Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 44
O Monstro Devorador de Crianças


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo me dá um desespero



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Deitado na cama do seu quarto, Ryu se sentiu intimidado diante da velha senhora o encarando com o rosto sério.

Ela deslizava a mão sobre o corpo dele, desde a cabeça até a ponta do pé, não deixando escapar um único milímetro do seu corpo.

Aquilo já se prolongava há mais de 2 horas e não havia redução de nenhum arranhão. O guardião sentia que aquela sessão de assédio era a maior perda de tempo de sua vida.

Eveline já havia feito um trabalho melhor e muito menos constrangedor, mas julgava que era necessário economizar energia para a batalha com os Chermont.

— Pronto! — Anabel disse inesperadamente e em seguida bateu palmas.

No mesmo momento, Ryu sentiu seu corpo inteiro arder como se estivesse em chamas e gritou o mais alto que podia. Tudo durou poucos segundos e logo a sensação havia passado.

— O que foi isso? — Ryu saltou da cama.

Nesse instante ele se deu conta de que estava livre de todos os ferimentos em seu corpo.

— A sessão de assédio acabou! — Anabel disse com certo rancor em sua voz e em seguida voltou ao bolso de Josh na forma de uma bússola.

— O que fez para deixá-la tão brava? — O caçador, que assistia tudo de uma poltrona, estava confuso com a cena.

Ryu apenas negou com a cabeça. Seu rosto estava vermelho e ele aprendeu uma lição importante sobre tomar cuidado com o que pensa, não somente quando se está perto do Kai.

— Está pronto? — Josh encarou Ryu.

— Sim… — O guardião respirou fundo.

— Assim que pegarmos o cavalo no estábulo, nós podemos…

— O Tommy fica. — Ryu interrompeu o companheiro.

— Isso vai deixar as coisas um pouco mais lentas. — Josh tentou persuasão.

— Ele é muito importante para Catherine, se tudo estará tão perigoso como esperamos que esteja, eu prefiro deixá-lo em segurança — A expressão de Ryu estava pensativa — Deixei o número do Ivan com o gerente e pedi que ele fosse avisado, caso não consigamos estar aqui até o anoitecer de amanhã.

— Com você falando assim, eu fico até um pouco desanimado… — Josh coçou a cabeça.

— Vai dar tudo certo! — Ryu forçou um sorriso.

— O que eu não consigo entender é porque esse bruxo sequestrou Catherine.— O caçador refletia sobre aquela situação.

— Ele a encontrou na rua, gostou dela e a quis — Ryu dizia de forma simplista — Se tem uma coisa que eu aprendi em Otium, é que um bruxo rico não precisa de muito mais do que isso para passar por cima da vontade de outra pessoa e em alguns casos, até mesmo da vida dela.

— Teoria interessante — Eveline surgiu diante dos dois garotos, em sua forma humana — Mas o buraco é mais profundo.

Ambos a encaravam curiosos.

— Catherine é uma fonte ilimitada de energia pura — A bruxa caminhou até a poltrona e se sentou — Nem todas as crianças do mundo poderiam oferecer aos dois o mesmo que essa bruxa oferece… a vida eterna.

Aquela informação deixou Ryu completamente sem fala. A ideia de ver Catherine sendo refém de um controlador de mentes já era suficiente aterradora, mas essa nova descoberta trazia tudo para uma dimensão totalmente diferente.

Catherine não era somente o capricho de um psicopata, ela também era o alimento dele.

Naquele momento, Ryu compreendeu que em toda a sua vida, ele jamais havia odiado tanto alguém, quanto odiava os irmãos Chermont.

— Está tudo bem? — Josh encarava o companheiro, preocupado.

Ryu se deu conta que havia ficado fora de ar por alguns instantes.

— Vamos agora… — Era tudo o que ele tinha para dizer por hora.

Na mansão dos Chermont, Catherine havia sido recebida por uma pequena cerimônia.

Havia cerca de 32 empregados e 6 crianças a sua espera no momento em que a porta do casarão foi aberta.

— Seja bem vinda, Lady Catherine! — A recepção disse em coro.

Um sorriso empolgado surgiu no rosto da bruxa.

— Alane — Louise esbarrou bruscamente em Catherine e seguiu seu caminho como se não houvesse nada ao seu redor — Prepare meu banho imediatamente! Estou cheirando a plebe.

— Sim, senhora. — Uma das empregadas se curvou diante da condessa e correu em direção as escadas.

— Ela sabe como estragar uma festa… — Catherine resmungou.

— Não se deixe abater meu amor — Vincent sorriu para a noiva — Louise está com um pouco de ciúmes.

Catherine deu de ombros.

— Bom… — O conde se espreguiçou — Sei que acabei de voltar para casa, mas preciso trabalhar. Em fevereiro sairei em uma turnê por 4 reinos e preciso me organizar.

— Isso parece divertido! — Cat comentou.

— Você terá a oportunidade de ver com seus próprios olhos — Vincent estava radiante — Mas por hora, sinta-se em casa, afinal, é o que é de fato.

O conde saiu da sala, os empregados voltaram às suas funções, mas os órfãos permaneceram diante de Catherine com olhos curiosos.

— Olá… — Catherine estava um pouco tímida.

— Você vai se casar com o conde? — Uma garota saltou em direção a Catherine.

— Acredito que sim…

— Você tem quantos anos? — Uma outra garota se aproximou.

— Dezoi…

— Esses cachinhos são de verdade?

— S-são sim…

— Você é uma princesa? — Um garoto gritou do fundo.

— Tenho certeza de que ela é uma marquesa! — Outra criança comentou.

— Como você conheceu o duque?

Essa última pergunta fez Catherine congelar.

— Como eu o conheci? — A bruxa estava pensativa.

Aos poucos, imagens foram surgindo em sua mente.

Nelas, Catherine havia se encontrado com Vincent em um concerto em Otium.

— Ele foi muito gentil e nós passeamos em um parque muito bonito da cidade — Cat dizia com um sorriso no rosto.

— Que romântico… — Uma garotinha, que parecia ser a mais nova do grupo, dizia em meio a suspiros.

— Como você se chama? — A bruxa se dirigiu a menina.

— Isabele e tenho 6 anos! — A garotinha ruiva dizia enquanto mostrava 7 dedos a Catherine.

— Eu me chamo Felipe. — Um menino de pele negra acenou para Catherine.

— João!

— Eu sou a Olívia!

— Eu me chamo Briane e esse é o Maurice! — Uma garota de cabelos castanhos e pele extremamente branca, se apresentou e apresentou o seu companheiro que estava calado e longe dos demais.

— É um enorme prazer conhecer todos vocês! — A bruxa se curvou respeitosamente diante das crianças.

Foi fácil para Catherine se acostumar com elas. Na verdade aqueles meninos e meninas eram os únicos que pareciam estar dispostos a passar algum tempo com ela.

Vincent passou o dia inteiro trancado em seu estúdio, Louise também estava trabalhando em uma nova coleção de vestidos, e mesmo que tivesse algum tempo livre, Catherine sabia que a companhia dela seria muito mais desconfortável do que de fato agradável. Todos os empregados da casa se limitavam aos seus trabalhos, sem dizer nenhuma palavra que não fosse estritamente necessária.

Era por volta de 4 horas quando uma empregada veio chamá-los no jardim, mesmo tão cedo, já era hora do jantar.

— Soube que estava andando pela propriedade — Vincent comentou — O que achou de nossos jardins?

“Estou sendo vigiada?” Catherine pensou.

— Eu e as crianças demos um passeio ao redor da mansão, nada demais! — respondeu um pouco sem graça.

Foie gras? — Uma criada estendeu uma bandeja a Catherine.

— O que é isso? — A menina analisou aquele prato que mais parecia uma obra de arte, mas para ela certamente não era atrativo ao estômago.

— Ai meu deus… — Louise resmungou.

— Se trata de fígado de ganso selvagem, senhorita.

Ao ouvir a resposta da mulher, Catherine sentiu-se enjoada.

— Tem alguma outra opção?. — A bruxa sorriu educadamente.

Outra criada se aproximou e serviu Catherine.

Assim que foi servido em seu prato, ela sentiu um arrependimento enorme.

— O que é isso? — perguntou.

tartare de boeuf, senhorita.

Aquilo não era nem de longe uma resposta para a bruxa.

— É normal que esteja cru?  — Catherine encarava aquela carne vermelha, ornamentada com uma gema de ovo crua que escorria por suas extremidades.

— Nós realmente precisamos desse drama no jantar? — Louise se manifestou mais uma vez.

— Querida, o que você gosta de comer? — Vincent intercedeu pela noiva desesperada.

Catherine pensou um pouco. Gostaria de responder “comida normal” mas temeu soar ofensivo.

— Macarrão, pizza, chocolate, bolos, tortas, arroz… — A garota enumerava nos dedos aquelas opções.

Louise deu uma gargalhada debochada.

Vincent a encarou um pouco decepcionado.

— Amanhã teremos arroz, ok? — O conde concluiu.

Era claro que naquela casa não entraria nenhuma das outras coisas citadas pela bruxa.

Naquele momento, Catherine sentiu falta de casa.

“Casa?” Uma onda de confusão tomou a mente da bruxa e ela devaneou em pensamentos.

Por que ela havia saído de casa? Por que havia decidido morar com Vincent antes mesmo de se casarem? Era essa a vida que ela almejava? Ela não queria comer carne crua e nem se sentar à mesma mesa que Louise.

Ela odiava aquela casa! Odiava aquela casa com todas as suas forças e nem ao menos sabia o motivo.

Sentiu um nó na garganta, como se fosse chorar a qualquer momento, mas ela sabia que não poderia fazer isso ali. Com certeza seria questionada dos motivos, mas elas não sabia quais eram, então o que poderia dizer?

— Hora de dormir! — A voz de Vincent a fez despertar dos pensamentos.

As crianças se levantaram imediatamente e subiram as escadas.

— O que? — A bruxa se assustou.

— Te levo até o seu quarto, meu amor — O conde a ajudou a se levantar e em seguida puxou seu braço, a levando em direção as escadas.

Uma confusão tomou a mente da garota. Não foi necessário mais do que uma simples olhada na janela, para se dar conta de que era cedo. O sol das 5 brilhava lindo lá fora.

— Eu não quero ir agora! — Catherine tentava se livrar do domínio de Vincent.

— Catherine! — Vincent a segurou firme pelos ombros e a olhou nos olhos — Você está morrendo de sono e não vê a hora de deitar em sua cama macia.

— Eu não… — A bruxa sentiu suas palavras faltarem enquanto uma enorme sonolência tomava o seu corpo e ela acabou perdendo a consciência.

— Eu disse que ela daria trabalho — Louise dizia com desdém enquanto degustava seu vinho.

Vincent seguiu em silêncio, com a bruxa em seus braços, rumo ao quarto que havia selecionado para ela.

Em seu mais profundo sono, Catherine era agraciada por sonhos agradáveis, mas ao mesmo tempo confusos.

— Se não fosse pela falta de postura eu nem a reconheceria.

Uma voz familiar fez Catherine se virar, mas não havia nada além de um enorme vazio branco.

— Vou levar isso como um elogio.

Agora, ela havia ouvido sua própria voz.

— Ela está uma gracinha não está?

“Pai…” Catherine reconheceu a voz de Ivan.

— Você pisou no meu pé!

— Quem está aí? — A bruxa girava de um lado para o outro, mas tudo o que tinha era um enorme vazio.

Foi então que ela ouviu uma música tocar, e aos poucos o cenário ao seu redor se formava.

Era uma festa, um baile mais precisamente.

Muitos rostos eram familiares, inclusive o seu, no meio da multidão de pessoas dançando.

Catherine se viu acompanhada de um rapaz, mas ela era incapaz de enxergar o seu rosto.

— Pisou de novo.

Então era daquele garoto a voz que ela não reconhecia.

A bruxa se aproximou em passos lentos em direção ao casal, mas por mais perto que estivesse, o rosto do rapaz era como um borrão indistinguível.

Quando Catherine estava prestes a tocar o desconhecido, um som de violino desafinado tomou todo o salão.

Conforme o som agonizante se propagava, o cenário se desfazia.

Foi nesse momento que Catherine retomou a consciência, mas diferente do esperado, o som perdurou.

— O que é isso? — A bruxa sussurrava.

Por mais que se esforçasse, Catherine era incapaz de se levantar da cama.

Enquanto ela se debatia internamente na tentativa de mover os seus membros, um sono incontrolável tomava o seu corpo.

“O que está acontecendo?” Catherine pensava, pois nem ao menos falar ela era capaz de fazer.

Foi nesse momento que um grito desesperado veio de fora de seu quarto.

Ela tinha certeza que era o grito de uma criança, mais precisamente da pequena Isabele.

Um intenso desespero tomou Catherine e usando toda a sua força, ela rolou para fora da cama.

A queda no chão provocou uma pancada que ela sabia que daria em um hematoma, mas aquilo não importava.

Ainda sem muito controle sobre seus membros, a bruxa se arrastou em direção a porta.

Pouco a pouco sua mobilidade se recuperava e antes que desse conta, ela já estava correndo pelos corredores do casarão.

— Isabele! — Catherine gritava o mais alto que podia.

— Não seja tola! — Uma voz sussurrava de dentro de um armário — Se esconda logo!

— O que? — Catherine estava confusa — Maurice?

Mais um grito, dessa vez era a voz de Felipe que ela havia ouvido.

Sem nenhuma hesitação a bruxa correu a toda velocidade em direção ao som.

Em frente a lareira, ela se deparou com a imagem do garoto sendo arrastado por uma estranha criatura que mais parecia um demônio.

Tomada por pura adrenalina, a bruxa se armou com um espeto de ferro e cravou nas costas do monstro.

A besta berrou com desespero, aproveitando aquele momento de distração, a garota agarrou o braço de Felipe e o arrastou pelos corredores.

— Senhorita Catherine! — A pequena Isabele saiu de dentro de um enorme vaso de porcelana e correu atrás da dupla.

— Vamos para o meu quarto agora! — Catherine orientou.

Olívia e João saíram de dentro de um baú e se juntaram ao grupo.

Assim que passou pelo armário onde havia visto Maurice, Catherine o abriu e puxou o garoto lá de dentro, Briane acabou vindo junto e todos correram em direção ao quarto da bruxa.

Já dentro do cômodo, a bruxa o trancou e em seguida tocou a porta. Catherine estava muito concentrada, ela não sabia o que estava tentando fazer, mas sabia que aquilo daria certo.

“Já funcionou uma vez…” Ela refletia.

“Quando?”

Foi nesse momento que a imagem de uma modelo famosa veio a sua mente. A foto dela estava estampada na capa de uma revista que ela enrolou até se tornar um bastão para bater em… “Em quem?” Catherine estava atordoada.

Um solavanco fez a bruxa cair de costas, mas ela logo se levantou e voltou a segurar a porta. A criatura faminta estava determinada a entrar, mas Catherine não iria permitir, aquelas crianças ficariam a salvo, a qualquer custo.

— Senhorita Gibran, eu não sabia que manipulava magia de reforço.

Uma lembrança pulsou na memória da bruxa do azar.

— Nem eu, Will… — Catherine sussurrou — Nem eu…

Foi nesse momento, que uma singela, e quase imperceptível, luz emanou da palma da bruxa e lentamente cobriu a  superfície da porta. No fim, a madeira estava dura como pedra.

Por mais intenso que fosse o barulho de impacto lá fora, a porta, agora reforçada por Catherine, não moveu um milímetro.

— Estamos a salvo? — Isabele se aproximou de Catherine.

— Eu vou cuidar de vocês… — A bruxa tentava tranquilizar as crianças — Eu prometo!

Catherine estava assustada, como nunca esteve em toda a sua vida, mas não havia nada mais forte nela do que a sua determinação, e ela sabia, que enquanto ela acreditasse no seu potencial, ninguém poderia detê-la.

 


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Notas finais do capítulo

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