Enquanto Seus Lábios Ainda Estão Vermelhos escrita por Moonkiss


Capítulo 3
Problemas À Vista


Notas iniciais do capítulo

E aí, honeys? Aqui está mais um capítulo escrito com carinho para vocês. ♡ Bom, primeiramente gostaria de agradecer a todos que estão acompanhando a fanfic! A partir de agora, como o nome já sugere, os problemas de verdade começarão a aparecer. Os capítulos anteriores mostraram mais o cotidiano da Sakura, então vamos ficar de olho!
Enfim, boa leitura!



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Capítulo III — Problemas À Vista

Escrito por @Moonkiss

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SASUKE, NÃO ME DEIXE! SE VOCÊ FOR EMBORA EU VOU GRITAR!

Durante algum tempo pensei que poderia pegar aquela estrada... mas finalmente eu me decidi pela minha vingança. Este é o objetivo da minha vida.

Naquele momento, a primeira lembrança que veio a minha mente foi essa: a noite de sua partida. Trêmula, vi-me então no olho de um tornado, como se estivesse sendo deslocada em círculos a uma velocidade catastrófica. O que ele está fazendo aqui? Com a voz quase ausente e ainda ajoelhada sobre o chão, tentei endireitar a própria postura, mas é praticamente impossível. O que ele fez durante todo esse tempo? Seus olhos continuam a me examinar, frívolos e concentrados, e senti nele um ar familiar de repúdio. Foi então que reparei que não tinha o visto chegar à escola e mesmo assim ele está uniformizado e usando mochila. Desejei de todo o meu coração que num estalar de dedos me tornasse invisível.

Numa fração de segundos, alguém desviou minha atenção dele, apanhando firmemente meu braço. Havia sido tão forte e rápido que foi o bastante para me fazer levantar, mesmo que de um modo desajeitado. Quando virei a cabeça, me deparei com um Naruto totalmente furioso. Hinata está atrás de nós, e logo veio me envolver em um abraço confortante. Não consegui retribuir, pois ainda sentia calafrios trilhando pelos poros da pele, principalmente agora por ver Naruto e Sasuke frente a frente. Essa não...

— Vamos embora, Saky... — chamou Hinata, nervosa, puxando a minha mão em direção ao início do corredor.

Prossegui desnorteada, observando cada movimento de Naruto, que encontra-se ao nosso lado. Sua expressão transmite ódio, algo que chegou ao ponto de me provocar um arrepio de tão aflita que estou. Tinha os punhos cerrados, quase prendendo a própria circulação sanguínea, o maxilar travado como se quisesse revogar quaisquer xingamentos que poderia proferir e o corpo tenso e enrijecido, pronto para iniciar uma briga. Não faço ideia sobre o que ele está pensando. Sasuke, por sua vez, mantinha quase o mesmo porte, no entanto, uma áurea de indiferença lhe cobria. Temerosa, apertei mais a mochila contra meu peito.

— Está tudo bem com você, Sakura? — vozeou Naruto, sem interromper seu contato visual com Sasuke. Engoli seco.

— Sim...

Com a minha resposta, ele se virou e tomou rumo à saída, meneando a cabeça naquela direção para nos chamar. Hinata e eu não hesitamos em segui-lo, visto que pedíamos aos céus para que não houvesse nenhuma confusão. Meus batimentos cardíacos estão afoitos, tanto que consigo ouvi-los claramente.

— Qual é o seu problema, Uzumaki? — questionou Sasuke de repente, fazendo-nos parar no mesmo instante.

Vi apenas Naruto olhá-lo por cima do ombro, se controlando ao máximo para não causar problemas. Ai, cacetada! Hinata, que ainda segurava meu braço, estremecia como um recém-nascido, e é bem provável que eu também esteja assim, pois perdi a noção do tempo e do espaço. Sou capaz de sentir em mim somente aquele friozinho na barriga, tão intenso quanto uma nota musical aguda. Sasuke ponderou novamente num tom misto de seriedade e provocação:

— Acha mesmo que eu fiz algo com ela?

— De acordo com o que eu vi ao chegar aqui sim. — Naruto respondeu, devolvendo o mesmo deboche. Deu meia-volta a fim de encará-lo e nós repetimos o gesto.

— Exatamente, você não estava aqui. Só um tolo tira conclusões precipitadas.

— Olha, eu francamente não duvido mais nada vindo de você.

Naquele exato instante, Naruto se direcionou até ele a passos largos, com um rubor colérico tomando conta de seu rosto. Repentinamente puxou com uma mão a gola da camisa de Sasuke e o empurrou contra a parede ao lado da porta da diretoria. NARUTO, SEU IDIOTA! O som do impacto foi tão alto que é considerado um milagre o fato de a coluna dele não ter fraturado. Como se nada estivesse ocorrendo, Sasuke olha normalmente para Naruto, e me pergunto se ele apenas se garante ou é um suicida. Meu amigo fechou o punho e ergueu-o, tão enraivecido que parecia estar sob efeito de hipnose.

— N-Naruto, pare, por favor! — Hinata implorou, angustiada, tentando pôr-se entre os dois — Estamos em frente à diretoria!

A súplica dela o despertou de uma vez por todas; os olhos de Naruto, que por hora emanavam rancor, rastejaram vagarosamente até se encontrarem com os de Hinata e pouco a pouco passaram a transbordar uma calmaria, como se ele fosse um demônio sendo exorcizado. Eu shippo! Ainda um tanto aéreo, Naruto também soltou Sasuke com o mesmo ritmo lento. Este último somente ajeitou o próprio uniforme, aparentemente inabalável. De repente a porta da diretoria abriu-se.

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — perguntou senhor Iruka, o coordenador do colégio e nosso antigo professor do primário. A julgar pelo seu semblante está bem bravo. Naruto, finalmente retomando a consciência, tentou apaziguar:

— Foi mal, Iruka. Já vamos nos resolver.

— Sejam discretos. Fingirei que não vi nada parecido com o começo de uma briga. Vão indo, antes que a Srta. Senju desconfie de algo. E você, Sasuke, não se sente envergonhado, visto que acabou de sair da diretoria?

— Perdoe-me, Iruka. Não vai se repetir.

— Tudo bem então. — ele abrandou um pouco o tom de voz e virou-se para nós duas — Tomem conta deles, meninas.

Assentimos com um sorriso forçado. O senhor Umino fez uma pequena mesura em menção de despedida. Graças a Deus não houve sirenes de viatura policial ou de ambulância. Por sorte Iruka é calmo e compreensivo, sempre foi um ótimo profissional e o adoramos desde que éramos crianças. Assim que o coordenador fechou a porta, Naruto lançou mais um olhar irado para Sasuke e avisou entre dentes:

— Fique longe da Sakura.

— Como se eu quisesse me aproximar dela... — ele murmurou, apático.

Sasuke enfiou as mãos nos bolsos da calça e nos deu as costas, caminhando com altivez como sempre foi de seu costume em direção ao segundo andar. Eu tinha a intenção de impedi-los, contudo, me tornei uma velha sequoia, onde meus pés eram suas raízes bem fincadas ao solo e meu cérebro consumido por cupins. Ainda estou nauseada só de imaginar o que ocorreria durante o ano letivo inteiro: deparar-me com Sasuke cinco ou seis vezes por semana*. O pior seria assistir aula na mesma sala em que ele estivesse. Fui acordada daquele transe pela voz irritadiça de Naruto:

— Eu não te avisei para manter distância dele?

— Mas eu não fui falar com ele, nós apenas nos esbarramos! — aleguei, unindo as sobrancelhas e me virando para ele. Naruto fez uma cara cética.

— Não sei se considero isso uma baita coincidência do destino ou se são só desculpas suas.

— Como assim?! — quase gritei, bastante irritada — Está insinuando que eu menti?

— Shh, pessoal, por favor! — Hinata falou em um timbre mais baixo — Sem discussões, precisamos ir embora!

Naruto e eu trocamos tiros e apunhaladas através dos nossos olhares por alguns segundos até um de nós ceder e acompanhar Hinata. Só então percebi que alguns alunos da equipe da limpeza do dia andavam pelo corredor com vassouras, baldes com água e sabão, panos de chão, lixeiras, esfregões e rodos, todos nos olhando como se fôssemos atores de um filme de sangue, morte e destruição. Muito chateada com a desconfiança ridícula dele, joguei a mochila nas costas e atravessei o corredor na frente de ambos, descendo as escadas de dois em dois degraus.

Nossos amigos ainda nos esperavam no lado de fora do portão. Quando passei por eles, que me observavam com indignação — supus que era devido a minha aparente raiva —, Neji foi o primeiro a se manifestar:

— O que aconteceu?

— Pergunte para o seu amiguinho Naruto.

— Calma aí, Sakura! — Rock Lee segurou delicadamente meu braço — Você não vai embora conosco?

— Junto com ele? — disse, debochada. Me desvencilhei de forma sutil dele — Não mesmo! Obrigada por me esperarem, mas tô indo.

Recomecei minha caminhada. Neste instante Naruto e Hinata reuniram-se a eles e foi a partir daí que apressei ainda mais os passos. Maldito Sasuke, acabou de chegar e já me arrumou problemas. Estou decepcionada com Naruto, como alguém que considero e diz-se ser meu melhor amigo é capaz de ficar contra mim? Grunhi ao escutá-lo, completamente convicto:

— Para de palhaçada! Não adianta ficar irritadinha só porque eu disse a verdade!

— Ah, quer dizer então que a palhaça da história sou eu e que você está com a razão? — virei para ele, dando um grito irônico. Aproximei-me um pouco mais — Deixa de ser hipócrita, Naruto, você chegou lá sem saber o que aconteceu e começou a arrumar confusão com o Sasuke!

— Eu te defendo depois de ele ter te empurrado no chão e é assim que você me agradece?!

— Chega! — bradou o senhor Ibiki, inspetor do colégio, no lado de dentro do portão. Dei um pulo com sua aparição repentina — Aqui não é uma feira para vocês ficarem gritando e discutindo dessa maneira! Vão circulando aí, nada de badernas em frente ao colégio!

Pedimos desculpas ao inspetor e decidimos cumprir sua ordem, já que ele é um homem tão intimidador que assusta até mesmo os estudantes classificados como os valentões da escola. Após tomarmos uma distância considerada longe do local, Gaara ressuscitou o debate com uma ligeira repugnância:

— Que papo é esse de o Uchiha ter empurrado você, Sakura?

— Sasuke não me empurrou, eu apenas esbarrei nele sem querer e caí no chão! — perdi o controle do tom de voz. Apontei impacientemente para Naruto — É esse idiota que fica dizendo besteiras!

— Caso eu saiba que o Uchiha está te fazendo algum mal, vou enforcá-lo com suas próprias tripas! — ameaçou Rock Lee, estalando os dedos como estivesse se preparando para socar alguém. Ino, por sua vez, me fitou com desdém.

— É por isso que a gente disse para você manter distância dele!

— Sim, Porquinha, mas ela não me escuta e ainda fica inventando mentiras. — alfinetou Naruto, me observando de soslaio do mesmo jeito. Devolvi o gesto. Eu esperava mais de você.

— Nem sei por que você se dá ao trabalho de dirigir uma palavra para aquele troglodita! — Tenten esbravejou, soltando-se levemente de Neji, que envolvia sua cintura com um braço. Este segundo mirou-a de cima a baixo, perplexo.

— Parem de julgar a Sakura tão injustamente, se ela afirma que foi um mal entendido eu acredito nela. — Gaara ponderou com uma expressão séria, tocando meu ombro direito — E de qualquer maneira a única coisa que devemos fazer agora é mantê-la longe dele.

Agradeci interiormente pela postura de Gaara em relação a tudo isso. Entretanto, apesar de ele estar sendo bem legal comigo, ainda sinto náuseas devido à pressão que Naruto, Tenten e Ino estão me impondo, além da presença de Sasuke ter mexido muito com o meu psicológico também. Rock Lee se achegou a nós e anunciou com convicção:

— Eu concordo com o Gaara!

— E eu também acredito na Sakura, Naruto, não faz sentido a sua versão da história. — Neji confirmou, também se ajuntando a nós três. Desta vez foi Tenten quem deu um olhar abismado. Naruto parou de caminhar e cruzou os braços.

— É sério mesmo que vocês preferem acreditar nela?

— Mas eu já disse que ele não fez nada comigo e não fui falar com ele! Tenten, Ino e você fazem uma tempestade no copo d’água! — exclamei sem paciência alguma, frente a frente com ele. Naruto retribuiu o mesmo tratamento rude:

— E o que Hinata e eu vimos quando passamos pelo corredor? Ele já deixou bem claro que não quer nada contigo, Sakura! Deixe-o em paz!

— N-Naruto, mas nós não vimos exatamente o que aconteceu... — Hinata aclarou, de início um pouco desarranjada, depois aderiu uma firmeza — dê uma chance para a Saky! Eu também acredito na minha amiga!

Tive que conter-me para não gargalhar, pois a opinião de Hinata desarmou tanto Naruto que ele ficou boquiaberto. Se ferrou, otário. Senti-me um pouco melhor com a sensatez dela, visto que estava lá e nem por isso tirou conclusões precipitadas. O idiota inquiriu:

— Até você, Hina?!

— Sim! Vocês me decepcionaram muito agora, isso é injusto...

— Tá vendo, Naruto? Mais um argumento para desestruturar sua teoria.

— Ah, está de brincadeira, Neji? — Ino pôs as mãos na cintura, usando um ar de arrogância — Não é nenhum segredo o fato de a Sakura ainda ser apaixonada por aquele traste, quem garante que ela não arrumaria alguma desculpa pra encobrir o que ele fez?

Subitamente fantasiei a imagem de um coração rubro e pulsante que representa a minha amizade com Ino, que então apodrecia e perdia aquela cor viva por conta do sangue coagulado em questão de segundos. Sussurrei, abatida:

— Eu não acredito que você disse isso, Ino...

— Ridícula essa atitude de vocês três. — Gaara estreitou os olhos — E ainda dizem serem amigos dela.

Toda a marra que Ino e Tenten expressavam se estilhaçou com a frase dura dele. De fato Gaara está correto. Não que eu esteja com a intenção de fazer-me de vítima, mas não sei explicar o quão fiquei desapontada. Neji, com uma cara de cachorrinho caído do caminhão da mudança, olhou para sua namorada.

— Minha pequena, vai mesmo adotar a insensatez deles?

— Me desculpem, mas Naruto e Ino têm razão... — Tenten certificou, abaixando a cabeça e respirando profundamente em seguida. Ele repetiu a última ação, meio melancólico e meio carrancudo.

— Que decepção, hein, Tenten? — devolveu a bolsa para ela e cercou meus ombros com um braço — Vamos. Já vi que vamos viver num inferno a partir de agora!

Um pouco vacilante diante daquilo, permiti-me ser conduzida por Neji ao outro lado da rua. Hinata e Rock Lee, que de prontidão apanhou e passou a carregar minha mochila, nos acompanharam. Gaara ainda permaneceu de frente para Ino, observando-a com chateação. Por fim também entregou a bolsa dela e nos seguiu, cabisbaixo. Isso não vai terminar bem. Não sabia para onde eles me levariam, pois nossas casas ficam na direção contrária. Todos nós estamos abalados evidentemente. Tenten, segurando a própria mochila, disse em voz alta:

— Esperem, para onde vocês vão?!

— Levar a Sakura para esfriar a cabeça e depois em casa. — respondeu Neji, sem olhar para trás.

Ele tenta agir com frieza, mas é perceptível seu desapontamento. Nós também não ousamos ver os rostos de Tenten, Ino e Naruto. Eu me sinto mal por tomarmos caminhos opostos, contudo, não suportaria estar entre eles pelo menos por algumas horas ou dias. Reparei então na sorveteria mais adiante da calçada e deduzi que era o nosso destino. Quando Neji candidatou-se para carregar a bolsa de sua prima, escutei Naruto avisar num tom audível, provavelmente para nos provocar:

— Eu acompanho vocês, meninas, não se preocupem.

Ninguém pareceu prestar atenção nele além de mim.

 

[...]

Passei o restante do dia trancada em meu quarto — exceto nas vezes em que saí para tomar banho e comer. Eu estou vivendo um verdadeiro inferno, assim como Neji dissera. Além de três dos meus amigos terem me irritado bastante por não acreditarem em mim, principalmente Naruto, não consigo de maneira alguma renegar todos os detalhes ocorrentes do momento em que vi Sasuke depois de cinco anos. Não quis conversar com meus pais sobre o assunto, visto que papai também está uma pilha de nervos hoje devido a um acontecimento bem estressante em seu trabalho. Necessitava dos meus remédios, dormir seria a única solução para afastar Sasuke da minha mente pelo menos por um curto período de tempo, todavia, tenho receio de que eu acabe passando mal com o efeito das pílulas ou sonhando com ele novamente.

Neste instante, após ter permanecido por horas em posição fetal na cama, me ergui de pé e segui até o interruptor para ligar a luz, depois indo à pequena escrivaninha. Resolvi apelar para a última opção, a qual havia aprendido com Kurenai ao longo das sessões: o uso do diário. Segundo a psicóloga, escrever sobre todos os sentimentos reprimidos no papel, caso seja possível, funciona como uma espécie de terapia, pois alivia boa parte do fardo. Raramente eu faço isso, mas admito que a escrita ajuda sim, ao menos um pouco. Tem que funcionar agora.

Enfim, já sentada na cadeira, apanhei uma lapiseira preta jogada por ali e o bloco de notas escondido entre as páginas de O Sol É Para Todos, localizado na fileira mediana de livros. Pela primeira vez não hesitei ao começar a transcrever o que eu sinto. Geralmente é difícil pôr em palavras emoções que estiveram guardadas a sete chaves durante meses, então fiquei surpreendida comigo mesma.

 

“Minha alma chora, grita, pede por redenção, mas ninguém aparece para me acolher, para dizer que tudo irá ficar bem. Logo eu fico nesta agonia sozinha, e ninguém entende o que está acontecendo. Acham que eu sou uma louca, que preciso me tratar. Porém, meu coração sofre de tanta dor. 

Então outra vez me desespero, jogada ao chão, chorando sem cessar. Querendo alguma paz para mim, no entanto, está sendo impossível. Sussurro doces palavras para mim mesma, tentando me acalmar. Novamente a dor me alcança, lembrando o momento em que ele se foi, sem ao menos dizer um adeus. Talvez eu consiga afastar esta dor que me corrói por dentro.

Nada que eu faço parece adiantar. É uma ferida muito dolorosa que foi feita em meu coração, no qual um dia pensei que era forte demais, que não seria abalado por nada e nem por ninguém. No entanto, cá estou eu, presa em algo que me faz morrer interiormente, chorando sozinha no meu quarto escuro. Eu sei que essa dor vai passar, só não sei quando. Por mais que eu grite, ele não escutará.

Hoje eu vejo o meu coração sangrando e a minha alma se esvaindo.” *

 

Quando terminei de ler o texto, senti-me aliviada pelo desabafo escrito ter funcionado e ao mesmo tempo deprimida por reconhecer mais ainda que sempre estive dependente de Sasuke. Nunca foi falta de força de vontade. Eu apenas não conseguia bani-lo das minhas memórias, mesmo que tentasse ao máximo. E isto afeta até hoje na minha personalidade; nada era capaz de tirar aquele sentimento de mim, o que foi incomum para todos. Costumava ser uma garota sonhadora e determinada. Contudo, nestes últimos anos algo havia mudado. Ou melhor, eu havia mudado.

Minha mente dizia: Estúpida. Muito e muito estúpida. Se ele não te amou no passado, não é agora que irá te amar.

Meu coração dizia: Há sempre uma esperança! Creia nisso, Sakura, creia!.

Independentemente de qual dos dois falasse mais alto, eu preciso manter meus pensamentos longe de tudo aquilo. Guardei o bloco onde o peguei e depositei a lapiseira no porta-caneta de acrílico transparente. Virei para trás com a intenção de olhar o céu através das janelas abertas. Já tinha escurecido. É a noite de folga da Lua e as estrelas decidiram cobrir seu posto junto com algumas nuvens. Senti de repente meu celular vibrar no bolso do short. O peguei e vi as notificações das mensagens de Ino. Ah, não.

 

Ino Porca (visto por último hoje às 18:56)

 

Testuda, sei que não mereço seu perdão depois da atitude babaca que tive hoje à tarde, mas mesmo assim eu o peço... devia ter acreditado em você. Gaara tem razão, não agi como sua amiga. Ainda tô muito mal com isso. :( 18:55

Vamos ao shopping? Nós duas e as meninas? Tenten também está arrependida, inclusive fez as pazes com o Neji. 18:55

Só para aliviar um pouco o clima... 18:55

 

Bufei. Eu não estava a fim de sair e ainda me magoa um pouco a reação delas sobre o incidente de Sasuke, entretanto, sei que ela se esforçou demais por mim.

Ino Yamanaka é a minha melhor amiga desde que éramos crianças, aliás, a primeira amizade que tive. E por conta disso é bastante especial para mim, embora sejamos inteiramente o oposto uma da outra: ela é popular, dona de um corpo esbelto, ousada e cobiçada até por universitários. Por mais que seja inacreditável, não gosta da fama de patricinha esnobe que recebe. Ino já foi minha rival no amor, pois também era apaixonada por Sasuke Uchiha. Eu a invejo por ter a proeza de esquecê-lo.

Por fim digitei para ela, aceitando o perdão e o convite. Afinal, reconheço que permanecer brigada com minha amiga e ficar aqui piorariam a situação. Sentei na beirada da cama e enquanto aguardava uma resposta li as outras poucas mensagens — incluindo a de Tenten e de Naruto, desculpando-se pelas próprias exaltações de hoje mais cedo, mas somente respondi a dela. Cinco minutos depois Ino me agradeceu e explicou que iria avisar às meninas sobre o passeio e que iria se arrumar. Enviei um “OK!” e decidi escolher uma roupa logo.

Após tomar um banho rápido e pôr um vestido de verão branco, estava assentada sobre o banco diante da penteadeira, entrelaçando os dedos nos cabelos a fim de arrumá-los, quando vi algo através do espelho: fortes olheiras contornavam minhas pálpebras inferiores. Provavelmente apareceram por conta das noites mal dormidas originadas pelos pesadelos. Não poderia exibi-las na presença das minhas amigas, caso contrário, elas fariam centenas de perguntas. Não sei como ninguém comentou ainda sobre isso!

Torci o nariz e abri a gaveta, pegando alguns produtos de maquiagem — quase inutilizáveis, e sei aplicar bases e corretivos apenas por causa das orientações forçadas de Ino — para escondê-las. Cheguei a um resultado simples, porém, eficaz. Nunca gostei de me maquiar. Apesar de ser estranho alguém como eu dizer coisas assim tão motivadoras, acho que as mulheres devem usar sua beleza natural, independente de qual seja seu tipo de pele. Com acne, manchas, cicatrizes ou queimaduras no rosto, mulheres devem ser bonitas do jeito que são.

Ao passo que calçava as sandálias, liguei para Ino no intuito de avisar que iria buscar Hinata e nos encontraríamos ao longo do caminho. Quando desliguei, apanhei em cima da escrivaninha minha carteira e do armário algumas notas de dinheiro dobradas de forma organizada. Dez, quinze, vinte... trinta ienes. As pus dentro da carteira em seguida.

Recebi o dinheiro pelo trabalho temporário na floricultura dos Yamanakas durante as férias, já que mamãe não queria que eu arrumasse um emprego fixo por medo de que interferisse na minha vida escolar. Discordo disto, mas é melhor não contrariar. Guardei a carteira numa bolsa vermelha pequena e desci, logo comunicando aos meus pais que iria sair e me despedi deles.

Passei na casa da família Hyuuga para buscar Hinata, até quis chamar Neji para vir conosco, mas ele estava no trabalho. Durante o trajeto encontramos Ino e Tenten, que mais uma vez pediram perdão e eu os aceitei. Chegando ao shopping após uns vinte minutos, perambulamos por algumas lojas até finalmente decidirmos ir ao cinema.

O filme foi uma bela porcaria — o típico romance adolescente americano que me fazia ficar enjoada —, todavia o passeio acabou sendo salvo no final das contas. Fomos à praça de alimentação e compramos uma pizza gigante por ali. O papo estava bastante envolvente, conversávamos sobre vários assuntos, inclusive combinamos de iniciar nosso próprio negócio para obtermos mais dinheiro: Hinata tem talento para fazer doces e atualmente a gastronomia é uma das maiores fontes de renda. Por que não abríamos então uma confeitaria aos poucos, com ela nos ensinando tudo o que conhecia? Resolvemos pesquisar com mais profundidade informações sobre como administrar isso e debatermos posteriormente.

Eram dez horas da noite quando fomos embora, e em vista do horário perigoso para andarmos sozinhas Tenten ligou para seu pai a fim de pedir que fosse nos buscar de carro, e o senhor Mitsashi foi de bom grado, deixando cada uma em sua devida casa. Eu pude me distrair com as garotas, já estava quase até esquecendo o incidente de hoje à tarde.

Porém, assim que deitei a cabeça no travesseiro depois de trocar de roupa, escovar os dentes e desculpar Naruto através de mensagem com muito esforço, aquelas recordações vieram assombrar-me mais uma vez. Tive que resistir à tentação de ingerir as pílulas para dormir, então fechei os olhos, tentando pensar em outra coisa que não me lembrasse de Sasuke Uchiha. Eu consegui pegar num sono somente às três e quinze da manhã.

 

[...]

Acordei com a sensação de ter sido transformada em zumbi, com exceção do desejo em devorar carne humana. Se não fosse pelas broncas insistentes da minha mãe teria faltado à escola. Minhas pálpebras teimavam em cair, meu corpo amolecido tal qual um picolé no meio do deserto e eu bocejava tanto quanto Shikamaru, que é o maior portador do pecado capital da preguiça — aliás, por causa da confusão de ontem me esqueci de entregar-lhe o caderno, então o fiz quando cheguei aqui. Estou tão cansada que me esqueci de selecionar os livros na mochila de acordo com as matérias de hoje. A minha sorte é que os professores de quarta-feira são legais. Todos nós estamos no pátio aguardando o sinal do início das aulas tocar, formando uma roda em que somente eu me mantenho calada.

Mais cedo, Naruto buscou-me em casa e durante a ida ao colégio conversou comigo sobre a sua revolta. Sei que ele não tem o hábito de ser problemático, só estava aborrecido com Sasuke e tentou proteger-me. O perdoei de coração e não o culpo, mas confessei que ainda estou um tanto chateada por pensar que eu menti.

— Shika, eu vou convidar a Temari para minha festa e lá a colocarei na sua fita, pode ser? — Ino farpeou, sorrindo e jogando uma piscadela para ele. Shikamaru a encarou com uma cara de poucos amigos.

— Vem cá, Ino, você não tem nenhuma louça pra lavar? Já disse que não quero mais nada com Temari.

— Ela não concorda com isso.

— Olha, por que você não me esquece e se resolve com o Gaara? — ele movimentou a ponta do queixo em direção a Gaara, com o cenho enrugado — Já estão “ficando” há séculos e não se assumem logo, que merda.

Automaticamente Gaara e Ino ficaram corados, fato este que nos motivou a dar algumas risadas discretas.

Repentinamente senti uma fraqueza e a temperatura corporal cair, tendo calafrios intensos. A visão começou a embaçar como se as retinas dos meus olhos fossem uma aquarela e alguém estivesse diluindo água em suas tintas. Tudo girava ao meu redor. Os meus amigos, que papeavam entre uma gargalhada e outra, pareceram afastar-se de mim. Suas bocas abriam e fechavam sem som algum e quase me vi num cinema mudo. Foi então que reconheci esta sensação: antes das férias de primavera, no instante em que estava prestes a desmaiar, tive estes mesmos sintomas. Ai, de novo não! Perdendo o próprio equilíbrio gradativamente, ameacei cair, porém, Naruto e Rock Lee me seguraram enquanto Gaara pegava minha mochila. Todos eles se aproximaram mais, cada um exibindo expressões preocupadas.

— S-Sakura, o que você sente?! — Hinata pronunciou-se primeiro.

Não tinha forças para respondê-la e nem aos outros questionamentos que vieram depois — até porque as vozes deles iam e voltavam. Subitamente minhas pálpebras foram puxadas para baixo e, como se estivessem rebobinando a cena do beijo de despertar de A Bela Adormecida, desfaleci.

 

[...]

As primeiras coisas que senti ao acordar foram o frio de um ar-condicionado, dor nos olhos devido à forte luminosidade das lâmpadas e um leve cheiro de hospital. Estou na enfermaria do colégio, mas não me recordo o motivo. Por que isso só acontece comigo? Deitada na maca, eu fitei ao meu lado os olhares piedosos de Naruto e de Hinata, que carregava nos braços minha mochila. Me espreguicei brevemente.

— Até que enfim acordou! — ele exclamou, levantando-se da cadeira — Está se sentindo melhor?

— Acho que sim, tô só um pouco dolorida. Onde estão todos? 

— Eles estão assistindo aula, deixaram apenas Naruto e eu ficarmos aqui. — Hinata respondeu, também se erguendo de pé e pondo minha bolsa no assento.

— Não lembro muito bem o que aconteceu... que horas são, aliás?

— São nove e vinte. — Naruto anunciou após consultar o antigo relógio de parede — Você desmaiou no pátio. Rock Lee e eu te trazemos. Quando você se recuperar, nós vamos te levar em casa e vou falar com sua mãe, é a segunda vez que desmaia na escola.

— NÃO! — sentei abruptamente, com os olhos bem arregalados — Minha mãe não, pelo amor de Deus! Ela vai falar muito no meu ouvido, com isso a velha vai pirar ainda mais!

Há tempos que escuto dona Mebuki reclamando sobre eu não procurar um médico para fazer um check-up. Embora saiba bem que minha saúde decai de vez em quando, não gosto de hospitais. Hinata se achegou um pouco mais, empurrando uma mecha de cabelo minha para trás da orelha.

— Mas é para o seu bem, Saky! Estamos preocupados com você, entenda que isso não é normal!

— Hinata, mas eu não que... — fui interrompida por uma tosse desesperadora.

Parecia que meu sistema respiratório entraria em combustão a qualquer segundo; minha garganta ardia tanto que me fazia ter a sensação de engolir um carvão em brasas e meus pulmões quase explodiam como fogos de artifício. Naruto instantaneamente saiu para chamar a enfermeira e Hinata me apoiava. Além dos olhos lacrimejando, senti algo escorrer pelo canto da boca. Um demasiado sabor de ferrugem veio à tona: era sangue.

 

[...]

— Ela está bem?!

— Em vista do que estava antes ela melhorou muito. Parou de tossir sangue quando chegou aqui.

— Já vi a Sakura doente muitas vezes, mas agora ela se superou. Acho que está anêmica!

Entreolhava mamãe e Naruto, praguejando internamente. Assim que tive aquela hemorragia, a enfermeira do colégio ligou para a ambulância o mais rápido possível e pediu a Naruto e Hinata que me acompanhassem até o hospital de Konoha, sendo os responsáveis por mim — na verdade ela iria chamar alguém da secretaria, visto que meus amigos ainda são menores de idade, mas ninguém estava disponível. Fui socorrida de imediato quando cheguei; a enfermeira-chefe Shizune, a mando da médica Tsunade, me examinou, mas aparentemente não há nada de anormal comigo. De acordo com sua hipótese, o sangramento deve ter surgido de uma pequena ferida na minha garganta ao tossir.

O que eu mais temia aconteceu, sem contar no fato de terem comunicado a minha mãe sobre meu estado. Ela estava ocupada no momento da ligação, então só pôde vir agora, depois de uma hora.

— Sakura, querida! — ela correu até mim, esbaforida, e se sentou na beirada da poltrona em que estou — Se sente melhor?!

— Um pouco, mãe...

— Ela teve um desmaio, daí a levamos pra enfermaria do colégio. Foi aí que começou a tossir sangue quando acordou! — Naruto respondera com um ar protetor e as mãos nos bolsos da calça. Mamãe passou as mãos pelo rosto, horrorizada.

— Ai, meu Deus! Filha, você se alimentou direito hoje? Estava se sentindo mal quando saiu de casa?! 

— Acalme-se, Sra. Mebuki. — disse Tsunade ao adentrar a pequena sala de observação, aproximando-se de nós — Sakura precisa de descanso.

Ela acenava para os poucos pacientes do pronto-socorro, alguns ou com um acompanhante ou com uma enfermeira, sentados numa fileira de poltronas azuis enquanto vinha. Me remexi no assento. Não me lembro de ter quebrado algum espelho para ter todo esse azar.

— Vovó Tsunade, quanto tempo! — Naruto saudou sorridente com os braços abertos. Uma veia ressaltou sobre a fronte de Tsunade.

— Ô, moleque, eu não sou uma anciã para você me chamar de “vovó”!

— Perdão, mas sabe que lhe chamo assim carinhosamente, não é? — ele coçou a nuca, desastroso — Afinal, já chegou aos cinquenta como o Jiraiya!

— CINQUENTA?! Eu tenho trinta e tal!

— Trinta e todos.

— V-Você só não vai levar um murro porque estou trabalhando! — vociferou, cerrando o punho e o levantando, prestes a socar Naruto. Este tentou se proteger.

— Srta. Senju, por favor, o que houve com a Sakura?! — mamãe insistiu, deixando seu estado afoito externar-se. A médica a olhou, bem calma.

— Vou examiná-la um pouco agora, pedi para Shizune atender um paciente na UTI. — ela virou-se para mim com uma sobrancelha ligeiramente erguida — Ela tinha me dito que talvez seja um ferimento na sua garganta e que checou sua temperatura, certo?

— Certo. Não estou com febre.

Tsunade então apanhou do bolso de seu jaleco uma lanterna clínica prateada e pediu para que eu abrisse bem a boca. Quando o fiz, acendeu o aparelho, verificando minha garganta por alguns segundos. A doutora, assim que desligou e o guardou novamente, afastou-se de cenho enrugado.

— Bom, não tem nada demais. Tem andado doente, Sakura?

Ô, droga... Eu até cheguei a respirar fundo para poder falar sobre minhas constantes decaídas, todavia, no momento em que quase movimentei a cabeça num sinal negativo como resposta, dona Mebuki articulou com a cara e o tom de voz mais cínicos do mundo:

— Ah, doutora, iria comentar sobre isso com a senhorita agora! Podemos conversar em outro lugar?

— Claro, Sra. Haruno. — ela conduziu mamãe à saída e se dirigiu a nós brevemente — Com licença.

Assentimos. Gelei naquele instante. Muito obrigada, mãe. Eu aposto que ouviria inúmeros sermões quando chegássemos em casa, porém, o que mais me preocupa é a hemorragia repentina. Rezo para que ela, as febres, os enjoos, as dores ou os desmaios não sejam provocados pelos medicamentos para dormir, caso contrário eu estaria morta. Quando as duas retiraram-se da sala, Naruto estalou a língua, aborrecido.

— Trinta e tal... poupe-me! Ela é velha, não sei por que temos que chamá-la de “senhorita” em vez de “senhora”! Jiraiya me contou uma vez que Tsunade e ele têm a mesma idade!

— Eu sei, mas ela é muito bem conservada para uma mulher de cinquenta anos, vamos admitir. E você sabe que Tsunade não gosta de ser chamada de “senhora”.

A senhorita Senju realmente possui cinquenta anos, no entanto, engana a todos por conta de sua aparência um tanto jovial. Ela é muito bonita, às vezes até desconfiamos de que costuma fazer tratamentos estéticos. Acho engraçado o fato de Tsunade ser desejada por Jiraiya desde que eram crianças, mas ela acabou casando-se com um cara chamado Dan, que faleceu há alguns anos.

— Sim, ela não parece tão velha. Bem, existem somente duas explicações para isso: ou é bruxaria ou é o famoso botox! — rimos com o seu comentário. Ele cruzou os braços e sorriu de forma maliciosa — E cá entre nós, acha mesmo que aqueles peitos são naturais? Não duvido nada que seja silicone!

— Só você mesmo para me fazer rir numa hora dessas, Naruto...

— Bem, de qualquer jeito ela poderia te emprestar um pouco deles, porque você tá precisando. — observou brevemente meu busto pequeno, contendo uma risada. Lancei um olhar psicopata para ele, que se apavorou — E-Eu vou chamar a Hina, caso contrário ela terá um infarto!!

— Vocês já avisaram aos outros sobre mim?

— Hinata disse que iria aproveitar o momento para enviar uma mensagem a eles. Vou indo, parceira! — despediu-se alegremente, repousando um beijo em minha testa. Dei-lhe um sorriso de canto.

Enquanto eu o olhava direcionar-se ao corredor, fiquei imaginando o que Tsunade e mamãe tanto conversam. Não aguento mais, quero ir embora, até porque ainda sinto sono. Odeio hospitais. Não ter assistido às aulas foi o único benefício que aquele sangramento trouxe. O que eu tenho pode ser tão grave assim?

— Está melhor? — perguntou Hinata gentilmente, o que me tirou daqueles devaneios. Não havia reparado a chegada dela.

— Um pouco, só muito cansada, Hina. Obrigada.

— Sakura, sua pele está pálida demais! — ela disse quase em um berro, aproximando-se de mim — Você tem tomado Sol?

— Argh, tá parecendo a minha mãe. — revirei os olhos e fiz uma careta — A propósito, você a viu por aí? 

— Eu a vi conversando com a Srta. Senju no corredor... n-não quis falar sobre isso para não te preocupar ainda mais! — confessou, encabulada, desviando a visão para um canto qualquer.

Como se houvessem nos escutado citando seus nomes, as duas retornaram. Não têm expressões nos rostos, e isto me fez engolir seco. Sobre o que elas teriam conversado? Minha mãe forçou um sorriso ao parar próxima à poltrona e afagar meus cabelos.

— Vamos embora, Sakura?

— Já estou liberada?

— Sim, mas antes a médica quer dar uma palavrinha com você.

— Mas assim tão depressa? — Hinata indagou à Tsunade — O que a Sakura tem?!

— Srta. Hyuuga, eu não posso dar um diagnóstico assim tão rápido. Preciso passar alguns exames para ela.

— Entendido, Srta. Tsunade. Eu vou me retirar para vocês conversarem melhor. Esperamos por vocês lá fora! — disse, acenando para mim. Senti-a um pouco apreensiva.

Após minha amiga ter saído, Tsunade arregaçou as mangas do jaleco. Está séria desde que voltou para cá, algo que faz meu estômago embrulhar. Mãe, o que você contou para ela?! A senhorita Senju então começou a jogar as cartas na mesa:

— Imagino que sua mãe já lhe contou que eu quero conversar com você, não é?

— S-Sim, doutora. Sobre o quê?

— Perguntei a ela se você está tendo uma boa alimentação, se sua imunidade está em alta, entre outras coisas. — suspirou. Seu timbre de voz me dá medo — Soube que você constantemente fica doente, inclusive quase sempre pega infecções.

Dei uma rápida e ríspida olhada para mamãe, que ainda permanecia ao meu lado. Você me paga, mulher. Mas sei que ela não poderia mentir para a médica e eu ultimamente tenho mesmo sofrido com várias infecções. Contive um suspiro.

— Bem, é verdade. Não vou negar para a senhorita.

— Eu te passarei uma dieta especial e como citei antes vou marcar mais alguns exames seus para amanhã. Essa hemorragia que você teve e pelo menos agora parou talvez seja devido à força da tossida, mas esses desmaios e essas infecções estão muito estranhos. — falou, exprimindo uma careta confusa. Aquelas palavras me arrepiaram um pouco.

— Entendo, mas por que a dieta?  

— A Sra. Mebuki também afirmou que você ultimamente tem perdido muito peso. E realmente você está mais magra do que no ano passado. — justificou, me olhando de cima a baixo com uma sensação de surpresa.

Uau, mais uma para me chamar de magrela, obrigada, senhorita Tsunade!

Depois de ter me passado a dieta e mais alguns exames marcados para amanhã — inclusive recebi dois abonos de faltas escolares, um de hoje e outro de amanhã devido ao horário para comparecer ao hospital, e Naruto e Hinata ganharam apenas por hoje —, nós quatro fomos embora. Por um milagre não senti absolutamente nada durante o trajeto de ônibus e até me distraí um pouco conversando com meus amigos.

Por volta do meio-dia, mamãe e eu chegamos em casa. Ela esteve calada desde que saímos de lá, e não gosto nem um pouco disto. Desconheço a razão para tal, porém, meu eu interno diz que há algo de errado comigo. Fiquei pensando naquilo enquanto ajudava minha mãe na preparação do almoço. Quando finalizamos tudo e nos sentamos à mesa, decidi conversar com ela para ver que tipo de reação poderia esboçar.

— Sobre o que você conversou com a médica lá no hospital? — perguntei normalmente antes de conduzir um pedaço de carne de porco em direção à boca. Ela me encarou com um ar desorientado, como se estivesse viajando em outro universo e fora resgatada.

— Conversamos sobre tudo aquilo que ela te falou. Por quê?

— Tem certeza? Você está tão estranha...

— Estou bem, filha. — dona Mebuki bebericou um pouco de seu suco natural de abacaxi — Só quero que você faça logo esses exames.

— Eu também, mãe, eu também...

Nenhuma das duas abriu mais a boca para proferir algo depois disso. Eu temia por aquela hemorragia que aparecera. Com toda certeza não se trata somente de uma suposta anemia. Tem mais alguma coisa nesta história toda, e eu pretendo descobrir o que é.


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Notas finais do capítulo

OBS.: *Cinco ou seis vezes por semana: No Japão, os alunos a partir do ginásio vão à escola aos sábados duas vezes por mês. O horário de entrada não muda (8:00 ou 8:30) enquanto o de saída geralmente é por volta de 12:30;
*Créditos à usuária @UyaraOneeChan do Spirit Fanfics pelo texto escrito por Sakura, baseado em um de seus jornais (muito obrigada pela permissão, amiga).

É, meu povo, como diz aquele velho ditado: a chapa só tá esquentando. xD Fiquem ligados na saúde da Sakura e no regresso do Sasuke!
Espero que tenham gostado, desde já agradeço mais uma vez a atenção de cada um! Beijos e até a próxima, queridos. ♡



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