Charlie brigava com uma enfermeira que tentava a todo custo recolocar o soro no braço dele.

—O senhor precisa me deixar fazer o meu trabalho. – ralhou com ele.

—Já disse que estou bem. – cruzou os braços, irritado. – Me deixe em paz. – a enxotou com um safanão.

—Pai! – Bella o repreendeu e ele olhou surpreso com a aparição dela.

—Aí está você mocinha. – apontou o dedo indicador para ela.

—Sr. Swan é melhor manter repouso. Seus exames ainda não ficaram prontos... – Charlie o silenciou com um olhar que dizia: saia logo daqui!

—Vem até aqui. – exigiu a filha.

—Prefiro ficar aqui. – Bella encostou-se a parede. – Em segurança. – acrescentou dando um meio sorriso.

—Por favor, diga que só falou aquilo no jantar para me provocar e que você não casou com aquele garoto. –Bella abaixou a cabeça e Charlie suspirou derrotado. – Por quê?

—Estava brava com você e queria fazer algo para me vingar.

—Parabéns! Seu objetivo foi alcançado. – resmungou com sarcasmo. – Não pensou nas consequências dos seus atos não? Sabe o que isso vai custar a nossa família? Michael provavelmente nunca mais vai olhar na minha cara, posso dar adeus a nossa sociedade. E nem quero pensar no que esse moleque vai arrumar se infiltrando na nossa família. Carlisle está ciente disso? – Bella aproximou do pai e sentou ao lado dele. Segurou as mãos dele tentando acalmá-lo.

—Papai. – ela o olhou e Charlie percebeu que ela estava chorando. – Achei que fosse morrer. – deitou a cabeça no peito dele e aquilo foi o suficiente para que ele deixasse toda a raiva de lado.

—Não chore meu anjo. – beijou os cabelos dela. – Não vou deixar que esse casamento me mate. Se eu morrer, quem vai te livrar das confusões em que vive se enfiando?

—Não queria que reagisse assim. Torcia para que ficasse com bastante raiva, assim como eu fiquei quando fez aquela proposta ridícula.

—Era só ter dito não. – Bella ergueu os olhos para o pai e ele riu. – Certo. Você disse não. – resmungou percebendo o quão idiota tinha sido o comentário dele.

—Você não me escuta, pai. Eu sei que não sou a melhor filha desse mundo, mas você não pode mudar quem eu sou.

—Não quero muda-la, Bella. Você é e sempre será a minha garotinha. Só quero ver o seu bem e garantir que nunca precisará passar pelo que eu passei.

Charlie nasceu em uma família muito pobre e teve que trabalhar muito para alcançar o que tinha hoje. Ele chegou a passar fome quando criança e sempre batalhou para dar o melhor para a esposa e para a filha. Quando Carlisle e ele estavam na faculdade, montaram uma empresa e aquele seria o legado dos dois para os filhos, mas as coisas haviam saídode rumo e ele ainda estava na luta para consertar as coisas.

—Eu sei, mas você tem feito do jeito errado. – endireitou na cadeira e manteve as mãos sobre as dele. – Não pode me obrigar a fazer a faculdade que quer, ou pior ainda, não pode me obrigar a casar com uma pessoa que eu mal conheço e por quem não sinto a menor atração.

—E por acaso sente algo pelo garoto Cullen? – Bella corou com a pergunta. A relação entre pai e filha nunca foi tão aberta ao ponto deles falarem sobre relacionamentos.

—Não, mas já senti algo. – confidenciou envergonhada e ele sabia bem disso. – O fato é que eu escolhi casar com ele. Poderia ter dito não, mas optei por aceitar a proposta dele. E por mais que isso tenho o deixado furioso, foi uma escolha minha e pretendendo levá-la adiante. – ergueu a cabeça em um sinal de desafio. As palavras de Edward vieram a sua mente “Você não é mais uma criança, Bella. Não deveria deixar que o seu pai te tratasse como uma.”.

—Se é assim que vai ser. – Charlie abriu os braços, derrotado. – Não vejo o que posso fazer para te impedir. Só espero que não se machuque.

—Se isso acontecer poderá ficar com a consciência tranquila de que não teve nada a ver com isso. – os dois se encararam por um tempo.

—Tinha mesmo que casar com um Cullen? – Charlie gritou não conseguindo mais conter a sua fúria. – Tenho vários outros inimigos por aí.

—Veja pelo lado bom. Terei livre acesso aos Cullen agora. – ele a olhou com interesse. –Sei inclusive que Carlisle pretende deixar a presidência para Emmett.

—Emmett? Ele está maluco?

—É o que parece. – deu de ombros e Charlie agitou a mão pedindo que ela contasse mais. – Edward não está nada satisfeito com isso e pretende te pedir para nomeá-lo como seu representante na empresa e com isso tentará fazer com que o conselho vote nele e não em Emmett.

—Esperto o garoto. Um mau caráter danado, mas muito esperto.

—Sr. Swan? – a enfermeira chamou os interrompendo. – Precisamos levá-lo para fazer mais exames. – ela encolheu junto à porta temendo mais uma rodada de insultos e protestos do paciente.

—Terminaremos essa conversa mais tarde. – Charlie avisoue Bella relaxou feliz por ter vencido o primeiro embate. – Só avise ao garoto que estarei de olho nele e se ele a magoar. – passou o dedo mindinho rente a garganta. – Ele será um homem morto.

—Trate de ficar bom logo. – Bella inclinou para beijar a testa do pai e o deixou aos cuidados da enfermeira.

—Como ele está? – Renée correu até a filha e Bella deu um abraço nela confortando-a.

—Está bem. Até gritou comigo. – as duas deram uma risadinha.

—Agora que sabemos que ele está vivo. Podemos ir embora? – Edward pediu impaciente. Já passava das 2 horas da manhã e ele estava com muito sono.

—Pode ter um pouco mais de respeito? - pediu o encarando. - É do meu pai que estamos falando.

—Até parece que se fosse o meu pai no lugar do seu, você não estaria dançando sobre o túmulo dele. - desdenhou devolvendo o olhar.

—Quem falou em túmulo? Meu pai está bem vivo. - bateu o pé com impaciência. - E se quer saber, sei sapatear muito bem. - acrescentou com um sorriso irônico. - Mas em uma coisa preciso concordar, já está tarde e precisamos descansar.

—Podem ir vocês. Ficarei com o seu pai. - Renée praticamente os expulsou de lá, após várias recomendações da filha.  

[...]  

—Parece que esse dia durou um mês inteiro. - Bella queixou tropeçando nos pés e foi amparada por Edward.

—Só mais alguns passos. - incentivou segurando o braço dela. Os dois bocejaram durante todo o caminho para casa e eles planejavam cair na cama e descansar, mas os planos deles tiveram que sofrer uma séria mudança ao abrirem a porta do apartamento. -O que aconteceu aqui? - Edward olhou alarmado para a bagunça que estava na sala.

As almofadas foram rasgadas e havia espuma para todo o lado, assim como caco de vidro da mesinha de centro.

— Foi o seu monstro verde e aquele coelho fedido. - Tirando a parte sobre as descrições dos animais, Edward certo sobre o que aconteceu no apartamento. - Olha a bagunça que eles fizeram! - apontou sem necessidade, já que Bella estava com os olhos bem abertos e avaliava os estragos.

—Em primeiro lugar, a culpa é toda sua. Quem mandou abrir a porta do meu quarto? - ele encolheu os ombros envergonhado. - Agora se me dá licença, vou procurar pelos meus bichinhos e dormir. E por favor, não me perturbe. - pediu marchando pelo apartamento atrás da dupla de bagunceiros. Para azar e desespero de Edward, não foi Bella quem encontrou Fish e sim ele.

—Bella! - gritou apavorado. Ele subiu na bancada da cozinha e ficou lá até a esposa chegar e resgatar o animal e de quebra salvá-lo.

—Você está assustando o Fish. - ela o repreendeu e abaixou para pegar a iguana. - Está até tremendo o coitado.

—Ele deve ter devorado o Pernalonga, isso sim. - apontou para o animal que se debatia nos braços da dona.

—Não seja exagerado. Fish não faz mal a ninguém e Pernalonga está feliz e seguro dormindo na casinha dele. Agora desça dessa bancada antes que a quebre e cause ainda mais bagunça. - avisou o deixando sozinho na cozinha.

— Vai limpar essa bagunça, hein! - gritou para ela e como resposta ouviu a porta do quarto bater com uma força desnecessária. - Se arrependimento matasse, estaria estirado aqui. - resmungou indo para o quarto. Tudo que ele precisava era de uma boa e longa noite de sono. A parte, da “longa noite” não seria possível, mas torcia para que o restante da noite fosse sem mais tragédias.