—Bella? - Edward piscou quando ela entrou no quarto. Ele estava encarando o teto há um bom tempo. Sua cabeça estava em todos os lugares e em nenhum ao mesmo tempo. Ele teria que cuidar dos preparativos para o enterro de Angela, contar a verdade a Agnes e decidir qual deveria ser o destino dela. Não queria deixar a garota desamparada, mas não sabia se seria capaz de cuidar dela. Os dois se davam bem e Bella estava disposta a ajudar, mas aquilo não garantia que eles seriam bons pais para a pequena. E ela precisaria de total apoio e de pessoas que cuidassem bem dela. Por ora, ele não tomaria nenhuma decisão, esperaria até as coisas se acalmarem. – Está tudo bem com a Agnes? - perguntou preocupado e prestes a levantar da cama.

—Sim. Não se preocupe. - ela ergueu a mão o impedindo de levantar. - Vim para saber como você está. - puxou a coberta e se enfiou debaixo dela, deixando Edward sem reação.

—Estou bem. - tentou soar confiante, mas a voz dele vacilou um pouco.

—Certo. - Bella ajeitou o travesseiro e deitou ao lado do marido. Ela não sabia o que deveria dizer. Sempre se sentia deslocada em momentos assim. O que poderia dizer ou fazer para diminuir a dor da perda? Ela esperava que ficar ao lado dele, o ajudasse. Não queria pressioná-lo, por isso, ficou lá parada, sem dizer uma palavra. Queria que Edward soubesse que ela o apoiaria e estaria ao lado dele para o que precisasse. Colocou a mão sobre a dele, e aos poucos, ele foi relaxando. Deitou com a cabeça no peito dela e Bella acariciou seus cabelos, cantarolando bem baixinho. Era uma canção que a mãe dela sempre cantava quando ela era criança e acordava de um pesadelo, no meio da noite.

—Pode passar a noite aqui? - Edward perguntou a interrompendo.

—O tempo que você quiser. - sussurrou, puxando as cobertas para mantê-los aquecidos. - E o tempo que precisar. - acrescentou voltando a carícia. Ela o apertou em seus braços quando sentiu algo quente molhar sua camisa.

Os dois ficaram abraçados, Edward lamentando a perda da amiga e Bella o confortando. E por mais que a situação parecesse desesperadora, ele sabia que poderia contar com ela, e aquilo, o tornava mais forte.

Eles poderiam dar um lar para Agnes e poderiam ser uma família. Foi o último pensamento que teve antes de pegar no sono.

But I know I must go on

Although I hurt I must be strong

Because inside I know that many feel this way

Mas eu sei que devo seguir em frente

Embora ferido, eu devo ser forte

Porque no fundo eu sei que muitos sentem-se assim

[...]

—Como está querida? – Edward perguntou forçando um sorriso. Ele já tinha chorando muito nos braços de Bella, agora era hora de ele ser forte por e para Agnes. Ela precisaria do apoio dele.

—Muito bem. – a pequena abriu um sorriso enorme exibindo todos os dentes. Edward se sentiu péssimo por acabar com aquela felicidade toda. Ele queria proteger Agnes de todo mal e de toda dor. Será que poderia esconder a verdade por mais alguns dias? Ergueu os olhos e Bella balançou a cabeça, como se respondesse a pergunta silenciosa dele. Não, ele não poderia esconder aquilo dela. – Ontem foi o melhor dia da minha vida, não vejo a hora de contar tudo para a vovó.

Edward levantou assustando Agnes.

—Eu não posso Bella. – murmurou e ela segurou a mão dele.

—Sim, você pode. – garantiu sem muita certeza. Ela achava que Edward era uma das pessoas mais fortes que ela conhecia, mas ao ver o estado em que ele ficou na noite anterior, fez com que ela visse um lado frágil dele, um lado mais humano. Ela sabia que ele estava sofrendo não só por ele, mas por Agnes também. Apertou a mão dele e ele negou. Não conseguiria contar. – Tudo bem, eu conto. – apesar de conhecer a garota há pouco tempo, ela também estava sofrendo pela pequena. Lembrou de como foi perder a avó quando era criança e da dor que sentiu. Puxou na memória as palavras que a mãe usou para contar a ela o que havia acontecido, e abaixou para ficar de frente para Agnes.

—Pode deixar. – Edward assegurou e também agachou. Aquela era uma tarefa que cabia a ele. – Agnes, eu sinto muito, mas a sua avó faleceu ontem. – foi direto ao ponto. Não queria enrolar ou inventar alguma história. Por mais que doesse, ele precisava ser sincero e bastante claro com ela. Ela era uma criança, mas já tinha idade o suficiente para compreender o que morte significava. Ele gostaria que ela não tivesse, seria tão mais fácil dizer que a avó foi para o céu, que virou um anjo ou algo do tipo. – Não queria te contar isso, mas você precisava saber. Sinto muito por ter escondido de você, mas não sabia como te contar e queria que tivesse um dia perfeito. Sei que é difícil receber uma notícia dessas, mas a sua avó te amava muito e é nisso que deve focar, nos momentos bons que viveram. Quero que pense nela como a mulher que te amou e que cuidou de você por todos esses anos. – Edward passou a mão nos olhos secando as lágrimas.

—Sentimos muito pela sua perda, Agnes. – Bella foi para abraçá-la, mas a garota encolheu os braços, numa atitude de defesa, ela não queria ser tocada e Bella se afastou, respeitando o espaço dela. – Você não tem com o que se preocupar, nós ficaremos ao seu lado e resolveremos tudo para você. – Agnes não esboçava nenhum sentimento ou emoção, apenas encarava os próprios pés.

—A Rebecca garantiu que ela não sofreu e que ela disse que te amava muito. Foram essas as últimas palavras dela. – Edward a olhou preocupado. Esperava choro e talvez gritos, mas não estava pronto para vê-la tão quieta. Talvez estivesse em choque e se fosse isso, deveria levá-la ao hospital? Talvez fosse por como deu a notícia, não deveria ter sido tão direto. Ele não sabia como cuidar ou tratar uma criança. Estava certo de que deveria ter deixado outra pessoa dar a notícia. Ele tinha feito tudo errado, e agora Agnes estava em choque por culpa dele. - Eu sinto muito, querida. Sinto que você esteja sofrendo, pequena. – Edward tentou tocá-la, precisava saber se ela estava bem, mas ela recuou e levantou os assustando.

—Sofrendo? Quem foi que disse que eu estou? Por que estaria? Porque o que restou da minha família se foi? Porque não tenho mais ninguém nesse mundo? Porque vou ficar sozinha para sempre? – ela agitava os braços, estava claro que segurava o choro. Os olhos dela estavam úmidos e ela franzia o rosto impedindo as lágrimas de caírem. Não choraria na frente deles, ela tinha que ser forte. Ela era forte. Começou a repetir, mentalmente, sem parar.

—Agnes. - Bella disse se aproximando e tentou abraçá-la, não suportava vê-la sofrendo daquele jeito, mas Agnes abraçou o próprio corpo e começou a andar de um lado para o outro, ainda repetindo o novo mantra dela.

—Tudo bem, Bella... Quer saber? Eu sou pequena, mas vou dar meu jeito. Tenho o dinheiro que o Edward me deu e posso pedir para a Rebecca me deixar ficar lá mais um pouco, ou posso ir para esses colégios que deixam os alunos ficarem lá. – ela secou uma lágrima antes que eles vissem que ela estava chorando. – Eu morei com a vovó um bom tempo, mas acho que dou conta de passar o restante da vida sem ela. Eu vou dar um jeito. Eu sempre dou. Vovó dizia que sou uma sobrevivente. Ela disse que pareço com a minha mãe, sou uma guerreira. – Agnes olhou para os dois encolhendo os ombros e fungou. Ela estava tão frágil, e Edward correu até ela e a envolveu em seus braços.

—Pequena, por favor. Você está me assustando. — Edward pediu e abraçou com mais força, ignorando as fisgada no braço. Agnes se deixou ser evolvida pelo calor dele e desabou. Ele a amparou e deixou que ela chorasse, assim como Bella havia feito com ele. Ela precisava desabafar e ele ficaria ali.

—O que há de errado comigo, Edward?

—Agnes... – ela não o deixou terminar de falar.

— Eu não quero mais ficar sozinha. Todos que eu amo morrem. O que tem de errado comigo? Por que eu não posso simplesmente ter uma vida como qualquer outra criança? Um pai, uma mãe, ir para a escola e brincar. Eu não faço nada direito e todos acabam indo embora! Talvez eu seja uma pessoa ruim.

— Não. – Bella praticamente gritou, indo de encontro aos dois. - Você é uma criança maravilhosa, querida. Não há nada de errado com você.

—Então por que todos que eu amo morrem?

—Isso não é culpa sua, querida. Não é culpa de ninguém. — Edward tocou os cabelos da pequena, que tremia em seu colo.

—Isso dói.

—Eu sei, querida, mas vai passar.

—Não vai, não. Eu não quero mais ficar sozinha, Edward. Isso dói. – Choramingou, e ele ergueu seu pequeno rostinho banhado de lágrimas.

—Você não está sozinha, Agnes. Nunca ficará sozinha, entendeu? Estaremos ao seu lado. – Bella confirmou e uniu ao abraço. -Sempre, querida. Para tudo o que precisar. Não precisa se preocupar com nada. Você não estará sozinha, nunca mais ficará sozinha. – Bella passou as mãos no cabelo dela.

—Agnes, eu te prometo. – ele segurou o rosto dela para olhar dentro dos olhos dela. – Eu sempre vou estar ao seu lado e não deixarei que você sofra. Por mais que doa, por mais que seja difícil, te ajudaremos a superar e nem que tenha que dar a minha vida, eu cuidarei de você e te protegerei. Eu juro, Agnes. – deu um beijo estalado na testa dela. Ele não sabia como faria aquilo, estava com medo, mas teria Bella ao seu lado e ele jamais abandonaria Agnes. Seria um pai para ela e amaria com todas as forças.

You don't ever have to feel lonely

You will never lose any tears

You don't have to feel any sorrow

When you look back on the years

Você não precisa se sentir só

Você nunca perderá nenhuma lágrima

Você não precisa se sentir triste

Quando olha para os anos que já passaram

How can I look you in the eyes

And tell you such big lies?

The best I can do is try to show you

How to love with no fear

My little girl

You've gone and stole my heart

And made it your own

You've stole my heart

Andmade it yourown

Como posso olhar nos seus olhos

E contar-lhe tamanhas mentiras?

O melhor que posso fazer é tentar lhe mostrar

Como amar sem medo

Minha garotinha

Você foi e roubou o meu coração

E tomou posse dele

Você roubou o meu coração

E tomou posse dele

Sim, ela era a garotinha dele, e não era desde agora, mas desde que ela a conheceu. E agora a garotinha dele estava sofrendo e ele precisava protegê-la.

—Eu te amo pequena. – de outro beijo na testa dela e ela jogou os braços em volta do pescoço dele. – Pode chorar, não precisa ter vergonha, não precisa esconder o que sente. Nós sabemos que você é forte e chorar não é franqueza. – ele acariciava as costas dela e a sentiu relaxar. Agnes chorou até pegar no sono.

[...]

—A coloquei na cama. – Edward afundou no sofá ao lado da esposa. – Me sinto péssimo e um idiota. Como fui falar daquele jeito com ela? O que eu entendo sobre cuidar de uma criança? – levou as mãos à cabeça.

—Ei. – Bella o abraçou de lado. – Vai dar tudo certo.

—Vai? – ele a encarou. – Ah, Bella. O que eu estou pedindo para você fazer? – foi a vez de ela o encarar. – Além de te obrigar a casar comigo, agora estou te obrigando a assumir uma criança. Você não precisa fazer isso. Pode sair por aquela porta e seguir com a sua vida. Prometi a Angela que ficaria com a Agnes. A situação dela era muito delicada e ela me fez prometer que encontraria um bom lugar para a pequena, mas não posso simplesmente deixá-la ir para um lar adotivo, com pessoas que nem a conhecem. E eles forem maníacos? Canibais, pedófilos, líderes de gangue, da máfia, assaltantes... Não quero isso para ela, não mesmo. Mas também não posso ficar com ela. Eu mal consigo me lembrar de alimentar a Ariel. Como vou conversar com ela sobre garotos e coisas de meninas?

Bella respirou fundo e colocou a mão sobre a dele.

—Nem sei o que dizer primeiro, mas vamos lá. – ela deu um beliscão na coxa dele.

—Ai. Por que fez isso? – a olhou assustado. – Está doida?

—Não. – levantou e cruzou os braços. – Você que está doido. Desde quando me obriga a fazer algo? Casei com você porque quis e só estou nesse casamento até hoje, porque eu quero estar. Você não está me obrigando a assumir uma criança. Desde o momento em que vi você e a Agnes juntos, soube que ela era muito importante para você, e só isso, já bastaria para que eu a amasse. Mas, além disso, ela me conquistou e mesmo que você não quisesse, eu ficaria com ela. Porque concordo com você, não podemos deixá-la com pessoas que não a conhecem e que podem fazer mal a ela. Eu amo essa garota e o que disse a ela é verdade, não vou deixá-la sozinha. Sobre darmos contas, o principal nós já temos, amor. Se você esquecer-se de alimentá-la, eu vou te lembrar, isso se ela mesma não o fizer. Conversarei com ela sobre as coisas de meninas e você pode afastar os garotos de perto dela, se isso o deixar mais confortável. Agnes precisa de nós e nós precisamos dela.

—Vai mesmo ficar ao meu lado? – a olhou com orgulho, não poderia esperar menos dela.

—Sim. Ficarei ao lado dos dois. – agachou e segurou as mãos dele. – No começo, será difícil, mas vamos aprender e vamos conseguir. Somos fortes, principalmente quando estamos juntos. Teremos que fazer alguns ajustes, mas não tenho a menor dúvida de que conseguiremos.

Yeah, it's always better when we're together

Hum... we're somewhere in between together

Well, it's always better when we're together

Yeah, it's always better when we're together

Sim, é sempre melhor quando nós estamos juntos

Hum... nós estamos juntos em algum lugar

Bem, é sempre melhor quando estamos juntos

Sim, é sempre melhor quando estamos juntos

—Não sabe como deixar o meu coração aliviado ao saber disso. – ele inclinou e a beijou.

—Você será um grande pai. – garantiu deixando que as lágrimas rolassem.

—E você será uma grande mãe. – a puxou para que ela sentasse ao lado dele. – Vou proteger vocês duas sempre. – aquela era uma promessa que ele levaria até o fim.