O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 3
Reencontro - Ren




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Seguimos em velocidade por toda a noite. Paramos pela manhã e escondemos as motos atrás de arbustos. Kishan aproximou-se de Kelsey e a abraçou:

— Pensei que nunca mais fosse te ver. — Você está bem? Lokesh te feriu?

— Só um pouco. Ele me machucou um pouco e me beijou algumas vezes, mas na maior parte do tempo me deixou sozinha. Nunca vi sua câmara de tortura.

— Bom — Kishan resmungou.

Os dois ficaram abraçados por algum tempo. Kishan estava aliviado e Kelsey relaxou pela primeira vez desde que a encontramos. Ela sabia que estava segura.

Quando Kishan finalmente a soltou, eu me aproximei. Eu não sabia o que dizer, ou como dizer. Eu senti tanto medo durante tanto tempo, que os sentimentos estavam presos em meu peito. Se eu dissesse qualquer coisa, não conseguiria segurá-los dentro de mim.

Kelsey olhou nos meus olhos e eu pude ver que ela também tinha sentimentos guardados, prontos para transbordar através dela. Hesitante, eu toquei em sua bochecha. Ela fechou os olhos por alguns segundos e as lágrimas começaram a descer pelo seu rosto. Então eu a puxei para um abraço.

Kelsey relaxou completamente e começou a chorar. Seu corpo se sacudia e ela soluçava, segurando com força a minha camisa, como se quisesse se prender a mim e se sentir segura.

Kishan abaixou a cabeça mas não disse nada. Ele saiu para providenciar uma barraca, enquanto eu acariciava os cabelos de Kelsey, falando baixinhos palavras reconfortantes para que ela se acalmasse.

Quando a barraca ficou pronta, eu peguei Kelsey em meus braços e a levei até lá. Eu entrei com ela e a embalei em meu colo, aninhada em meu peito. Kishan trouxe uma xícara de chá, mas Kelsey balançou a cabeça, recusando-se a beber. Eu insisti até que ela bebesse tudo.

Kishan e eu nos transformamos em tigres e nos deitamos ao lado dela. Nós três dormimos, finalmente. Na manhã seguinte, meu irmão e eu acordamos primeiro e saímos da barraca. Decidimos que, apesar de ser mais seguro voltarmos para casa o quanto antes, deixaríamos Kelsey descansar pelo tempo que ela precisasse. Assim que a ouvimos acordar, Kishan entrou na barraca para falar com ela.

— Pensei ter ouvido você se levantar.

— Temos tempo para um banho de esponja antes de irmos?

— Se você me incluir nessa situação, farei termos tempo.

— Perdi sua provocação. Ei, onde estamos afinal?

— Uzbequistão.

— Isso não ajuda…

— Ásia central. Estamos a mais de mil e quinhentos quilômetros de casa.

— Uau, esse é um longo caminho para percorrermos com as motocicletas. Kishan? Você acha que ele… está morto?

— Não sei. Lokesh viveu por um longo tempo.

— Espero que ele esteja morto.

— Também espero, Kelsey.

— Kishan, obrigada por vir por mim.

— A qualquer hora, linda.

Kelsey improvisou um chuveiro nas pedras usando o colar de pérolas e pediu ao lenço que pendurasse uma cortina. Depois de algum tempo, ela retornou limpa e com os cabelos molhados. Kishan pediu para que ela viajasse com ele. Kelsey me olhou angustiada antes de subir em sua garupa.

Viajamos durante horas, parando algumas vezes para Kelsey descansar, e para abastecer as motocicletas.

No posto de gasolina, Kishan encheu as motos enquanto Kelsey e eu pegamos um pente e um protetor solar, que eu fiz questão de esfregar na pele dela. Ela me disse que a ideia do casamento com Lokesh foi sua, como uma forma de mantê-lo afastado e ganhar tempo. Senti raiva ao imaginá-lo tocando em Kelsey. 

— Ele… te machucou?

Ela tocou minha mão, que estava sobre seu braço

— Não. Não do jeito que você está pensando.

Coloquei minha mão em seu rosto.

— Se precisar conversar, eu estou aqui.

— Eu sei. E Ren? Me perdoe pelo beijo. Não queria te machucar.

— Eu sei porque você o fez. Doeu mais saber que você era uma prisioneira e não ser capaz de te salvar.

— Obrigada por me salvar.

— Não importa onde você vá, sempre estarei lá, iadala. Não há necessidade de me agradecer.

— Mesmo assim, obrigada.

Eu lhe dei um beijo na testa.

— Já falei que você é uma mulher muito teimosa?

— Não recentemente. Vamos para casa. Mal posso esperar para ver o Sr. Kadam. Tenho muitas coisas para contar a ele.

Eu a puxei para mais perto para lhe contar sobre Kadam. Eu sabia que ela ia sofrer com a noticia que eu lhe daria.

— Kells, nós… não fomos capazes de encontrá-lo. Quando os piratas de Lokesh nos emboscaram, ele entrou na frente de um arpão direcionado a Nilima, e ambos desapareceram. Não conseguimos localizá-lo no GPS. Os sinais de ambos sumiram. Víamos o seu sinal, mas não os deles.

— O quê? Não pode ser. Vamos então. Precisamos achá-los.

Concordei, com um breve aceno de cabeça. Então eu toquei seu braço e perguntei, quase suplicante, se ela viajaria comigo. Ela olhou para Kishan que estava terminando de encher os pneus da moto. Eu supliquei:

— Por favor. Preciso sentir você próxima a mim.

Ela segurou minha mão e me sorri.

— Tudo bem.

Kelsey subiu na minha garupa e eu fui até Kishan, para lhe avisar que ela iria comigo. 

— Isto é, se estiver tudo bem por você, Kishan.—Ela completou.

Kishan deu de ombros de bom humor e avisou:

— Ren dirige como um avô, mas tudo bem por mim.

Kelsey lhe deu um beijo. Kishan sorriu e disse:

— Talvez seja melhor. Dessa maneira, se eu for atrás como um vovô, poderei admirar a vista.

Eu o xinguei, mas ele nem se importou.

À noite, paramos para acampar e Kishan improvisou uma banheira nas pedras para que Kelsey tomasse banho. Quando ela terminou, foi a nossa vez. Kishan rasgou a camisa.

— O primeiro a chegar viaja o dia todo com Kelsey!

Eu disparei na frente, antes que Kishan estivesse preparado, mas ele me alcançou logo e passou na minha frente. Eu queria muito ganhar aquela aposta e viajar com Kelsey no dia seguinte. Desesperado, ergui as mãos e empurrei Kishan em uma pedra. Ele gritou xingando e me disse que seu nariz estava quebrado. Quando ele chegou, eu já estava na água e sorria satisfeito, lembrando-me da vez que ele trapaceou na corrida para ganhar um beijo de Kelsey.

Mais tarde, vi Kishan e Kelsey saírem juntos. Eles não me disseram nada e eu pensei em segui-los, mas resolvi não ir, pois poderia ver algo que me magoaria. Fiquei com ciúmes, com raiva.

Ouvi algumas explosões e concluí que Kishan estava mostrando as recém-descobertas  formas de uso do amuleto. Quando os dois voltaram para a tenda, pareciam muito satisfeitos.

Eu, por outro lado, estava completamente irritado e comecei a gritar com meu irmão, por ter saído com Kelsey sem me avisar.

— Nós precisamos vigiá-la constantemente. Não temos ideia se Lokesh ainda está vivo e não quero correr nenhum risco de perdê-la novamente.

Eu me virei, afastando-me deles. Transformei-me em tigre e saí correndo. Eu precisava me acalmar.

Era muito difícil para mim, admitir que Kelsey e Kishan eram namorados e que era normal que os dois quisessem ficar sozinhos. Eu não sabia como reagir a esta nova situação. Desistir? Insistir?

Na manhã seguinte, Kelsey nos contou que havia sonhado com Kadam. Segundo ela, Kadam estava de pé em frente a uma tela de cinema estudando várias cenas de batalhas. Ela tocou em seu braço e ele se virou sorrindo. Parecia mais velho e triste. Ela lhe perguntou o que estava acontecendo e ele respondeu que estava cansado. Quando ela perguntou onde ele estava, Kadam respondeu que estava perto e mandou que ela voltasse a dormir. Ela disse que ele lhe falou o seguinte.

“Será necessária toda a sua força para enfrentar o que vem pela frente, mas, por agora, descanse.”

Kishan e eu ficamos emocionados. Estávamos certos de que ela teve uma visão e que Kadam estava bem. O amuleto tinha conectado os dois.

Quando finalmente chegamos em casa, os olhos de Kelsey se encheram de lágrimas. Com ela entre Kishan e eu,  nós entramos. Ela respirou fundo e exclamou:

— Estamos em casa.


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