Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 19
A Comemoração em Vanitas


Notas iniciais do capítulo

Estamos na reta final da história!
Espero que gostem do capítulo, ele é bem leve e muito fofo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/19

Ryu passou parte da tarde e da noite isolado em seu quarto, refletindo a decisão equivocada de Ivan.

A sua vida está longe de ser o suficiente.

As palavras de seu mestre ecoavam na mente do rapaz em loop por horas e horas.

Naquele momento ele havia esquecido de quem se tratava e focado apenas no que se tratava: Uma vida de bruxa valendo mais que a vida de um humano.

Nada novo na história de Otium e seus simpatizantes.

Batidas constantes na porta de seu quarto o fez se desvirtuar de seus pensamentos. Ryu jurou para si mesmo que se fosse Ivan, esqueceria de seu respeito como aluno e o mandaria ir a merda.

Mas poderia ser Catherine, ele estava pronto para vê-la depois de hoje? Estaria a bruxa chorando ou talvez aliviada? Ele não conseguia encontrar em seu coração um sentimento que o acalmasse.

Um barulho de explosão, seguido da imagem de sua porta voando contra a parede, fez com que Ryu caísse novamente sentado em sua cama.

— Isso vai ser descontado do seu salário. — Hendrick passeava pelo corredor no exato momento em que tudo acontecia.

— Sim, senhor. — Lya respondeu de forma respeitosa, mesmo tendo uma expressão completamente distinta de seu tom.

Depois de se certificar que seu superior havia se afastado, Lya encarou Ryu raivosa.

— Sabe há quanto tempo eu estou batendo nessa porta?

— E… — O rapaz sentiu a intenção assassina de Lya.

— Você precisa ser mais atento a essas coisas. — A expressão de Lya agora era meiga e gentil.

— Sim senhora! — Ryu fez sentido.

Lya olhou para ele com certo desdém, mas depois deu de ombros e se sentou em uma poltrona do quarto.

— O Ivan veio falar com você, certo?

Ryu respirou fundo e desviou os olhos.

— Você sabe que ele tem razão né? — Lya encarou o rapaz — Os caçadores da Minus não brincam em serviço, e aquele Ryan… Ele tinha tanta raiva nos olhos.

— Eu sei! Eu sei! — O guerreiro andava de um lado para o outro — Mas você acredita que ele veio falar comigo antes mesmo de falar com a Cat?

Lya permaneceu em silêncio.

Ela estava completamente indiferente a Catherine e sua situação. Acreditava que a garota era muito privilegiada por ter um pai amoroso e uma vida confortável. Apesar de seu nascimento a condenar, a sorte havia sorrido para aquela bruxa com mais força do que para qualquer outra com fardo semelhante.

— Você não vai aparecer no baile de hoje? — Lya mudou o assunto.

— Não.

— Prefere terno ou algo mais casual? — A bruxa o ignorou e mexeu na sacola que havia trazido consigo.

— Lya, você mais do que ninguém sabe que esse tipo de coisa não é a minha praia.

— Eu escolhi esse aqui exclusivamente para você. — Ela tinha um sorriso angelical em seu rosto.

Ryu travou.

— Você não vai fazer uma desfeita dessas para a sua sensei, vaaaai? — Lya fazia bico como uma criança.

— Isso é golpe baixo… — Ele pegou a sacola que a garota estendeu a ele com uma expressão descontente em seu rosto.

— Vai ter muitas garotas bonitas no baile. — A bruxa caminhou até a saída — Essas meninas costumam ser fissurada nos “guardiões". Quer dizer aqui em Vanitas, as pessoas vêem esse trabalho como algo muito grande. Vocês são considerados heróis.

Ryu deu de ombros.

Sem mais nada a acrescentar, ela saiu do quarto.

Depois de algum tempo tentando ajeitar a gravata, Ryu preferiu sair sem ela.

Assim que chegou no salão que se encontrava aos arredores do hotel, se deparou com uma decoração estonteante. Mas os brilhos não se limitavam aos adereços da festa, os convidados estavam também impecáveis.

Um pouco desconfortável, ele apenas se sentou em um banco do lado de fora do evento.

Ali poderia observar as pessoas sem precisar interagir com elas.

Próximo a porta Lya estava recebendo os convidados. Haviam bruxas, guardiões e alguns rostos famosos ali. Realmente em Vanitas, encontrar o protagonista do seu filme favorito não era nem de longe uma tarefa difícil.

Ryu prendeu-se as reações de Kai, desde o momento em que se sentou ali, viu o bruxo encarar a esposa sem pausa. Lya estava trajando um vestido preto com detalhes em roxo brilhantes. A roupa tinha um corte em “V” no decote mais profundo do que Ryu estava acostumado a ver na bruxa. O seu cabelo estava todo contido em um coque alto que deixava seu rosto bem a mostra, com exceção da sua franja que trazia certa inocência a expressão.

Kai se aproximou de Lya e cochichou algo em seu ouvido, era impossível ouvir o que havia dito, mas o sorriso malicioso em seu rosto junto com o tom vermelho que as bochechas de Lya haviam adquirido, fazia fácil notar que se tratava de um elogio indiscreto.

Ryu deu uma curta risada silenciosa, aquele casal era de fato o seu favorito.

A aproximação de uma nova convidada tomou a atenção do guerreiro.

Catherine Gibran caminhava pelas escadas que levavam até o local da festa de braços dados com Ivan, que estampava em seu rosto um sorriso orgulhoso.

A bruxa usava um vestido azul claro, com um decote discreto e acabamento simples. Tinha pequenos pontos de luz em seu busto, o que dava certa magia ao visual. Os seus longos cabelos castanhos estavam presos em um coque lateral que destacava pequenos cachinhos nas pontas desfiadas.

— Se não fosse pela falta de postura eu nem a reconheceria.

O comentário de Ryu fez Catherine tropeçar.

Ela estava pronta para brigar com ele, mas o garoto tinha um sorriso tão bobo em seu rosto, que a garota sentiu timidez.

— Vou levar isso como um elogio. — A bruxa elevou o queixo tentando passar uma postura mais segura.

— Ela está uma gracinha não está? — Ivan apertou as bochechas da filha.

— Pai! — Catherine corou novamente.

Depois de encarar os dois por alguns segundos, a menina marchou para dentro da festa sozinha.

— O que eu fiz? — Ivan tinha uma expressão confusa em seu rosto.

Ryu deu de ombros.

Enquanto caminhava pelo salão, Catherine passou por uma determinada convidada que se enojou com a presença dela.

Claire vestia um longo vestido rosa que acentuava bem a sua cintura. Desde o busto até a barra do vestido, possuía mais cristais que uma loja de jóias comum.

Mas seu rosto não estava feliz, sua expressão era de descontentamento enquanto observava a jovem bruxa caminhar até uma mesa vazia e se sentar sozinha.

— Está tudo bem, Claire? — Uma garota que a acompanhava notou o comportamento estranho da bruxa.

Em silêncio Claire ignorou a pessoa que lhe fez a pergunta e seguiu em direção a um dos seus servos que se divertia com os amigos.

Ao notar aproximação da bruxa enfurecida, o semblante de Henry se fechou.

Era claro que ela tiraria satisfações sobre a sobrevivência de Catherine a fogueira em Ita.

Visando não chamar a atenção de seus companheiros para aquele segredo perigoso, Henry se afastou dos outros e se uniu a Claire em um canto isolado do salão.

— Você sabe o que aconteceu?

— Não senhora — O guardião engoliu a seco — O Ryu não disse nada sobre o que aconteceu em Ita.

Pequenas faíscas saltavam dos punhos de Claire.

Se eles não estivessem em público, Henry acreditaria com toda certeza que seria assassinado ali mesmo.

— Até quando aquela ninguém vai se sobressair? — A bruxa cerrou os dentes.

Seu momento de profundo ódio foi interrompido pela imagem de Ryu entrando no salão.

O garoto caminhou até Catherine e a tirou para dançar.

O sorriso contente no rosto dos jovens era como uma afronta a Claire.

— Eles estão me provocando!

Henry manteve seu semblante indiferente, mas aquilo não passava de puro treinamento.

Por dentro ele tinha profundo desprezo pelas atitudes de Claire. Ele era incapaz de entender o motivo da garota cultivar tanto ódio por alguém que jamais havia lhe dirigido uma ofensa sequer. O que o mantinha conivente com toda aquela situação era somente o seu medo de se tornar um renegado.

— Você pisou no meu pé!

Do outro lado do salão, Ryu reclamou.

O rosto de Catherine corou e uma expressão irritada o preencheu:

— Você deve estar enganado! Eu sou uma mulher refinada, jamais cometeria erros tão bobos.

— Pisou de novo. — Ryu disse com desdém — Você está mais para uma pirralha atrapalhada do que para uma mulher refinada.

— Que audácia!

Enquanto eles dançavam, Ryu esbarrou em um garçom com uma bandeja cheia de taças de vinho.

O resultado foi um terno quase inteiro manchado de vermelho.

— Eu sinto muito senhor! — O garçom estava claramente envergonhado.

— Não se preocupe, a culpa foi minha! — O guardião tentava acalmar o empregado.

Com a cabeça abaixada, o rapaz se retirou dali em direção a cozinha.

— Ai ai bruxa do azar… — Ryu resmungou enquanto esboçava um sorriso discreto.

— Você mereceu isso! — Apesar de ter se assustado com a situação, Catherine tentou manter uma posição firme.

— Quem não merecia era o garçom que vai ter que limpar toda essa bagunça.

O semblante confiante de Catherine foi substituído por culpa.

No fim, lá estava a bruxa, no meio da festa de joelhos catando caquinhos de vidros junto com o garçom.

A situação em si era engraçada, mas mais que isso, ela mostrava o quanto Catherine sempre estava disposta a corrigir os próprios erros.

De fato essa era a característica que mais o encantava na garota.

Depois de ter cumprido o seu “dever”, Catherine voltou para a sua mesa junto com Ryu.

Ela havia concluído que dançar não era uma boa ideia.

Um ator famoso que Ryu jamais havia ouvido falar, tomou o microfone do músico da festa para fazer alguns agradecimentos.

Ele estava completamente bêbado e seu discurso era sobre o quanto os guardiões “mandavam bem”. Lya não havia brincado ao dizer que os moradores de Vanitas eram fãs do trabalho daqueles “guerreiros impetuosos”, mal sabiam eles que guardiões nada mais eram do que babás armadas.

Após algumas horas de festa, Ivan se recolheu para dormir. Catherine e Ryu resolveram se afastar da multidão e saíram para o jardim do hotel. A noite estava linda e eles não aguentavam mais ouvir aquele ídolo embriagado.

Apesar de não esperar muito daquela noite, Ryu não se lembrava da última vez que havia se divertido tanto.

Por algum motivo, estar com Ivan e Catherine era como uma reunião de família feliz.

Ivan por muitas vezes assumiu o papel de pai na vida de Ryu, o educando e o guiando por bons caminhos. Tudo isso enquanto seu verdadeiro pai gastava todo o dinheiro da casa em bebida.

Catherine por outro lado, apesar de ser algo muito recente para Ryu, fazia com que ele se sentisse em casa, independente de onde ele estivesse.

— Eu já te vi quando eu era pequena! — Catherine soltou — Mais de uma vez!

— Sério? — Ryu observou a garota — Quando?

— Quando meu pai me levava para o trabalho. Enquanto ele dava aula para os alunos eu ficava dormindo na sala do Hendrick. — A bruxa tinha um sorriso nostálgico — Quando eu acordava e ficava entediada eu saia de lá escondida e ia ver o Ivan lecionando sem que ele percebesse.

— Dentre tantos alunos, por que você se lembra de mim? — Ryu sorriu de forma pretensiosa.

— N-não só você! Tem mais um monte de gente nas minhas lembranças… — A garota corou.

Apesar de não compartilhar com Catherine de suas memórias, ele se lembrava dela com exatidão.

Catherine costumava usar o cabelo preso em dois rabos de cavalo, um em cada lado da cabeça. Ela sempre andava agarrada a um urso cor de rosa e se escondia em lugares péssimos.

Era claro que desde o momento em que ela chegava ao local das aulas, Ivan notava a sua presença, mas mesmo assim fingia não fazer.

Era impossível que alguém naquela aula não percebesse ela ali...

Por algum motivo, aquelas lembranças haviam sumido da memória de Ryu por muito tempo, mas agora fluíam como água.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou do capítulo? Que tal deixar um comentário maroto? Faça um autor feliz ❤



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.