—Isabella onde se meteu dessa vez? – uma voz irritada soou do outro lado da linha e Bella afastou o telefone enquanto o pai gritava com ela.

—Então, pai, longa história, mas para encurtar. - ela respirou fundo antes de falar. - Fui presa. 

—Que merda. De novo, Bella? – ela pode escutar uma série de palavrões sendo proferidas.

—Não posso aceitar essas injustiças calada, pai. Precisamos lutar pelos indefesos. – começou seu discurso que sempre a livrava da fúria do pai, mas que dessa vez, não seria o suficiente para livra-la da confusão em que tinha se metido.

—Chega dessa conversa fiada. - ele a cortou. - Vou pedir ao Jake para te tirar daí e depois venha direto para casa. Os Newton estão aqui e preciso de você. - ele desligou antes que ela pudesse reclamar. 

Bella bufou e colocou o telefone no gancho. Tinha sido presa pela segunda vez e o motivo era o mesmo. Ela havia se envolvido em uma confusão durante uma manifestação contra o desmatamento em uma reserva indígena. Bella era conhecida por ter o pavio bem curto e por mais que suas intenções fossem boas, ela acabava passando dos limites e sempre se envolvia em alguma confusão. Às vezes conseguia escapar, outras, o pai a socorria antes que a coisa ficasse feia demais, mas nas últimas duas vezes, ela não teve a mesma sorte e acabou sendo presa. Ainda bem que a família dela tinha muito dinheiro e ótimos advogados. 

— Será que pode ficar pelo menos uns três dias longe de confusão? Tenho coisas mais importantes para fazer do que ficar te tirando de enrascadas. - Jacob reclamou enquanto conduzia Bella para fora da delegacia. 

—Desculpa se as causas pelas quais eu luto não são do seu agrado. - revirou os olhos passando por ele e chamando um táxi. 

—Nem pensar. - Jacob a puxou pelo braço. - Seu pai foi bem claro. Devo levar você direto para casa. 

—Tudo bem. Eu ia para casa primeiro colocar uma roupa mais certinha para receber os Newton, mas já que insiste... - Jacob deu uma olhada nas roupas dela. Ela usava uma blusa branca que dizia: Salve a nossa reserva, uma calça jeans rasgada e um all star esfarrapado. 

—Não se preocupe. Tenho certeza que deve ter algo na mansão que vá lhe servir e que seja mais agradável para recepcionar os Newton. –Jacob sorriu para ela e abriu a porta do carro. - Entre, por favor. Preciso desse emprego. – implorou juntando as mãos. Ele gostava muito de trabalhar para Charlie, já a filha dele, era outra história.

— Só porque hoje é seu dia de sorte, Black. Estou com muita fome e sei que vão caprichar nesse jantar. - ela se jogou no banco de trás do carro e tirou um rápido cochilo enquanto Jacob dirigia até a mansão Swan. 

[...]

— Aí está ela. - Renée exclamou aliviada ao ver a filha passar pela porta de entrada da casa. - Que roupas são essas? 

—Oi para você também, mamãe. - revirou os olhos e já ia para sala de jantar, mas foi impedida pela mãe. 

— Nada disso. Suba, tome um banho e coloque a roupa que deixei separada em cima da sua cama. 

—Vai mesmo me obrigar a fazer isso? - queixou-se enquanto se arrastava escada a cima. Ela odiava ser tratada como uma criança.

—Agradeceria se apressasse um pouco. Seu pai não está nenhum pouco feliz. – Renée pediu completamente impaciente com a filha.

—Conte uma novidade. - resmungou, mas a mãe estava longe demais para ouvir. 

[...]

—Ouvi dizer que Carlisle vai se aposentar no final do ano. - Bella entrou na sala de jantar interrompendo a conversa do pai com MichaelNewton. 

—Querida, que bom que veio se juntar a nós. Lembra-se dos Newton? Michael, Karen e Mike. - apontou para cada um deles. 

—É claro que me lembro. - Bella forçou um sorriso e cumprimentou cada um dos membros da família e depois sentou ao lado da mãe que relaxou ao ver que a filha estava se comportando e não parecia mais uma trombadinha. 

—Você dizia Michael, que Carlisle vai se aposentar? Que assumirá os negócios? 

—Ainda não sei, mas ao que tudo indica será um dos meninos. - Charlie bufou. 

—Isso é ótimo. Qual dos dois será: o incompetente do Emmett ou o irresponsável do Edward? 

—Calma querido. - Renée colocou as mãos sobre as do marido. 

—Me acalmar? Sabe o quanto lutei pela aquela empresa para primeiro ser expulso de lá e agora ver Carlisle destruir tudo colocando um idiota no comando? Isso é uma tragédia.

—A comida está maravilhosa. – Karen murmurou tentando mudar o assunto da conversa.

—Está mesmo. – Renée concordou forçando um sorriso. Ela queria que o jantar fosse um sucesso, tinha muita coisa em jogo, muito mais do que Bella imaginava ou esperava.

—Então, Bella, o que tem feito da vida? – Mikeinclinou um pouco na direção dela e ela franziu o nariz ao sentir o perfume dele.

—Nada demais. – deu de ombros se afastando um pouco dele. Ela não queria conversar com ele. Já estava sendo obrigada a participar daquele jantar, ser obrigada a interagir, aí já era demais.

—Isabella tem participado de alguns projetos sociais. – Bella engasgou com a comida e foi socorrida pela mãe.

—Obrigada. – agradeceu tomando um gole de água. – Como meu pai falou. – ela sorriu ironicamente. – Estou envolvida em alguns projetos sociais. Hoje mesmo estava em uma manifestação para salvar uma reserva indígena. – ela estava pronta para fazer um longo discurso sobre a importância do movimento, mas foi cortada pelo pai.

—Isabella é o que eles chamam de ativista social, mas tenho certeza que podemos contornar essa situação durante a campanha e sem falar que ela vai se manter na linha a partir de agora.

—Como é? – Bella cruzou os braços na defensiva. O pai nunca entendia o que ela fazia. Ele se preocupava apenas com o dinheiro e não ligava para o que acontecia ao redor dele. Já Bella lutava pela igualdade e justiça e como tinha meios para isso, ela se esforçava muito para participar do máximo de causas possíveis.

—Tenho certeza que o nosso líder de campanha pode lidar com isso. Mikeuma vez ajudou um grupo a construir casas em um país africano. Os dois têm muito em comum. – Michael e Charlie ignoraram o olhar irritado de Bella e engataram uma conversa sobre política. Será que Charlie estava querendo se candidatar a algo? Bella não se lembrava de ter ouvido algo a respeito, mas para ser justa, ela não ouvia muito sobre o queos pais falavam.

—Podíamos sair qualquer dia desses para tomar um drink. – Miketentou puxar assunto com Bella. – Nossos pais estão prestes a fechar uma parceria e seria bom se fossemos amigos.

—Quer ser meu amigo, Mike? – ela perguntou com doçura e ele concordou animado com a possibilidade. – Acho melhor você repensar isso, não sou uma boa amiga. –ela praticamente rosnou as palavras e levantou da cadeira quase a derrubando. – Se vocês me dão licença, não estou me sentindo bem. – com um aceno de cabeça, ela deixou a sala de jantar e subiu correndo para o antigo quarto.

Estava deitada na cama com os fones de ouvido no volume máximo, quando sentiu eles serem arrancados com violência.

—Tinha mesmo que fazer aquele showzinho na frente dos Newton? – Charlie estava com os braços cruzados, em pé de frente para a filha.

—O senhor sabia muito bem que não queria participar desse jantar. – retrucou levantando e o encarando. Os embates entre os dois eram constantes e exaustivos.

—Será que não pode pelo menos uma vez na vida contribuir com essa família? Sempre te dei tudo nas mãos, fiz todas as suas vontades e agrados e quando peço um pequeno favor, você age dessa forma. – Charlie gritava tão alto que Renée entrou correndo no quarto para ver se estava tudo bem.

—Só porque não quis conversar com o Mike? O perfume dele fede e o papo dele é ruim. Fora que ele estava claramente me cantando.

—É claro que ele estava. É assim que se faz a corte a uma moça. – Bella gargalhou e Charlie ficou vermelho de raiva.

—Fazer a corte? Está vivendo em que século papai? – ela teve que secar as lágrimas que rolaram de tanto rir.

—Que bom que está se divertindo, porque é exatamente isso o que vai acontecer. Estou acertando com Michael para que você e o filho dele possam se casar. – Bella empalideceu no lugar. – E acho bom não estragar isso, Isabella.

—Você quer que Mikee eu nos casemos? Ficou louco? Você não pode mandar em mim. – após sair do transe, ela começou a gritar com o pai e Renée tentou acalma-la.

— Querida, apenas escute o que seu pai tem a dizer. – pediu passando as mãos no cabelo dela.

—Escutar o que? Que ele acha que sou uma criança ou que estamos em algum dos séculos passados? Recuso-me terminantemente a casar por qualquer obrigação que seja. Sou uma mulher independente e não preciso de homem algum.

—É bom ouvir isso. Já que não precisa de homem algum, esse homem aqui. – apontou para si. – Vai parar de te sustentar e tirar tudo o que ele já te deu, inclusive o apartamento em que mora. – Bella o encarou em choque. – Você não trabalha, não tem como se sustentar e o mínimo que pode fazer é contribuir conosco e se casar com Mike Newton.

—Não mesmo. – ela balançou a cabeça. – Não vou ser subornada e se acha que não posso me sustentar, irei provar o contrário. Posso muito bem trabalhar. – ergueu o queixo em desafio. – Não tenho medo de pegar no pesado.

—Sei muito bem disso. Mas duvido que vá achar um trabalho que te permitirá manter o seu alto padrão de vida. – ele sabia que tinha tocado no ponto fraco dela.

 -Não preciso de muito. – fez bico e sentou na cama irritada.

—Bom saber. Vou ligar para o Jake e ele cuidará de tudo. Agora se me permite. – ele estendeu a mão. – Celular e cartões, por favor.

—Tudo bem. – Bella queria chorar, mas não daria aquele gostinho ao pai. Ela precisava pensar em uma alternativa, mas para isso, precisava ganhar um pouco mais de tempo. Tinha algumas joias e poderia vendê-las, daria para se sustentar por um bom tempo e enquanto isso, ela arrumaria um serviço. –Eu me caso com o Newton, mas quero saber o real motivo de tudo isso.

—Essa é a minha garotinha. – Charlie respirou aliviado e sentou ao lado da filha. – Vou lançar a minha candidatura a governador do estado e Michael é um homem muito influente, e será o meu vice. Para focar na política, preciso abrir mão da empresa, mas não queria deixá-la nas mãos de qualquer um e como você nunca se interessou pelos negócios da família. – ela pode sentir a decepção dele. – Achei que seu marido poderia assumir a presidência e dessa forma a manteríamos em segurança e na família. – Bella fingiu interesse.

—E Mike Newton é a melhor opção para isso? – ela não tinha gostado do rapaz. Já o virá em alguns eventos e ele não fazia nenhum pouco o tipo dela, fora que ela não queria se casar e muito menos ser controlada pelo pai.

—Ele é um bom garoto, tem certa experiência e é filho do Michael. – Bella revirou os olhos diante da explicação do pai. – E ele é um rapaz boa pinta, não pode reclamar.

—Ah, é claro que não. Exagero da minha parte não é? – os pais concordaram com ela. – Que outra pessoa acharia ruim de os pais a obrigarem a se casar? Ou então de ser ameaçada e praticamente deserdada? – Charlie e Renée se mexeram desconfortáveis e encararam a filha.

—Querida, pense nisso como um negócio. Você pode aprender a gostar do Mike. – Renée tentou convencer a filha.

—Foi assim com vocês? – perguntou chocada. Ela não se lembrava de ouvir sobre como os pais se conheceram e se apaixonaram, e eles não eram uma referência no quesito relacionamento amoroso.

—Nem todo mundo se casa por amor. – Charlie debochou. – Mas sua mãe e eu temos um bom relacionamento. Você não deveria esperar ter o que só existe nos filmes e livros de romance.

—Mas é exatamente isso o que eu quero pai. Quero sentir as pernas bambas e o coração batendo acelerado, não quero estar com alguém por causa de algum acordo comercial.

—Você concordou. – ele alertou erguendo o dedo indicador.

—Vou pensar no assunto. Agora podem me dar licença? – ela estava muito cansada para poder ir para o apartamento. Precisava pensar em quais seriam seus próximos passos e como sairia daquela situação sem perder tudo.

—Só queremos a sua felicidade, querida. – Charlie deu um beijo no alto da cabeça dela e assim que Bella se viu sozinha no quarto, ela deixou o corpo cair na cama. Por hora, só queria dormir, e amanhã seria um novo dia, e com ele, ela pensaria em um bom plano.