Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 45
A Floresta Vermelha


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, os capítulos estão prontos mas eu não to gostando deles aí nos 45 do segundo tempo eu resolvi modificar as paradas aushaushuahs
Espero que gostem!



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— Catherine! — Vincent batia incessantemente na porta — Abra esse quarto.

Já faziam mais de duas horas que tudo havia acontecido. As crianças acabaram caindo no sono, algumas na cama, outras pelo carpete, mas Catherine estava sentada em uma poltrona, lutando contra seu próprio corpo para não adormecer.

Ela caminhou lentamente até a porta e então a abriu.

— O que diabos está acontecendo? — Vincent estava com uma expressão irritada em seu rosto.

— Tem algo errado nessa casa! — Catherine tinha um tom firme — Algo que põe em risco a vida das crianças!

— Do que está falando? — O conde estava surpreso — Você deve ter tido um pesadelo meu amor.

— Eu sei o que eu vi! — A bruxa se irritou com o comentário.

— Catherine! — Vincent agarrou firme os ombros da garota — Você teve um pesadelo!

— Qual o seu problema! — Catherine empurrou o peito do conde, conseguindo assim se livrar do seu domínio.

Vincent cambaleou um pouco para trás e usou as paredes do corredor para impedir que acabasse no chão.

Cada vez que ele tentava usar magia de controle sobre ela, uma quantidade maior de energia era drenada de seu corpo.

— Está tudo bem? — A bruxa se aproximou dele, sentindo-se um pouco culpada.

Vincent escondia o rosto se virando para a direção oposta a Catherine, mas com um pouco de atenção na mão que ele usava para se apoiar, a bruxa se deu conta que a pele exposta era tão desgasta quanto a de um idoso.

— Eu preciso ir para o meu quarto… — Vincent sussurrou — Não estou me sentindo bem…

— Tudo bem… — Cat estava mais assustada do que de fato preocupada.

Enquanto tentava caminhar, o conde sentiu suas pernas falharem e caiu de joelhos.

— Eu te ajudo! — Catherine correu em direção ao garoto e o ajudou a se pôr de pé.

— Meu quarto fica por ali… — Vincent apontou para uma ala.

Uma caminhada curta resultou a chegada nos aposentos do nobre.

A bruxa o ajudou a se deitar e se preparou para sair, mas antes que pudesse alcançar a saída viu a porta se fechar bruscamente a sua frente.

Catherine se virou novamente para Vincent, mas a cama estava vazia. Voltando mais uma vez em direção a porta se deparou com a imagem da criatura que havia atacado Felipe.

Uma onda de desespero tomou a bruxa e ela tentou correr para longe do monstro, mas sem nenhuma chance ela foi agarrada pelo braço e em seguida violentamente arremessada na cama.

Catherine tentou rolar para o chão mas ele já estava perto, tão próximo que ela podia sentir o seu hálito quente, enquanto seu corpo pesado pressionava o da garota encurralada.

Por mais que tentasse se libertar, a diferença de força entre ela e a criatura era absurda.

O demônio então abriu sua enorme boca, exibindo seus dentes afiados enquanto se aproximava ainda mais do rosto da garota.

Catherine gritou o máximo que podia, mas ela sentiu que ninguém a ouviria, ninguém a salvaria.

Um terror tomou o corpo da bruxa, enquanto ela enxergava uma energia alaranjada emanar da sua boca em direção a boca da besta.

“Minha alma…”

A pele de Catherine, antes limpa e saudável, aos poucos tomou uma textura áspera e pálida. As bochechas avantajadas se desfaziam em um rosto cadavérico.

As mãos de Catherine, agora com ossos e veias saltadas, agarraram a capa da criatura por muito tempo, mas no fim se renderam e desabaram sobre a cama macia.

Catherine também desabou, pois não havia mais vida nela, mas antes de dar o seu último suspiro ela se lembrou de algo importante:

Ela estava atrasada.

Há alguns quilômetros dali, Ryu e Josh estavam diante da entrada da tal floresta vermelha. A intensidade do escarlate que pintavam as flores, era como sangue vivo. Enquanto Josh se impressionava com o cenário, Ryu estava disperso, uma sensação estranha tomava seu peito.

— Está tudo bem? — Josh estranhou a parada repentina do rapaz.

— Eu não sei… — O guardião estava apreensivo.

— Eu tenho certeza que ela está bem… — Josh tentava tranquilizar o companheiro.

Ryu acenou positivamente com a cabeça, mas estava claro que todas aquelas palavras eram vazias para ele, Catherine estará bem quando ele a tiver sã e salva aos seus cuidados.

Poucos segundos após entrarem na floresta foram surpreendidos por movimentos bruscos entre as folhagens.

— ABAIXEM SEUS IMBECIS!

A voz de Eveline ecoou alto entre os rapazes, enquanto um manto negro os lançava em direção ao chão. A confusão dos dois acabou quando viram um tronco de árvore ser decepado logo ao lado.

— Fiquem em alerta, nós estamos nos territórios dos dois — A bruxa informou — O ponto mais forte de Angeline é a construção de fortalezas impenetráveis e altamente mortíferas.

Tanto Ryu quanto Josh acenaram com a cabeça.

— Anabel — Josh sussurrou — Vasculhe e monitore a área no máximo de alcance que você conseguir.

— Consegui um perímetro de 15 metros quadrados — Anabel respondeu imediatamente.

— Só isso? — Josh estava decepcionado.

— Tem uma energia nesse local que reprime minha magia — A bruxa respondeu.

— É uma barreira de sangue, uma das especialidades de Angeline — Eveline se manifestou — Olhem para as árvores.

— São folhas… — Josh estava um pouco incrédulo.

— Todas banhadas a sangue — A bruxa explicou — Ela as usas com um feitiço para inibir magia.

Ryu permaneceu em silêncio, se perguntando onde aquela bruxa arranjaria tanto sangue.

— Provavelmente das crianças que ele rouba as almas — Eveline respondeu.

— O que? — Ryu estava surpreso.

— Você perguntou onde ele conseguiu o sangue para cobrir a floresta inteira, não foi? — A bruxa dizia em voz alta e com um tom tranquilo — Os anos de guerra os fizeram adeptos ao uso de todos os materiais disponíveis. Muito provavelmente ele aproveitou os cadáveres das crianças que ele absorveu as almas e usou para fortalecer seu território.

A serenidade de Eveline enquanto explicava as barbáries dos irmãos, causavam um mix de surpresa e raiva nos ali presentes.

— Se preparem para o exército de mortos… — ela concluiu.

— Para o que?

A pergunta de Ryu, não precisou da resposta da bruxa, pois logo um grupo de esqueletos os cercou.

As ossadas não passavam de um metro e meio o que fazia claro o fato de se tratar de crianças.

— Não sei se consigo atacá-los… — Josh estava profundamente afetado.

— Acredite — Ryu suspirou — Diante de tudo o que essas pobres almas passaram, o máximo que podemos fazer a elas agora é libertá-las.

No casarão, Vincent caminhou tranquilo pelos corredores e parou em frente a uma porta ornamentada. Abriu sem bater e lá encontrou Louise, sentada diante de um enorme telão.

— Eu disse que ele traria problemas… — A bruxa tinha um tom irritado, porém sereno.

— É melhor que ele tenha vindo para cá, do que até alguma revista importante de fofoca não acha? — Vincent caminhou em direção a irmã e começou a massagear os seus ombros — Vão morrer antes mesmo de alcançar os nossos jardins.

— Sabe quem está com ele? — A bruxa ignorava as palavras de Vincent.

— Um mendigo?

— Um híbrido.

Ambos ficaram em silêncio.

— Achei que estivessem extintos. — Vincent tinha uma voz apreensiva.

— Esse foi feito em laboratório… — Louise explicou — É filho do general Blanc Lagunov.

— O sociopata que lidera o Minus… — O conde deu um longo suspiro — Uma ameaça?

— Não acho que seja para tanto, mas… — Louise se pôs de pé e começou a caminhar pelo enorme ateliê — Não podemos mais ficar tão à vista.

Vincent assentiu com a cabeça e seguiu os passos da irmã.

— Por que ainda temos 6 crianças vivas aqui? — O tom da condessa era ríspido.

— Catherine… — Vincent suspirou mais uma vez.

— Ah! Mais um dos problemas dos quais eu te alertei.

— Não diria que foi exatamente um problema… — O garoto puxou a irmã pelo braço e em seguida sussurrou um feitiço.

Aos poucos as mãos de Vincent adquiriu um tom vermelho vibrante, que se espalhou para a pele de Louise. A feição irritada da garota foi imediatamente substituída por uma de surpresa e seguiu até um êxtase indescritível.

Os dois permaneceram naquilo por alguns segundos até que a bruxa caiu de joelhos.

— Quanta energia… — Ela sussurrava em meio a uma respiração ofegante — Catherine?

— Não está mais tão disposta a chamá-la de problema agora, não é mesmo? — Vincent sorriu satisfeito.

— Ela ainda está viva?

— Semi-morta — Vincent deu de ombros e se sentou — Mas deixei um respingo de energia vital em seu corpo… Se tudo correr como o esperado, amanhã ela estará novinha em folha e pronta para mais uma noite inesquecível.

— Um cálice que nunca se esvazia — Louise tinha empolgação e malícia em sua voz — Nunca achei que diria isso, mas… eu estava errada meu irmão.

Com os olhos semi-abertos, Catherine contemplava um estranho céu vermelho.

Ela tentou se levantar algumas vezes, mas parecia não haver nada a ser movido, além dos seus olhos que abriam e fechavam.

Ela estava cansada daquela impotência que a perseguia desde que… desde que conheceu Vincent Chermont.

— Eu quero ir para casa! — Catherine gritou o mais alto que podia e então descobriu que também tinha voz.

Mas não entendia porque não gritava por socorro.

O céu vermelho agora estava embaçado, e só se fez limpo, quando as lágrimas de Catherine escorreram pelos cantos de seus olhos e sumiram em seus cabelos. E ela então soube que seus olhos também choravam.

Mas por que as suas pernas não corriam? Por que ela era incapaz de fugir para casa?

 — Tem certeza disso?

A voz do garoto do baile ecoava de algum lugar.

— Quem é você? — A bruxa se manifestou.

— Está tudo bem?

A voz distante perguntava.

— Não… — Catherine chorava ainda mais — Me diz quem é você por favor!

— Está tudo bem?

O desconhecido voltou a perguntar.

— NÃO! — Catherine levantou bruscamente — Eu já te respondi seu estranho irritante!

Já de pé, a bruxa se viu diante do garoto do baile. Mas diferente do seu último sonho, agora ela o via, claramente com todos os seus detalhes.

Os cabelos loiros que passavam um pouco de suas orelhas, a barba mal feita e os olhos castanhos que a encaravam sem pausa.

O sorriso tímido que ele pôs em seus lábios, fez com que Catherine sentisse suas bochechas se aquecerem.

Aquilo causava uma certa aflição, mas ela não queria que passasse.

Ele tinha uma expressão confiante, que causava em Catherine um certo ânimo.

Um pouco confusa, ela apenas caminhou em direção a ele e encostou a cabeça em seu peito. Carinhosamente, ele a abraçou.

Na presença de Vincent, Catherine se sentia confusa, às vezes com medo e em muitas situações completamente desesperada. Mas aquele garoto... Era como se estar com ele bastasse, bastasse em relação a tudo. Ela queria estar ali para sempre, era quente, confortável e seguro. O coração da bruxa estava inquieto e calmo ao mesmo tempo, uma junção de emoções que ela era incapaz de explicar.

— Cat… — O garoto sussurrou no ouvido da bruxa — Você está atrasada!

Um desespero tomou o corpo de Catherine e ela se viu levantando bruscamente da cama em busca de ar. Depois de um tempo ofegante, a garota se deu conta que estava na sua cama, em um dos quartos da mansão Chermont.

— Não… — Catherine se deitou mais uma vez e usou um travesseiro para tapar o rosto.

Ela queria voltar a dormir. Ela queria nunca mais acordar. Nunca mais se sentar à mesa com Louise. E definitivamente, nunca se casar com Vincent Chermont.

Diante do seu último pensamento, Catherine sentiu um aperto no peito, como se tivesse dito o mais cruel absurdo.

“Eu o amo… Eu o amo?”

Eles estavam juntos há muito tempo e iriam se casar. Era o certo a ser feito.

— Lady Catherine?

A voz da criada fez o coração da bruxa disparar. Era o momento de sair do quarto e ver… ele.

A porta se abriu e Catherine tentou fingir o máximo que podia que estava bem.

— O conde Chermont pediu para eu perguntar se a senhora descerá para o café — A mulher se curvou em reverência.

“Eu prefiro a morte.”  Catherine pensou.

— Já vou descer… — Catherine respondeu.

— Quer ajuda para se aprontar? — A criada perguntou.

— Escolha algo para eu vestir, por favor… — Catherine respondeu com desânimo enquanto voltava para debaixo de seus lençóis.

— A senhorita tem alguma preferência?

— Qualquer coisa…

Na mesa de café, Vincent e Louise tinham um bom humor invejável.

— Geléia querida? — O conde sorriu para Catherine.

A bruxa apenas negou com a cabeça. A apatia dela durou toda a refeição.

— Aonde vai, meu amor? — Vincent se aproximou de sua noiva.

— Tomar um pouco de ar fresco. — A garota limitou-se a uma resposta curta, e nem ao menos o olhou nos olhos.

O conde se sentiu um pouco incomodado, mas diante dos acontecimentos da noite passada, apenas deixou aquilo passar.

Sentada a beira de uma fonte, Catherine apenas apreciava a bela passagem que a cercava, mas diferente de ontem, aquilo não causava nenhuma alegria ao seu coração.

— Você se lembra… Não lembra? — Maurice se aproximou da garota.

— O que? — Catherine estava confusa.

— Olhe para eles… — Maurice apontou para as 5 crianças que corriam alegres pelo jardim da mansão — Felizes e despreocupados como se nada tivesse acontecido, mas você está aqui e assim como eu também não é mais a mesma.

— A criatura… — Catherine sussurrou enquanto uma enxurrada de lembranças inundaram a sua mente.

— Você se lembra… — Maurice estava a ponto de chorar — Você realmente se lembra! Você não faz ideia do quanto é solitário ser o único a saber!

Um pouco atônita, Catherine não conseguia entender como podia ter esquecido de algo tão importante. Ela sentia que sua cabeça estava no grupo de coisas que ela não podia confiar, obviamente junto de Vincent e Louise.

— O único a saber do que?

O garoto começou a explicar para Catherine tudo o que sabia sobre aquele lugar, e o que acontecia todas as noites desde o dia que ele havia chegado ali.

— Todas as noites um demônio assombra o casarão — Maurice contava — Eu cheguei aqui há 4 meses num grupo de 15 crianças, mas desses apenas Olívia e eu ainda permanecemos vivos. Todas as semanas várias crianças órfãs, de vários reinos diferentes são trazidas para cá. São comida.

A bruxa ficava mais horrorizada a cada palavra dita pelo garoto.

— As noites são como aquelas, mas no final sempre há menos um de nós — ele deu uma pausa e suspirou — Só que essa nem é a pior parte… no dia seguinte ninguém se lembra do que aconteceu.

— O conde sabe sobre isso? — Catherine estava desesperada — Alguma coisa precisa ser feita!

— Se o conde sabe? — Maurice estava incrédulo com a pergunta da garota — O conde é quem apaga as lembranças das crianças! Todas as noites, pouco tempo depois de uma criança ser capturada, as que restaram vão para suas respectivas camas e dormem como se nada tivesse acontecido e no dia seguinte elas acordam assim.

Diante dos dois as crianças continuavam a brincar, com sorrisos inocentes em seus rostos, o que causava certo pavor a Catherine. O que ela era incapaz de compreender era como Maurice conseguia manter sua mente longe da influência de Vincent, mas aquilo certamente não era o mais importante no momento.

— Ele apaga as lembranças… — A bruxa andava de um lado para o outro — Agora tudo faz sentido Maurice…

O garoto não compreendia onde ela queria chegar.

— Precisamos fugir daqui! — Catherine tinha determinação em sua voz.

— Estamos cercados por uma floresta perigosa — Maurice estava desanimado — Tem criaturas estranhas lá… Só os Chermont conseguem entrar e sair sem problemas.

— Tem que ter um jeito… — A bruxa continuava a andar de um lado para o outro — Tem que ter…

— Lady Catherine. — Uma criada se curvou ao lado da bruxa.

Catherine saltou como um gato assustado, ela não havia notado a aproximação daquela mulher.

— S-sim… — Catherine não sabia se os criados eram amigos ou inimigos, por isso temia que ela pudesse ter ouvido algo.

— O conde Vincent pediu para avisar que gostaria de falar com a senhorita — A mulher completou.

— Não… — Maurice segurou a mão de Catherine.

— Será pior se eu não for… — a bruxa sussurrou para o garoto — Não temos para onde ir no fim das contas, preciso encarar Vincent de frente.

Depois de se despedir de Maurice, Catherine seguiu a criada até o casarão, sem a menor ideia de que rumo as coisas tomariam a partir dali.

 


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Notas finais do capítulo

Gente me digam o que acharam desse cap... daqui pra frente eu to mega insegura com eles hahahha mas vou postar msm assim u.u
Talvez eu demore mais do que o habitual mas é pq to enrolada com ENEM e com a faculdade
Não desistam de mim! Amo vocês! (Principalmente uma certa leitora ai que comenta em todos os capitulos hohoho)



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