O destino do tigre - POV diversos escrita por Anaruaa


Capítulo 21
Quilins - Kishan




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Todos os demônios Rakshasas sibilaram confusos. A rainha derrotada gargalhou, ainda presa pelo tecido divino. Relâmpago fez uma careta. Ren tomou Kelsey de seus braços e anunciou que ela estava muito cansada, depois a colocou nos meus e disse que eu era um curandeiro que a curaria com minha mágica  sussurrando para que eu usasse o kamandal.

Relâmpago indicou a tenda da antiga rainha e nós a levamos para lá. Em pouco tempo, uma legião de demônios chegou à entrada, querendo saber onde estava a nova rainha e exigindo que ela se mostrasse a eles. Muitos tinham uma cobiça no olhar.

Ren explicou que em breve ela faria uma aparição, mas exigia que lhe deixasse em paz por hora. Ele saiu com os demônios, tentando distraí-los até que Kelsey acordasse.

Enquanto isso, eu lhe dava o elixir da sereia e esperava até que ela acordasse. Eu olhei para Kelsey, naquele disfarce de demônio e sua aparência era impressionante. Kelsey sempre me surpreendia por sua força e coragem, aliadas à doçura e bondade. Mesmo agora, sob aquela aparência demoníaca, era possível sentir a essência de Kelsey. Sorri feliz, por ter alguém tão especial em minha vida e acariciei seu rosto, carinhosamente. A tatuagens de sua pele brilharam, para minha surpresa. 

Depois de algum tempo, Kelsey acordou e tentou se levantar, mas gemeu ao fazer isso. Ajoelhei-me a seu lado para ajudá-la.

— Como você está se sentindo?

— Como se o kraken tivesse me mastigado e cuspido.

Kelsey ergueu a mão para tocar no próprio rosto, mas eu a detive rapidamente, segurando seu pulso. 

— Espere aí. Você tem que ter cuidado com essa coisa. Você pode arrancar seus olhos fora.

Ela olhou confusa para a mão e viu as enormes garras de Rakshasa, gotejando veneno. 

— Adorável. Quanto tempo eu dormi?

— Algumas horas.

— Onde está Ren?

— Ele está supervisionando o banquete e distraindo os guerreiros enquanto eu uso minha magia considerável para curá-la —apontei para o kamandal —Você não tem ideia de quantos demônios estão apaixonados por você. Ele tem que mantê-los acuados, na verdade.

— Eles não estão interessados em mim. É o meu poder que eles desejam.

Olhei para ela de cima a baixo. Kelsey estava realmente sensual sob aquela forma demoníaca. Eu entendia perfeitamente qual era o interesse daqueles demônios. 

— Acho que você pode estar subestimando o seu appeal.

Kelsey baixou os olhos constrangida e suas tatuagens brilharam. Ela era adorável. Eu sorri e tracei o contorno das tatuagens de sua bochecha. 

— As luzes piscam sob a sua pele, especialmente quando eu a toco.

Kelsey afastou-se, sem jeito e gemeu de dor, eu examinei seu ombro.

— Ainda está se curando, então deixe o elixir trabalhar até você estar totalmente curada. Os arranhões não foram feridas mortais. Eu fiquei imaginando por que elas te machucaram tanto. — falei enquanto lhe oferecia um copo de água.

— Foi o veneno nas garras — respondeu entre goles.

Ela ergueu os dedos e contraiu as garras. Então eu segurei sua mão e beijei. 

— As mais bonita das criaturas são geralmente as mais mortais. Ao menos o elixir da sereia está curando-a.

Kelsey deitou a cabeça em meu peito, enquanto eu massageava-lhe a nuca e pensava o quanto eu a amava e desejava. Ela era linda sob todas as formas. Ren entrou apressado na cabana e reclamou ao nos ver:

— Era para você estar curando-a, não tirando vantagem do seu estado de fraqueza.

— O ombro dela está curado mas a cabeça ainda está machucada.

Ren se abaixou diante dela e olhou preocupado. 

— O que é? — Kelsey perguntou a ele.

Ren esperou alguns instantes, então respondeu preocupado:

— Eu não serei capaz de segurá-los por muito mais tempo. Eles querem ver a nova rainha. Aparentemente sua vitória não estará completa a menos que você prove que está viva e bem e que o veneno de Profanação não a matou.

Ela assentiu devagar e perguntou se Ren lhe conseguiria cinco minutos. 

— Conseguirei. Ela está quente Kishan — ele observou enquanto se abaixava para sair da tenda.

— Está tudo bem.—ela respondeu para mim— estar quente é meu estado natural como demônio.

Eu sorri, massageando sua cabeça:

— Ser quente é seu estado natural o tempo todo, bilauta. Apenas relaxe e respire. Foque-se na batida do seu coração. 

Kelsey suspirou e começou a relaxar em meus braços. Sua respiração ficou mais ritmada e calma e ela parecia estar dormindo. Então, um tumulto do lado de fora da tenda, fez com que ela despertasse. Ren aumentava o volume de sua voz:

— Eu juro a vocês que ela está viva. Ela tem descansado nessas últimas horas.

— Nós queremos vê-la — um demônio insistiu.

— Deixe-a andar entre nós — outro gritou.

— Você a monopoliza. Você a afastou do clã.

— Ela forneceu a vocês um banquete suntuoso. Ela gastou muita energia à favor de vocês. Deem a ela tempo para se recuperar — Ren ameaçou.

—Recuperar? O que essa palavra significa?

O tumulto lá fora afogou a resposta de Ren. Kelsey sussurrou:

— Eles não o entendem. O jeito deles é falar de modo provocativo, eles ridicularizam o outro. Eles não demonstram bondade. Só conhecem fraqueza e força. É melhor você me ajudar a levantar.

— Você tem certeza?

— Acho que posso lidar com isso.

Eu ajudei Kelsey a se levantar e a guiei até o lado de fora. Os demônios ficaram em silêncio quando a viram. Kelsey estreitou os olhos e sibilou:

— Acredito que seu banquete foi satisfatório?

Vários demônios murmuraram:

— Foi minha rainha.

— Então, porque estou sendo perturbada? — gritou.

O demônio chamado Relâmpago se aproximou, inclinando a cabeça:

— Nós estamos… confusos.

— Talvez esses outros com mente mais simples estejam confusos, mas com certeza você não, Relâmpago. Por favor, explique essa confusão.

Ele entortou o canto da boca em um pequeno sorriso e então explicou:

— Um clã vive por sua rainha. Se a rainha está ferida, então seus caçadores também estão. Eles só querem se assegurar de que você está bem.

O demônio avaliou o corpo de Kelsey com um olhar depravado e comentou, com um sorriso:

— Posso ver que você se recuperou bem das suas feridas.

Eu o olhei com raiva e murmurei um xingamento, assim como Ren.

— Sim, me recuperei.

— Então é hora de você escolher seu acompanhante para a noite.

— Meu acompanhante? Muito bem, eu escolho permanecer com meus guerreiros.

— Você não pode escolhê-los. Outra noite talvez, mas na noite de celebração da vitória, você deve escolher um homem do seu clã.

— Por quê?

— Este homem viajará com seu clã junto com você. Ele se tornará seu. Essa é a maneira de todos os Rakshasa. Você com certeza sabe disso.

Os demônios murmuraram. Kelsey riu com gozação e aproximou-se de Relâmpago, tocando-lhe o braço com as garras estendidas.

— E você esperava que pudesse ser minha escolha, tornando-se o recente rei do clã Rakshasa?

O demônio a agarrou pelo braço e a sacudiu. Kelsey gemeu de dor, mas transformou o gemido em uma risada rápida. Ren e eu nos preparávamos para defendê-la, mas Kelsey parecia saber o que estava fazendo.

— Claro que me escolheria. Quem mais aqui é merecedor?

Kelsey passou a língua pelos lábios de forma sedutora, deixando-me surpreso e enciumado. O demônio olhou para os lábios dela e sorriu. Então, abaixou a cabeça para beijá-la. Kelsey o empurrou anunciando:

— Qualquer um de vocês que desejar ser meu marido terá uma chance justa de… capturar minha atenção. Essa noite vocês vão caçar.

Murmúrios de excitação se espalharam pelo acampamento. Ren e eu ficamos apreensivos.

— Entretanto, vocês não vão caçar pela carne. Hoje vocês me trarão uma…— ela parecia estar pensando em algo—… uma flor de fogo branco. O primeiro homem que me trouxer isso poderá ser meu companheiro esta noite.

Um por um, os homens extinguiram a luz de seus corpos e escapuliram para a floresta. Relâmpago ficou para trás, observando Kelsey.

— Então? Pensei que você estivesse interessado em se tornar meu marido.

— Eu estou — ele endireitou a cabeça. — Eu só estava imaginando porque seus dois guerreiros não saíram junto com os outros para procurar o seu troféu. Eles não têm interesse em agradar sua rainha?

Eu já estava com raiva daquele homem cortejando a minha noiva, então eu o empurrei irritado e rebati:

— Não suponha que você entenda os desejos da nossa rainha.

Kelsey se intrometeu:

— Claro que eles irão caçar. Eu não espero nada menos deles. Mas primeiro eles irão me escoltar até a árvore em que esperarei o primeiro caçador retornar.

Ren e eu a levamos até uma árvore. Kelsey entregou o lenço a Ren, que, após ler a mensagem bordada, o passou para mim. Relâmpago nos observava.

O plano de Kelsey era dispersar os demônios para que fugíssemos. Ela iria até à tenda para recolher nossas armas e outros pertences e nós a encontraríamos no local que ela estabeleceu. Ela pretendia libertar os animais que os Rakshasas mantinham presos perto dali. Nos transformamos em tigre e saímos.

Percebemos que Relâmpago estava nos seguindo, precisávamos despistá-lo. Então, tomamos caminhos diferentes. O demônio passou a seguir Ren. Eu observei ao redor e não havia nenhum demônio por perto. Voltei para encontrar Kelsey. 

Eu a vi de longe. Ela estava em uma espécie de curral e havia um animal perto dela. Kelsey se agachou e o animal ficou imóvel. Eu me aproximei sussurrando para que ela soubesse que era eu. 

— Kells?

—Kishan? Estou aqui.

Contornei as árvores e cheguei até ela. Segurei suas mãos. 

— Você está bem?

—Você demorou o tempo suficiente para me encontrar. Onde está Ren?

—Nós fomos seguidos. Tivemos que nos separar e dar a volta.

Eu ergui o mecanismo que mantinha o curral fechado. Os animais estavam inquietos e eram estranhos: tinham o tamanho e a forma de cavalos, com crinas e caudas, mas possuíam a cara e os dentes de dragão. O corpo era coberto por escamas de peixe e eles eram coloridos, cada um de uma cor, e os pelos dos animais brilhavam como fogo. Eles não cheiravam como cavalos, nem como peixes, ou qualquer outro animal que eu conhecia. Comentei sobre isso com Kelsey:

— Eu nunca cheirei algo assim em toda minha vida. O que eles são?

Kelsey riu.

— Eles são Qilins, e eles podem se comunicar comigo. Acho que você os ofendeu de leve.

— Eu peço desculpas —Eu disse aos animais. — Apenas quis dizer que eu nunca conheci criaturas como vocês.

— Eles aceitaram — ela traduziu — e nós precisamos tirar as cordas rasgadas do chão. Elas são tudo o que restaram dos Qilins que os Rakshasas mataram e o rebanho não quer pisar nelas acidentalmente.

Eu me abaixei para ajudar Kelsey a recolher as cordas. Eu sabia que precisávamos nos apressar, mas, de qualquer forma, Ren ainda não havia retornado. Quando ele chegou, Kelsey se enrolou no lenço e voltou a sua forma normal, retirando o disfarce de rainha Rakshara.

— Traidora, você não é uma rainha Rakshasa.

Relâmpago caminhou até nós, suas tatuagens e seu cabelo flamejavam de raiva. Eu joguei as cordas para o outro lado e me preparei para atacá-lo. Mas Kelsey colocou a mão em meu ombro e dirigiu-se ao demônio que vinha, irado, em nossa direção. 

— Eu sou a mesma mulher que você tem admirado, com o mesmo coração e coragem. Eu apenas escolhi assumir uma forma diferente agora.

— E você sempre escolhe libertar animais que nós capturamos justamente? Você quebrou a lei Rakshasa. O que você fez?

— A lei Rakshasa diz que qualquer coisa que você tenha força suficiente para capturar, é seu. Eu peguei essas coisas de vocês. É verdade que nessa forma eu pareço não ter poder, como se eu fosse uma presa — Kelsey esfregava suas mãos e estreitou os olhos ameaçadora — mas não cometa o erro, Relâmpago, eu ainda tenho a habilidade de fazer mal a você e ao seu clã. Não tenho vontade de fazer isso… hoje, mas se um desafio é apresentado, então — ela encolheu os ombros.

Relâmpago a observou por um tempo, então riu.

— Isso é um teste. Um teste que irá consolidar meu pedido como líder do clã Rakshasa para sempre, e eu não falharei. 

Ele saltou em direção à Kelsey com as garras estendidas. Ren e eu nos transformamos e lançamo-nos contra ele. O demônio era poderoso, mas, sozinho, não era páreo para dois tigres. Tínhamos que matá-lo antes que os outros demônios chegassem. Uma névoa úmida nos cercou. Relâmpago tossia e ofegava como se estivesse respirando veneno. Com um grito, ele nos jogou longe, apagou sua luz e fugiu para as árvores. Ren e eu nos preparamos para persegui-lo, mas Kelsey nos impediu. 

— Ren, Kishan, deixem-no ir. Nós precisamos dar o fora daqui antes que ele traga todo o clã atrás de nós.

Nos aproximamos de Kelsey enquanto ela se virava para um dos Qilin, que ficou para trás junto com outros dois. Ela se abaixou e afagou a mim e a Ren, então nos disse que os animais queriam que montássemos neles, como forma de pagar a dívida que tinham conosco. Eu me transformei em homem e sorri:

— Então, o que nós estamos esperando? 

Os Qilins acenderam suas luzes e pisaram o chão depressa. Coloquei Kelsey nas costas do animal azul, e montei no verde. Ren se transformou e montou no outro. Ele cavalgou até Kelsey e sussurrou para o seu Qilin.

— Cuidado com ela. Ela nunca cavalgou antes.

— O Quilin irá tomar conta de mim.

— Bom.

Olhei para trás e Kelsey parecia estar segurando algo em sua mão.

— Sigam-me.

Com uma explosão de velocidade, os Qilin nos levaram dali.


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