Révélation escrita por Bia


Capítulo 6
Capítulo V - O Pilar da Confiança


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou meio grandinho, eu acabei me empolgando... Espero que vocês não achem um problema e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759631/chapter/6

— Por que você simplesmente não fala com ele? – Marinette perguntou.

Ela estava com o celular preso entre a orelha e o ombro, em uma ligação com Alya, suas mãos permaneciam ocupadas com o constante trabalho de tirar a maior parte das fotos do seu quarto do menino que logo chegaria para lhe dar aulas de física.

— Eu tentei! Mas parece que ele só quer falar comigo quando estamos em um grupo – Alya respondeu.

— Você quer que eu tente falar com ele?

Alya suspirou.

— Acho que não adiantaria muito, ele só fingiria não saber do que você está falando. Claro que ele imaginaria na hora que fui eu quem pedi pra você fazer isso… – As meninas ficaram em silêncio por uns momentos, tentando pensar em alguma solução – O Adrien está indo aí, né? – Marinette não respondeu, sabia que tinha sido retórica, afinal, foi a própria Alya quem planejou tudo aquilo – Quem sabe você não mencionava isso pra ele? Sabe, bem indiretamente, eles são melhores amigos, Adrien deve saber de alguma coisa!

— Se Nino tiver falado com ele sobre alguma coisa, aí é que ele não vai falar mesmo, se ele não quer falar pra você o que aconteceu, ele provavelmente pediu segredo, e não acho que Adrien vai trair a confiança do melhor amigo, ele é tão leal… – Marinette soltou a última frase com um suspiro.

— Bem, então acho que não tem muita coisa a se fazer… O jeito vai ser esperar que ele tome a iniciativa de me contar…

— Você realmente gosta dele, não é?

— O q-que? – Alya engasgou – Amiga, tem muitas coisas que eu realmente gosto nessa vida, super-heróis, Ladybug… – a menina listou – Mas Nino definitivamente não é uma delas! Quer dizer, claro que ele é meu amigo, um dos melhores, mas é só isso…

— Aham – Marinette mantinha um sorriso como quem sabia que a amiga estava mentindo no rosto, o qual Alya não pôde contestar por não ver a expressão dela através do telefone – Não se preocupe, se eu descobrir qualquer coisa hoje, você será a primeira a saber.

— Marinette, o Adrien chegou! – sua mãe falou da sala de estar, as palavras mais doces que ela poderia ouvir naquele dia.

— Eu tenho que desligar, Alya, o Adrien chegou!

— Vai com calma, amiga, e vê se aprende alguma coisa de física, não vai deixar o menino ir aí só pra você ficar babando com a cara dele – Marinette conseguia ouvir Alya tentando segurar o riso, mas relevou.

— Até mais! – ela disse antes de desligar.

Marinette foi até a porta de seu quarto, que ficava no chão, e a abriu. Percebeu que sua mãe já tinha apontado onde ficava o quarto, mesmo o menino tendo estado ali antes, ele podia não lembrar-se muito bem de sua última visita e a locação dos cômodos da casa.

Assim que Adrien olhou para o topo da escada que dava para o quarto, se deparou com sua amiga, que nas próximas horas seria sua aluna, bastou isso para que o rosto da menina passasse de sua coloração normal para um leve tom rosado, ela teria que se acostumar àquilo e aprender a não deixar-se corar tão facilmente.

Por sorte, Marinette havia acabado de esconder as últimas fotos. Claro que não tirou todas, pois seu quarto aparecera ao vivo na televisão e ela já havia criado a desculpa de que era uma grande fã de moda e de Gabriel Agreste, o que o loiro pareceu acreditar. Se ela tirasse todas as fotos dele, ficaria muito suspeito, mas deixar todas ali era demais, então ela só tirou a maior parte e colocou fotos de seus amigos e de designs famosos no lugar, suas inspirações.

Mesmo já tendo estado naquele quarto anteriormente e observado seu interior pela janela durante algumas noites, era diferente estar ali pela segunda vez, e no claro. Ele notara novamente a mesa cheia de material de costura e os bichinhos de pelúcia que ficavam em cima da cama da menina. O quarto dela era, no mínimo, fofo. Tinha muito da personalidade dela, o que era complementado pelas várias fotos de seus amigos e família que ela mantinha ali. O menino sorriu levemente ao notar as fotos dele mesmo sozinho em alguns lugares, não eram muitas, mas o bastante.
Marinette lhe dissera que era uma grande fã de seu pai, Gabriel Agreste, e consequentemente ela possuía fotos do principal modelo do famoso designer.

A menina sentou-se em sua cadeira com de rosa e esperou que o menino fizesse o mesmo na outra cadeira que ela havia posto ali. Ela afastara parte das caixas e material de costura que ficava sobre a sua mesa, o que formou uma pequena pilha em uma das pontas da mesa, no lugar onde essas coisas ficavam havia livros, cadernos e algumas coisas que pudessem eventualmente precisar para riscar o papel, como canetas e marca textos.

Ela tomara o cuidado de organizar tudo perfeitamente, mesmo sabendo que as coisas seriam tiradas do lugar no processo e que provavelmente ficaria uma bagunça no final.

— Bem – o menino começou, após ter cumprimentado a anfitriã e sentado-se na cadeira vazia –, podemos começar pelo básico. Como eu não sei bem onde está a sua dificuldade, eu pensei que poderíamos ver tudo, para que não reste dúvidas sobre nenhuma parte.

A menina acenou com a cabeça. Adrien esperou por uma resposta mais concreta, que não veio, então ele voltou o olhar para a mesa e abriu o caderno na primeira anotação de física, colocando o livro da matéria ao lado para acompanhar.

Nos primeiros minutos, Marinette sentiu muita dificuldade de se concentrar apenas na matéria, fazendo com que as perguntas de Adrien não fizessem o mínimo sentido. O menino começou a pensar que o problema estava desde o início, ele era a pessoa mais paciente do mundo em atender ao que parecia ser as dificuldades dela e explicava calmamente quantas vezes fossem necessárias. Marinette logo se deu conta de que estava parecendo muito lerda por precisar de mais de cinco explicações sobre um processo extremamente curto, logo o verdadeiro motivo da presença de Adrien pareceu acender-se em sua cabeça e ela forçou sua concentração apenas no conteúdo e não na voz melodiosa que saía dos lábios mais lindos que já vira. Ela passou a olhar a maior parte do tempo para os livros, por onde o menino apontava conforme a explicação.

Em poucos minutos, o que parecia ser um caso perdido demonstrou não ter uma dificuldade tão grande assim. Ela já sabia muito bem o básico, aquele não era o problema, a dificuldade viria quando eles chegassem nos últimos conteúdos passados nas aulas. Apesar de estarem avançando relativamente rápido, o que deixou o menino orgulhoso de si mesmo e, especialmente, de Marinette, não daria para chegar sequer à metade do conteúdo que viram de física durante toda a vida. Ao menos eles haviam combinado de se encontrar duas vezes na semana.

Ambos se encontravam perdidos no conteúdo quando bateram na porta do quarto. Eles se viraram levemente surpresos e deram de cara com Tom segurando uma bandeja de croissants junto a uma jarra de suco e dois copos. Marinette olhou de canto para Adrien e viu o modo como ele olhava para a comida trazida por seu pai, deveria estar com muita fome, o almoço havia sido há horas.

— Pensei que gostariam de um lanchinho, uma recompensa por tanto esforço – Tom piscou.

Marinette se levantou e caminhou até o pai para pegar a bandeja.

— Obrigada, papa! – ela disse enquanto levava a bandeja à mesa e colocava em um canto livre, afastado dos livros.

Adrien agradeceu, o que fez o sorriso de Tom aumentar pouco antes dele fechar a porta.

Adrien tinha uma expressão deliciada enquanto experimentava o melhor croissant de Paris. Marinette aproveitou que ele estava absorto no sabor e de olhos fechados para observá-lo melhor, como evitara fazer durante os últimos minutos para não perder a concentração. Felizmente voltou a si antes que derramasse o suco, que colocava no copo, no chão. Adrien não percebeu o olhar da menina, ele abriu os olhos apenas para elogiar os dotes culinários do senhor Dupain.

Marinette aproveitou que haviam dado uma pausa, já que não seria prudente se eles estivessem no meio de um conteúdo, para tentar falar com o menino sem gaguejar muito. Mal havia perdido a fala desde que ele chegou, aquilo havia sido um avanço e tanto para ela, mas agora ela tentaria permanecer daquela forma só que se concentrando nele e não em vetores. Ela pensou por alguns instantes em algo perfeito para falar, que a fizesse parecer uma pessoa interessante e bem atualizada do que acontecia mundo afora, algo que não soasse arrogante, mas que fosse algo que apenas pessoas inteligentes pudessem falar.

— Tempo esquisito, né?

Adrien abriu os olhos para olhá-la, aqueles olhos verdes que a desarmavam e a fazia sentir uma pressão misturada a uma ardência na barriga e peito.

— Você acha? – ele perguntou entre uma mordia e outra. Não importava o assunto que Marinette puxava com ele, ela realmente o divertia. Ele achava engraçado e até interessante o modo dela falar e quão aleatório ela tinha a capacidade de ser.

Meio que para incentivá-la a falar mais, ele apenas fez essa pergunta e a fitou em busca de algum complemento, o que deixou a cabeça da menina em pânico.

— V-você não? Quero dizer, ontem estava frio e hoje está muito quente.

Adrien deu de ombros.

— Está normal para mim – ele sorriu – Mas talvez os akumas possam estar alterando a sensação térmica de alguma forma, não?

— S-sim. Deve ser isso.

Marinette desistiu de puxar assunto. O único que tentara durou muito pouco e soou patético.

— Você se sente segura com os frequentes ataques de Hawk Moth? – Ele fincou o olhar no seu, até parando de mastigar enquanto esperava pela resposta, a expressão séria.

— Está ficando cada vez mais perigoso, mas eu sei que nossa dupla de super-heróis não desistirão de salvar a cidade – ela disse otimista. Adrien sorriu.

— Você parece confiar bastante neles…

— Você não? – a menina pareceu surpresa.

— Confiaria a minha vida a Ladybug, na verdade, já estou fazendo isso! – Ele voltara a comer, mas os olhos permaneciam observando-a, ele levava a conversa ao rumo que queria.

Marinette desviou o olhar para um ponto no chão, gostara de ouvir o modo como Adrien acabara de se referir a ela, mesmo não sabendo de sua identidade. Porém Ladybug não trabalhava sozinha, se fosse apenas ela contra o mundo, certamente a menina não se sentiria tão confiante, precisava de seu parceiro.

— Eu confiaria a minha vida a Chat Noir – Bingo! Estavam cada vez mais próximos, talvez Marinette, por estar apenas com ele, se sentisse mais confortável em falar alguma coisa sobre o fiel parceiro da Ladybug.

— Você parece ter uma leve preferência por ele… – Adrien lutava contra o sorriso que queria formar-se em seus lábios.

— O que? Não, não é nada disso. Eu acho os dois igualmente importantes! A Ladybug não seria nada sem o seu parceiro, assim como Chat Noir também precisa dela! – Adrien não falou nada, queria que ela falasse o máximo possível sobre o assunto – É que… Eu acho injusto que as pessoas pareçam focar tanto nela, quando o Chat é igualmente importante… Entende? – Ela finalmente levantou o olhar do chão para olhá-lo nos olhos.

Adrien estava vagamente constrangido, mesmo que não tivesse um resquício de vermelho em suas bochechas, ao menos não mais do que havia normalmente. Ele a olhava como se tivesse acabado de receber uma declaração, o que deixou Marinette nervosa, ela falara algo errado?

— Você já o viu pessoalmente? – ele insistiu.

Marinette parou alguns segundos para pensar.

— Ele já me salvou algumas vezes. – Ela deu de ombros.

Era isso, ela não falaria sobre sua conversa quando ele apareceu em cima de onde estavam, na cobertura. Pelo visto ela não queria contar vantagem nem prejudicar o herói de qualquer forma. Ficou feliz pelo sigilo que a menina mantinha em relação a ele, mas por outro lado ela poderia ter considerado aquilo irrelevante, algo que não valeria gastar sua saliva para falar sobre. Não, a última opção era muito improvável, conhecia Marinette, ela não ofereceria ajuda e demonstraria tanta confiança em alguém que considerasse irrelevante.

— Você acha que esse pensamento o afeta? Que ele pode se sentir inferior a Ladybug?

Marinette riu.

— Não tem a mínima chance! Ele é muito seguro de si para isso! – Mas de repente ela lembrou-se da conversa que tivera com ele, sua expressão vacilou por um momento – Quero dizer, não acho que ele tenha problemas com isso, pelo menos não deveria, ele é incrível! Ah, mas é até bom que as pessoas não falem tanto isso, especialmente para ele, ele pode ficar se achando mais do que o normal.

Adrien soltou uma risada, realmente Plagg o deixava um pouco mais convencido, e, talvez pela máscara, ele se sentia mais a vontade para jogar sua humildade no lixo pelo tempo em que fosse Chat Noir.

— Alya diz que não é culpa dele, que a personalidade de super-herói que ele encarna o deixa assim.

— E o que você acha? – ele perguntou e Marinette não precisou pensar muito para responder.

— A teoria dela pode até ser verdadeira, mas acho que ele se esforça um pouco para deixar o caso mais grave. – Marinette falou com os cantos dos lábios puxados para cima.

— É, eu acho que ele se esforça um pouco também – Os dois se olharam sorrindo por uns instantes. O sorriso dele fazia o coração dela bater um pouco mais rápido. Aquilo estava dando certo.

Talvez o plano de Alya realmente funcionasse mais do que o esperado, eles já estavam juntos e rindo, se continuassem assim, logo Adrien se apaixonaria, a pediria em casamento e eles teriam três filhos e um hamster!

O pensamento na amiga a levou para a promessa que fizera a ela um pouco mais cedo. Pensou em como perguntaria aquilo indireta e sutilmente.

— O que o Nino acha? – A opinião de três já havia sido exposta, e como Alya, sua melhor amiga, estava entre esses três, não ficaria tão óbvio se ela perguntasse do melhor amigo dele.

— O Nino? – Adrien perguntou admirado – Bem, eu… Eu não sei, nunca falamos sobre isso exatamente… Eu acho que super-herói é mais um assunto da Alya, o Nino conversa mais sobre música. – Ela torceu internamente para que ele dissesse mais alguma coisa – Se bem que ele vem falado mais sobre isso… Acho que é porque os dois estão andando mais juntos. Será que tem alguma coisa entre eles?

Adrien perguntou em uma inocência tão gritante, que Marinette teve certeza de que dificilmente ele saberia de alguma coisa.

— A Alya não me disse nada… – Marinette fez o papel de boa amiga e escondeu o que sabia.

— O Nino também não… Mas ele age diferente com ela, você notou? Ele está sempre o mesmo, mas quando não estamos em grupo, quando eles estão a sós, eles parecem tão…

— Como se o resto do mundo não existisse – Marinette completou.

— Isso – Adrien a fitou – Eu queria poder ter o que eles têm, algum dia… – Ele desviou o olhar para a janela, tinha outra pessoa em mente, embora Marinette nunca fosse pensar nisso.

Se ele achava que os dois, sozinhos, ainda estavam na mesma harmonia que uns dias atrás, e não que Nino estava evitando Alya, como a própria dissera, então Adrien sabia menos ainda que Marinette. Ela não persistiria no assunto, ia ficar chato e suspeito, apenas guardaria as últimas informações para contar a Alya nos mínimos detalhes mais tarde.

Marinette ainda o fitava, pensando no que o loiro acabara de dizer e em como eles completavam a fala um do outro, quer dizer, em como Marinette completara a frase dele, mas ainda assim, seria ainda mais difícil voltar ao conteúdo agora.

— Podemos voltar? – Adrien a tirou de seus devaneios, ele olhou para os livros e ambos arrastaram as cadeiras para o canto da mesa onde estudavam anteriormente, deixando a bandeja, agora vazia, ainda afastada.

Os próximos minutos passaram-se rapidamente e logo o menino loiro precisou ir embora. Marinette o deixou à porta de sua casa, acenando enquanto o carro desaparecia na rua.

O sol já estava se pondo, dando ao céu o usual tom alaranjado de fim de tarde. Marinette entrou em casa sentindo-se alegre, aquela foi a melhor tarde que tivera em muito tempo, e é porque ela passou grande parte estudando a matéria que menos gostava!

Sua primeira ação foi telefonar para Alya para contar cada detalhe, o telefone não chamou muito e Alya logo atendeu. Marinette contara a conversa que teve durante a pausa com Adrien, e que ela achava que era muito improvável o menino estar mentindo assim na cara dura, não era do feitio dele. Alya suspirou, um tanto decepcionada, se Nino não contara o problema para o melhor amigo, será que tinha mesmo um problema? Talvez ela só estivesse obcecada por ele e ele estivesse agindo como sempre. Afinal, ela era a única pessoa que notou essa diferença. Alya se despediu frustrada e Marinette terminou de arrumar a mesa que, como previra, estava uma bagunça, antes de descer para jantar com os seus pais.

— Ele é um amor! – Sabine comentou com Tom.

A menina estava descendo as escadas e pegou parte da conversa dos pais, não sabendo a quem eles se referiam.

— Quem é um amor, mãe? – Marinette perguntou sentando-se a mesa.

— Ah, oi, querida! Aquele menino que veio aqui hoje a tarde. Seu pai estava me falando o quanto ele era educado…

Marinette olhou confusa para o pai, que sorria um pouco animado demais.

— Como foram os estudos? Ele ensinou direitinho? – Tom perguntou.

— É… Sim… Claro. – Ela ainda estava um pouco perdida sobre onde exatamente seus pais estavam querendo chegar.

— O que ele pretende fazer depois da escola? – Marinette virou o rosto do seu pai para a sua mãe.

— E-eu não sei…

— Ele poderia herdar a padaria! – Tom animou-se ainda mais, olhando para a esposa com animação.

— Eu estou tentando tirar essa ideia da cabeça do seu pai, nós nem conhecemos direito o garoto, não sabemos se ele gostaria de ser padeiro…

— Ah, mas que bobagem! É claro que ele quer, ele adorou os croissants, não foi, Marinette? Lógico que está ansioso para saber cozinhar como o chef aqui!

— Do que vocês estão falando? Por que o Adrien herdaria a padaria? – A menina perguntou pausadamente, tentando chegar a uma conclusão lógica por si própria.

— Ah, Marinette, que coisa! Nós nem o convidamos para ficar para o jantar! Se bem que na primeira vez que ele vem aqui poderia assustar o garoto… Mas na próxima certamente o convenceremos a ficar e poderemos descobrir todas as intenções dele!

— Intenções? Intenções de que? – ela insistiu.

— Ora, Marinette, com você é claro! De que mais seria?

— C-comigo? – Marinette engasgou, os olhos em pânico e o rosto ganhando um leve tom de constrangimento. Como seus pais podiam estar falando aquilo? Adrien mal começara a ajudá-la com uma mísera matéria e seus pais já estavam praticamente planejando o casamento deles!

— Já consigo imaginar os pequenos correndo pela padaria! – Tom tinha um olhar sonhador.

— Papa! – Marinette levantou-se da cadeira, as mãos espalmadas na mesa e o olhar alarmado – Não é nada disso! O Adrien é apenas um amigo!

Tom e Sabine se entreolharam como se trocassem uma piada interna. Firmaram um acordo silencioso e voltaram a atenção para a filha.

— Mas é claro que são – Tom disse, nada convincente.

— O que estávamos pensando? Vocês são muito novos ainda, terão tempo para isso mais tarde – Sabine estava com os olhos fechados tentando não se entregar, apesar do sorriso. Ela começou a comer para usar de desculpa para não precisar dizer mais nada. Logo mudaram de assunto e não retomaram mais.

Mas ainda assim, o que seus pais disseram não lhe saía da cabeça. Só porque ela constantemente falava sobre um menino chamado Adrien, não significava que ela gostava dele, muito menos que ele gostava dela só por ter aceitado ajudar ela com física, ele estava apenas sendo gentil e um bom amigo.

Marinette ainda pensava nisso enquanto escrevia em seu diário. Ela queria manter-se o mais sozinha possível, especialmente em relação aos seus pais, então ficou no telhado da sua casa, onde havia algumas cadeiras e uma ótima vista de Paris, pelo menos de alguns prédios e ruas.

Tikki não gostava muito de ficar ali em cima, era um pouco arriscado por ser tão exposto, então quando ela ia, tinha que ficar escondida. Por isso ela estava no quarto de Marinette, onde estava escuro e se alguém entrasse, ela teria tempo para se esconder.

— Sem sono de novo, princesa?

Marinette não se assustou. Só havia um gato abusado que a interrompia quando ela estava ali na cobertura. Ela fechou o caderno e o pôs de lado.

— O que faz aqui, Chat Noir? Ainda com as “rondas noturnas”?

— Não. Dessa vez eu vim para ver você.

Marinette estranhou.

— Me ver? – Ele concordou com a cabeça – Você quer mais conselhos que claramente não vai seguir?

— Não seja tão injusta, eu tentei dormir melhor – Ele estava sentado sobre a grade – Tentei mesmo – Seu olhar era sincero – Mas não dá, eu fui feito para a noite – Marinette sorriu.

— Que desculpa mais esfarrapada, gatinho. Até eu já tive melhores!

— Mesmo? Poderia me dar algumas ideias? – Ele saltou da grade e se aproximou da mesa que havia ali, apoiando seu peso contra ela.

Marinette negou levemente com a cabeça, a expressão como quem dizia “boa tentativa”.

— Você precisa conversar? – Ela disse com a voz mais suave que conseguiu. Apesar do jeito descontraído de Chat Noir, ela sabia que ele não ficaria noites perambulando pela cidade se estivesse tudo bem.

Chat Noir não respondeu.

— Ou você só precisa de alguma coisa pra fazer enquanto o sono não chega? – ela completou.

— Hmm… As duas coisas.

— E precisava ser comigo. – ela afirmou.

— Você não convidaria um gatinho de rua para vir quando quisesse se não apreciasse a companhia dele – Chat sorriu travesso e piscou. Dessa vez Marinette não segurou o revirar de olhos.

— Tem razão. – ela se deixou vencer – Por que não se senta?

Ele olhou para a cadeira a qual ela apontava.

— Não, obrigado. Hoje não foi um dia muito ativo pra mim, quem sabe se eu ficar em pé gasto mais energia.

— Se você diz…

Os dois se olharam por alguns segundos, em silêncio.

Marinette achava que ele deveria estar muito solitário e desesperado para recorrer a ela em noites insones. Chat Noir não havia recebido mais nenhum convite de ajuda, e precisava realmente daquilo. Mas se ele havia ido ali em busca de amparo, não deveria simplesmente ficar calado encarando a menina que o estava recebendo em sua casa.

— Você é amiga daquela menina que é dona do Ladyblog, não é? – Marinette desviou o olhar das estrelas para Chat.

— A Alya? Ela é a minha melhor amiga, por quê?

Chat Noir deu de ombros.

— Por nada, só lembrei dela… Você acha que ela tem alguma pista sobre a minha verdadeira identidade e a de Ladybug? – O menino tentou parecer casual perguntando aquilo, mas sua voz entregava um pouco da curiosidade que sentia e ela sentia o olhar nervoso de canto dele sobre ela, analisando sua expressão corporal enquanto respondia sua pergunta.

Marinette teve um leve sobressalto com a pergunta, sabia o quão perigoso aquele assunto era para estar sendo tratado entre ambos ou entre qualquer um, reprovava o super-herói por estar sendo tão imprudente. Mas mesmo assim forçou um sorriso.

— Acho muito improvável – ela disse finalmente – E você não precisa se preocupar com isso, mesmo que ela descobrisse, tenho certeza de que ela não falaria para ninguém – Marinette olhava para o nada, seu olhar estava perdido e sua mente longe, pensando em sua melhor amiga.

— Você parece confiar muito nela… – Ele suspirou – Eu queria que a Ladybug tivesse essa confiança em mim…

— D-do que você está falando? – Ela olhou para o menino.

— Nada… Não é nada demais…

— Você acha que a Ladybug não confia em você? Mas vocês são uma equipe!

— Diz isso a ela! – Ele pareceu que não ia falar mais nada sobre o assunto e não seria Marinette a continuar pressionando-o, aquilo era um assunto para ele resolver com Ladybug, embora ela estivesse muito curiosa para saber se a irresponsabilidade de Chat iria ao ponto de falar sobre suas coisas de super-herói com qualquer cidadão de Paris que poderia muito bem estar mentindo para ele, mesmo que ela não estivesse – Ela está sempre com segredos e… E coisas.

— Que tipo de coisas? – ela pressionou.

— Não acho que ela ficaria contente comigo falando sobre isso – Finalmente alguma prudência – Você entende, não é? – Ele olhou para a menina com expectativa, que apenas balançou a cabeça em sentido afirmativo – Você também tem teorias sobre quem ela seria?

Ele não deveria estar perguntando aquele tipo de coisa, e ele sabia disso.

— Vocês dois não sabem da identidade um do outro? – Marinette desconversou.

— Não. Pelo visto eu não sou confiável o bastante… Você consegue compreender o quanto isso é complicado? Ela não quer que saibamos da identidade um do outro, não quer que tenhamos a mínima pista, então não conversamos muito sobre nada, mas o que é melhor? Eu desabafar com uma cidadã parisiense que pode ser akumatizada e entregar todas as informações para Hawk Moth? – Ele parou por um momento – Me desculpe, eu não quis dizer isso, eu sou muito grato por você estar me ajudando, eu só estou… Cansado.

Marinette não conseguiria repreendê-lo ali, seu coração estava apertado por deixar que ele sofresse daquela forma. Quando ele falava desse jeito, realmente chegava a parecer que Ladybug era completamente insensível, o que não era verdade, ela só estava tentando manter a própria segurança, e a dele também! Por que ele precisava parecer uma criança que não entendia que aquele era o melhor para os dois?

— Eu acho que já falei demais – Apesar do sorriso em seus lábios, seus olhos mantinham uma tristeza profunda – Mas eu confio em você, Marinette. Eu sei que você é uma menina justa e sensata. Como eu não estou sendo – acrescentou a última parte baixinho, mas Marinette ouviu mesmo assim.

— Não tem nenhum jeito de você conversar com ela? – a menina perguntou, ainda com o olhar distante, mas dessa vez pela culpa.

— Eu acho que não – Ele suspirou – Obrigado por ter me ouvido, princesa, desculpe por tomar muito do seu tempo.

E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele já havia saltado para longe.

Os últimos minutos mudaram os sentimentos de Marinette de forma tão absurda e brusca, que a menina ficou alguns minutos sem reação, processando o que acabara de acontecer. Passou de uma adolescente imersa na euforia de ter passado a tarde a sós com o menino de seus sonhos para uma garota que carregava nas costas a culpa do que ela mesma fizera enquanto Ladybug, visando a segurança de todos. Ela não fazia ideia do quanto aquilo havia magoado seu parceiro, esperava que não precisasse ser daquele jeito, mas não conseguia ver muitas alternativas a se seguir.

Seria muito suspeito se do nada Ladybug resolvesse ter uma conversa com Chat Noir sobre isso, apesar de ainda achar que o gatinho fora irresponsável, não acreditava que ele chegaria ao ponto de falar tudo aquilo para mais de uma pessoa. Por que ele não conversava com seu Kwami? Ela havia conhecido Plagg já fazia um tempo, quando fora em busca da ajuda do Master Fu. Talvez ele não fosse a criatura mais indicada para se pedir conselhos.

Decidiu que da próxima vez que Chat Noir fosse conversar com ela, eles teriam uma conversa que se preze, para que pudesse aliviar um pouco do sofrimento pelo qual ele demonstrava estar passando. Precisaria pensar muito e ter o maior cuidado do mundo se quisesse conciliar a segurança com o bem estar dele. Não seria uma tarefa fácil e poderia dar bem errado.

Só não imaginava que ela daria tão errado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá olá, gente bonita!
O que vocês acharam desse capítulo? Melhor parte? Algo que precisa ser melhorado? Me deixem saber ;)

Lembrem-se: comentários motivam autores e autores motivados fazem capítulos bonitinhos e entregam no prazo! Faça a sua boa ação de hoje!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Révélation" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.