663 Mood: Half Moon escrita por bshortcake


Capítulo 4
I Would Be Able To Fill Up My Empty Heart


Notas iniciais do capítulo

Oláaa!
Novamente postando com atraso, :(
Por isso decidi mudar os dias que vou postar um capítulo novo, que vai ser entre terça/quarta, por que aí tenho tempo o suficiente para fazer as edições necessárias!
Enfim, sem mais enrolação, boa leitura!



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Las Noches era uma das poucas casas noturnas localizada na região sul de Karakura, famoso por oferecer um ambiente intimista aos seus clientes. O espaço era limitado propositalmente para que não houvesse superlotação, impedindo os clientes  de se esbarrar o tempo todo. A decoração inusitada atraía a atenção e encantava o público hipster: poucas luzes de led espalhadas em pontos estratégicos, iluminando as paredes cheias de grafites e pichações, além de ilustrações de artistas famosos.

E com música boa, é claro.

Las Noches também era conhecida por limitar sua lista de frequentadores, sendo esta enorme e sem indicativos de que iria diminuir tão cedo. Quase como um parque de diversões, só que muito melhor.

Muito melhor mesmo, pois era administrado pelo criador e proprietário Hisagi Shuuhei. Em sua casa noturna entravam apenas dois tipos de pessoas: aquela que fosse convidada diretamente por ele ou as que recebessem o convite de um de seus amigos através do aplicativo exclusivo da Las Noches.

Não era necessário pontuar o quão restrita era essa lista.

Ainda mais num dia como este, por exemplo, aniversário do próprio dono do estabelecimento. Os convidados altamente selecionados em sua maioria eram socialites, modelos, empresários… Aquela situação bem típica, previsível.

A qual também incluía a sensação da temporada japonesa de futebol: Kurosaki Ichigo.

Este que por sinal encontrava-se completamente entediado/mal humorado na rodinha de amigos da adolescência. Estava ali há mais ou menos duas horas, tempo suficiente para duas (ou foram três?) modeletes de instagram e ‘amigas’ de Shuuhei esbarrarem ‘sem querer’ nele com suas bebidas.

Resultado: estava completamente molhado e não, não quis conversar com nenhuma delas após tal babaquice.

‘Ô estressadinho, melhora essa cara ai’ comentou Renji, visivelmente se deleitando com aquela situação ‘Digo, ‘molhadinho’-’

‘HAHAHAHA, molhadinho! Essa foi boa Renji’ gargalhou Grimmjow.

‘Cala a porra da boca, Renji’ grunhiu o ruivo ‘Sinceramente, não sei quantos anos vocês tem.’

‘A mesma que todos nós’ interveio Ishida, que havia chegado com mais uma rodada de bebida  ‘A diferença é que você, meu amigo, leva tudo muito a sério’ o moreno entregou a todos, incluindo o próprio molhadinho, um shot de tequila ‘Relaxa Kurosaki, hoje é aniversário do Shuuhei.’

‘É verdade Ichigo’ disse Chad, que raramente articulava ‘Falando em Shuuhei, cadê ele?’

‘Provavelmente com uma daquelas modelos’ comentou o molhadinho, rendendo algumas risadas ‘Shuuhei sendo Shuuhei... Novidade.’

Os amigos então pararam de falar para tornarem o terceiro shot de tequila... A noite ia ser longa.

‘Aliás, cadê as meninas? Não vi nenhuma ainda’ disse Grimmjow, olhando indiscretamente qualquer mulher que passasse próximo a mesa deles.

‘Como assim não viu nenhuma? O que não falta em Las Noches são mulheres!’ se pronunciou Shuuhei ao aparecer na rodinha, segurando uma garrafa de vodca ‘Por que não estão bebendo? E por que só tem homem nesse grupinho?’ estranhou ao observar os amigos.

‘Estávamos falando exatamente sobre isso’ falou o jogador, sem muita paciência.

‘Orihime disse que viria, mas não a vi até agora’ constatou Ishida, varrendo minuciosamente o lugar com os olhos, tentando encontrar os tão chamativos cabelos ruivos.

Cabelos… Ah tá.

‘Aaaaah, essas meninas…’ Shuuhei deu um longo gole no gargalo e voltou a dizer ‘Ruks disse que elas iam para a casa dela, e depois viriam pra cá.’

Ruks, tipo, Rukia, tipo, Kuchiki Rukia?

‘A Rukia vem?’ indagou Ichigo, tentando não demonstrar tanto interesse. Não queria parecer desesperado, nem nada do tipo.

Mas todos já sabiam.

‘Sim, elas devem chegar logo menos... Enquanto esperamos por elas, por que não mais uma rodada de tequila?’ sugeriu o aniversariante.

‘Nada mais justo’ concluiu Renji, que a àquela altura já estava com a coloração do rosto semelhante aos cabelos escarlates, um indicativo de que já poderia ser considerado ‘altinho’.

Novamente... A noite ia ser longa.

Longa demais.

////////////////////////////////////////

Ichigo não contou mais quantos shots vieram depois da quinta rodada, era pedir demais para uma pessoa prestes a se tornar embriagada. A pouca paciência havia se esvaído como de costume, e preferiu afogar sua ansiedade no álcool.

Ansiedade aquela que tinha nome and sobrenome: Kuchiki Rukia.

Não entendia por que estava demorando tanto a aparecer.

Não era justo deixá-lo apreensivo daquela maneira ridícula.

‘Vou lá fora tomar um ar’ informou o ruivo ao amigo de cabelos azuis, o qual se encontrava entretido com o que chamavam de youtuber... Vai entender.

‘Ok... Quando a princesinha chegar, te aviso’ riu, e logo voltou a dar atenção à sua conquista.

Ichigo preferiu não retrucar, não estava com humor para aquilo. Levantou-se com dificuldade do sofá, e caminhou em direção à área de fumantes. O que era irônico, pois sua pretensão inicial seria tomar um ar...E ar puro seria a última coisa que conseguiria.

As pernas, instáveis pelo efeito do álcool que começava a surtir, lentamente o conduziram para o terraço. No meio do que pareceu ser um longo percurso desviou de alguns vômitos, cumprimentou fãs, tirou selfies, tomou um gole de vodca, foi flertado, não flertou de volta, até que por fim, conseguiu chegar ao seu destino final.

Ao deparar-se com a enorme quantidade de pessoas no local, sentiu-se irritado. Queria ficar sozinho com sua consciência bêbada, seria pedir muito? Impaciente, chegou a retroceder dois passos para voltar para a pista de dança, porém seus olhos cor de âmbar encontraram algo que o fizera estagnar.

Ali, há mais ou menos dois metros de distância, usando um vestido preto simples porém bem mais sensual do que poderia imaginar, ela ria abertamente de alguma piada que acabara de ouvir. Em uma das mãos segurava um drink, que ele deduzia ser margarita, pois ela parecia ser o tipo de mulher que estava habituada a tomar margarita. Na outra mão segurava elegantemente um cigarro, já pela metade.

Os cabelos negros estavam mais curtos desde a última vez que a vira, dois meses atrás, quando lhe deu Kon. Combinava com sua personalidade forte e, ao mesmo tempo, exaltavam a delicadeza de seu rosto em formato de coração. Os olhos, ah, os olhos... Continuavam fascinantes.

O lado bom de uma mente embriagada era o fato dela não fazer com que as pessoas pensassem antes de agir, e sim o contrário. Agiam antes de pensar. Quando a estrela do Kashima Antlers percebeu, não tinha mais volta. A longos e determinados passos, Ichigo dirigia-se a ela.

‘... ah Nell, não sei não... Da última vez, vocês brigaram feio e eu não quero me intrometer’ disse a pequena para a amiga de cabelos esverdeados, alheia à presença do ruivo ‘Por que você mesma não vai até lá e tenta falar com ele?’

‘Por que o desgraçado tá praticamente engolindo a cabeça daquela youtuber horrível, e- ITSUGO!’ praticamente gritou ao avistá-lo, assustando as pessoas próximas ‘Itsugo!’ correu chorosa, jogando-se nos braços dele.

‘Er... Oi Nell’ disse ele sem jeito, afinal, não era muito legal ser abraçado daquela maneira acalorada em frente a pessoa que você tentava chamar a atenção ‘Olá, Rukia’ acenou, sem graça.

‘Kurosaki’ acenou a Kuchiki de volta, olhando com curiosidade a maneira que aqueles dois interagiam, sem tentar transparecer intrigada.

‘Nell... Acho que você já pode me soltar’ Ichigo sugeriu, esforçando-se para criar um espaço razoável entre eles.

‘Itsugo, só você pode me ajudar!’ choramingou a amiga e apresentadora do talk show noturno  ‘Gamuza Night Live!’, um dos mais populares do Japão ‘Preciso que fale com o Grimm, eu sei que ele vai te ouvir…’

‘Falar o que?’

‘Falar que eu não tive culpa, que foi o Nnoitora que me agarrou de propósito em rede nacional... E-eu não sabia que ele ia fazer aquilo’ lamentou ao lembrar-se da cena.

Ah, aquilo...

Nnoitora Jiruga, ator e ex-namorado de Nell fora um dos convidados do Gamuza Night há poucas semanas, o que não havia sido muito bem digerido por Grimmjow, até então seu namorado. No decorrer da entrevista, Nnoitora aproveitou-se de um momento de distração da apresentadora e lhe deu um selinho extremamente demorado, rendendo vários comentários na internet por dias e o azulado não quis nem lhe dar a chance de se explicar.

‘Olha Nell, pra ser sincero, Grimmjow não vai escutar ninguém nesse momento... Ishida, Chad, Shuuhei... Todo mundo tentou falar com ele, inclusive eu, mas ele não quer escutar’ disse, para a decepção dela ‘Grimmjow é o tipo de pessoa que precisa de um tempo para digerir as coisas, e enquanto isso vai fazer o que bem entender... Quando essa fase passar, prometo que tento conversar de novo com ele, ok?’

Nell compreendeu as palavras de Ichigo, e desanimada, retirou-se dizendo que precisava de uma bebida forte.

‘E então’ disse a pequena, que por um segundo foi esquecida por ele ‘Como assim você conhece todos os meus amigos?’

‘Eles não podem ser amigos de mais ninguém?’ rebateu, tentando entrar no clima da brincadeira ‘Não sabia que era do tipo possessiva, Rukia.’

‘Não tente mudar de assunto, Kurosaki’ por que diabos ela insistia no sobrenome? Já não haviam passado dessa fase?

‘Bom, eu também não sei... Alguns eu conheço de infância, como Tatsuki e Shuuhei, outros acabei conhecendo no colegial’ encostou-se na grade ao lado dela, a qual tinha uma visão privilegiada do alto da cidade ‘Já ouviu falar da teoria dos seis graus de separação?’

Rukia meneou a cabeça negativamente, e ele voltou a se pronunciar:

‘Em resumo, é uma teoria sobre qualquer pessoa do mundo estar ligada a outra através de seis ou menos laços de amizade... Como nós.’

‘Faz sentido’ admitiu, após apagar o cigarro ‘Apesar de eu não gostar da ideia de que pra uma pessoa estar ligada a outra tenha que haver essas ligações entre eles, entende?’ deu um gole em sua bebida.

‘Não’ admitiu ele, tentando disfarçar seu olhar de bobo enquanto Rukia falava.

‘Foi confuso, eu sei’ riu de si mesma ‘O que eu quis dizer é que, por mais reconfortante saber que entre mim e Kendrick Lamar existam apenas seis ou menos pessoas, o problema está exatamente nelas... Digo, não nelas, mas na existência delas... Ok, tá confuso.’

‘Não, eu acho que entendi o que você quis dizer’ disse o ruivo ‘Pra você é incomodo que tenha que existir essas pessoas para que duas pessoas possam se conhecer, é isso?’

‘Isso!’ e logo ela continuou, animada ‘Eu entendo que as pessoas tem suas individualidades e opiniões divergentes, mas não seria tão bom se todos se conhecessem de alguma forma? Sei que é utópico da minha parte, só que- ai, me desculpe!’ parou de falar ao se dar conta de algo ‘Me empolguei demais falando sobre isso, devo estar te entediando’ lamentou envergonhada.

‘Você não me entendia’ admitiu sem olhar diretamente nos orbes violáceos ‘E fui eu quem começou com essa conversa intelectual... Acho que tô bêbado’ concluiu o atacante, na tentativa de fazê-la rir.

E funcionou, para sua satisfação interna. Adorava a maneira como Rukia parecia estar mais a vontade, sem aquele exterior blasé de it girl.

‘Uau, alguém realmente sabe como aproveitar uma festa’ alfinetou ela ‘Ainda não é nem meia noite, Kurosaki.’

‘É, acabei exagerando’ por que tava esperando por você, quis dizer ‘Não estou tão ruim assim... Comparado ao Shuuhei.’

‘Ou eu que estou ficando velha pra essas coisas de balada. Se não fosse aniversário do Shuu, provavelmente teria ficado em casa assistindo algum filme’ Rukia reconheceu ‘E por falar em Shuuhei, cadê aquele idiota? Ele me deu esse negócio horrível pra tomar e nunca mais apareceu.’

‘Pra falar a verdade, a última vez que eu o vi foi... Já nem lembro mais’ riu ele ‘Poderia afirmar com toda a certeza que você é o tipo de garota que só bebe margarita.’

‘Wow, além de intelectual, também é machista, Kurosaki?’ arqueou a sobrancelha ‘Porque não posso ser o tipo de garota que só bebe cerveja? Só porque não tenho uma barba?’

Dica nº 2: nunca assumir Rukia é o tipo de menina que bebe margarita.

Efeitos colaterais: torna-se feminazi*.

‘É claro que não! O que eu quis dizer é-’

‘Relaxa, Kurosaki... Foi uma brincadeira’ agora foi a vez dela de soltar uma risadinha, para o alívio do jogador ‘Sei que eu pareço ser do tipo de garota que só bebe margarita... Todos acham, inclusive eu.’

‘Sério?’

‘Sim, pena que não consigo tomar mais do que um gole... Eu acho o gosto horrível’ confessou, surpreendendo-o ‘Por isso prefiro vinho.’

‘Vinho?’ virou-se completamente para ela, observando-a durante um bom tempo até voltar a falar ‘É, você é definitivamente o tipo de garota do vinho’ sorriu de canto ao perceber, ainda que minimamente por causa da falta de luz, o rubor tomar conta de suas bochechas.

Ela sabia que estava sendo contemplada da forma mais descarada possível pelo atacante do Kashima Antlers. Sabia e estaria mentindo se dissesse que não estava gostando daquela atenção.

Permaneceram assim – ele a fitando e ela sendo fitada com um pequeno sorriso – alguns minutos em silêncio, ambos tentando compreender aquela sensação diferente que os tomava quando se encontravam dividindo um mesmo espaço. Algo instigante, que os fazia sempre querer saber mais um sobre o outro, e não de qualquer maneira, e sim por meio de gestos, falas, olhares cheios de reticências.

‘Acho que preciso tomar um ar de verdade’ Ichigo foi o primeiro a quebrar o silêncio ‘O quão bem você conhece Karakura?’

‘Bom, eu cresci nessa cidade... Por quê?’ quis saber, curiosa.

‘O que acha de sair daqui e dar uma volta pela cidade?’ levou uma mão à nuca, sentindo-se apreensivo pela resposta dela ‘Karakura é bem melhor à noite... Garanto que muita coisa mudou nesse tempo que você morou em Londres.’

Para a tortura do ruivo, os segundos que antecederam a resposta definitiva da pequena serviram apenas para sua mente embriagada criar situações não muito boas do que poderia acontecer:

Situação A: ‘a educada’

Desculpe Kurosaki, mas já está um pouco tarde e prometi para o Shuu que ficaria até o final.

Situação B: ‘a falsa educada’

Poxa, sinto muito Kurosaki, hoje não posso sair... Já está tarde, e eu não saio por ai com estranhos. Numa outra vida, quem sabe?

Situação C: ‘a atarefada’

Puts, sabe o que é? Preciso acordar cedo amanhã, não vai rolar.

Situação D: ‘a sincera’

Acho que você  confundiu as coisas, Kurosaki... Nem somos amigos, só nos vimos duas ou três vezes, demos algumas risadas, mas não vai passar disso.

Situação E: ‘a direta’

Não, foi mal.

Situação F: ‘a fria’

Não.

Estava começando a imaginar a situação G quando ouviu, finalmente, o que ela tinha respondido:

‘Sim... Vamos ver se você é um bom guia turístico. Se eu ficar com sono, terá que me pagar um sorvete. Justo?’

‘Justo.’

//////////////////////////////////////

Kurosaki não estava mentindo quando havia dito que Karakura era muito melhor à noite. Era como se a cidade se transformasse completamente quando todos os ponteiros do relógio apontavam para o número doze. Até mesmo as pessoas pareciam diferentes... Mais felizes, talvez?

Ao saírem de Las Noches pelas portas do fundo, pois não queriam ter de se explicar para ninguém, ambos concordaram que não era algo muito sensato duas figuras públicas meio embriagadas perambularem pelas ruas sem nenhum tipo de acessório que pudesse esconder ou disfarçar seus rostos.

Foi então que o jogador disse conhecer um lugar ótimo para resolver aquele pequeno problema. Rukia só não esperava que eles fossem escolher a opção mais óbvia. Na verdade nem ela sabia o que esperar, sinceramente falando.

‘‘Fantasias Don Kanonji’’ leu desconfiada a fachada em luzes neon do referido estabelecimento ‘Isso é de verdade?’ quis ela rir.

O lugar por si só chamava a atenção, luzes cobrindo minuciosamente cada pedacinho de concreto. O mais incrível, ou não, talvez fosse a enorme construção de um busto na parte superior da loja, sendo a imitação de um senhor no mínimo exótico.

‘Sim, conheço essa loja faz um tempo’ admitiu, abrindo a porta para que ela pudesse entrar ‘Só não olha muito, senão seus olhos vão começar a arder... Acredite, eu já fiz isso.’

‘Como assim ‘não olhar muito’? É tudo tão barroco’ riu, estranhamente sentindo-se fascinada por aquele lugar tão adornado ‘Nunca ouvi falar daqui... Como conheceu? Não me diga que- Ah! Aposto que você-’

Não’ interrompeu-a, porém o sorriso de atrevimento dela permaneceu ‘Não viaja, Kuchiki’ disse enquanto atravessavam por entre as diversas araras, recheadas de fantasias das mais extravagantes possíveis ‘Escolha o que mais lhe agradar’ apontou para os cabides.

‘Por que não? Apesar de eu não achar que você é um cara do tipo que gosta de se fantasiar... Tem gosto pra tudo-’

‘Engraçadinha, não?’ ela continuava com um sorrisinho de vitória, como se aumentasse à medida que o constrangimento dele também crescia ‘Eu só conheço esse lugar porque sou praticamente obrigado a vir todas as vezes que estou em Karakura’

‘Explique-se’ demandou a pequena, perdida dentre tantas opções.

‘Minhas irmãs’ disse, analisando uma fantasia ‘Todo ano elas se fantasiam pra ir nessas convenções ridículas do Don Kanonji... Aparentemente ele exorciza espíritos, ou algo do tipo’ virou-se para olhá-la e soltar uma risada de deboche ‘Trash ou muito trash?’

‘Definitivamente muito trash’ concordou ‘E você também vai nessas convenções?’ quis saber, rindo internamente só de imaginá-lo no meio de vários fanáticos, e ainda por cima fantasiado igual.

‘Como eu disse, praticamente sou obrigado’ disse sem jeito, e logo mudou de assunto ‘Achou algo?’

‘Hm, ainda não’ Rukia tentou desviar o olhar, mas parecia impossível.

Impossível por que analisar Kurosaki Ichigo, de certa forma, havia se tornado algo instigante. Era fofo a maneira como falava das irmãs com aquela atitude de quem não se importava, quando de fato era genuinamente o contrário. Podia ver sem muito esforço o quanto sua expressão facial amolecia só de mencioná-las.

Além de lindo- LEGAL, também era um irmão maravilhoso?

‘Oe, Kuchiki, tá me ouvindo?’ perguntou num tom levemente irritado.

Rukia assentiu, mesmo que não fosse verdade. Ichigo parecia não gostar de ser ignorado, e ela não conseguiria se explicar do por que o fez.

Desculpa, tava aqui admirando você.

Er... Não.

‘O que acha desse chapéu aqui?’ apontou para o fedora preto e simples que cobria boa parte dos fios alaranjados. Combinava com a camiseta azul marinho, a qual deixava a mostra boa parte do bíceps definido. A calça jeans slim cinza harmonizava bem com os tênis brancos.

‘Nada mal Kurosaki... Mas falta uma coisinha pra completar seu disfarce hipster’ foi correndo até uma das prateleiras, onde demorou um bom tempo até voltar ‘Aqui’ entregou-lhe um Ray-Ban round de lentes escuras, que ele colocou imediatamente ‘Jamais falaria que você é um jogador de futebol nessas roupas’ soltou uma risadinha.

‘Nem eu’ murmurou quase para si mesmo ao olhar-se no espelho, e não pôde deixar de reparar no quanto lhe agradava a imagem dela ao seu lado ‘Agora precisamos arranjar algo pra você, Kuchiki.’

‘Estou sem imaginação hoje... Não consegui achar nada’ queixou-se, voltando a se perder no meio de tantos cabides. Apesar da loja ser enorme, esta era praticamente formada por vários corredores de araras.

‘Deixa comigo’ piscou para ela divertidamente, fazendo-a corar e se aprofundar mais dentre aquelas fantasias horrorosas.

Imaginação era algo que não faltaria para Ichigo, ainda mais se tratando de fantasia e sua garota dos sonhos. Podia facilmente vê-la usando uma daquelas roupas de enfermeira, que combinaria com sua feição angelical. Ou então de pin up-

‘Acho que encontrei’ falou ele ao deparar-se com um acessório, no mínimo, inusitado.

Curiosa, a pequena não pensou duas vezes antes de sair em disparada em direção à voz de Ichigo. Estranhou ao avistá-lo parado em frente a uma estante que ia do chão até onde os olhos mal conseguiam acompanhar, de tão enorme. Estranhou não pelo tamanho do móvel, e sim na quantidade incalculável de... Perucas.

Oi?

‘Er... O que você achou?’ perguntou receosa, não conseguindo desviar a atenção daqueles variados tipos de cabelos e cores.

‘Isso aqui’ virou-se para ela segurando o que havia lhe chamado a atenção.

Realmente, uma peruca chanel com franjas e cor de rosa com certeza chamaria a atenção de qualquer pessoa.

‘Kurosaki... Eu não acho que seja uma boa ideia’ disse sem jeito, afinal ela não queria ser a estraga prazer.

‘Ah, qual é Kuchiki?’ caminhou até ela ‘Uma vez na vida não faz mal... Sem contar que nós dois estamos bêbados, e eu estou usando esse chapéu ridículo. Nada mais justo você me acompanhar’ insistiu ao lhe dar a peruca.

O que ela tinha a perder? Ninguém a reconheceria, apenas iria atrair olhares cheios de crítica de pessoas aleatórias, as quais não fariam diferença em sua vida.

‘Ok’ concordou, colocando a peruca logo em seguida ‘E aí, como ficou?’ quis saber aflita, não havia se olhado no espelho. Quase certeza que estava parecendo um desses personagens de mangá.

‘Ficou... Muito bom’ disse com dificuldade em desviar o olhar. O rosa definitivamente combinava com a pele alva de Rukia, além de ressaltar os olhos violáceos que tanto o fascinava ‘Só faltou um detalhe’ tirou do bolso um óculos em formato de coração e armação branca.

‘Pelo visto alguém está muito inspirado hoje’ riu e colocou os óculos ‘Estamos decentes agora?’

Descentes até demais, quis dizer. Porém, contentou-se em acenar com a cabeça.

Por ora.

///////////////////////////////////

Pagaram pelos apetrechos de disfarce e logo em seguida saíram pelas ruas do centro de Karakura, livres como há tempos ambos não se sentiam. Apesar de atraírem olhares, alguns de reprovação, outros de chacota, sabiam que era muito melhor do que serem reconhecidos.

Podiam fazer qualquer coisa.

Qualquer coisa.

Inclusive comer um sanduíche absurdamente maravilhoso em um desses bistrôs despretensiosos, difíceis de serem encontrados. O proprietário e amigo íntimo da família Kurosaki, Kyouraku Shunsui, mostrou-se uma pessoa bem humorada ao recebê-los naquele horário nada convencional.

‘Ara, ara, não precisa se desculpar tanto, Rukia-chan!’ garantiu-lhe o senhor de meia idade, servindo-lhes um pouco de cerveja ‘Já disse que vocês não são um incômodo, sem contar que ainda falta muito tempo até fecharmos o Kuromatsu... Infelizmente’ cochichou a última parte para que sua companheira não escutasse.

‘Eu tô escutando tudo!’ ouviram uma voz feminina gritar da cozinha ‘Pare de ficar amolando nossos clientes e venha me ajudar aqui!’ ordenou.

‘Nanao-san sempre estalando o chicote’ comentou o jogador enquanto devorava as batatas fritas que vinham de acompanhamento.

‘Fazer o que’ Shunsui deu de ombros e levantou-se para ajudar a esposa ‘É por isso que sou apaixonado por essa mulher!’

Ambos riram e o proprietário se fez desaparecer pela cortina que separava a cozinha das poucas mesas do bistrô.

‘Esse é o melhor hambúrguer que eu já comi na vida’ disse a pequena, completamente maravilhada a cada mordida ‘Sério, quero comprar vários e fazer um estoque em casa.’

‘Ewu fwaleif quw erwa bwof’ disse Ichigo com a boca cheia.

Ew. Ew. Ew.

‘Kurosaki, eu consigo ver tudo que tem na sua boca’ Rukia franziu o cenho ao constatar um pedaço de carne misturado à batata.

Cadê o jogador considerado mais bonito da Ásia? Cadê?

‘Não seja fresca’ falou o ruivo após engolir a comida ‘Você tem uma salsinha grudada no dente, inclusive e eu não falei nada’ disse sem muita importância.

Com os olhos arregalados, instantaneamente a modelo parou de mastigar sua comida, não por estar constrangida. E sim, constrangida pra caralho.

Como assim uma salsinha ridícula estava no dente dela esse tempo todo? E só agora ele decidiu que era importante lhe informar? Que tipo de pessoa infeliz faz isso com outra? Se Byakuya estivesse presente, certamente se sentiria envergonhado em nome da família Kuchiki.

‘Eu não acredito que esse tempo todo você não falou nada!’ reclamou a pequena, com as mãozinhas tentando cobrir a boca.

Queria era cobrir o rosto e sua existência, isso sim.

‘Eu não disse nada por dois motivos simples.’

‘Que seriam…?’

‘O fato de não haver nada grudado no seu dente’ foi então a vez dele abrir algo parecido com um sorriso debochado ‘E eu queria ver como era o rosto de Kuchiki Rukia em pânico.’

Muito adorável, por sinal.

Não que ele fosse se atrever a dizer aquilo em voz alta, uma vez que seu objeto de fascínio não o enxergava com os mesmos olhos. Pelo menos não no momento.

‘Muito engraçado, Kurosaki’ a pequena mostrou-lhe a língua, tentando se fazer de brava.

Em seu interior, agradecia a todas as entidades por não ter passado de verdade por um episódio tão constrangedor na frente dele. Não que estivesse tentando impressioná-lo, porque obviamente ela não estava, mas no fim do dia (ou noite) ele continuaria sendo o jogador ~maravilhoso~ mais cobiçado da liga japonesa de futebol e Rukia não estava nem um pouco disposta a ser aquela menina com salsinha no dente da qual ele vagamente se lembraria no futuro.

Terminaram de comer seus respectivos lanches sem muitas distrações e despediram-se do casal proprietário excêntrico com a promessa de que voltariam um outro dia.

Juntos ou não.  

Juntos sim, definitivamente.

/////////////////////////////////////////

Por fim optaram por uma dessas sessões de filme noturna em um dos cinemas mais antigos na cidade, surpreendendo-a em vários aspectos. Quando Ichigo sugeriu que fossem a cinemateca de Karakura, a modelo achou que fosse mais do mesmo, igual esses shoppings. Porém teve que morder os lábios para não deixar a boca aberta diante aquele lugar tão belo e fascinante, a decoração antiga e bem conservada era o que dava a sensação de acalento e conforto.

Outra encantadora surpresa fora na escolha do filme: Chungking Express, um dos filmes mais belos que teve a oportunidade de assistir.

‘Devo admitir que nunca pensei que você gostasse de filmes assim’ disse ela após saírem da sessão, enquanto caminhavam em direção à casa dela.

‘Como assim?’ Ichigo achou graça, andava com as mãos no bolso.

‘Desculpe o estereótipo, mas achei que você fosse mais um desses caras que gostam de filmes de ação, super herói, comédia besteirol’ admitiu um pouco envergonhada, atrevendo-se a olhar para ele de vez em quando.

O jogador deu uma risada breve, não havia se ofendido pelo visto.

 

‘Normal, todo mundo diz isso’ levou um de suas mãos à nuca, massageando-a ‘sinal de que posso ser um cara surpreendente, certo?’

Nesse momento a pequena se viu obrigada a desviar o olhar e apenas assentir com um meio sorriso.

E como, Kurosaki.

Continuaram o restante do trajeto em um silencio confortável, a passos lentos e despretensiosos. Apesar da noite agradável, ambos estavam cansados mas queriam poder continuar na companhia um do outro o máximo possível. Só não sabiam como fazê-lo.

Até o inevitável não poder mais ser adiado. Com o coração pesado, Rukia começou a arrastar as pernas ao avistar sua casa há uns metros de distância. Sempre adorava chegar ao seu lar e ser recebida calorosamente por Kon, mas hoje era diferente.

‘Acho que chegamos ao final, branquinha’ foi tudo o que Ichigo conseguiu dizer para quebrar o silêncio cômodo, ainda que a contragosto.

‘Pois é’ conseguiu esboçar um sorriso que não alcançou os olhos.

‘Então…’ o ruivo colocou as mãos no bolso ao pararem em frente a casa dela.

‘Então…’ ela o imitou, também não sabia o que fazer ou mesmo falar.

‘Espero que tenha gostado do tour’

‘Gostei, muito’ tentou ela dar ênfase na última palavra ‘nunca poderia imaginar que o grande Kurosaki Ichigo fosse um cara… Sensível’ sorriu.

‘Que bom, por que eu também nunca imaginaria que a princesinha Kuchiki fosse tão comilona’ agora foi a vez dele de soltar uma risada leve.

‘Comida é meu ponto fraco, agora você já sabe. Mas não conta pra ninguém, isso fica entre nós dois’ deu uma piscadela.

‘Prometo não chantageá-la… Muito’.

Rukia virou-se para olhar a porta de casa mais uma vez e decidiu que já era hora de deixá-lo partir, mesmo que pudessem continuar conversando por uma eternidade se fosse possível. Para o seu espanto, gostou mais do que deveria do jogador. Apesar da aparência intimidadora, mostrou-se um verdadeiro companheiro no sentido real da palavra. Conseguia se ver saindo mais vezes com ele, romanticamente ou não.

Mas isso seria apressar as coisas.

‘Obrigada pela noite, Ichigo… De verdade, fazia muito tempo que eu não me divertia assim’ aproximou-se um pouco do ruivo ‘espero que possamos fazer isso mais vezes, temos que variar nas fantasias’.

Obrigado, obrigado, obrigado!

Era tudo o que Ichigo conseguia pensar ao ouvir tais palavras. Ainda não acreditava na noite incrível que passara ao lado dela, sua musa de adolescência (bem piegas mesmo por que né?), aquela que o olhava de forma encantadora, como se ele fosse realmente uma pessoa interessante.

‘E nós vamos, branquinha’ murmurou e antes que pudesse se arrepender, Ichigo inclinou-se para colar seus lábios demoradamente no cantinho da boca rosada dela.

Poderia sim tê-la beijado da maneira como queria a noite toda, apertar o corpo esguio dela ao seu, afundar as mãos nos cabelos negros e bagunçá-los, deixá-la com a respiração ofegante e continuar até ambos terminarem deitados na cama ou mesmo no chão da sala, desprovidos de qualquer roupa ou fantasia.

Poderia e queria muito, era inegável.

Mas Kurosaki Ichigo não dava ponto sem nó.

Estava mais do que óbvio a atração que o ruivo sentia por Rukia, chegava a ser palpável quase. E ela tinha conhecimento deste fato. Diferente dele, que não sabia ao certo se sua branquinha estava ou não tão interessada nele.

Insegurança? Sim.

Rukia poderia ter qualquer homem ao seus pés sem nenhum esforço, e isso lhe preocupava. Sabia que não era dessas mulheres que se divertiam cada noite com um alguém diferente, não que a julgasse se o fizesse, mas a pequena herdeira parecia ser mais tranquila ao que se dizia respeito a relacionamentos. Tranquila até demais.

Apenas queria algum tipo de confirmação de que ele, Ichigo, poderia de alguma maneira arrancar qualquer reação inesperada por parte dela e não aquelas emoções calculadas típicas de um Kuchiki.

Se a face extremamente enrubescida e respiração descompassada de Rukia eram os sinais que ele precisava, então agora ele já tinha a confirmação que buscava.

Kuchiki Rukia talvez estivesse interessada nele também.

 

Continua...

 

*Espero que as feministas não se chateiem com a frase e entendam a ironia do diálogo, pois é do ponto de vista de um homem (em sua maioria, qualquer comentário mínimo sobre um ato/fala machista, para eles parece ser algo 'extremista' quando apontado, feministas e radfems são vertentes diferentes, e no caso, a Rukia é feminista na minha fic rs)


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