importaria de nos dizer o que está acontecendo? Pensei que você fosse o humilde servo da deusa.

— E assim sou. Venham. Temos muito a discutir. Traga todas as armas e presentes de Durga. Nós precisamos deles esta noite.

O velho xamã caminhou até a a beira de um riacho enquanto nós o seguíamos. Ele sentou-se em uma pedra. Anamika imediatamente se posicionou aos seus pés como uma jovem acolita. Ren tocou o braço de Kelsey e apontou para um lugar . Ela se sentou e eu me sentei ao lado dela, irritado pelo atrevimento de meu irmão.

— Eu sei que vocês estão se perguntando por que estou aqui — Phet começou. — Anamika está certa em dizer que eu era seu mestre quando ela e seu irmão eram jovens.

— E o que você ensina? — Kelsey perguntou.

Anamika virou-se descontente para Kelsey:

— Seria melhor mostrar uma atitude respeitosa.

— Ei, ele foi o único que mentiu para mim. Terá que ganhar de volta o meu respeito.

— Quel-si está bastante certa. Eu mereço a sua suspeita. Não sou quem eu a levei a acreditar. Na verdade, não sou quem eu levei qualquer um de vocês a acreditar.

— O que você quer dizer? — Ren perguntou.

— Talvez seja melhor para vocês pensar em mim como o Espírito da Índia. Eu sirvo como um protetor ou guardião. Ao garantir um lugar a Durga na história, garanti o futuro. Ao fazer isso, assumi vários papéis, incluindo o de mestre para uma jovem que passou a ter uma mente brilhante para a estratégia — ele sorriu para Anamika.

— Obrigada, mestre.

— Espere um segundo — Kelsey falou — Isso tudo é no passado. Você me disse que você serviu a deusa.

— Sim, eu o faço.

— Mas…

— Seja paciente, Quel-si. Explicarei tudo — ele se ajeitou para ficar um pouco mais confortável, então continuou. — Eu era mestre de Anamika. Quando ela era uma jovem senhorita, passei várias horas por dia com ela para que eu pudesse prepará-la para o que estava por vir. Ensinei-lhe sobre a guerra e a paz, a fome e abundância, riqueza e pobreza. Eu ensinava a ela em muitas línguas, incluindo inglês, porque eu sabia que um dia ela iria atender a vocês três.

— Isso foi antes ou depois de me conhecer? — Kelsey perguntou.

— Não há antes ou depois. Há apenas terminado e inacabado. Alguns dos meus trabalhos eu terminei e alguns ainda tem que ser feitos. Mas quando a obra estiver concluída, o que foi desfeito deixará de existir e tudo o que restará é o que é.

Kelsey balançou um pouco a cabeça, descontente:

— Phet, você está me matando.

Com um brilho nos olhos, confessou:

— Às vezes eu confundo a mim mesmo.

— Mas por que o ardil? Por que me fazer acreditar que você é uma coisa quando na verdade é algum tipo de espírito onisciente e supremo?

— Era necessário que eu fosse a pessoa que você viu para que você pudesse se tornar a pessoa que eu vejo.

Kelsey ficou perplexa. Aproveitei que todos estavam em silêncio e perguntei sobre o que realmente importava.

— Você mencionou que está aqui para nos ajudar a derrotar Mahishasur. Talvez, se pudéssemos nos concentrar no que é concreto, as complexidades da eternidade possam parecer menos desgastantes.

— Falou como um verdadeiro guerreiro — disse Phet, e esfregou as mãos. — Sempre admirei sua capacidade de se manter firmemente focado. Muito bem. Vamos começar com as armas. Posso?

Anamika ofereceu-lhe a bolsa, e ele removeu a gada.

— Ah, um instrumento finamente trabalhado. Ter esta arma foi um benefício para você em suas viagens?

Ren respondeu:

— Eu usei a gada em Kishkindha contra as árvores de agulhas. Ela as feriu para que nos deixassem em paz.

— Hmm — Phet resmungou. — Mais alguma coisa?

— Eu usei-a contra a coluna no templo de Durga —Kelsey falou.

— Eu… Eu tenho um templo? — A jovem deusa perguntou.

— Sim. Vários deles.

— Nós também a usamos na batalha como uma arma —Acrescentei.

— Sim, mas você — Phet disse olhando para Kelsey— não a usou como ela foi feita para ser usada.

Ele recolheu o arco e as flechas de ouro e fez as mesmas perguntas. Um por um, ele mostrou-nos as nossas armas, o chakram,o tridente, os broches e as espadas. Então ele pegou Fanindra e ela veio à vida. Ele acariciou a cabeça de ouro.

— Ela é, talvez, o presente mais subutilizados de todos — Phet acusou suavemente.

— Mas Fanindra só ajuda quando quer —Disse Kelsey.

— Você pediu-lhe ajuda? — Ele perguntou gentilmente.

— Não — admitiu — eu não o fiz.

Ele correu os dedos sobre seus anéis brilhantes.

— A mordida de Fanindra pode curar. Ela tem influência sobre outras criaturas da natureza, muito mais nos répteis com laços estreitos com ela, mas ainda pode acalmar os grandes predadores. Se olhar em seus olhos, eles serão pegos em seu feitiço. Criaturas sobrenaturais, tais como aqueles criados por Lokesh têm naturalmente medo dela. Ela ilumina a escuridão, mas também pode discernir a escuridão nos outros. Você estava ciente de tudo isso?

Todos nós negamos com a cabeça.

— Todas essas armas douradas vão mostrar seus verdadeiros poderes quando bem manejadas por uma deusa.

Kelsey levantou a mão para o ar.

— Sobre isso…

— Tudo virá à tona em breve, Quel-si. Primeiro, tenho que ensiná-la a maneira correta de usar os presentes de Durga.

Ele vasculhou a bolsa e encontrou o Fruto Dourado, a Corda de Fogo, e o Colar de Pérolas. Então ele educadamente pediu a Anamika que lhe entregasse o Lenço Divino.

— Quando usados separadamente, estes presentes têm grande poder, mas quando combinados, eles podem se tornar algo mais. Por exemplo…

Ele pegou o Colar e o Lenço Divino um em cada mão e juntou-os. Quando ligados, o Lenço enrolou rapidamente em torno do Colar e mudou as cores exibidas até formar um arco-íris. O tecido subiu para o ar e todo o seu comprimento cercou Phet e então girou entre cada um dos nós. Quando o fez, nós estávamos limpos e vestidos com roupas novas.

Anamika maravilhou-se.

— Esse poder é realmente incrível.

— Nós já vimos isso antes — Kelsey olhou para Anamika. — Durga usou esse poder sobre nós no templo antes de conhecermos os dragões.

Anamika ficou séria.

— O que acontece quando você combina a Corda com o Colar? O fogo e a água não irão se anular? — Perguntou Ren.

— Vamos testá-los e ver — Phet pegou a Corda de Fogo e disse: — Quel-si, se você concordar.

Kelsey infundiu a corda com seu poder de fogo. Phet amarrou o Colar na ponta e chicoteou a corda no ar.

Ele produziu uma grande fenda e um estrondo no céu

— O que é isso?

— Chuva de fogo — Phet respondeu.

Com outro estalo, o chuveiro de fogo parou e os foguinhos lançados ao gramado desapareceram.

— Quando estes dois são postos juntos, a água irá assumir as propriedades do fogo e vice-versa. Vocês podem criar um lago de fogo ou fazer o fogo fluir como um rio. Também podem criar um líquido que queima. Vocês três chamariam isso de ácido.

Ren assentiu como se entendesse tudo.

— Outra coisa para se ter em mente é que quando empunhada por uma deusa, a Corda queima em azul. Esta é uma chama purificadora. Ela busca os lugares sombrios no coração dos homens e os escalda, não fisicamente, mas provoca grande tumulto interno naqueles que causam dor aos outros. Vocês também sabem que têm sido capazes de viajar para o passado usando a Corda de Fogo. A razão disso é que a Corda tem a habilidade de abrir uma cadeia cósmica. Quando pediram à Corda que os levassem para conhecer seu destino, ela encontrou uma fenda na estrutura do universo e abriu uma porta, permitindo que vocês seguissem a cadeia cósmica até este lugar.

— Eu não entendo tais coisas — Anamika disse. Ela virou-se para nós e perguntou — vocês três não são deste mundo então? São deuses que viajam em cadeias?

Eu respondi.

— Nós não somos deuses, Anamika. Somos do mesmo mundo que você, mas nascemos muitos anos no futuro.

— Tal poder está além da minha compreensão.

Phet pôs sua mão no ombro dela.

— Você deve tentar aprender essas coisas. Sei que isso é impressionante demais para você. Talvez eu possa explicar de outra maneira — ele ergueu a espada dourada e a segurou na direção dela. —Como você sabe quando uma espada é feita inadequadamente?

— Se o cabo é solto ou mal estruturado, ela vibra muito quando usada contra um alvo, não está equilibrada. Se não for aquecida apropriadamente, se tornará frágil e quebradiça.

— Está correto — Phet sorriu calorosamente para sua ex-aluna. — Pense no mundo como uma espada. O aço é dobrado repetidamente. A Terra também tem essas tais dobras e camadas. Esse dobramento torna a espada mais forte e mais bonita. Quando uma espada é forjada, o aço é aquecido em uma alta temperatura, então é rapidamente resfriado. Se for feito apropriadamente, você terá uma arma forte e sólida. Se não, microscópicas fraturas ou rachaduras se formam quando a estrutura cristalina é fraca. Nosso mundo se parece muito com isso. Existem fissuras e desdobramentos no espaço e tempo. A estrutura do universo está em constante movimento e mudança, se expandindo e contraindo como o metal ao ser aquecido e arrefecido várias vezes. Assim como a matéria é divida em partes e transformada, ela cria segmentos. Segmentos que equivalem ao que ela já fora, ao que é agora, e ao que será. Tudo está conectado. É o que quero dizer com cadeias cósmicas. É como estes três viajaram até você.

Anamika concordou.

— Então iremos recriar o mundo e remediar o que está fraco.

— Essa é a sua herança, Anamika — Phet afirmou.

Phet começou a nos mostrar um poder incrível atrás do outro. Ele usou a gada e o Colar para abrir uma fissura na terra e um gêiser disparou alto. Mergulhou a ponta dourada de uma flecha no kamandal e chocou a todos nós quando lançou a flecha na perna de Ren. A flecha desapareceu rapidamente e o corte em seu couro cabeludo se curou. Quando Ren examinou sua perna, era como se ele nunca houvesse sido atingido.

— Ren e Kishan já não são capazes de se curar? — Kelsey lhe perguntou.

— Não. Infelizmente, eles não são mais.

— Por quê? O que fizemos?

— Vocês não fizeram nada. É simplesmente a hora de eles cumprirem seus destinos. Seus corpos se mantiveram jovens e preservados para que pudessem lutar aqui.

— O que será de nós quando a batalha terminar? — Ren perguntou.

Phet colocou o kamandal no chão e respondeu baixinho:

— Talvez seja melhor pensar no futuro depois que cuidarmos do presente, hein?

Phet envolveu a Corda de Fogo em sua cintura, prendendo-a como um cinto. Quando ele combinava qualquer arma com ela, a arma se acendia com fogo. Ele combinou uma flecha com o Colar e a afundou no tronco de uma árvore. A árvore inteira transformou-se em água, assumindo a forma do que era antes por alguns segundos e então caindo, inundando a vegetação rasteira.

Parecia que as possibilidades eram infinitas. Estávamos ansiosos para experimentar com as armas. Eu me levantei procurando o chakran, mas Phet segurou meu braço e sacudiu a cabeça. Dei um passo para trás.

— Devo adverti-los com relação a duas coisas. A primeira é que quando usarem a Corda de Fogo, vocês devem ser bem específicos em suas instruções. Se pedirem a ela para que os levem a um lugar seguro, poderiam acabar em outro tempo e espaço. Não posso enfatizar o suficiente a importância de cada um de vocês nesta batalha. Vocês devem ficar aqui. Podem, contudo, usá-la para se moverem rapidamente pelo campo de batalha, mas devem dizer exatamente para onde desejam ir.

Eu assenti e perguntei:

— Qual é a outra coisa sobre a qual você deve nos alertar?

Phet não disse nada por um momento, mas olhou para Anamika.

— Há uma razão por você não ter lutado como a deusa hoje ou liderado a batalha como desejava, jovem?

A cabeça dela abaixou-se. Eu me virei para olhar e senti compaixão ao vê-la triste e envergonhada. Ren colocou a mão em seu ombro para oferecer apoio.

— Estou envergonhada por admitir, mas… — ela olhou rapidamente para Phet, que estava esperando pacientemente que ela terminasse. Ela tirou uma faca de sua bota e esfaqueou o chão algumas vezes. — Eu estava sob a influência do demônio.

Phet pressionou:

— Você o sentiu tomar conta quando estava mais próxima da montanha. Estou certo?

— Sim — ela admitiu.

Ren acrescentou:

— Tive que afastá-la quando ela  chegou muito perto. Peguei as armas porque ela as apontou para suas próprias tropas. Quanto mais distante ela estava da batalha, mais controle ela teve sobre si mesma.

— Eu suspeitava disso — Phet disse. Ele ajoelhou-se em frente à Anamika e ergueu seu queixo para que pudesse ver o seu rosto. — Isso não é culpa sua. Também aconteceu com Ren e Kishan.

— O quê? — dei um passo adiante, ofendido.

— Eu não estava sob o controle de Lokesh nem mesmo quando ele me torturou — Ren declarou.

Phet segurou meu braço:

— Vocês estavam sob o mesmo tipo de poder antes que o tigre os salvasse.

Ren levantou-se.

— Você está falando do talismã. Sim… Ele afetou a mim e Kishan porque tínhamos o mesmo sangue.

— Ele o usa junto de seu amuleto para criar seu exército de demônios e o irmão gêmeo de Anamika é o comandante dele. Porque ele está sob sua influência, o controle que Lokesh tem sob Sunil a domina quando ela está muito perto.

Anamika começou a chorar e Kelsey segurou sua mão.

— Nós apenas temos que destruir o talismã, então.

— Vocês devem fazer disto a sua prioridade — Phet olhou para Kelsey — Vocês quatro entrarão em batalha pela manhã. Agora devem usar essas horas restantes para descansar. Retornarei ao acampamento e prepararei suas tropas para acompanhá-los. Fiquem aqui até o meu retorno.

Segurando a capa recém-feita, Phet se afastou para a escuridão, deixando a nós e as nossas armas para trás. Anamika ainda parecia estar impressionada com tudo.

Kelsey pediu ao lenço que fizesse uma tenda para Anamika e a acompanhou para dentro, retornando rapidamente. Ren acompanhou Phet até o acampamento e eu fiquei sozinho com Kelsey. Eu a abracei.

— Você ainda está zangada comigo?

— Nunca estive zangada com você. Estava zangada com Ren e Anamika, e eu estava confusa.

— Eu entendo. Deve ter sido difícil para você vê-los juntos. Você ainda tem sentimentos por ele.

Kelsey ficou em silêncio, claramente constrangida. Não era esse o meu objetivo. Eu só queria que ela soubesse que eu a entendia. Segurei seu queixo e olhei em seus olhos. Kelsey envolveu minha cintura com os braços e encostou a cabeça em meu ombro e começou a chorar, enquanto eu esfregava suas costas.

— Não chore bilauta. Você pode me contar o que está sentindo sempre. Pode conversar comigo sobre qualquer coisa, até mesmo se achar que irá me machucar. Eu te amo, Kelsey Hayes. Quero me casar com você, ter uma dúzia de filhos e envelhecer com você. Você me tornou um homem completo de novo e me deu mais do que eu poderia desejar, mais do que eu merecia ao aceitar ser minha esposa. Sei que Ren é parte da sua vida. Ele é parte da minha vida também. Nos preocuparemos com o futuro depois que cuidarmos do passado. De acordo?

— De acordo.

Kelsey ficou na ponta do pé para me beijar. Eu estava com saudades dela. Senti falta de estar com ela, de tê-la em meus braços, de beijá-la. Eu a tomei em meus braços e a beijei com paixão. Todo o meu amor e o meu desejo por ela estavam naquele beijo. Kelsey era o meu porto seguro. Era nela que eu me encontrava. Ela era tão importante para mim quanto o sangue correndo por minhas veias.

Kelsey respondeu ao beijo da mesma forma, jogando os braços ao redor do meu pescoço. Eu apertei sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim. Quando estávamos saciados, nos separamos e sorrimos. Eu lhe dei um beijo carinhoso na bochecha.

— Eu também te amo, Kishan.


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