O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 25
Quimera - Ren




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Quando conheci Kelsey, ela era uma jovem corajosa e altruísta. Capaz de se sacrificar para ajudar outras pessoas. Ela também apresentava um grande senso de justiça e uma bondade infinita. Mas ela era insegura e incapaz de ferir alguém. Mas Kelsey mudou. E tornou-se uma guerreira implacável.

Durga, é a deusa mãe da Índia, graças à sua compaixão e bondade. Ela foi capaz de conquistar o amor de Shiva, que, mesmo sendo um asceta, casou-se com ela e lhe devotou todo o seu amor. Mas ela assumiu a forma da guerreira invencível para derrotar demônios. Em sua face negra, ela é Kali, a destruidora. Durga possui todas essas faces dentro de si e assume aquela necessária para vencer as batalhas. Assim como Kelsey, que se sacrificou no fogo da Fênix, à semelhança de Sati.

Kelsey lutou contra Lokesh, auxiliando a Kishan e a mim para a sua própria liberdade. Ela lutou contra os Raksharas para libertar a mim e a meu irmão. Ela derrotou os Lordes da chama, quando Kishan e eu não fomos capazes. 

Kelsey atacou os gêmeos, congelando-os para que Kishan e eu pudéssemos nos livrar das chamas que queimava nosso corpo. Nós estávamos muito debilitados e assumimos a forma do tigre para nos curarmos mais rápido. Mas um dos irmãos se libertou.

Shala nos ameaçou, mas Kelsey o atacou, lançando suas correntes de água contra o lorde, apagando suas chamas. Mas o homem estava irado. Ele olhava para Kelsey com raiva. Seu único desejo agora, era derrotá-la, vingar-se dela. Eu percebi a satisfação no olhar de Shala, mesmo derrotado. Então procurei pelo outro irmão. E o vi.

Wyea vinha em direção a Kelsey, segurando sua Gáe bolda, pronto para atacá-la. Só tive tempo de gritar por ela e me jogar à sua frente. 

Senti a arma penetrar em meu peito e meu corpo tombar, junto com o de Kelsey. Senti Kishan nos puxar para o alto da plataforma. Senti a arma se aprofundar em meu peito e o gosto de sangue na boca. Gritei de dor e ouvi a risada dos gêmeos atrás de mim. Olhei para Kelsey e ela estava em choque, olhando para a arma enfiada em meu peito. Eu não conseguia falar. A dor era intensa.

Kelsey se levantou e virou-se para os gêmeos. Vi sua face mudar. Kali. Destruidora. Implacável.

Ela direcionou sua ira para um dos irmãos. Lançou contra ele seus jatos congelantes. Havia um vento gelado soprando. Eu sentia dores terríveis. Sentia a arma penetrando em meus pulmões, impedindo o ar de entrar. O meu corpo tentava se curar, mas a arma continuava me ferindo. Era como na mitologia, quando Prometeu foi punido pelos Deuses e via todo dia seu fígado ser comido por aves e se curar à noite, em um sofrimento constante. Kishan tentava retirar a arma, mas não conseguia. 

Eu estava quase inconsciente quando Kelsey se ajoelhou ao meu lado. Ela conversava com Kishan, preocupada. Minha mortal Deusa havia se acalmado. Seu semblante implacável agora voltara ao original. Kelsey me olhou amorosa, com os olhos cheios de lágrimas. Ela colocou minha cabeça em seu colo e acariciou meus cabelos. Uma lágrima caiu em minha testa. 

— Por favor, não morra — sussurrou. 

Eu tentei me virar para ela, mas gemi de dor.

 — Shh. Tente não se mover.

Ela colocou uma xícara em meus lábios e eu engoli a água, sentindo meu peito sangrar.

— Está tudo bem. Tudo vai ficar bem — ela tocou os lábios em minha testa. — Há tanta coisa que eu preciso te dizer. Por favor, não me deixe. 

— Asambhava.— eu sussurrei.

Kelsey sorriu e disse:

— Ótimo. Porque eu pretendo mantê-lo perto por um tempo.

Então Kishan se ajoelhou a meu lado, segurando a faca sai. 

— Isto vai ser difícil. Os dardos estão em seus pulmões e coração.

— Lokesh esfaqueou seu coração antes e drenou todo o seu sangue, e ainda assim ele voltou — falou Kelsey.

— Eu nunca tinha visto um ferimento tão ruim quanto este antes — Kishan disse francamente. — Não sei quanto tempo vai demorar para cicatrizar. Dê a ele algumas gotas do elixir logo depois que eu retirar a maça.

Kishan levou a faca para ao meu peito, mergulhou a lâmina rapidamente e começou a serrar. Meu corpo se mexia involuntariamente, diante da dor terrível. Era como se Kishan estivesse arrancando meu coração e meus pulmões. Eu não conseguia respirar e senti meu corpo se enfraquecer. Então eu perdi a consciência. Eu não ouvia nada. Eu não sentia nada. Só escuridão e frio. Então calor. 

Aos poucos, eu comecei a sentir meu corpo se aquecer. Percebi uma luz dourada através de meus olhos fechados. Comecei a sentir o sangue correr novamente pelo meu corpo, minhas forças se restabelecerem. Então eu senti meu coração bater. Junto a ele, o coração de Kelsey. Senti sua cabeça em meu ombro e abri os olhos. 

A luz dourada brilhava ao nosso redor. Era o poder de Kelsey, aquele raio de luz dourado que ela emitia quando eu a tocava. Era a energia de Kelsey que penetrava em meu corpo e me curava. Minha Deusa estava comigo.

Eu já estava completamente curado, mas Kelsey continuava emitindo sua energia em mim. Ela não havia percebido que eu acordara. Eu toquei em seu pulso e disse com delicadeza:

—Priya, você deve parar.

— Não posso parar — ela murmurou sem abrir os olhos. — Ren precisa de mim.

— Eu sempre preciso de você.

Ela estava exausta e nós precisávamos sair daquela montanha. Eu a ergui em meus braços e beijei sua bochecha, com todo o meu carinho, minha devoção e minha gratidão. Kishan veio rapidamente até mim. 

— Ela se desgastou tentando te salvar.

— Ela precisa de tempo para se recuperar, para descansar.

— Eu posso levá-la. Você ainda está fraco.

— Eu estou forte o suficiente.

Kishan protestou, querendo tomá-la de mim. Eu não queria me separar dela. Ela era parte de mim e eu precisava me sentir inteiro. Eu falei baixinho, implorando para o meu irmão:

— Ela vai ser sua para o resto de sua vida, irmão. Deixe-me abraçá-la por agora.

Não houve resposta de Kishan. 

Eu mantinha Kelsey em meus braços, enquanto Kishan tentava encontrar uma forma de sairmos daquela montanha. Eu olhava para o rosto de Kelsey e ela dormia tranquilamente. Isso me acalmava. Ela era minha vida. Era impossível viver sem ela.

Kishan voltou dizendo que não havia como descermos, precisaríamos dos gêmeos. Ele gritou por eles, até que os dois vieram e concordaram em nos levar para baixo. Eles moveram as mãos e nós estávamos entre as árvores de fogo. Kishan pediu uma barraca ao lenço e eu entrei com Kelsey, a coloquei no chão e deitei a seu lado. Kishan também estava exausto e deitou-se do outro lado. 

Eu acordei mais tarde e vi que Kelsey estava sentada. Eu me remexi e toquei seu braço. 

— Kelsey? Como você está?

— Com fome — sussurrou. — E sede também. Onde estamos?

— Nós chamamos os Lordes da Chama, e eles nos colocaram aqui em baixo, junto com as nossas armas. Seu arco e flechas foram devolvidos, e nós temos o Lenço Divino e o Fruto também.

— Você está… curado?

— Eu estou bem. E você?

— Eu estou realmente com fome.

— Será que vocês dois podem ficar quietos? —Kishan resmungou sonolento.

Kelsey lhe afagou as costas e beijou o rosto.

— Sinto muito. Volte a dormir.

Kishan dormiu imediatamente, e Kelsey me olhou. Nossos olhos se encontraram. Eu suspirei, feliz por estar com ela. Mesmo sem tocá-la, eu podia senti-la. Ela me amava. E eu a amava de uma forma tão plena. Eu só era eu mesmo quando ela estava comigo. Eu só era completo, quando Kelsey estava por perto. Estava decidido, mesmo que eu não pudesse tê-la, ainda que ela pertencesse a meu irmão, eu pertencia a ela. E não iria ficar longe dela. Eu sempre estaria por perto. Eu precisava dela. 

Kishan não demorou a acordar e disse que precisávamos levantar acampamento. 

— Ugh. Eu não estou no meu melhor jeito esta manhã — reclamou Kelsey, esticando o corpo.

Instintivamente, caminhei em sua direção, mas Kishan a abraçou e eu parei. 

— Você está forte o suficiente para continuar hoje? Ainda há um guardião com quem lutar.

— Não há pressa. Ela gastou muita energia ontem. Pode precisar de mais tempo.

Kelsey fez uma careta.

— Há uma espécie de razão para a pressa. Os Lordes da Chama deixaram bem claro que devemos desocupar o local, antes de voltarem com força total.

Kishan garantiu:

— Vamos devagar. Manteremos Kelsey ao nosso lado enquanto combatemos a criatura.

Kishan e eu começamos a juntar nossos pertences, enquanto Kelsey caminhou em direção às árvores. Quando voltou, ela colocou um braço ao redor da minha cintura, o outro na de Kishan. 

— Eu estou pronta.

Meia hora depois, nós três estávamos agachados atrás de alguns arbustos.

— Então a Quimera é um gato? — Kishan perguntou.

Seu nariz se contraiu, e ele passou os dedos levemente ao longo de algumas marcas de garras em uma árvore de fogo.

— Mais ou menos — Kelsey respondeu. — Ela é um pouco mais como uma leoa, mas também tem a cabeça de uma cabra e uma cauda de cobra.

— Nós estamos em seu território — acrescentei.

— Sim — Kishan esfregou o queixo. — Você pôde farejá-la?

Assenti.

Só então uma série de estrondosos rugidos ecoaram por entre as árvores.

— Isso é uma proposta — disse Kishan.

A criatura tinha nos farejado e queria acasalar-se. 

— O quê? — perguntou Kelsey. — Como assim?

Kishan lhe explicou:

—Ela está à procura de um companheiro.

—Oh. O que… hum… O que isso significa para nós? É uma coisa boa ou uma coisa ruim?

— Pode ser uma coisa boa. Podemos trabalhar em nossa vantagem — disse Kishan.

Kelsey nos olhou confusa e eu expliquei:

— O que ele quer dizer é que ela vai ser facilmente distraída.

Kishan limpou a garganta com uma risada profunda.

— E eu voto que você deve ser o único a distraí-la enquanto eu pego a Corda.

— Que tal você distraí-la, e eu vou pegar a corda? 

— Por que vocês dois não a distraem, e eu vou pegar a corda? 

— Não — ambos dissemos ao mesmo tempo.

— Eu vou — Me ofereci. — Apenas faça isso rápido. — e corri para o meio das árvores, transformando-me em tigre.


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