O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 2
Ofensiva - Ren




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"Não é possível."

Esta foi a minha reação quando Kishan me contou sobre seu sonho em Shangri-la. Ele só podia estar errado. Não era possível que o destino de ficar com Kelsey era dele, não meu.

Fiquei imaginando Kelsey segurando um bebê no colo, sorrindo. Ela seria uma mãe maravilhosa. Eu sonhava em ter uma família com ela desde o dia em que a vi pela primeira vez no circo. Eu ainda era um tigre e passei a desejar que a minha maldição fosse quebrada como nunca antes. Eu a amava e tinha certeza de que ela me amava. Apesar de saber que ela também amava Kishan, os dois não tinham a mesma ligação que ela tinha comigo. Kishan devia estar errado.

"Então porque Kelsey e eu não estávamos juntos? Porque ela escolheu a ele e não a mim?"

Durga levou minha memória e me fez sentir aversão à presença de Kelsey. Ela fez com que apenas um beijo entre Kelsey e meu irmão me fizesse recobrar a memória. Foi Durga quem disse à Kelsey para seguir em frente, depois que eu terminei com ela. E no sétimo pagode, Kelsey se transformou em Parvati e Kishan se transformou em Shiva, seu marido. Foi Kishan, não eu.

Eu não sabia o que fazer. Eu só sabia que precisava encontrá-la. Eu sabia o quanto Lokesh era cruel e, apesar de Kishan estar seguro de que Kelsey sobreviveria, eu sabia que havia coisas piores do que a morte. E Lokesh também.

Na manhã seguinte, acordamos antes de o sol sair. Kishan conferiu o sinal de Kelsey. Ela não voltou a se deslocar e nós estávamos perto. Pegamos as motos e seguimos viagem.

Logo depois de o sol sair, chegamos onde Kelsey supostamente estava. Era uma casa enorme, cercada por muros altos. O portão era guardado por vários seguranças armados e havia câmeras espalhadas. O lugar parecia uma fortaleza.

Farejei Kelsey. Ela estava mesmo naquele lugar. Havia uma janela no alto da casa e ela poderia estar lá. Não havia como entrar no lugar sem lutar. Kishan lembrou-se que Kelsey estava com o lenço divino e me disse que lhe mandaria um recado através dele. Eu fiquei resistente no início, temendo que Lokesh estivesse com o objeto ou o visse com Kelsey. Mas nós precisávamos arriscar. Kishan fechou os olhos e sussurrou para que o lenço enviasse uma mensagem:

Kelsey?

Você está aí?

É o Kishan.

Depois de alguns segundos, vi algo no vidro da janela. Kelsey havia respondido, usando uma mensagem no lenço:

Eu estou bem.

Lokesh vai se casar comigo amanhã à noite.

Câmeras e guardas em todo lugar.

Kishan e eu nos olhamos, preocupados, e concluímos que teríamos que entrar. Ele me disse para distrairmos alguns guardas e tomarmos seu lugar. Eu achei que Lokesh não cairia nesse truque de novo.

Depois do ataque a seu forte no acampamento dos Baigas, ele deve ter escolhido melhor seus guardas. Estes eram claramente bem treinados. Ainda assim, era a única forma. Mandei outra mensagem para Kelsey:

Mantenha-o longe o quanto puder.

Temos um plano.

Estamos vindo por você.

Nós ficamos escondidos observando a casa durante todo aquele dia. Descobrimos alguns pontos cegos, onde as câmeras não alcançavam. Também percebemos a movimentação dos guardas: Alguns ficavam em pontos fixos no portão e em alguns locais ao longo do muro. Imaginamos que dentro da casa haveria outros guardas. Também havia guardas de ronda, que circulavam os muros.

Calculamos o tempo médio que esses guardas levavam para circular toda a muralha e quanto tempo teríamos até que um ponto cego ficasse desprotegido. Quando vimos um momento oportuno, Kishan se transformou em tigre negro, camuflando-se na noite e pulou o muro.

Eu fiquei do lado de fora. Consegui descobrir a que horas o juiz chegaria para realizar a cerimônia. Fingindo ser um dos guardas de Lokesh, abordei o veículo do juiz, fazendo com que ele fosse para outro lugar, pois a cerimônia havia sido transferida. Sem que ele percebesse, eu roubei sua bata e me vesti com ela, conseguindo assim, entrar na casa. O plano estava dando certo.

Os guardas me levaram até um corredor, em frente a uma sala no interior daquela fortaleza, onde se realizaria o casamento. A porta estava fechada e os “noivos” estavam lá dentro. Eu me concentrei e consegui ouvi-los.

Kelsey e Lokesh estavam jantando, aparentemente. Ela falava sobre os pratos que estavam sendo servidos, explicando a simbologia de cada um. Lokesh seguia em silêncio. Eu estava ficando ansioso, mas precisava manter a calma. Finalmente ouvi Lokesh anunciar:

— Está pronta, minha querida? Façam o juiz entrar.

Os guardas abriram a porta e me fizeram entrar. Kelsey estava de costas, de mãos dadas com Lokesh. Ela usava um vestido de casamento semelhante a um vestido de princesa chinesa, vermelho, enfeitado por contas e bordados dourados. Uma longa echarpe dourada se enrolava em seu corpo e caía até o chão. Por um momento, meu coração se aqueceu com aquela visão, desejando que ela fosse minha noiva. Afastei esse pensamento, e falei calmamente, enquanto caminhava até a sala, apesar do meu ódio:

— Devemos proceder?

Kelsey virou o rosto e me viu. Ela parecia aliviada e esperançosa. Lokesh me olhou com deboche.

Eu lancei as armas contra ele, mas Lokesh se defendeu com eficiência. Em seguida, ele agarrou o braço de Kelsey, que olhava ao redor.

— Saudações, Dhiren. Você deve ter recebido o convite.

— Você só se casará com ela por cima do meu cadáver

Lokesh deu de ombros.

— Como desejar.

Ele estalou os dedos e eu não consegui me mover. Eu tentei de todas as maneiras, mas Lokesh estava usando magia.  

Tanto Kelsey quanto Lokesh, corriam o olho pela sala, procurando por Kishan. Ela, desesperada e ele irritado. Então, para minha surpresa, Kelsey abraçou Lokesh, e perguntou:

— Você matou Ren?

— Não, minha querida. Ele ainda está vivo.

— Bom — ela se virou para mim e me olhou triste — É realmente uma pena que você tenha que descobrir dessa maneira. Mas, já que está aqui, você pode ser um convidado em meu casamento.

Lokesh sorriu e instruiu os guardas a encontrarem o verdadeiro juiz. Eu olhei nos olhos dela, tentando entender. Ela não podia estar falando sério...

— Oh querido, que rude de minha parte. É claro que o convidado deve beijar a noiva.

Então, Kelsey beijou os meus lábios. Foi um beijo rápido e violento. Mas eu pude sentir seu coração acelerado. Ela estava com medo. No final, ela mordeu meu lábio inferior, arrancando sangue nele, me olhou com tristeza e me deu um tapa no rosto.

Eu devolvi seu olhar com tristeza. O choque por sua atitude foi tão grande, que eu não conseguia pensar direito e, por um segundo, achei que ela havia se aliado a Lokesh.

Mas estão, Kelsey tirou o lenço divino de dentro da longa manga de seu vestido, limpou meu lábio com ele e depois o colocou no meu colarinho, gargalhando com desdém, enquanto Lokesh ria de prazer. Compreendi. Kelsey estava atuando e tinha um plano. Ela franziu a testa e olhou para Lokesh. 

— Mas ele terá uma boa visão de tudo de onde está? Acho que deveríamos movê-lo, você não?

Lokesh apertou a bochecha de Kelsey com força e eu vi que ele a havia machucado. Kelsey mandou que o lenço amarrasse meus braços em meu peito. Lokesh comentou satisfeito:

— Mas que megera diabólica você é.

Quando eu estava bem amarrado, Lokesh me descongelou.  Comecei a mover meu corpo para me soltar, mas Kelsey acenou discretamente para que eu parasse. Eu a obedeci e andei até à beirada do altar improvisado. Quando Lokesh ergueu a mão para me congelar novamente, Kelsey o deteve. 

— Isso não será necessário, meu amor.

Ela balançou o dedo e o lenço me prendeu das pernas ao pescoço. 

— Fez um trabalho magnífico, meu bichinho.— Lokesh disse. — Mas acho que manterei a língua dele congelada, ao menos por enquanto. Não gostaria que ele estragasse nossas núpcias, afinal.

— Sábia decisão. Devemos começar então? Você encontrou o juiz?

Kelsey havia ganhado a confiança de Lokesh, e, mesmo sem conhecer nosso plano, ela nos ajudaria a concluí-lo.

Lokesh bateu palmas, mas nenhum servo ou juiz apareceu. Ele gritou uma, duas vezes, e tocou um sino frustrado. Sua única resposta foi uma chama explosiva, um fogo que queimou cada vela no cômodo. Eu sorri satisfeito. Kishan tinha conseguido eliminar os guardas.

Lokesh ergueu os braços e tentou apagar as velas com um sopro de vento, mas Kishan fez com que as chamas crescessem mais. Eu sorri, observando Lokesh, grunhindo de frustração e raiva, balançar a mão e mergulhar cada vela em água. Depois, ele agarrou o braço de Kelsey, puxando-a com ele.

Quando eles saíram da sala, o lenço me libertou, em seguida, uma mensagem bordada apareceu. O fruto sagrado e o arco estavam escondidos naquela sala. Eu olhei ao redor e consegui identificar o possível esconderijo.

Depois de alguns minutos, senti cheiro de chocolate e ouvi Kelsey dizendo calmamente:

— Uma garota deveria poder apreciar um pouco de chocolate em seu casamento, não acha?

Então ouvi algo estourar e Lokesh gritar em desespero. Kelsey gritou feliz, o nome de Kishan. Ouvi o barulho de explosões e soube que Kishan estava atacando Lokesh com as bolas de fogo produzidas graças ao amuleto. Eu peguei o fruto, o arco e as flechas e corri para me encontrar com eles.

Eu continuei o ataque de meu irmão, lançando dardos do tridente contra Lokesh. Kelsey mandou que o lenço o cobrisse, deixando-o como uma múmia. O lenço se enrolou num toldo e levantou seu corpo do chão. Lokesh se contorcia e corcoreava.

Kelsey virou-se, não querendo olhar. De repente ela começou a gemer e a abraçar o próprio corpo, cambaleou e arquejou de dor. Eu corri até ela, alcançando-a antes que ela caísse.

— Te peguei, iadala— Sussurrei.

Kishan atirou novamente em Lokesh e a dor de Kelsey pareceu diminuir. Lokesh ainda estava vivo, mas em terrível agonia. Kishan pôs fogo na múmia, que gritou em desespero. O cheiro de carne queimada tomou conta do lugar.

Com um repentino jato de água, Lokesh apagou o fogo. Peguei o fruto sagrado e mandei que ele derramasse óleo sobre o tecido molhado que embrulhava seu corpo. Kishan pôs fogo novamente, e o corpo de Lokesh se contorceu para frente e para trás. Kelsey agarrou minha camisa.

— Vamos!

Ela nos empurrou pelo corredor, apressada para sair dali. A casa começou a tremer. Lokesh usou magia para criar um terremoto.

Nós três começamos a correr, Kelsey entre Kishan e eu. Ela arrancou um anel de diamantes que estavam em seu dedo e começou a tirar as peças da roupa que ela usava. Por baixo do vestido de noiva, havia outra roupa, que o lenço tinha produzido.

Finalmente chegamos a uma janela aberta cujas barras Kishan havia cortado. Ele pulou para fora e aterrissou nos arbustos seis metros abaixo, abriu os braços para segurar Kelsey. Eu a coloquei em seus braços e pulei em seguida.

Nós continuamos correndo até chegarmos às motocicletas. Depois de um breve aperto de mão, coloquei Kelsey na garupa da minha moto. Nós três disparamos como foguetes na noite.


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