O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 26
Quimera - Kishan




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Ren saiu para procurar a criatura, enquanto Kelsey e eu ficamos escondidos aguardando o sinal. A ideia era Ren distrair a quimera, que pelo cheiro, descobrimos ser uma fêmea no cio, insinuando o acasalamento. 

Assim que ouvi o rugido de Ren e a resposta da Quimera, avisei a Kelsey que aquele era o sinal e saí para procurar a corda. 

Eu estava chegando à árvore, enquanto ouvia os sons do casal de felinos não muito longe dali. Percebi que Ren estava tendo problemas em distrair a gata, que se preparava para voltar à árvore. Resolvi arriscar e me transformei em tigre. 

Corri na direção dos dois, torcendo para que Kelsey entendesse e conseguisse alcançar a corda. Juntei-me a Ren na tentativa de “seduzir” a Quimera. Meu irmão entrou na dança e se colocou à frente da criatura,  como se a protegesse. Eu o desafiei. A fêmea voltou sua atenção para a nossa disputa, embora parecesse já ter se decidido por Ren. Ele fingiu me atacar, empurrando meu corpo para longe e eu revidei. Ren e eu começamos a fingir uma luta, o que capturou a atenção da criatura, por um tempo. 

De longe, eu vi Kelsey se aproximar da árvore e estender a mão para pegar a corda, pendurada no alto. Mas a árvore reagiu a ela, estendendo suas gavinhas. A Quimera, que estava cheirando Ren, indicando ter feito sua escolha, de repente parou. Ela virou a cabeça em direção à árvore, mas Kelsey se escondeu atrás do tronco. A criatura cheirou o ar e resmungou baixinho, depois caminhou em direção à árvore. Ren tentou impedi-la, mas a fêmea o mordeu e continuou seu caminho.

A Quimera estava muito perto de Kelsey. Agachou do outro lado da árvore e cheirou o ar. Ren transformou-se em homem e gritou:

— Kelsey! Corra para mim tão rápido quanto puder!

Kelsey circulou a árvore e correu em direção à Ren. Eu me joguei sobre a quimera e nós rolamos. Ela me empurrou para o lado e correu para Kelsey. Eu me transformei em homem, ainda sem saber o que fazer.

A Quimera não atacou Kelsey. Ela se jogou à frente de Ren, como se o defendesse. Ela rosnou e Kelsey permaneceu imóvel. 

— O que eu faço? — Kelsey sussurrou.

A Quimera circulou corpo humano de Ren, lambeu seu braço e esfregou a cabeça contra sua perna.

— Ela está defendendo seu companheiro — falei, aproximando-me de Kelsey cuidadosamente.

— Mas ele é um homem agora.

— Ela ainda o vê como um gato. Ela tem o cheiro dele.

— O que eu devo fazer?

— Venha aqui. Segure a minha mão.

Se a Quimera era a fêmea de Ren, Kelsey era a minha e também estava ali para defender o próprio macho. Ela segurou minha mão.

— Agora me rodeie e rosne.

— O quê?

— Faça isso.

— Tudo bem.

Kelsey me circulava e tentava rosnar.

— Mais barulho — instrui. — Acaricie meus braços.

Ela começou a descer as mãos pelos meus braços e peito e fazer barulho como se rosnasse.

— Ótimo. Agora siga-me.

Lentamente, nós dois nos movemos em direção à árvore. Ren nos assistia e quando estávamos bem escondidos, ele mudou para a forma de tigre branco e calmamente correu para o outro lado da clareira. A Quimera o seguiu.

Kelsey estendeu os braços para a árvore, que baixou a Corda de Fogo. Parecia mais um chicote que uma corda. Uma extremidade tinha uma secção rígida que poderia ser usada como um punho, e em vez de couro, o restante do comprimento possuía escamas brilhantes. A Corda reduzia para um ponto afiado.

Kelsey se esticou para pegar a corda, mas eu a detive, puxando seu braço, delicadamente, preocupado com o que poderia lhe acontecer quando tocasse o objeto. 

— O que foi? 

— No minuto em que você tocá-la, pode ser levada por uma visão como antes.

Kelsey pensou por um instante, preocupada.

— Nós vamos ter que fazê-lo em algum momento — falou.

— Talvez não vai afetá-la se eu pegar em vez de você.

— Acho que você poderia tentar.

Eu envolvi a cintura dela com um braço e estiquei o outro para pegar a corda. Assim que a toquei, olhei para Kelsey e ela estava consciente. Então eu sorri e peguei a corda. 

— Então é assim que devemos fazer para evitar as visões. Você só não será permitida a tocá-la.

Kelsey suspirou aliviada e eu comecei a testar a corda, balançando-a e chicoteando-a na clareira. Mas nada aconteceu.

— Espere.—Kelsey me interrompeu— A carta do Sr. Kadam dizia que devíamos a usar a Corda para viajar no tempo. Nós temos que usá-la para abrir um vórtice.

Então eu ergui a corda e a balancei acima da minha cabeça. Nada aconteceu. 

Ouvimos o barulho além da clareira. A Quimera perseguia Ren. E estava ficando desesperada. Ela não entendia por que seu companheiro estava fugindo dela. A criatura rosnou e mordeu-o melancolicamente no ombro, com força o suficiente  para tirar sangue.

— Precisamos nos apressar — falei.

Tentei fazer círculos grandes, pequenos, girei mais rápido. Mas não houve nada. 

Frustrada, a Quimera tirou uma pluma de fogo de sua boca enquanto Ren se torcia para longe dela. Kelsey, que assistia a tudo nervosa, teve uma ideia. 

— Talvez a Corda de Fogo precise estar em chamas.

Ela tentou queimar a corda sem tocá-la. O fogo se acendia, mas cessava logo. Por mais que Kelsey intensificasse sua chama, a corda não continuava queimando. 

— Isso não vai entrar em chamas.

Kelsey pensou por alguns instante, então suspirou, chegando a uma conclusão. 

— Eu vou ter que segurá-la, Kishan.

— Não.

— Ele só vai funcionar se eu estiver tocando.

— Kelsey, eu não quero…

Apertando meu braço, ela disse:

— Ficarei bem. Ele não pode me machucar. Não de verdade. Meu corpo vai estar aqui com você.

Eu podia imaginar como seria horrível para Kelsey ver aquele homem outra vez. Eu não podia permitir que ela o enfrentasse sozinha, depois de tudo o que ele havia feito a ela. Eu não iria permitir. Soltei a corda e me pus ao seu lado.

— Eu não me importo se ela funciona ou não, Kells.

Eu segurei sua mão e toquei o anel de noivado que ela usava. Ela era minha noiva e era minha função protegê-la. 

— Eu não quero mais que você tenha que passar por isso, bilauta — Então olhei nos olhos dela— Meu único desejo é protegê-la. Proteger o seu corpo e alma de demônios como ele.

Kelsey inclinou-se, me beijou suavemente nos lábios e sorriu.

— Eu sei que sim, e acredite em mim, não há nada mais que eu gostaria que permanecer em seus braços e nunca mais enfrentar qualquer uma dessas coisas novamente. Mas…

— Mas nada. Nós temos a Corda agora. Durga pode nos conceder a nossa liberdade. Nós podemos ser capazes de viver como os homens o tempo todo.

— Mas Ren claramente ainda é um tigre. Ter a Corda não resolve tudo.

— Nós já existimos como tigres, durante séculos, Kells. Eu posso viver assim seis horas por dia, se necessário, e Ren também. Nós podemos parar. Aqui. Agora. Nós podemos apenas ir para casa — eu a abracei e a puxei para perto de mim— Não vale a pena o risco. Ren concordaria. Não tenho nenhum desejo de buscar Lokesh no passado. Não se isso significar perder você.

Ela colocou as duas mãos de cada lado do meu rosto.

— Mas é o nosso destino, Kishan. Seus destinos. Você e Ren foram escolhidos, o poder do tigre foi-lhes dado para serem capazes de derrotar Lokesh. Nós estamos destinados a fazer isso. Não é apenas sobre nós. O Sr. Kadam disse que devemos proteger as vidas daqueles que Lokesh prejudicaria.

— Eu não me importo com o meu destino. Eu só me importo com você.

— Você realmente não quis dizer isso. Seu destino lhe chama assim como o meu. A Fênix me ensinou isso. Ele sabia que sua morte traria nova vida. o Sr. Kadam se sacrificou por esta causa. Como posso ficar para trás e me esconder como uma covarde quando ele morreu por nós?

Pressionando minha testa contra a dela, eu suspirei.

— Eu sei que você está certa e que devemos continuar. Senão por outro motivo, pela honra da morte de Kadam. Mas, em meu coração, Kelsey, tudo o que quero é levá-la para longe daqui e mantê-la em meu coração e em minha casa para sempre.

Eu a beijei e então lhe entreguei a corda, mantendo o outro braço ao redor dela. Kelsey colocou uma das mãos sobre a minha e a outra na corda, evocando seu poder de raio. A corda brilhou e rompeu em chamas, então assobiou. E Kelsey perdeu a consciência. 

Ren chegou em seguida e se transformou em homem, ajoelhando-se ao lado de Kelsey.

— Ela teve que segurar a corda. Não funcionou até que ela a tocasse e infundisse seu poder de fogo. 

— Ela deve estar com Lokesh agora.

— Vamos torcer para que acabe logo. 

Ren percebeu que a pele do braço de Kelsey havia se arrepiado, como se ela estivesse sentido frio. Nos entreolhamos preocupados. 

De repente, uma ferida, como um arranhão, surgiu no braço de Kelsey e lágrimas desceram de seu rosto. Outros hematomas surgiram em seu pescoço, braços e costas. Parecia que, de alguma forma, Lokesh a estava machucando. Mesmo seu corpo estando conosco, a ligação entre Kelsey e aquele demônio parecia forte o bastante para que ele pudesse tocá-la de alguma forma. Os braços e cotovelos dela começaram a sangrar. Não havia nada que pudéssemos fazer.

Peguei o lenço e pedi que ele fizesse bandagens para cobrir os machucados. Ren pediu ervas ao fruto e me entregou. Eu fiz uma pomada e comecei a aplicar nas costas dela. 

Kelsey abriu os olhos mas não se moveu, nem falou. Coloquei uma gota do elixir da sereia em sua boca.

— Ela está começando a se curar —Comentei.

Ren assentiu.

— Onde —Ela limpou a garganta, falando com dificuldade — Quimera.

Eu já tinha me esquecido da criatura. Ren lhe respondeu, falando com pesar:

— Eu usei a Corda para chicoteá-la — ele acariciava a garganta de Kelsey— Ela fugiu e não voltou ainda.

— Ela vai voltar em breve —falei — Nós precisamos sair.

Ren pediu ao lenço que fizesse outra roupa para Kelsey, por baixo da que ela estava usando e que estava rasgada. Ele a ajudou a tirar a roupa velha e a ficar de pé. Eu peguei a a corda e Kelsey colocou a mão sobre a minha. 

— Experimente agora, Kishan.

Kelsey evocou seu poder de fogo e eu girei a corda,  até que o círculo interno tornou-se um vórtice negro. Chamas dançaram ao longo das bordas.

— Diga a ele onde você quer ir — falei para Kelsey.

— Leve-nos para o passado. Para o lugar onde devemos estar para cumprir o nosso destino.

A escuridão piscou e uma floresta materializou-se. Ren colocou a mochila, pegou Kelsey no colo e correu em direção ao vórtice ao mesmo tempo em que a Quimera saía das árvores. Eu corri e saltei no vórtice.

Kelsey foi arrancada dos braços de Ren. Nós três girávamos no vórtice. Ren e eu gritávamos por ela. Até que eu perdi a consciência.


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