O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 29
Rivalidade entre irmãos - Ren




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Kishan e eu acordamos com gritos que vinham do lado de fora. Levantamo-nos e corremos até a tenda de Anamika. Encontramos ela e Kelsey do lado de fora e uma movimentação de soldados próximo dali. Corremos até elas, preocupados.

— Escutamos gritos. O que aconteceu? — Perguntei com urgência.

— Fomos atacadas por um adversário inesperado — Anamika respondeu.

Ela explicou que um intruso havia tentado sequestrar Kelsey. Kishan avançou oferecendo-se para rastrear o homem. Anamika o dispensou.

— Eu sei onde ele está agora — ela explicou. — Sunil caiu sob o poder do demônio. Já vi esse tipo de poder usado em outros. Eles se esquecem de si próprios e aqueles pelos quais se importam.

— O demônio com o qual você luta tem poderes? — Perguntei.

Anamika olhou para os homens e em seguida pressionou seus dedos nos lábios e entrou na tenda. Nós a seguimos e os quatro sentamos à mesa. 

— Eu não quero que meus homens temam ao inimigo mais do que já temem —  advertiu.

Ela pegou um cobertor e enrolou ao redor de seu corpo. Depois limpou as lágrimas. Parando subitamente, Anamika afastou o cobertor de seu rosto e o encarou. Depois olhou para Kelsey como se considerasse algo. Então me respondeu. 

— Ele tem poderes extraordinários. Ele os usa para erguer um exército demoníaco.

— Um exército de demônios? —Kelsey questionou— Anamika, como seu inimigo se parece?

— Sua pele é negra e ele tem chifres longos como um touro. Ele usa seu poder de tremer a terra e causar destruição a qualquer um que se oponha ele.

— A deusa se ergueu — Kelsey sussurrou — para matar o demônio Mahishasur — Ela olhou para mim. —Nós precisamos conversar.

Anamika permaneceu no lugar.

— Conversem descansados aqui. Você deve estar segura o suficiente. Preciso ver meus homens e enviar os caçadores da manhã.

— Caçadores? — Kishan perguntou com entusiasmo.

— Sim — ela foi para a cadeira onde largara a armadura e as botas. — A caça tem permanecido longe por muito tempo de nossas terras, mas talvez ainda consigamos achar alguma comida para encher os estômagos daqueles sob meus cuidados.

Anamika colocou as botas e equipamentos e saiu. Kelsey começou a falar imediatamente, como quem acabou de chegar a uma conclusão importante:

— Eu sei por que ela se parece com Durga. Ela é Durga ou irá se tornar uma vez que derrotar Mahishasur. Eu li sobre como ela o matou enquanto estava estudando o nascimento de Durga.

— Mas Durga foi criada por deuses — Kishan disse.

— Sim, mas se lembre, ela foi criada para derrotar Mahishasur. Acho que fomos enviados aqui para criar Durga.

— Fomos enviados aqui para derrotar Lokesh — respondi.

Kelsey colocou a mão sobre meu braço, como se para me consolar. 

— Ren, Lokesh é Mahishasur.

— Eu não acompanhei — disse Kishan.

— Eu não tive a chance de dizer, mas na minha visão, Lokesh se tornou um demônio. Ele era exatamente como Anamika descreveu. Seu corpo é enorme e preto. Ele soltava vapor pelas narinas e tinha dois chifres —Ela pensou por alguns instantes, então continuou— Não era Mahishasur que era metade homem metade touro?

Kishan assentiu.

— Búfalo, na verdade.

— O Sr. Kadam disse em sua carta que Lokesh havia se tornado um demônio do passado. É isso. É por isso que estamos aqui.

— Kelsey… — Kishan começou, mas Kelsey não prestou atenção, interrompendo-o.

— Além disso, acho que ele usou seu fazedor-de-zumbis no irmão de Anamika.

— Ela tem um irmão?

— Sim, um irmão gêmeo. Seu nome é Sunil. Foi quem nos atacou essa manhã.

— Ela não disse que tinha um irmão — Falei.

— Ela pensava que ele estava morto.

— Ele te machucou. — Toquei as marcas vermelhas em seus braços, culpado por não estar com ela e protegê-la.

— Eu ficarei bem. — Ela murmurou distraída. Então limpou a garganta e continuou.

— Quando Sunil me viu, ele disse: “Meu senhor ficará satisfeito”. Acho que Lokesh tem ficado de olho em mim. Mas ele originalmente queria levar Anamika. Isso deve significar que Lokesh está atrás dela também.

Kishan resmungou.

— Então é simples. Você e Anamika ficarão aqui enquanto nós matamos Lokesh — ele se levantou e foi até a mochila para recuperar as armas.

— Não —Kelsey se levantou.

— O demônio Mahishasur não pode ser morto por um homem. Lembra-se? Durga foi criada para derrotá-lo.

— Então o que faremos agora? — Perguntei.

Kelsey me deu um sorriso torto. 

— Temos que convencer Anamika de que ela é uma deusa.

Kelsey nos convenceu a falar com Anamika. Então saímos para procurá-la. O acampamento era grande e Kishan resolveu farejá-la e descobriu que ela estava na floresta. Nós a esperamos. Uma hora depois, ela retornou com um coelho recém-capturado no ombro. Anamika nos viu e parou de caminhar por um momento.

— O que há de errado agora? — Ela perguntou passando por nós. — Suas acomodações são precárias? Ou estão aqui para se queixar dos hematomas que meu irmão deixou em sua preciosa noiva? — Ela destilava sarcasmo.

Kishan ficou irritado com as provocações de Anamika e se adiantou para confrontá-la. Eu conhecia meu irmão e percebia como aquela mulher o perturbava. Ela o desafiava e tirava-o do sério. Kelsey tocou o braço de Kishan e ele se acalmou. Imediatamente me lembrei do nosso último encontro com a Deusa. Talvez Kelsey estivesse certa. 

— Nós estamos aqui para ajudá-la — Disse Kelsey.

Anamika a olhou com desdém. 

— E como uma fraca como você me ajudaria?

— Ren e Kishan são bons caçadores. Talvez eles consigam arrumar um pouco de carne.

Ela zombou e balançou o coelho morto perto do rosto de Kelsey.

— Esta criatura morta é a maior quantidade de carne que consegui em semanas.

— Confie em mim. Eles são caçadores excepcionais.

Anamika olhou para nós dois e não se preocupou em esconder sua expressão de dúvida e então balançou a mão.

— Eu não me importo, divirtam-se. A floresta é de vocês.

Com saltos ágeis, ela fez seu caminho pedregoso de volta para o acampamento.

— Pensei que estávamos indo falar com ela — Kishan comentou enquanto Kelsey revirava a mochila.

— Precisamos fazer com que ela confie em nós primeiro, ou ela não irá acreditar em nada do que dissermos.

Kelsey me entregou o fruto dourado.

— Vocês dois vão lá fora e cacem alguns alimentos com o Fruto, tragam o quanto puderem carregar. Eu vou ajudar Anamika a tomar conta de seus homens. Por favor, eu posso pedir isso? — Ela perguntou a Kishan, tocando o kamandal.

Ele lhe entregou sem questionar. Combinamos nos reagrupar ao pôr-do-sol. Kishan e eu saímos para a floresta. Nós precisávamos esperar algum tempo antes de voltarmos, para que acreditassem que nós caçamos. Kishan parecia incomodado.

— O que você acha do plano de Kelsey. Você acredita que esta Anamika pode se tornar Durga?

— Eu acho que Kelsey tem suas razões para acreditar que sim. Acho que devemos tentar.

— Não sei, eu não acho uma boa ideia mostrar a ela quem somos. Você confia nessa mulher?

— Bom, Kelsey confia nela. E eu confio no julgamento de Kelsey.

— Mas Anamika é tão diferente de Durga. A deusa sempre foi gentil e esta mulher é uma grossa.

Eu ri.

— Ela estava assustada e não sabia quem éramos. Você ficou irritado e ela o desafiou. Não acho ela tão diferente assim da deusa. Além disso, ela foi gentil comigo quando conversamos.

Kishan grunhiu e se transformou em tigre, embrenhando-se na mata. Eu também me transformei e tentei rastrear alguma caça. Mas não havia nada na floresta. Nos transformamos de volta e pedimos carne de veado ao fruto.

Voltamos ao acampamento e os soldados ficaram felizes e intrigados ao nos ver com a caça. Eles nos disseram que Anamika e Kelsey estavam cuidando dos doentes, indicando-nos onde encontrá-las. Deixamos a carne e seguimos para a tenda hospitalar.

No meio do caminho, encontramos Anamika. Ela parecia animada e puxou Kishan com ela, para ajudar a carregar suprimentos. Eu fui encontrar Kelsey.

Ela estava em uma tenda, oferecendo água e cobertores aos doentes. Eles a olhavam como se ela fosse uma mãe amorosa. Como se ela fosse uma deusa. “Parvati”, pensei enquanto a observava, emocionado. 

Os homens tentavam falar com ela, mas Kelsey não os compreendia. 

—Svargaduuta— O homem disse enquanto Kelsey abaixava sua cabeça gentilmente no travesseiro.  

Kelsey puxou o cobertor até o queixo do homem e limpou seu rosto com uma toalha molhada.

— Sinto muito, não sei o que svargaduuta significa, mas você irá se sentir melhor em breve.

— Significa “anjo”—expliquei.

Kelsey olhou para trás e corou ao me ver em pé na porta. Um homem gemeu de dor e eu fui ajudá-lo. Nós trabalhamos juntos em silêncio por um tempo, e então Kelsey perguntou:

— Vocês conseguiram trazer carne?

— Tem mais que o suficiente para alimentar todos esta noite. Você tem estado ocupada, eu vejo.

Kelsey balançou a cabeça e tocou a mão de um homem ferido, oferecendo-lhe água de um cantil. Então ela se virou, visivelmente cansada.

— Onde está Kishan?

— Anamika o recrutou para distribuir roupas e cobertores. Haverá uma celebração essa noite – um ensopado de veado para os feridos e o restante de nós.

Discutimos um pouco sobre a possibilidade de usarmos o fruto para fornecer alimentos ao grupo sem levantar suspeita. Depois, contei a Kelsey o que eu tinha descoberto.

— Eu descobri que estamos mais ou menos entre 330 e 320 A.C, mais provavelmente perto dos 320.

— Como você sabe?

— Seu líder é Chandragupta Maurya. Ele liderou o império de Mauryan que abrangia as terras que meu pai e meu avô governaram. Ele é um homem jovem agora, o que significa que seu reinado está apenas começando.

— Isso é algo bom?

— Está muito longe daqui. Anamika é, para todos os efeitos, a líder desse exército em seu nome. Sua palavra é considerada lei.

— Acho que é bom então.

Eu sorri.

— Vamos participar da celebração?

— Ficarei feliz em fazer isso.

Então a guiei até o meu cavalo do lado de fora. 

— Não sei montar — protestou.

— Você montou no Qilin muito bem — falei enquanto a ajudava a montar.

— Isso era porque o Qilin conduzia.

Eu montei atrás dela, colocando um braço em volta de sua cintura e incitando o cavalo a andar. Sussurrei em seu ouvido:

— Para montar em um cavalo corretamente, você tem que ter uma ligação, sentir sua força, o poder em seus músculos. Prestar a atenção em seu andar, seus passos. Feche os olhos. Você sente como seu corpo sobe e desce? Ele vai levá-la aonde quer que você queira ir. Tudo que você precisa é aprender a andar com ele, e não contra ele.

O coração de Kelsey batia acelerado. Ela se encostou em meu peito e suspirou. Eu podia sentir o calor de sua pele irradiando em meu corpo. Então Kelsey se afastou e começou a falar sobre seu dia tratando dos doentes. Ela estava orgulhosa de seu trabalho. E eu estava orgulhoso dela. 

Chegamos à fogueira onde a celebração ocorria. Os homens, que antes nos olhavam com desconfiança e desgosto, agora nos tratavam como “amuletos de sorte”, e reservaram um lugar especial para Kelsey e para mim em um tronco perto do fogo. Eu levei comida para ela e me sentei a seus pés, traduzindo o que os homens diziam. 

Nossa refeição pacífica foi interrompida por vozes que cresciam cada vez mais altas à medida que se aproximavam.

— Eu não sou um burro de carga!

— Seu comportamento obstinado te rotula como tal!

— Eu apenas sou teimoso porque você é uma harpia.

— Eu não compreendo a palavra harpia.

— Harpia é uma bruxa, megera.

— Como se atreve a me chamar assim?

—Eu nomeio o que eu vejo.

— Não quero mais falar com você. Saia do meu lado agora!

— Isso é música para meus ouvidos.

Kishan invadiu o círculo onde estávamos comendo, me enxotou para o lado, e parou ao lado de Kelsey. Anamika sentou-se do outro lado e pegou a comida. Ela acenou para mim e Kelsey e franziu a testa para Kishan. 

Quando o jantar acabou, Anamika aproximou-se de nós e chamou Kelsey:

— Venha Kelsey. É hora de descansar.

Kelsey se levantou e Kishan segurou seu braço.

— Boa noite bilauta.

Ele abaixou a cabeça e a beijou apaixonadamente, apertando o corpo dela junto ao seu. Virei o rosto sem graça e notei que Anamika franziu a testa. Quando Kishan a soltou, Kelsey cambaleou para o lado de Anamika, que virou-se para mim.

— Você se importaria de me ajudar amanhã? É claro que seu irmão ficaria mais feliz correndo atrás de sua gatinha e morder seu calcanhar. 

Eu balancei a cabeça concordando e olhei para Kelsey, a fim de me despedir. Mas Anamika a levou dali, não me dando chance de dizer nada.


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