O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 22
Bodha - cidade da luz




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759944/chapter/22

 

Chegamos à esplêndida cidade da luz. Desmontamos os Qilins e nos despedimos deles, depois de agradecermo-lhes pelo transporte.

Dormimos durante toda a tarde e o início da noite. Acordamos e caminhamos para o vale, em direção aos arredores da cidade. Todas as pessoas pareciam estar se dirigindo a alguma espécie de templo. 

Espiando através das árvores escuras, aprendemos que os cidadãos eram chamados de Bodha. Eles brilhavam como os Rakshasas, mas com uma luz dourada e as tatuagens que eles usavam pareciam apenas decorativas. Eles não pareciam agressivos, apesar de terem o físico musculoso de guerreiros. Ao estudarmos a cidade dourada, eu sussurrei as palavras de um poema.

Eldorado

Por Edgar Allan Poe

Gentil, faceiro,

um cavaleiro,

sob sol e sombreado,

seguiu avante,

cantarolante,

em busca do Eldorado.

Mas o andarilho

ficou tão velho,

no âmago assombrado,

por não achar

nenhum lugar

assim como Eldorado.

E, enfim diante

de sombra errante,

parou, quando esgotado

e arguiu-lhe “onde,

sombra, se esconde

a terra de Eldorado?”

“Sobre as montanhas

da lua e entranhas

do Vale Mal-Assombrado,

vá com coragem,” disse a miragem,

“se procuras o Eldorado”.

— Você acha que daqui que veio a lenda de Eldorado? — Perguntou Kelsey.

— Eu não sei, mas certamente parece uma cidade de ouro.

Kishan pediu o lenço divino e então sussurrou pedindo-lhe um disfarce de Bhoda. Ao desenrolar-se do lenço, ele tinha a pele dourada, os cabelos, cílios e sobrancelhas estavam prateados. Sua pele tinha escamas e ele tinha pedras preciosas ao redor dos olhos, usava um tecido amarrado à cintura e pulseiras vermelhas. Kelsey olhou para ele com admiração.

Peguei o lenço e também pedi um disfarce Bhoda. Depois passei o tecido para Kelsey. Ela o segurou, mas ficou olhando para mim e para Kishan, sorrindo levemente e com um ar de aprovação. Eu lhe dei uma cotovelada de leve, enquanto Kishan ria. Kelsey usou o lenço para se fantasiar e nos perguntou como estava. Kishan e eu a circulamos para avaliar. 

— Não é ruim — disse Kishan.— Está bonita .

Kelsey ergueu os braços para olhar a si mesma, enquanto eu a observava. Ela estava linda. Seus braços foram coberto com borboletas da cor esmeralda e videiras pretas. Seus cabelos longos eram cor de marfim. Ela usava joias de ouro incrustadas que se pareciam com esmeraldas e um vestido que parecia feito com fios de luz das estrelas. Eu me abaixei para pegar as mochilas, enquanto lhe descrevia sua aparência:

— Suas pálpebras estão cobertas com pequenas esmeraldas que irradiam para fora e para baixo em suas maçãs do rosto. Pedras de topázio pontilham da sua testa e sobrancelhas para o couro cabeludo. A pele das suas bochechas e testa estão tingidas de uma tonalidade verde esmeralda que descem até o seu pescoço e ombros, mas depois se desvanece em ouro — eu me levantei e caminhei até ela — Seus lábios, seus olhos — Eu permaneci olhando por alguns momentos. Ela sempre conseguia me surpreender com sua aparência. Sob qualquer disfarce, ela ainda era maravilhosa — são de ouro também. A única coisa faltando… é isto.

Eu peguei a flor de fogo branca que eu havia lhe entregado e ainda brilhava em seus dedos e coloquei-a em seu cabelo, torcendo seu cabo entre as mechas e colocando em sua orelha. Senti seu coração saltar ao meu toque.

 — Ela não é apenas bonita, Kishan. Ela é perfeita.

Eu coloquei a mochila nos ombros e segui para a cidade. Ouvi Kishan rosnar irritado e reclamar baixinho do meu “atrevimento”. Sem uma palavra, nos juntamos ao desfile de pessoas caminhando em direção ao templo em forma de pirâmide na Cidade de Luz.

— Eles parecem muito excitados sobre algo. O que quer que esteja acontecendo não ocorre há um longo tempo. Essa deve ser uma ocasião especial — Comentei antes de me concentrar nas conversas para tentar descobrir o que estava acontecendo.

Um grupo de pessoas havia formado um círculo e batia palmas cantando junto com os músicos que tocavam bateria e instrumentos semelhantes a flautas ou tubos. A música aumentou e alguns Bodhas começaram a dançar. 

Nós nos aproximamos do enorme templo, que brilhava como fogo e emitia luz brilhante. O templo era um cristal gigante esculpido em forma de um tetraedro e tinha uma escada íngreme com um terraço que conduzia ao topo. Guardas armados com lanças estavam em cada degrau da base do templo. Embora eles possuíssem impressionantes aparências, eles sorriam alegremente junto com a multidão e não pareciam esperar qualquer problema.

Dois homens bodhas apareceram de uma passagem na metade do caminho da escada. Eles desceram vários degraus até que eles estivessem pouco acima da multidão. Suas vestimentas eram semelhantes às que usávamos, mas muito mais luxuosas. 

— Os Lordes! — A multidão aplaudiu.

Um dos homens levantou as mãos e os gritos e vaias se acalmaram.

— Meu povo, foi há muito, muito tempo desde que fomos adicionados ao seu clã. Alguns até se perguntaram se o prazo para recrutar novatos havia passado para sempre. Agora sabemos que não. Essa energia líquida que corre por baixo de nossa cidade e nos sustenta não perdeu seu fogo afinal. Ela ainda fala para o mundo a cima e traz vida nova.

— E nova esperança para os Lordes — a multidão Bodha gritou em resposta.

O homem que falava sorriu e bateu no ombro de seu companheiro.

— Sim. Nova esperança, irmão.

— A esperança! — Ele respondeu e levantou a taça de ouro.

Com o brinde ainda pairando no ar festivo, os drinques foram passados para a multidão. Kishan tomou um copo e provou.

— É bom — ele assegurou-nos em voz baixa. — Como uma mistura de fruta do fogo e maçãs.

— Você sente isso, irmão? Ela está chegando — um dos Lordes disse para o par enquanto ele descia para a multidão.

Guardas ladeavam os homens enquanto caminhavam entre os Bodhas ao longo da praia de areia preta. Aproximando-se do lago de lava ardente, eles entraram na borda e olharam a superfície atentamente.

Eu estava prestando atenção naqueles homens, quando senti Kelsey agarrar meu braço. Olhei para ela preocupado, mas ela balançou a cabeça e sussurrou para chegarmos mais perto. 

Encontramos uma visão desobstruída. Não demorou muito antes que algumas bolhas subissem para a superfície e, em seguida, uma ondulação. A ondulação cresceu, e a multidão excitada apontou quando uma jovem saiu da lava. Ela estava tremendo e claramente com medo. Os Lordes entraram no rio de lava para cumprimentá-la, sem serem afetados pelo calor e as chamas. Um envolveu um belo manto em torno da menina e o outro colocou um colar de flores de fogo em seu cabelo. Gentilmente, eles a guiaram para a areia preta. Um dos irmãos falou:

— Bem-vinda à Cidade de Luz, pequena. Aqui nós vamos cuidar de você. Todas as suas necessidades serão atendidas. Venha conosco.

Enquanto os dois homens a levaram ao templo, os Bodhas aplaudiram e jogaram flores a seus pés. Quando chegaram ao edifício, ela deu um pequeno sorriso antes de desaparecer lá dentro com os irmãos. Os guardas voltaram para suas posições originais na escada.

Assim que a cerimônia terminou, a festa começou a sério. A música começou de novo, comida foi trazida para fora, e a multidão se divertia perto do templo. Nós nos misturamos da melhor maneira que pudemos e descobrimos que a comida era deliciosa, mas picante. 

Kelsey, Kishan, e eu escutamos um pouco mais e descobrimos que a festa continuaria por toda a noite. Os Bodhas esperavam que os Lordes reaparecessem com a feliz notícia de que esta menina era quem eles estavam esperando. À nossa esquerda, um grupo de pessoas começou a cantar:

— Diga-nos o conto!

Kelsey se aproximou deles, para ouvir. Kishan e eu permanecemos a seu lado, vigilantes.

Depois de cortar os gritos repetidos, um homem idoso, eventualmente, ergueu as mãos e falou.

— Acima de nós estão as montanhas de fumaça, portas do mundo acima do nosso mundo aqui.

O povo murmurou e acenou com a cabeça.

— Os antigos sabiam que o nosso povo sofrido não poderia cuidar da chama sagrada por conta própria. Isto foi quando os Lordes da Chama, Shala e Wyea, vieram para nos governar.

Uma jovem acrescentou:

— Mas eles deixaram alguém para trás.

— Isso é correto, Dormida. A menina bonita, Lawala, não veio com eles. Lawala era amada por ambos os irmãos, e ela teve de escolher entre eles. Antes de cada Lorde partir através de uma montanha de fumaça diferente, ela foi convidada para escolher e seguir com o irmão que ela queria. Eles esperaram a sua vinda, mas ela nunca veio. Atormentados, Shala e Wyea deixaram os seus postos e procuram-na no mundo de cima, mas a adorável Lawala não foi encontrada. Logo se tornou evidente que os irmãos estavam negligenciando suas funções, de modo que os Antigos prometeram que se os Lordes voltassem ao nosso mundo para cuidar das chamas eternas no centro da criação, eles mesmos procurariam Lawala e a mandariam para os dois irmãos através das montanhas de fumaça.

Kelsey ergueu a voz e perguntou:

— Por que os irmãos não a reconhecem quando a veem?

O homem sorriu:

— Os antigos só sabem olhar para uma menina jovem e virtuosa. Ela pode ter renascido em outra forma, mas os irmãos insistem que irão conhecê-la, independentemente de que forma ela tomar.

— O que acontece com a menina, se ela não é o que eles procuram? — perguntou ela.

— Ela se torna um de nós e contribui para os nossos números — o velho homem olhou para a noite escura. — Hoje as montanhas de fumaça permanecem, os irmãos estão contentes, mas se essa menina não for a sua senhora, a sua raiva irá abalar o céu e lago de fogo irá explodir no mundo de cima.

Kelsey agarrou a minha mão e fez sinal para Kishan. Nós fizemos o nosso caminho para a floresta do fogo e montamos nosso acampamento. Após uma breve discussão sobre o que tinha visto, Kelsey propôs:

— Acho que ele estava falando sobre vulcões. Quando os irmãos estão chateados, um vulcão entra em erupção na superfície… e eu também acho que as meninas chegaram aqui por serem sacrifícios a um deus vulcão.

— Por que você acha isso? — perguntei.

— Porque o homem disse que procuravam por jovens, mulheres virtuosas e em mitos, livros e filmes, as virgens são sacrificadas nos vulcões. Além disso, cada Lorde viajou até aqui através de um vulcão na montanha. Faz sentido. De forma que em vez de queimar-se, as meninas emergem com segurança na piscina de lava perto do templo.

Kishan respondeu:

— É uma explicação plausível. Conte-me o que a profecia de Durga diz sobre os Lordes da Chama.

Ela folheou o caderno.

— A tradução do Sr. Kadam diz: — “Os Lordes do Fogo pretendem conspirar para mantê-lo longe do que precisa”. E não se esqueçam que a fênix disse que nós precisamos derrotá-los para chegar à Corda de Fogo.

— Então isso não soa como se eles fossem cooperar — murmurei.

— A boa notícia é que os guardas não parecem estar muito bem treinados — Kishan comentou.

— Do que você está falando? Eles são todos musculosos.

Kishan esfregou o queixo.

— Ter músculos não significa ter habilidades de luta de um guerreiro. Os guardas tinham lanças, mas não as carregavam na posição certa. Suas maneiras revelam conforto.

Concordei com a cabeça enquanto Kishan continuava explicando à Kelsey:

— Além disso, não parece haver conflitos aqui. Os Rakshasas estão longe o bastante para não causar nenhum problema, e não vejo nenhum discórdia entre os moradores.

— Ele está certo. Eles parecem com um povo pacífico. Entretanto, é melhor não arriscar e subestimá-los. Amanhã você fica aqui, Kells.

— O quê? Por quê? Ainda não me provei o suficiente em batalha para vocês? Não vamos esquecer que salvei os dois quando os Rakshasas os levaram prisioneiros.

— Ela tem um ponto, Ren.

— Tudo bem, mas vai ficar perto de nós. — Concordei relutante.

— Sim, senhor, general, senhor. Cadete Kelsey Hayes, se alistando para os deveres que lhe forem atribuídos.

Eu lhe joguei um travesseiro no rosto, rindo animado.

— Apenas pregue os olhos, detetive Hayes.

— Onde diabos você aprendeu a expressão “pregar os olhos”?

Eu ri

— Boa noite, Kells.

Vi quando Kishan a encarava, insatisfeito. Ele saiu da barraca para cobrir o primeiro turno de vigília, sem dizer nenhuma palavra.

Havia algo diferente entre Kelsey e ele. Entre ela e eu. 

Eu sabia que os dois estavam noivos, que Kelsey o havia escolhido e que o destino dele era ficar com ela. Mas eu havia ganhado Kelsey. Eu a ganhei quando venci o dragão verde. Eu a ganhei da fênix no alto de sua montanha. Eu a ganhei quando lhe entreguei a rara flor de fogo branca. Essas coisas deviam significar alguma coisa. E Kelsey também sabia disso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O destino do tigre - POV diversos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.