‘Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal, e estará sujeita a cobrança...

Era a terceira vez que tentava ligar para Kaien naquele dia, e nada dele atender o celular. Queria muito lhe contar que havia conseguido terminar a música que tentavam compor há semanas, tinha até criado a melodia, tão inspirada que estava.

Queria muito vê-lo também.

Desde a morte de sua mãe, dois meses atrás, as visitas de Kaien eram irregulares e em horários confusos. Às vezes aparecia a tarde, outras de madrugada... Sempre fazia o que tinha que fazer e ia embora logo em seguida, sem olhar para trás.

Rukia não lembrava quando fora a última vez em que sentaram juntos para compor ou cantar músicas que colecionaram durante anos, sem pretensão, sem nenhum outro sentimento que não fosse amor. Era o passatempo preferido deles... Pelo menos era o que ela achava.

Doía, não ia mentir pra si mesma.

A primeira vez que apareceu em sua janela após a morte da matriarca dos Shiba, duas semanas depois, Kaien não disse muita coisa. Era no meio da noite, quando Byakuya não conseguiria colocá-lo para fora. Ao som de raios, trovões, gotas respingando na janela, ele sussurrava:

‘Preciso de você, Rukia’ dizia, várias e várias vezes enquanto se aproximava da cama dela, vagarosamente. Segurou o rosto delicado da pequena e continuou murmurando coisas incompreensíveis, mas que por algum motivo, despedaçaram o coração da pobre Kuchiki.

Deixou que ele a beijasse, sofregamente, um beijo mais ardente que o outro. Deixou que ele desabotoasse o primeiro botão de seu pijama, revelando uma boa parcela de pele alva que exclamava para ser tocada. Deixou que ele se deitasse na cama por cima dela, sem camiseta, pronto para livrar-se das calças.

Deixou que ele demonstrasse o amor que sentia por ela, da forma carnal e mais intensa como Rukia nunca tinha sentido antes.

Quando acabou, os beijos ardentes tornaram-se frios, distantes. Vestiu-se sem murmurar uma palavra sequer, deixando a tempestade que caia lá fora os envolvesse.

‘Até mais’ foi o que Kaien disse ao ir embora, sem olhá-la.

Se o tivesse feito, teria visto as lágrimas escaparem dos orbes cristalinos. Se o tivesse feito, teria a confirmação de que Kuchiki Rukia estava desolada, sem entender muito bem o que havia se passado.

E essa rotina tomou conta do relacionamento deles, quando Kaien aparecia, quase não trocavam palavras.

E mesmo assim ela sentia-se feliz por pelo menos ser a pessoa que ele precisava.

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Era a milésima troca de roupa, e para sorte de Rukia, a penúltima também.

Quer dizer... Se é que ficar seminua com o jogador de ouro do Kashima Antlers, igualmente despido, fosse algo para ser chamado de sorte.

Definitivamente sim, mil vezes sim.

Após ter concordado em participar da campanha ao lado de Kurosaki, a pequena não teve muito tempo para pensar em mudar de ideia. Fora tudo tão rápido, desde a maquiagem, ao cabelo e às roupas. Quando deu por si, já estava ao lado do ruivo para começarem a sessão.

A todo o momento evitava manter qualquer tipo de contato visual com o jogador, que parecia provocá-la propositalmente. Não era de falar muito ou de sorrir, apenas gostava de encará-la de uma maneira diferente. Sentia-se intimidada com aquela intensidade que emanava de Ichigo, mas não sabia explicar o motivo.

Mesmo com a música ambiente ao fundo, e com a quantidade absurda de pessoas ali presente, incluindo um Shuuhei extremamente possessivo, de certa forma parecia que estavam sozinhos naquela casa. Ele a fazia se sentir assim, como se fosse a coisa mais importante naquele momento.

E Rukia estranhamente gostou.

‘Ajam naturalmente’ pediu o fotógrafo no início do ensaio ‘Kurosaki, desfaz um pouco essa cara fechada e Kuchiki... Kuchiki está ótima, como sempre.’

Aos poucos a jovem conseguiu se soltar mais, assim como Ichigo. Apesar da carranca e do mau humor costumeiro do rapaz, as fotos estavam ficando ótimas. Davam-lhe um ar de bad boy que as mulheres a-do-ra-vam.

‘Agora preciso que façam a última troca de roupa’ informou Yoruichi ‘e essas últimas fotos são as mais importantes’ advertiu com um sorriso de canto.

Rukia não tinha entendido muito bem o porquê do sorriso, até lhe entregarem a última peça.

Oh-ooh.

‘Hm, Yoruichi-san... Acho que estão faltando o restante das roupas’ disse a Kuchiki, desconcertada ‘só me entregaram essa camisa branca e uma parte da lingerie…’

‘Não, está certo, é isso mesmo’ garantiu a agente de Ichigo, este que também deveria estar se trocando.

Engolindo seco, Rukia observava as peças que segurava enquanto tentava processar tal informação. A camisa branca masculina, propositalmente maior, cobriria praticamente todo o seu corpo.

O que era algo excelente.

Se não fosse pelo fato de ter que usar somente uma calcinha preta com o logo da marca, minúscula por sinal. Até aí, aceitável para ela também.

O problema, contudo, estava na ausência do sutiã.

O que implicaria na possibilidade de ter seus seios, seus adorados e pequeninos seios, mirados por um par de olhos cor de âmbar sem pudor algum.

Era agora que ela podia se matar?

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Sentado em sua enorme cama king size, o atacante mostrava-se impaciente com a demora com que seu adorado par levava para se trocar. Ele já estava pronto há muito tempo, e se tinha algo que Kurosaki Ichigo odiava na vida era ter que esperar. Mesmo que estivesse esperando por Rukia.

Só de pensar nela seu humor melhorava consideravelmente, fazendo-o lembrar de como era cativante as maçãs do rosto fino quando corados. Gostava de pensar que ele era a causa daquela postura acanhada, aquilo lhe dava confiança de que Kuchiki Rukia não era uma mulher intocável como pensou que fosse durante todos esses anos.

Ou como Shuuhei o fizera acreditar que era. Seu amigo de infância sempre soube que ele, Ichigo, havia desenvolvido uma espécie de paixão platônica por Rukia desde a primeira campanha em que ela participou para a Adidas. Não que tivesse admitido algo desse tipo para alguém, nem precisava. Não era segredo algum o quanto admirava seu trabalho, que não se limitava a ser fotografada para grifes internacionais ou aproveitar a vida cheio de mimos, como uma das herdeiras das corporações Kuchiki.

Ela era muito mais do que a mídia poderia pensar em reportar.

Uma vez, Yoruichi comentou sem querer que a pequena recusava-se a aceitar os cachês milionários que recebia por cada trabalho realizado, pois preferia que fossem todos destinados às causas sociais pelas quais acreditava e apoiava. Tudo em sigilo absoluto, exigido nos contratos.

Desde então passou a admirá-la ainda mais. E apesar de Shuuhei saber de seu interesse por Rukia, o mesmo nunca o deixou se aproximar dela. Dizia que sua pequena encontrava-se ‘indisponível’ para qualquer tipo de relacionamento, nem mesmo amizades eram bem vindas. Ichigo, por sua vez, preferiu respeitar o desejo do amigo de manter-se afastado, afinal era somente mais uma paixãozinha adolescente, certo?

‘Ichigo’ ouviu Hisagi chamá-lo, tirando-o de seus devaneios ‘Eu sei que agora não é o momento ideal para falar sobre isso, mas... Cara, se você fizer alguma coisa com minha pequena, eu-’

‘Porra, de novo isso?’ bufou o jogador, impaciente ‘Eu sei, eu sei, você já me disse isso mil vezes. Relaxa, não vou fazer nada’ garantiu ele, que se encontrava deitado em sua cama king size.

‘Só que agora é diferente…’ murmurou Shuuhei, andando de um lado para o outro no quarto de Ichigo ‘Aconteça o que acontecer daqui a pouco, só quero que me dê sua palavra de que não vai se aproveitar dessa situação para tentar alguma coisa com ela.’

Ahn?

‘Do que você tá falando?’ perguntou um Ichigo desentendido ‘como assim se-’

Não conseguiu terminar de falar.

Não depois de vê-la entrar em seu quarto usando nada mais que uma camisa branca social, a qual lhe cobria até mais ou menos a altura das coxas torneadas, e uma peça minúscula preta conhecida como ‘calcinha’. O detalhe, porém, estava na parte de cima, onde supostamente deveria haver um sutiã para segurar os pequenos seios de Rukia. E ao invés disso... Não existia nada.

Nada que pudesse impedir sua mente de imaginar diversas-

‘Ichigo, eu quero a sua palavra... Agora’ demandou o amigo, aflito ao ver o olhar que o ruivo depositava na imagem delicada de Rukia ‘Ichigooooooo-’

‘TÁ BOM!’ praticamente gritou, atraindo a atenção de todos, inclusive dela ‘Ótimo, era tudo o que eu precisava nesse momento’ uma Kuchiki olhando-o assustada vestida daquela maneira.

Shuuhei apenas suspirou aliviado, para depois abrir um sorriso ao ver o amigo travando uma batalha interna consigo mesmo. Conhecia Ichigo desde que se entendia por gente, suas mães eram melhores amigas e por isso cresceram juntos como se fossem irmãos. Apesar do ruivo conseguir mascarar muito bem suas emoções e sentimentos, sabia que a situação não estava sendo uma das mais fáceis.

Nunca o apresentou a Rukia por motivos óbvios, também era apaixonado por ela. E quem não seria? Foi no colegial que a conheceu, toda tímida, porém carismática do seu jeito. Amor à primeira vista, para ser sincero... E sinceramente falando, desde o início soube que não teria chances com ela, por isso preferiu não prolongar seu sofrimento.

Rukia sempre teve olhos para um único homem, que não era ele.

‘Pessoal, já que os dois estão aqui, podemos começar!’ exclamou o fotógrafo animado ‘Kurosaki, você pode permanecer aí na cama mesmo e Kuchiki pode se juntar a ele’ pediu.

A morena assentiu, ainda que envergonhada, e direcionou-se até a cama sem olhá-lo. Sabia que ele não vestia nada além de uma calça jeans preta que o apertava nos lugares certos. Sabia também o quão confortável estava em sua cama enorme, sem se importar com o fato de estar exibindo seus músculos definidos e invejáveis para qualquer um olhar e contemplar.

Inclusive ela.

Não que nunca tivesse visto um homem sem a parte de cima, por favor. Mas também não era todo dia que tinha a oportunidade de ver um atleta sem a parte de cima. Ainda mais um jogador considerado o melhor em atividade na Ásia.

Ichigo permanecia imóvel em sua posição, e estranhamente não a encarava da maneira que o fazia momentos atrás.

Isso era ótimo, não?

‘Kuchiki-san, não tenha medo de se aproximar, garanto que o Kurosaki não morde’ pediu novamente o fotógrafo ‘As fotos serão um pouco mais... Sensuais, por isso preciso que vocês fiquem o mais próximo possível.’

De novo, ela assentiu. Começou a engatinhar até o ruivo, que ainda não a olhava por nada. Não sabia muito bem o que fazer, falar ou como de fato, ser sensual. Seus trabalhos anteriores eram voltados para algo mais artístico, dificilmente contracenava com homens. Poderia dizer que aquela era sua primeira campanha explícitamente explícita. Sentia-se uma novata.

E ela não fazia a menor ideia de como proceder com aquilo.

‘Rukia…’ ouviu a voz rouca de Ichigo se pronunciar num sussurro, arrepiando-lhe todo o corpo ‘Você confia em mim?’ pousou seus olhos caramelos sobre ela, pela primeira vez desde havia retornado da troca de roupas.

Mal ela fazia ideia...

‘Ahn’ engoliu seco, tentando não desviar o olhar ‘Acho que sim’ o que não era mentira, para sua própria surpresa. Algo nele transpirava um certo tipo de segurança que há tempos não sentia.

‘Então não faça nada, apenas siga minhas orientações, ok?’ envolveu a mãozinha dela, trêmula, na sua para assegurar-lhe que estava tudo bem ‘Prometo que não vou olhar nada’ garantiu, tranquilizando-a.

Ao assentir, Rukia sentiu seu corpo ser puxado inesperadamente para cima do jogador, que não tirava seus olhos dela por um segundo sequer. A respiração passou a ser ofegante tamanho o constrangimento da Kuchiki.

Click

‘Relaxa’ sussurrou, passando as mãos na cintura dela e apertando-a o suficiente para arrancar-lhe um suspiro ‘Feche os olhos e não pense em nada, somente tente sentir minhas mãos.’

Click

‘Agora é a sua vez de usar as mãos’ aquilo era um desafio? ‘Explore o que sentir vontade’ encorajou-a.

Timidamente, as mãozinhas passaram a deslizar pelo torso do ruivo sem pressa, que em contrapartida segurava-se ao máximo para não acordar certas partes de seu corpo.

Click

‘Coloque suas pernas em volta do meu quadril’ disse ele, cada vez mais contente com aquela situação ‘E aproxime seu rosto como se fosse me beijar’ posicionou suas mãos nas coxas de Rukia, próximas ao seu bumbum.

Extremamente enrubescida, Rukia seguiu as orientações do ruivo. Ao envolvê-lo com suas pernas, sentiu algo diferente entre elas. Não precisava perguntar do que se tratava, só pelo pequeno gemido emitido pelo jogador tinha uma ideia do que poderia ser.

Click

Ao se inclinar para aproximar-se do rosto perfeito de Ichigo, Rukia sentiu a camisa escorregar, revelando uma parte de seu ombro delicado para o fotógrafo. Já para o ruivo, que estava por baixo dela, tinha uma bela visão de seu corpinho frágil e gracioso, fazendo-a corar violentamente.

‘Eu prometi que não ia olhar, não foi?’ tentava acalmá-la, não desviando o olhar da face envergonhada da pequena ‘Eu cumpro minhas promessas, fique calma’ sussurrou ‘Aproxime mais o seu rosto.’

Engolindo seco, Rukia foi aproximando-se mais, e mais, e mais, até seus rostos estarem completamente juntos. Ao encostar sua testa sobre a dele, não pôde deixar de notar o quão hipnotizantes eram as orbes âmbares, as quais emanavam desejo e carinho. Não como não se sentir completamente envolvida por eles.

Click

‘Rukia…’ levou uma de suas mãos até a nuca dela, provocando-lhe sensações esquisitas, enquanto a outra permanecia estática em sua perna ‘Quando eu disser ‘agora’, você olha pra câmera, ok?’ ela concordou, sentindo seu rosto ser puxado para que suas bocas quase se tocassem.

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‘Agora’ murmurou, roçando seus lábios levemente nos dela, tão macios. Sem pensar duas vezes, Rukia direcionou seus orbes violetas para a câmera enquanto mantinha-se naquela posição agradável.

Click

‘YESSSS! ÓTIMO! MARAVILHOSOS!’ exclamava o fotógrafo, visivelmente empolgado ‘Acho que já temos a foto perfeita! Parabéns Kuchiki, Kurosaki, vocês... Não tenho nem palavras!’

Na verdade, ninguém ali tinha palavras ou condições para descrever o que acabaram de presenciar. Principalmente os dois, que por um breve momento se esqueceram da quantidade de olhos que os estavam assistindo.

E ao ouvir os gritos eufóricos por parte do fotógrafo, ambos sentiram-se constrangidos pela posição em que encontravam. Pouco a pouco as pessoas começaram a se retirar para lhes dar privacidade, até restarem somente os dois no quarto do atacante.

Ichigo manteve sua promessa e colocou o antebraço por cima dos olhos enquanto esperava uma Rukia envergonhada abotoar a camisa e sair de cima dele, como se nada tivesse acontecido.

Mas tinha acontecido, ele só não sabia como agir.

Novidade.

‘Hm…’ a voz grave de Rukia foi a primeira a cortar o silêncio ‘Acho que vou indo então’ disse ela de costas, sentada na borda de sua cama.

‘Ok…’ sério mesmo Ichigo? ‘E obrigado por fazer as fotografias’ murmurou desconcertado.

Rukia apenas assentiu e levantou-se da cama em direção a porta, afastando-se cada vez mais do alcance do ruivo. Mas o que ele poderia fazer? Trancá-la ali, como uma prisioneira?

Não, obrigado.

‘Ichigo’ ouviu novamente a voz de Rukia ecoar pelo quarto e logo levantou o rosto para poder fitá-la ‘Se estiver de bobeira hoje a noite, Shuuhei e uns amigos vão fazer uma reuniãozinha lá em casa... Quer dizer, é claro que você não vai estar de bobeira, aliás, esquece-’

‘Não, eu não vou fazer nada’ assegurou-lhe prontamente, e viu o semblante nervoso da pequena se desfazer ‘Mas eu posso dar uma passada.’

‘Ok... Então até mais tarde, Ichigo’ sorriu de canto e acenou, retirando-se logo em seguida.

Seria aquilo um sonho?

//////////////////////

‘Aquilo foi... Byakuya vai ter uma síncope quando ver aquelas fotos’ comentou Shuuhei divertidamente, enquanto pegava uma garrafa de cerveja da geladeira.

Rukia apenas o reprovou com o olhar, mas não adiantou muita coisa.

‘Como assim? Que fotos Kia?’ perguntou Orihime, que havia entrado na cozinha atrás de uma bebida ‘E por que Kuchiki-san teria uma síncope?

‘O Bya-kun teve uma síncope? Como assim, o que aconteceu?’ exclamou Rangiku, que acabara de sair do banheiro e estava totalmente perdida na conversa.

Sério?

‘Não aconteceu nada com o Nii-sama, fica tranquila Ran’ tentou a morena se explicar ‘É só esse bobo do Shuu que fala demais’ deu um soco no braço do amigo, que pareceu nem sentir.

‘Tudo bem Ruks, deixa que eu explico pra elas’ se ofereceu o jovem empresário ‘Hoje ela participou de uma sessão de fotos para a Calvin Klein—’

‘O QUE? QUANDO?’ gritaram as ruivas ao mesmo tempo, para a agonia de Shuuhei e Rukia ‘Kia, estamos tão feliz por você!’ antes que pudessem abraçar a amiga, foram interrompidas.

‘E adivinha quem é que vai estrelar essa campanha junto com ela?’

‘Shuu, por favor... Não é como se ele fosse o Beckham’ murmurou a pequena envergonhada, tapando os olhos, pois não queria ver a reação das amigas quando descobrissem de quem se tratava.

‘Pera... Beckham... É algum jogador?’ deduziu Rangiku, sagaz como sempre.

Rukia assentiu, ainda se escondendo.

‘Isso tá ficando interessante’ riu Shuuhei, bebendo um gole de sua cerveja.

‘Não conheço muitos jogadores’ disse Orihime pensativa ‘Acho que só conheço o Kurosaki-kun mesmo…’

Kurosaki-kun? Como assim Kurosaki-kun? Orihime o conhecia também? Todo mundo o conhecia menos ela?

‘Kia, me diz pelo amor de Deus’ suplicou Matsumoto ‘Era O Kurosaki Ichigo?’

Não teve outra opção se não acenar com a cabeça timidamente, esperando pela reação que estava por vir.

‘AHHHHHHH!’ gritaram as amigas novamente, mas dessa vez parecia mais agudo ‘Isso é verdade Kia? Você e o delícia do Kurosaki juntos?’ Matsumoto começou a se abanar ‘Já fico até com calor só de pensar nas fotos.’

‘E como o Kurosaki-kun é?’ perguntou Orihime com os olhos brilhando ‘Digo, eu só vi na televisão, mas os músculos... São de verdade?’

‘Obrigada Shuuhei, muito obrigada’ Rukia o agradeceu ironicamente, ignorando as amigas ‘Eu realmente precisava disso nesse momento.’

‘Relaxa Ruks, aqui’ entregou-lhe uma cerveja ‘Agora, falando sério... Ele te deixou excita-’

‘Sai daqui agora, Hisagi Shuuhei’ empurrou-o para fora da cozinha ‘Se voltar eu juro que corto o que é mais precioso no seu corpo’ ameaçou, completamente envergonhada.

‘Ok, ok, tô saindo’ se rendeu e foi em direção a sala, onde Uryuu, Tatsuki e Renji conversavam animadamente sobre algum jogo de futebol.

Respirando fundo, a pequena tentou acalmar os ânimos exaltados. Shuuhei e suas brincadeiras estúpidas, poderia muito bem ter ido dormir sem ouvir aquela frase ridícula.

Ridícula, porém verdadeira... Não?

‘Kia, conte tudo pra gente’ pediu Rangiku ‘e não pense em deixar os detalhes de fora’ advertiu.

‘Ok, eu me rendo... O que vocês querem saber?’

‘Tudo!’ foi a vez de Orihime falar ‘Quando foi que vocês-’

Ding

Para a felicidade de Rukia, a campainha interrompeu as tagarelices daquelas duas.

‘Não pense que vai escapar dessa, Kuchiki!’ alertou Matsumoto.

‘Aye, aye’ ela já nem escutava mais o que estavam falando, concentrada somente em chegar até a porta e escapar daquele interrogatório, no mínimo, irritante.

Irritante pois não saberia o que responder.

Não saberia ou não queria?

‘Maldito Kurosaki’ pensou incomodada, procurando por suas chaves. O que tinha de tão especial nesse cara, afinal? Só mencionar seu nome e suspiros poderiam ser ouvidos em qualquer lugar. Ele era apenas um jogador de futebol, grande coisa.

Apenas O melhor jogador de futebol em atividade na Ásia, baby.

De novo, grande coisa. Não é como se isso a fizesse gostar mais de seus maravilhosos olhos caramelos, nem do cenho franzido quando estava impaciente. Muito menos da sensação incomum nas pontas dos dedos quando em contato com a pele levemente bronzeada dele, e suas pequenas cicatrizes ao longo do torso.

Nada de especial. Não mesmo.

‘Deixa de ser idiota Rukia e abre logo essa porta’ disse para si mesma, puxando a enorme placa de madeira para dar passagem à nova visita.

Só não esperava que a pessoa do outro lado da porta fosse o responsável por todo aquele constrangimento: Kurosaki Ichigo.

‘Yo, Rukia.’

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Soltou um longo e aliviado suspiro quando o último staff saiu de sua casa, por volta das 20h00. Estava tão exausto que nem percebeu quando havia caído no sono. Os acontecimentos daquele dia exigiram um esforço sobrenatural por parte dele, ainda mais porque impulsivo e Kurosaki Ichigo andavam juntos na mesma frase.

Em seu sonho, realizava tudo o que queria ter feito e um pouco mais com Rukia, já que pessoalmente não pôde fazer nada além de tocá-la... O que já era muita coisa, considerando-se o fato da pequena ser uma pessoa bem reservada.

No momento em que despertou já passavam das 23h00, estava atrasado. Tomou um banho rápido e colocou a primeira roupa que achou no armário, uma calça marrom clara e um suéter acinzentado com tênis branco.

Pegou as chaves de seu carro, um Maserati preto, e colocou Kon dentro dele. Digitou o endereço que Shuuhei havia lhe passado por mensagem no GPS e partiu em direção à casa de sua pequena. Tinha uma surpresa pra ela.

Após alguns minutos chegou ao seu destino final, estacionando o carro em frente à casa de Rukia. Pegou Kon e juntos andaram até a porta de entrada, tocando a campainha.

‘Será que já tá muito tarde?’ pensou o ruivo, olhando o movimento das casas ao lado. Todas se encontravam em um silêncio agradável, e talvez por isso Ichigo entendera o por que dela ter escolhido um lugar não convencional para uma herdeira Kuchiki. Simples, aconchegante e elegante.

Ao ouvir o barulho das chaves Ichigo logo se recompôs, tentando ao máximo não transparecer o nervosismo que tomava conta de seu corpo.

‘Yo, Rukia’ disse ele assim que a porta se abriu, revelando a face surpresa de Rukia, que segurava uma long neck em uma das mãos.

Não pôde deixar de notar o quão confortável parecia estar naquela blusa larga e comprida de mangas longas azul marinho, cobrindo boa parte de suas pernas esguias. Não pôde deixar de notar também nos pés, pequenos e delicados, descalços, acentuando ainda mais sua meiguice.

‘Ah, Ichigo... Kon!’ quase que imediatamente abaixou-se para acariciar o cachorro, o qual se mostrava contente em vê-la de novo, tamanha intensidade com que abanava o rabinho ‘Como você tá, fofinho?’

‘Esse preguiçoso tava dormindo até agora’ comentou, apesar dele ter feito a mesma coisa, mas isso ela não precisava saber.

‘Que espécie de dono é esse que não te deixa dormir, Kon?’ em resposta, o animal começou a lambê-la, arrancando pequenos risos de ambos ‘Vem, vamos entrar-’

‘Na verdade, eu nem vou entrar... Amanhã tenho treino logo cedo, e não posso demorar muito.’

‘Hm, entendo’ disse ela, tentando mascarar o que Ichigo acreditava ser decepção em seu semblante, enquanto se levantava para depois encostar-se no batente.

‘Eu vim aqui pra falar sobre outra coisa’ levou a mão na nuca, coçando-a ‘Queria agradecer por ter participado da campanha, Yoruichi praticamente te obrigou a fazer isso…’ riu envergonhado.

‘Sim’ Rukia também sorriu, lembrando-se da chantagem da agente dele ‘Mas tudo bem, foi legal voltar a modelar.’

‘Sobre isso, eu meio que sei sobre a sua política de não receber diretamente a grana das campanhas que participa-’

‘Como sabe sobre isso?’ questionou-o sobressaltada ‘Ninguém além de mim e do meu agente tem acesso a essa informação. Quem foi que te contou?’ demandou saber, franzindo o cenho.

Dica nº1: nunca dizer que sabe algum segredo de Kuchiki Rukia.

Efeitos colaterais: expressão fria, porém, olhar cheio de cólera.

‘Yoruichi deixou escapar sem querer’ logo emendou ‘Mas relaxa, nunca falei e nem vou falar para ninguém, sei que você tem seus motivos para querer manter isso em sigilo e respeito sua decisão.’

‘Sim’ amoleceu um pouco o semblante, contudo mantinha-se desconfiada ‘Só não sei aonde quer chegar com essa conversa.’

‘Eu só queria poder te agradecer, sem ser monetariamente’ ergueu um dos braços que segurava a guia de Kon em direção à ela ‘Como tinha dito antes, estava procurando algum dono aceitável pra cuidar do Kon... E acho que você seria a pessoa certa pra isso. Esse é o meu jeito de agradecer.’

Viu como a boca de Rukia abrira e fechara diversas vezes, tentando compreender o que acabara de ouvir. Apesar do choque inicial, a morena rapidamente abriu um sorriso encantador ao praticamente arrancar a guia das mãos calorosas de Ichigo, tocando-a brevemente para a alegria do ruivo.

‘Eu nem sei o que dizer’ abaixou-se novamente para abraçar o cãozinho, que parecia entusiasmado.

‘Não precisa dizer nada, apenas cuide bem desse preguiçoso’ afagou demoradamente a cabeça de Kon, despedindo-se do companheiro de algumas semanas. Rukia assentiu, ainda abobada com a surpresa.

‘Eu já vou indo’ afastou-se alguns passos para trás, olhando fixamente para os orbes cor de malva que tanto adorava ‘A gente se vê por aí, Rukia…’

‘Até mais, Ichigo’ acenou com um sorriso de canto.

Sorriso este que Ichigo se lembraria  sempre, principalmente por ter sido o causador dele.

Continua...