Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 18
Este é o Fim da Travessia?


Notas iniciais do capítulo

Estamos entrando no arco final da temporada! Eu estou tão animada! Espero que vocês se animem também!



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Antes mesmo de chegar no hotel em que os viajantes estavam hospedados, Ryu se deitou no pequeno campo de flores que enfeitava parte da cidade.

“Vanitas está tão linda.”

Já fazia algum tempo que Ryu vinha nessa cidade para treinar. Todos os anos os guardiões refaziam a travessia sozinhos para se familiarizar com o caminho. Mas dessa vez Vanitas estava diferente, parecia mais brilhante, mais aconchegante.

Após alguns minutos contemplando o azul vibrante do céu, o guardião virou levemente o seu rosto para direção em que Catherine estava e a viu sentada em um banco de madeira, acompanhada de Lya.

Ela tinha uma expressão vazia enquanto encarava um ponto qualquer na paisagem.

Ele pensou em se levantar para ficar junto dela, mas antes que pudesse fazer qualquer movimento, viu Ivan se aproximando. A bruxa correu para o abraço do pai e foi muito bem recebida. Ryu teve a certeza de ver Ivan chorando e aquilo era engraçado. Antes de conhecer Catherine, apesar de ver o mestre como uma pessoa gentil, Ryu tinha uma imagem muito séria dele. Mas só na última semana, viu aquele caçador aposentado cozinhar, falar de série adolescente, choramingar a partida da filha e agora o viu chorar de alívio por tê-la a salvo em seus braços.

Todas aquelas informações não tiraram de Ryu o respeito ou admiração que ele cultivou por anos, mas o mostraram que um homem forte pode ser um velho sensível e um pai carinhoso, sem deixar de ser um guerreiro excepcional.

Um sorriso aliviado brotou nos lábios do guardião.

— Está tudo bem até aqui. Vou dar o melhor de mim para que fique tudo bem até o final. — Ryu sussurrou para si mesmo.

— Ryu! — A voz de Ivan tirou Ryu de seus pensamentos.

Ao notar a aproximação do mestre, ele se levantou.

— Vamos tratar de negócios! — Ivan sorriu para o guerreiro.

— Podemos fazer isso um pouco mais tarde? — Ryu apontava para suas roupas sujas e rasgadas.

Ivan ficou um pouco sem graça:

— Ah, claro! — coçou a garganta — Você realmente precisa descansar.

Ryu sorriu para o mestre, se despediu e saiu.

Já na entrada do hotel, o guardião pôde ver Catherine subindo as escadas. Ele se sentiu satisfeito em poder ter um tempo para perguntar como ela estava, mas teve seus passos impedidos por Hendrick cercando a sua frente.

— Os dormitórios dos guardiões são nos fundos. — O diretor tinha uma expressão de desdém em seu rosto.

“Claro, a divisão ridícula de classes estava estabelecida novamente.” Ryu rangeu os dentes.

Catherine nem ao menos o viu ali, seria distração ou só falta de interesse? Depois de alguns dias conversando com a garota, Ryu tinha certeza que ela apenas não tinha visto ele se aproximar.

Depois, de passar um olhar de reprovação para Hendrick, Ryu voltou a seguir seu objetivo inicial: Banho.

— R-Ryu?

Ao avistar o guerreiro, Henry, um dos companheiros de treinamento de Ryu se mostrou incrédulo.

— Olá! — Ryu sorriu de forma simpática.

— Então os boatos eram mentira? — Uma garota se aproximou do rapaz.

— Boatos?

— É.— A garota encarou o guerreiro — Todo mundo ficou sabendo que a Catherine tinha sido executada na cidade de Ita.

Ryu franziu a testa.

— Foi ela que queimou a cidade? — Um outro guardião se juntou a conversa.

— Não! — Ryu defendeu com irritação. — Que mania idiota de pôr culpa de todos os problemas do mundo na Catherine!

Dois dos guardiões que participavam da conversa, abaixaram a cabeça envergonhados, mas Henry ainda estava perplexo.

— O que há de tão impressionante nisso, Henry? — A reação do garoto chamou a atenção de Ryu, principalmente por ele ser um dos quatro servos de Claire.

— Nada. — Henry murmurou.

Evitando olhar nos olhos de Ryu, o guardião saiu do alojamento.

— MINUS? — Ivan tinha uma expressão de incredulidade em seu rosto.

Na sala de reuniões, o professor era informado da chegada conturbada de Catherine.

— Sim, senhor. — Lya explicava — Aparentemente o líder deles era do pelotão de elite.

— Nome? — Ivan mantinha seus olhos fixados no pequeno relicário que ele havia acabado de abrir em sua palma.

— Ryan Rousseau. — Lya tinha uma voz hesitante.

— Um pupilo de Blanc, um dos melhores. — O homem manteve o foco na foto de Catherine ainda criança estampada no objeto — 15 anos e ele ainda está obsessivo.

— A Catherine foi registrada no Grande Livro como uma bruxa neutra, se ela se manter dentro da lei, o Minus não poderia…

— A monarca me deu o direito de manter a criança em minha tutela na cidade de Otium. — Ivan interrompeu a bruxa — A travessia não está no contrato.

— Mas toda bruxa neutra e pura tem o direito de…

— A Cat é uma grande exceção em quase todos os quesitos. — Ivan a interrompeu mais uma vez.

Dessa vez, Lya se manteve em silêncio.

— Eu fui um tolo… — O ex caçador sussurrou para si mesmo enquanto se retirava da sala.

Enquanto caminhava pelos corredores do hotel, Ivan refletia sobre os acontecimentos.

Uma súbita imersão em memória fez com que o velho fosse levado há 15 anos atrás.

Ele se lembrou do momento em que soube do incêndio em Pacem. Aquelas lembranças eram tão vívidas que sempre que pensava naquele dia, o ex caçador sentia o cheiro de carne queimada.

Aquele lugar era o próprio inferno, só havia chamas e gritos de desespero que desapareciam um após o outro.

Um choro abafado e contínuo fez com que Ivan se afastasse de seus colegas e se embrenhasse no meio da destruição.

Longe do fogo, seus companheiros gritavam seu nome e diziam que ele estava maluco, dentro do inferno o choro se perdia em meio ao calor.

Ele não soube porquê arriscou tudo para salvar aquela vida perdida, mas sentiu em seu coração que ele precisava.

No meio do incêndio um pequeno círculo ao redor do corpo de uma criança estava intacto:

— Eu encontrei!

Ivan seria incapaz de descrever a felicidade que sentiu ao pronunciar aquelas palavras. Em sua mente um único pensamento se perpetuava: Amélia.

A vida que ele considerava mais preciosa no mundo, inteiro ele foi incapaz de salvar. Entretanto tendo agora aquela garotinha indefesa em seus braços, sentiu que seu erro havia sido compensado.

— Está tudo bem agora. Vou te manter segura.

Ali estava o marco que indicaria o momento em que a pequena bruxa tornou-se a coisa mais importante da vida de um homem sem esperança.

Duas batidas e Ryu abriu a porta.

Com o corpo ainda molhado, ele vestia apenas calças e usava a toalha pendurada em seu pescoço.

— Mestre. — Ryu fez reverência. Seu semblante deixava claro o quanto Ivan não era quem ele esperava.

— A sua missão acaba aqui. — Ivan tinha uma expressão séria em seu rosto.

— O que? Mas…

— Não se preocupe. — Ivan estendeu um envelope — Aqui tem o pagamento por toda a travessia e mais um acréscimo por ter protegido a vida da minha filha.

Ryu conferiu o conteúdo do envelope, e de fato era bem mais do que ele esperava.

— Por que?

— Eu realmente preciso responder? — O ex caçador evitou olhar nos olhos do rapaz.

— Você está subestimando o minha capacidade de protegê-la. — A voz do guardião estava pesada.

— Não. Você é que está se superestimando. — Ivan encarou o rapaz — Você não conhece essa gente! Hoje vocês estavam há poucos quilômetros de Vanitas e quase foram mortos. A partir daqui é muito chão até o santuário. E eles não vão mandar só três… Serão pelotões inteiros ou quem sabe até mais…

Ryu permaneceu em silêncio, encarando o envelope em suas mãos.

— O que a Cat acha disso?

— Provavelmente vai ficar brava e triste, mas ela se acalma mais fácil do que se irrita. — O professor respirou fundo.

— Então ela não sabe? — Ryu tinha uma expressão de descontentamento em seu rosto. — Você veio falar comigo antes de falar com a sua filha?

— Sabe Ryu, eu te conheço desde que você era um pirralho deste tamanho — Ivan media algo abaixo do seu peito — Um moleque cabeça dura que nunca obedecia ordens que iam contra aquilo que acreditava. A Catherine por outro lado, sempre foi uma criança tranquila e dificilmente se opôs às minhas decisões.

— Acho que ela só se esforça muito para não decepcionar o senhor. — O guardião murmurou.

— Isso não é um treinamento Ryu, a vida de Catherine está em risco. — O ex caçador tinha uma voz séria.

— Eu sei o tamanho do risco, mas eu treinei a minha vida inteira para isso!

— Você não tem ideia dos sacrifícios que serão necessários para manter a minha filha segura!

— Hoje eu estava disposto a sacrificar a minha vida para salvá-la.

Ao ouvir as palavras do garoto, Ivan suspirou e falou de forma calma:

— Fico feliz em saber que a minha filha esteve em boas mãos durante a travessia, mas a sua vida está longe de ser o suficiente.

Depois de terminar a sua fala, Ivan se retirou do quarto de Ryu e caminhou em direção a ala das bruxas.


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Notas finais do capítulo

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