Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 20
Os Possíveis Caminhos do Azar


Notas iniciais do capítulo

Hey! Eu faltei segunda por motivos de fim de semestre e também porque a primeira temporada está chegando ao fim :(
Estou com a segunda em andamento, entretanto isso vai demorar um poquinho!
Sejam pacientes comigo please!!



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— O Ivan comentou com você sobre a travessia? — Ryu soltou.

A expressão de Catherine, antes contente, se abateu rapidamente.

Por um momento o guerreiro se sentiu arrependido por trazer para a conversa aquele assunto, mas era inegável que ele estava curioso sobre como ela se sentia em relação a isso.

— Comentou sim. — A bruxa forçou um sorriso — Eu estava realmente com saudade de casa.

— Você não quer mais ir até o santuário?

— Meu pai…

— Você! — Ryu interrompeu a garota — Não perguntei sobre o Ivan.

A garota suspirou e encarou o céu estrelado daquela noite. O guerreiro aguardou em silêncio pela sua resposta.

— Eu preciso dormir. — Catherine caminhou na direção do hotel — Obrigada pela noite. Eu me diverti muito.

Por mais que ansiasse a resposta da garota, preferiu respeitar o espaço que ela estabeleceu.

Já em seu quarto, Catherine retirou os sapatos apertados e sentiu seus dedos tocarem o piso frio.

— Tem uma banheira quente esperando a senhorita.

Uma voz feminina fez com que ela se assustasse. Uma garota que aparentava ter a idade da bruxa se curvou respeitosamente.

— Obrigada… — Cat disse de forma educada.

Era fácil para uma bruxa reconhecer outro da mesma espécie, bruxas tinham cheiros específicos inodoros ao nariz de um humano comum. Na verdade, era assim que um caçador era escolhido. Apenas humanos capazes de sentir cheiro de bruxa eram aptos a se tornarem caçadores.

Aquela menina era uma humana. Catherine não entendeu exatamente o porquê de se questionar aquilo. Naquela noite ela também percebeu que, com exceção dos guardiões e alguns professores, todos os convidados eram bruxos. Os humanos eram apenas quem serviam e limpavam.

Após se certificar que estava sozinha, Catherine despiu-se e entrou na banheira.

Enquanto sentia seu corpo ficar completamente relaxado na água quente, a bruxa viu sua mente levá-la para Ryu.

“Aquele idiota presunçoso tinha alguma razão.” A garota refletiu sobre desigualdade de raças enquanto observava seus cabelos flutuarem na água.

Ela voltou seus pensamentos para a pergunta de Ryu:

— Sim... — Catherine sussurrou as palavras que almejava dizer para o rapaz.

— Eu tinha tantos sonhos… — Catherine se afundou na água que preenchia a banheira.

A única coisa que martelava em sua mente era o quanto havia aceitado a ideia de que jamais poderia ir ao santuário. Ela era uma exceção no fim das contas. Não era como todas as bruxas e não evoluiria como nenhuma delas.

Catherine se lembra o dia em que entendeu isso. No seu aniversário de 16 anos, enquanto a bruxa comemorava a aproximação do seu grande momento, Ivan teve uma conversa séria com ela. Falou sobre os perigos que nenhum guardião estaria disposto a passar e que ele também não estava disposto a arriscar.

A partir daquele dia, a jovem bruxa dedicou-se tão somente a procrastinação. Comer porcarias, ler porcarias, assistir porcarias e fingir que não se importava. Catherine fingiu tão bem, que por muito tempo ela mesmo acabou acreditando que não se importava. Isso durou até o dia em que conheceu alguém.

No limite do seu fôlego, a bruxa visualizou o rosto de Ryu fora da água. Tomada por desespero, ela emergiu da banheira com rapidez, correu para alcançar uma toalha e em poucos segundos notou que estava sozinha.

Naquele momento, Catherine entendeu que precisava dormir.

Distante dali, na sala de treinamentos, Ryu descontava sua frustração em um saco de pancadas. Já passavam de meia noite, por isso, não havia mais ninguém lá… com exceção de um curioso.

— Fiquei sabendo que o pai da garota que você  gosta, proibiu o namoro de vocês. — Kai surgiu das sombras com uma expressão sarcástica em seu rosto.

Ryu continuou socando, sem interrupções.

— Você acha que ela não está de acordo mesmo depois de ela dizer que não tinha nada contra? — O bruxo perguntou — Não é muita presunção da sua parte?

Apesar de escolher não responder as perguntas inconvenientes do companheiro, Ryu não podia impedi-lo de ler a sua mente.

Por isso Kai deu continuidade a sua conversa, quase solitária.

— Se ela não admitir o que você supõe ser os sentimentos dela, as suas alternativas diminuem para 0. — O bruxo refletiu por uns instantes — Não acredito que você tenha planos de sequestrar a menina… Não faz bem o seu estilo.

Ryu parou sua sessão de golpes apenas para encarar Kai com indignação.

— Bom, meu amigo... — Kai se preparou para sair da academia — Tão importante quanto lutar com todas as forças por quem se ama, é saber a hora de desistir da batalha. Afinal, não se pode forçar o amor a ninguém.

Ryu encarou Kai com uma expressão desanimada em seu rosto, mas permaneceu calado até o momento em que seu amigo saiu da sala.

Kai era do tipo cismado, o seu passado conturbado o ensinou a ficar sempre alerta. Desde que Ryu o conheceu, entendeu que não poderia falar de assuntos sérios de uma forma que alguém fora da conversa poderia entender.

A última vez que isso aconteceu, ele estava planejando uma festa de aniversário para Lya. Mas qualquer um fora da conversa entenderia que aquilo era uma discussão sobre futebol.

Depois de deixar aquele assunto para trás, o guerreiro tentou socar o saco mais uma vez, mas sentiu sua motivação ir embora. Ele não estava mais bravo, estava confuso e aquilo não o fazia forte.

Ele pensou em ir para cama, mas lembrou de uma coisa importante: A espada que havia ganhado de Ivan.

Aquilo parecia ser uma ótima forma de distrair a mente.

Já distante de Ryu, Kai caminhava pelos corredores da sala de treinamento.

— Não importa o quão sorrateiro seja um guerreiro, se ele não consegue silenciar os seus pensamentos, nunca será capaz de se esconder da verdade. — Kai declamou enquanto sorria cinicamente.

Ao ouvir que havia sido descoberto, Henry correu para longe do bruxo, de volta para o alojamento. Ele estava com o coração acelerado e torceu para que o leitor de mentes não descobrisse a sua identidade.

— Então o Henry estava espreitando o Ryu? — Lya andava de um lado para o outro em seu quarto.

— Sim. — Kai encarava a mulher.

— Isso está fedendo… — A bruxa se sentou — Eu sabia que aquela megera não deixaria barato ser rejeitada por um plebeu daquele jeito. Agora o guardião dela está na cola do Ryu.

— Amanhã eu vou investigar o assunto. — Kai dizia de forma tranquila — Hoje é melhor que descansemos e…

— Vou continuar com as minhas teorias — Lya dava de ombros — Eu não vou conseguir dormir de qualquer forma.

— Bom… — Kai se sentou ao lado da garota e sorriu para ela — Então você terá companhia.

Muito distante dali, na escadaria de uma catedral, três guerreiros aguardavam o fim de uma reunião importante.

Assim que Blanc, atravessou o portão principal, os três jovens abaixaram suas cabeças envergonhados.

— Vendo que foram incapazes de esperar para que eu os encontre na sede da Minus, imagino que não tenham boas notícias. — O homem dizia com desdém enquanto encarava o trio.

— Eles escaparam para Vanitas e de acordo com as leis continentais…

— Eu conheço as leis continentais, Yamamoto. — Blanc tinha um olhar de reprovação.

— Eu sinto muito, senhor. — Ryan cerrou os dentes — Eu falhei. Me perdoe por minha incompetência. Não sou digno de empunhar a Safira.

Ao fim de sua frase o guerreiro estava de joelhos, com o cabo vazio de sua espada estendido em suas mãos.

Yuki e Benjamin tinham expressões de surpresa em seus rostos. Apesar de cientes do erro cometido, não acreditavam ser necessário tamanha punição. Ter um tesouro celestial era o sonho de qualquer caçador e ele estava abrindo mão daquilo sem que nem ao menos fosse solicitado.

Blanc encarou o rapaz por alguns segundos e sorriu com ternura:

— Quem sou eu para julgar um servo tão dedicado. Levante-se meu jovem!

— Eu não o decepcionarei novamente. — Ryan se levantou, mas manteve sua cabeça abaixada.

— Não sei se terá uma nova oportunidade de mostrar o seu valor meu caro. — Blanc suspirou — As chances da bruxa prosseguir com a travessia são mínimas. Agora que seu tutor está ciente da possibilidade da captura da bruxa é provável que a mande de volta para Otium.

— O senhor não conseguiu o apoio da igreja? — Yuki se manifestou.

— Eles não voltaram no acordo de 15 anos atrás. Em Otium, assim como em Vanitas, a bruxa deverá ser mantida em segurança. — O líder explicou.

— Mas o futuro é mutável! — Uma voz feminina surgiu no meio dos caçadores.

Uma poeira de cor dourada levitou do chão e tomou a forma de uma bela mulher com longos cabelos ruivos presos em uma trança que se estendia até a sua cintura.

— Bruxa… — Benjamin sussurrou enquanto levava a mão até a cintura em busca de sua faca.

— Dobre a língua, insolente! — A mulher encarou o rapaz — Ou ela será arrancada.

— Você fede como uma bruxa. — Yuki tinha um olhar de desprezo estampado em seu rosto.

— E você como uma prostituta, mas nem por isso eu a julguei. — A mulher sorriu.

— Crianças… — Blanc repreendeu — Tenham respeito diante de uma sacerdotisa.

O homem tinha tanto asco pela mulher quanto seus aprendizes, mas era necessário que ele mantivesse uma boa postura diante dos servos da igreja, mesmo quando esses servos fossem bruxas.

— O que quis dizer com futuro mutável, sacerdotisa Agnes? — Ryan ignorou a conversa que se passava.

Agnes sorriu para Ryan com carinho, a ausência de maldade que a alma do rapaz possuía era rara e a encantava desde que ele era muito novo.

— Sacerdotisa… — Ryan se aproximou da mulher com uma expressão de súplica em seu rosto — Há chances de eu conseguir consertar o meu erro?

— Sim. — A sacerdotisa estendeu a sua mão e uma luz dourada emanou de sua palma — Uma criança cheia de sonhos, não seria tão facilmente persuadida.

A luz que Agnes emitiu, fez surgir a imagem de Catherine adormecida. Conforme a mulher mexia os dedos, a imagem se aproximava do rosto da bruxa, até o momento que cenário mudou por completo. Ela havia invadido os sonhos da garota.

Na cena uma criança conversava com uma mulher bem vestida sobre o santuário das bruxas. Talvez por dormir pensando naquilo, as memórias de Catherine se repetiam em seus sonhos.

Ao ver claramente o rosto da mulher, Ryan travou.

— Está tudo bem? — Yuki se aproximou do rapaz.

— Sim… — O rapaz respirou fundo e retomou a calma rotineira — Está tudo bem.

A cena do sonho foi interrompida e a imagem de Catherine assustada surgiu na pequena tela mágica. Nesse momento, Agnes interrompeu o feitiço.

— O que aconteceu? — Benjamin perguntou.

— A bruxa tem boa percepção. — Agnes respondeu de forma despreocupada — Não é do tipo fácil de se espionar.

— Não esperava nada menos de um Rank SS . — Blanc comentou.

— O futuro dessa garota tem muitas bifurcações. — A mulher explicou — Eu informarei caso ocorra algo que os ajude.

Em Vanitas, Catherine foi incapaz de voltar dormir, por essa razão resolveu sair para tomar um ar.

— Você está acordada? — Ryu notou a aproximação da garota na academia.

— Não consigo dormir… — A bruxa caminhou até um banco e se sentou. — Tenho a sensação de estar sendo observada.

— Quer conversar? — O garoto se sentou ao lado da menina.

Os dois conversaram por alguns minutos, mas não demorou muito para que Catherine caísse no sono.

O guerreiro riu um pouco da facilidade da garota em dormir, mas se sentiu feliz por deixá-la segura o suficiente para que descansasse aquela noite.

Após se certificar que ela já estava com o sono pesado, usou seu casaco dobrado para substituir o colo que a menina havia usado como travesseiro e voltou ao seu treinamento.


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Notas finais do capítulo

Deixem um comentário, se não eu vou demorar mais pra postar o próximo hahhaha
(eu trabalho com ameaças mesmo!)



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