O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 27
Anamika




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Meu nome é Anamika. Sou uma guerreira e comando um exército. Nós estamos lutando contra um inimigo extraordinário. Ele é um demônio poderoso que parece ser indestrutível.

 

Meu exército vem sendo dizimado por suas forças incontáveis. Nos falta suprimentos, alimentos, medicamentos. Mas não nos falta coragem.

 

Meu irmão gêmeo foi capturado pelo demônio. Era ele quem comandava nossas forças. Ele era um comandante justo, corajoso e respeitado. Ainda assim, ele foi levado. A única coisa que eu pude fazer, foi assumir o comando do exército e lutar contra o inimigo.

 

Eu fui treinada, junto com Sunil, nas artes da guerra e das negociações, sempre preferindo a diplomacia, mas nunca rejeitando a luta armada. Nós tivemos um professor, um homem muito sábio, que nos instruiu em vários assuntos. Nos ensinou sobre várias culturas, religiões e línguas, insistindo que no futuro, teríamos que conhecer todas essas coisas. Ele nos ensinou uma língua de uma terra estranha, que, segundo ele, ficava do outro lado do mundo. Eu nunca tinha ouvido aquela língua antes, mas o professor insistiu para que eu falasse fluentemente o inglês. Eu nunca achei que precisaria usar aquele idioma, até aquele dia.

 

Eu estava voltando com meu exército de uma incursão, quando avistamos dois homens caídos na estrada. Eles pareciam estar dormindo. Nos aproximamos deles cuidadosamente.

 

Os dois usavam roupas comuns e estavam descalços. As roupas estavam limpas e não estavam rasgadas. Eles não pareciam pertencer a nenhum exército. Por precaução, alguns dos meus homens os cercaram enquanto outros saíram para uma varredura nos arredores.

 

Aproximei-me daqueles dois homens e senti algo estranho. Meu coração disparou, meu corpo tremeu levemente. Apesar de estarem dormindo, ou desmaiados, era possível notar que eles eram atraentes. Seus corpos eram fortes e os rostos másculos. Me senti atraída por eles. Mas eu não podia demonstrar nenhuma fraqueza diante de meu exército.

 

Eu fui criada como uma princesa. Apesar de estar envolvida em treinamentos militares, nunca pretendi comandar um exército, esta seria a função do meu irmão. Eu queria me casar e ter filhos. Mas ao assumir o comando do exército, minhas prioridades mudaram. O pouco de vaidade e preocupação com a aparência ficaram de lado. 

 

Não era fácil ser uma mulher comandando milhares de homens. Eu tinha que me provar o tempo todo, me mostrar forte e determinada e nada poderia mudar meu foco. Mantendo o semblante fechado, tentei acordar aqueles dois homens, sacudindo seus corpos com minhas botas e chutando-os. Tentei mexer neles com um bastão e gritar em seus ouvidos, mas os homens não acordaram.

 

Ouvi um dos meus homens me chamar, dizendo que também havia uma mulher caída mais à frente. Mandei que os dois estranhos fossem amarrados e caminhei até a mulher. Ela era tão frágil e pequena, que era impossível ser uma guerreira. Ela tinha a pele branca e lisa e os cabelos longos, castanhos e brilhantes, presos em uma trança. Parecia uma princesa que se banhava em leite diariamente. Senti um pouco de inveja.

 

A mulher usava roupas estranhas e carregava uma bolsa grande nas costas. Coloquei meus pés sobre sua barriga e gritei para que ela se levantasse. Diferente dos homens, ela despertou imediatamente. Eu a chutei novamente, mandando que se levantasse. Por precaução, mantive minha lança apontada para o seu nariz.

 

A mulher levantou-se corajosamente e se sentou, depois, olhou para o meu rosto, me avaliando. Ela ficou de pé e olhou ao redor, viu seus homens amarrados, ainda dormindo, no chão. Então virou-se para mim, e falou naquela língua estranha que eu estudara havia tanto tempo:

 

— Quem é você? O que você quer com a gente?

 

Meus homens agitaram-se. Nunca tinham ouvido aquela língua e temiam que a mulher, com aquelas roupas estranhas, fosse um demônio. Fiz um sinal para que os homens se calassem.

 

— Eu me chamo Anamika.— Falei em sua língua.

 

A mulher me olhou surpresa e moveu-se cuidadosamente próxima da minha lança.

 

— Prazer em conhecê-la.

 

A mulher se aproximou, me avaliando, enquanto eu a seguia com minha lança. Ela falou calmamente:

 

— Você se importa de apontar essa coisa para outro lugar?

 

Avaliei-a por um momento e concluí que ela não representava perigo, ao menos imediato. Coloquei a ponta da lança no chão.

 

— Qual o seu nome?

 

— Kelsey. E você pode pedir para seus guerreiros se afastarem. Nós não vamos te machucar.

 

Achei graça do comentário e o traduzi para meus homens. Eles riram da “piada”. Depois, eu mandei que eles pegassem os dois homens amarrados e os levassem até o acampamento.

 

— Onde você os está levando?

 

— Venha, Kelsey. Há muito a fazer.

 

— Para onde vamos? — Ela perguntou enquanto me seguia pela floresta.

 

— Voltar para o meu acampamento. Não é longe — eu sorri. — Embora possa parecer muito para uma pessoa tão frágil como você.

 

Kelsey me olhou indignada.

 

— Posso não estar vestindo armadura do lado de fora, mas já fiz a minha parte em batalha.

 

Achei graça, imaginando como aquela frágil criatura poderia ter ajudado em batalhas.

 

— É mesmo? — Perguntei zombando — É difícil imaginá-la engajada em uma guerra com qualquer coisa mais substancial do que uma panela.

 

Olhei para Kelsey, que travou os punhos, tentando conter a raiva que claramente ela estava sentido. Continuei provocando-a.

 

— Por favor —eu ri sarcasticamente — conte-me de suas batalhas.

 

— Talvez mais tarde.

 

Kelsey se calou irritada. Eu me diverti quando ela aumentou o passo para tentar acompanhar meu ritmo. Mas com suas pernas curtas, ela estava quase correndo atrás de mim, enquanto olhava ao redor, sentindo frio. Até que o frio parece ter parado de incomodá-la.

 

— Estamos no Himalaia? — ela perguntou surpresa.

 

— Estamos perto das grandes montanhas — corrigi.

 

— Isso é simplesmente fantástico — murmurou. — Foi bastante ruim da primeira vez.

 

— Você foi a este lugar antes? — Agora era eu quem estava surpresa.

 

— Não exatamente neste lugar, mas perto o suficiente.

 

Seguimos em silêncio por um tempo. Eu pensava naquelas pessoas que acabáramos de capturar. Era estranho. Dois homens grandes e fortes, inconscientes há tanto tempo, enquanto aquela frágil mulher, estava desperta e forte. Eu não achava que ela era um demônio, mas havia algo diferente em Kelsey, e eu iria descobrir o que era, nem que para isso, tivesse que mantê-la no acampamento, dividindo nossos poucos suprimentos, pelo tempo que fosse necessário. Apontei para os dois homens e falei com Kelsey.

 

— Seus homens são fracos. Não encontrei ferimentos em seus corpos, mas ainda dormem.

 

— Você não sabe o que passamos.

 

— Talvez eles sejam frágeis como você.

 

— Eu realmente apreciaria se você parasse de usar essa palavra.

 

— Muito bem. Então vou usar a palavra lenta ou talvez fraca.

 

— Você é muito rápida para julgar, não é?

 

— Preciso fazer avaliações rápidas de meus guerreiros, sim.

 

— Você já ouviu a frase: Não julgue um livro pela capa?

 

— Eu não gasto meu tempo julgando os livros.

 

Kelsey tropeçou em uma pedra e se irritou quando eu a ajudei a se equilibrar. Ela me empurrou para longe e apontou o dedo, como uma criança birrenta:

 

— Não se atreva a me chamar de frágil.

 

Eu ri, enquanto Kelsey olhava em volta.

 

— Você esteve recentemente em batalha?

 

Franzi a testa, avaliando, por um instante, se eu poderia dar informações a ela. Estranhamente, eu confiava em Kelsey, embora ainda não simpatizasse muito com ela.

 

— Sim, estivemos envolvidos na guerra. Houve muitas vítimas.

 

Ela pensou um pouco.

 

— Você já ouviu falar de um homem chamado Lokesh? É o homem com quem lutou?

 

Balancei a cabeça.

 

— Estamos lutando contra o demônio Mahishasur.

 

— Mahishasur?

 

Quando chegamos ao acampamento, Kelsey parecia surpresa pela quantidade de pessoas que havia em meu exército.

 

— Não tantos quanto no início.

 

Entrei com Kelsey em minha tenda. Meus homens colocaram os companheiros dela em meu tapete e os desamarraram. Eu me sentei e tirei as botas do pé. Sozinha, suspirei de alívio e massageei os pés doloridos e cheios de bolhas, deixando transparecer todo o meu cansaço. Até me esqueci de Kelsey, até ouvi-la comentar:

 

— Você é de fato resistente se pode andar longas distâncias com os pés feridos assim.

 

Coloquei os pés no chão, tentando me recompor.

 

— Você espera que a comandante dos últimos Arianos Védicos seja mimada, banhe sua pele no leite e passe perfume no cabelo como você?— Falei ressentida e um pouco ciumenta.

 

— Quero que saiba que nunca me banho no leite. Quem são os Arianos Védicos?

 

— Somos os últimos do nosso povo. Uma vez fomos um dos dezesseis Mahajanapadas. Nossa república floresceu sob o governo do meu avô, mas um a um, cada um dos dezesseis reinos foi conquistado. Agora vamos servir o Império Maurya e responder a seu líder, Chandragupta Maurya. Eu era assessora do capitão, mas ele foi considerado… perdido. Agora seus deveres recaíram sobre mim.

 

Kelsey ficou calada, pensativa. Eu me virei para retirar minha armadura, o capacete, e então me permiti um pouco de vaidade, inspirada pela mulher frágil e bonita que estava à minha frente. Peguei uma escova e comecei a escovar meus cabelos. Depois de algum tempo, ouvi uma voz masculina, preocupada, falar com Kelsey.

 

— Você está bem, Kells?

 

— Eu estou bem.

 

Me virei e vi Kelsey falar com um dos belos homens, que havia despertado. Ele olhava para ela com ternura e preocupação, como nenhum homem jamais tinha olhado para mim, exceto meu irmão, Sunil. O outro homem rolou a parte superior do corpo e inclinou-se sobre um braço enquanto esfregava os olhos. Eu olhei para ele e congelei. Ele era muito bonito.

 

— A Corda ainda está aqui? — murmurou sonolento.

 

— Sim, está.

 

— Bom.

 

Ele abriu os olhos e me viu. Nossos olhares se encontraram brevemente.

 

O homem tinha os olhos dourados, mais expressivos que eu já tinha visto. Parecia que era possível enxergar sua alma se olhasse neles por algum tempo. Meu coração disparou. Senti uma emoção como nunca tinha sentido igual. Chegou a doer, como se algo tivesse preso em mim, me puxando para aquele homem. Sem me dar conta, eu caminhei em sua direção. Não conseguia desviar meus olhos dele. E ele também não parava de me olhar.

 

— Ren e Kishan, eu gostaria de lhe apresentar, Ana… mika.

 

A frase de Kelsey desviou minha atenção e eu olhei para ela, que estava de pé e me olhava boquiaberta. Olhei para o outro homem, que tinha belos olhos azuis, e ele também parecia congelado, me encarando da mesma forma.

 

— Por que vocês olham para mim como grandes filhotes à espera de um osso? — Sussurrei.

 

O homem de olhos dourados finalmente se mexeu. Ele se prostrou diante de mim e abaixou a cabeça.

 

— Como posso servir?

 

— Durga? — sussurrou Kelsey

 

Eu não estava acostumada com aquele tipo de atenção. Fiquei perdida, sem graça. Aquele homem perfeito diante de mim, me deixou sem ação. E eu costumava ser rude quando ficava sem graça.

 

— O que é Durga? — Falei bruscamente. — E por que é que está se curvando?

 

Me lembro de ter falado mais, mas nem me lembro o que disse. Mas sei que eu fui grosseira. O belo homem levantou a cabeça e estreitou os olhos ofendido, levantou-se e me encarou, lindamente zangado. Tentei não olhar para ele.

 

— O que está acontecendo? — perguntou o outro homem.

 

— O que está acontecendo é que estamos em guerra, e eu não tenho tempo para mimar fracotes.

 

— Fracotes? — Rosnou o príncipe de olhos dourados.

 

Ele caminhou em minha direção e me encarou de cima a baixo, levantando a sobrancelha. Parecia com raiva. Seu escrutínio me deixou ainda mais nervosa, mas eu permaneci firme, sem me mover.

 

Kelsey caminhou até ele e segurou seu braço. Ele parou de se mover, mas continuou me encarando. Eu estava quase cedendo.

 

— Anamika, este é Dhiren Rajaram, e este é seu irmão, Kishan.

 

— Anamika? — Kishan perguntou. — É assim que ela está chamando a si mesma? — ele murmurou ardentemente.

 

Eu estava tão nervosa, que passei a agir como uma descontrolada. Coloquei a mão no meu punhal e falei ameaçadoramente:

 

— Você está sugerindo que eu não sou quem digo que sou? Sou Anamika Kalinga, assessora de Chandragupta, a campeã mais estimada na história do meu povo, e a filha de grandes reis — Olhei nervosa para Kishan. — Eu já venci homens maiores e mais inteligentes do que você. Seria sábio em tratar com respeito, durbala.

 

— Durbala?

 

Kishan irritou-se e caminhou em minha direção. Ele era rápido e agarrou meu pulso antes que eu pudesse arrancar o punhal da cintura. Ele me encarava com raiva, intensamente. Eu também o encarei com raiva. Raiva por estar me sentindo tão fragilizada diante daquele homem.

 

“ O que este homem tem? Quem é ele? Porque não consigo me controlar diante deste Kishan?”

 

Kelsey o chamou em uma voz suave e ele se acalmou, segurou a mão dela e largou meu pulso, voltando para o lado dela. Senti ciúmes.

 

O outro homem, Dirhen, deu um passo à frente e curvou-se.

 

— Perdoe-nos. Temos viajado muito longe de nossa pátria, e apesar das aparências — ele se virou e olhou para Kishan — nós somos gratos pela hospitalidade que mostrou para conosco.

 

Dirhen começou a conversar comigo em Hindi. Ele apresentou os companheiros formalmente, falou que ele e o irmão também eram indianos e vinham de um reino onde eram príncipes. Kelsey, por sua vez, vinha de uma terra nova e distante, com costumes muito diferentes dos nossos.

 

Nós conversamos bastante. Reparei que Dirhen também era muito bonito e muito bem educado. Ele não me perturbava como o outro irmão. Eu consegui relaxar conversando com Dirhen.

 

Kishan e Kelsey ficaram nos observando em silêncio. Até que ele nos interrompeu, falando em inglês. O som de sua voz fez meu coração saltitar novamente.

 

— Minha noiva está cansada. Posso pedir um pouco de comida e um lugar onde ela possa descansar?

 

A noiva era Kelsey. Claro que um homem como Kishan escolheria uma mocinha delicada e frágil para se casar. Os homens, por mais guerreiros que sejam, desejam mulheres que ficam em casa, cuidando dos filhos, para que ele possa encontrar braços macios e perfumados quando voltar para casa. E eu nunca seria essa mulher.

 

Kelsey pareceu ter ficado irritada. Ela apertou os lábios e protestou de forma rude:

 

— Eu estou bem. Não preciso descansar.

 

— Talvez seja melhor assim — Dirhen argumentou calmamente.

 

Com um sorriso, respondi, sabendo que a irritaria ainda mais:

 

— Pedirei aos meus homens para preparar a cama mais macia que puderem encontrar.

 

— Tenho certeza de que Kelsey achará mais que bem-vindo.—Disse Kishan.

 

Saí da tenda deixando-os sozinhos. Estranhamente, eu confiava naquelas pessoas. E não conseguia parar de me imaginar nos braços de Kishan. Balancei a cabeça para afastar esse pensamento, afinal, ele era comprometido com outra mulher. 

 

Pedi a meus homens que levassem colchões e cobertores à minha tenda e para outra tenda, onde eu deixaria Kishan e Dirhen. Quando voltei, mandei que os homens levassem os dois para sua própria tenda e fiquei sozinha com Kelsey, que me olhava de forma estranha. Mandei que lhe servissem água e comida.

 

— Como você machucou seus pés? — perguntou ela.

 

— Meus pés não são da sua conta.

 

— Eles pareciam muito ruins.

 

Comi um pouco de lichia e um pedaço de pão. Então me levantei.

 

— O que há de errado? Você não gosta da comida? Uma mulher como você provavelmente não gosta de comer nada que não caçou e matou não é?

 

— Eu não estou mais com fome.

 

— Você está cheia? — perguntou confusa e continuou após um momento em silêncio.—Oh, você tem uma forma de Amazona para manter.

 

— Eu não entendi a “forma de Amazona”.

 

— Uma forma é o jeito do seu corpo, e as Amazonas são pessoas altas, belas mulheres que vivem na América do Sul. Elas são guerreiras que não precisam de homens para cuidar delas.

 

— Eu não tenho nenhuma preocupação com a forma do meu corpo enquanto ele for forte. Uma Amazona, como você me chama, pode ser o que sou agora, mas nem sempre fui assim. Eu gosto de homens.—Falei isso e a imagem de seu noivo me veio à mente imediatamente.

 

Kelsey riu.

 

— Entendo. Eu gosto de homens também. Então, por que você é uma Amazona agora?

 

Eu me sentei e abracei os joelhos. Não sei porque, mas achei que eu podia me abrir com Kelsey.

 

— Eu não estava sempre sozinha. Eu tinha um irmão… Sunil. Ele era meu irmão gêmeo. Ele era o senani, o comandante de nossas forças.

 

— O que aconteceu com ele?

 

— Ele foi levado. Capturado pelo nosso inimigo. Ele provavelmente está morto, ou então meus homens não iriam me aceitar. Você perguntou sobre os meus pés. Sonhei que meu irmão me chamou, e deixei minha barraca para encontrá-lo. Sua voz me obrigou a ir em frente, e eu pressionei, não me importei que meus pés estavam sendo cortados por rochas afiadas e rasgados por espinhos e cardos. Quando acordei, descobri que eu tinha experimentado um sonho sonâmbulo e estava longe de meu acampamento.

 

— Eu sinto muito pelo seu irmão, Anamika.

 

— Nós viemos aqui com 30 mil soldados, 20 mil carroças e cinco mil elefantes de batalha, juntamente com dezenas de espiões e mensageiros. Na última batalha, o meu irmão foi perdido e nosso sena, nosso exército, foi derrubado, destruído. Centenas de nossos elefantes foram vencidos, e tudo o que restou dos nossos guerreiros orgulhosos são alguns milhares, a maioria dos quais estão feridos.

 

— Seu inimigo parece formidável.

 

— Ele é um demônio.

 

— Por que você não come um pouco mais? Você precisa manter a sua força.

 

Eu me virei e olhei em seu rosto.

 

— Eu não comerei. Este alimento é mais do que a maioria dos meus homens come em um mês. Como posso comer mais quando estão com fome?

 

Kelsey parou por alguns segundos.

 

— Seus homens estão passando fome?

 

— A fome é o mais trivial de seus sofrimentos. Eu lhes pedi que voltassem para casa, mas eles se recusam a me abandonar, e não posso ir até que descubra o que aconteceu com meu irmão.

 

Deixei Kelsey comendo e me deitei no chão da barraca. Era difícil dormir, por causa do frio. Nós não tínhamos cobertores o suficiente, então eu dormia com apenas um cobertor fino. 

 

Eu ouvi Kelsey se levantar e sussurrar algo para o homem que estava de guarda diante da tenda. Eu não me virei, apenas me concentrei em dormir. Eu estava tão cansada que isto não demorou a acontecer. E comecei a sonhar com um belo príncipe de olhos dourados, prostrando-se diante de mim. Só que desta vez, eu não o repelia, mas estendia minha mão para tocar seus cabelos macios. Então, o príncipe me olhava nos olhos e sorria para mim. Então o sonho mudou: Eu estava deitada em uma pedra, sozinha e com frio. Kishan se sentou ao meu lado e me abraçou. Imediatamente, o frio se foi e eu me senti aquecida e amparada.

 

Então, despertei com um vulto sobre mim. Alguém tentava me atacar. Por um instante pensei que fosse Kelsey, mas meu agressor era bem maior que ela. Talvez um de seus homens.

 

“Eu fui tola em confiar nessas pessoas”.

 

Eu lutei contra o agressor. Mas estava escuro e eu não conseguia vê-lo. O homem torceu meu braço e me colocou de costas. De repente, a tenda iluminou-se levemente, e eu ouvi a voz de Kelsey:

 

— Anamika, mergulhe!

 

Kelsey segurava um arco e mirava o meu agressor. Fiquei surpresa. O homem me virou de frente para ele e eu pude enxergar quem era.

 

— Sunil? Você está vivo!

 

Eu estava tão feliz e aliviada porque meu irmão estava vivo, que ignorei o fato de ele ter tentado me matar. E ele me ignorou, olhando para Kelsey como se a conhecesse e estivesse satisfeito em vê-la. Ele a avaliou brevemente, então deu um largo sorriso.

 

— Você! Estivemos esperando por você — ele disse. — Meu senhor ficará satisfeito.

 

Ele me empurrou e foi em direção a Kelsey, que lançou uma flecha em sua coxa. Isto não parou Sunil, que a agarrou e arrastou para fora da tenda. Gritei para que meus homens o impedissem.

 

Sunil pareceu reconhecer que havia falhado. Com um grito, ele jogou de lado os homens que os seguravam e fugiu para a floresta. Meus homens seguiram-no, mas retornaram alguns momentos depois. Eles disseram que meu irmão era mais rápido que seus mais rápidos corredores, mesmo com a lesão na perna. Eles haviam perdido Sunil na névoa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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