O Ar Que Ela Respira escrita por Alyssa


Capítulo 2
Primeiro ou Sarau


Notas iniciais do capítulo

Olá minha gente linda! Peço desculpa pela demora, isso já deveria ter saído há alguns meses. Em contrapartida, passei o dia escrevendo quando deveria estar a estudar para uma prova, o que significa que vou passar o dia de amanhã desesperando. Então não se esqueçam de comentar para fazer isso valer a pena ahah. Espero que gostem! ♥
[Capítulo ainda não foi revisado, vai ser assim que possível]



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No primeiro andar da casa Potter existia um amplo salão que apenas podia ser acedido pelas traseiras do terreno, através de uma escadaria marmórea que acabava num pequeno varandim. Por conta das imensas vidraças que cobriam as suas paredes, decoradas com rebordos de estilo renascentista, todo o seu interior permanecia a descoberto, apresentando-se na maioria do ano como uma sala limpa, vazia, e de um tom tão neutro que chegava a dar vertigens, mesmo que a cerejeira fizesse pairar uma sombra amena à sua entrada.

Era todo um cenário melancólico cujo objetivo parecia o de passar uma única mensagem: exteriores extravagantes por vezes escondem um interior demasiado oco. Não era incomum, então, isto gerar um olhar introspectivo e o desconforto era sempre certo.

Mas, nalgumas noites devidamente selecionadas, Ginny dava ordens enchendo o local de dourados, longos sofás e tanta bebida alcoólica que chegava, muita das vezes, a transbordar pelos copos trabalhados em cristal. E era nessas noites em que o barulho das conversas que se misturavam e a algazarra dos ânimos elevados enchiam tão fortemente o local que todos se esqueciam do seu prévio frio e vazio.

A ideia base desses eventos era simples mas sempre cheia de excessos. A principal inspiração seria a dos serões muggles que imperavam há uns séculos atrás, e logo os Saraus dos Potter tornaram-se os maiores eventos culturais do mundo bruxo. Afinal, Ginny odiava se conter e Harry odiava, ou sequer podia, conter Ginny.

E, naquela noite em específico, era tudo sobre o filho do meio do casal — Albus — na sua maior vitória. O Direito e a política eram caminhos muito almejados, todavia tão pouco frequentemente trabalhados. Ele, contudo, não se privara de nada — foram cinco anos sob a asa da tia Hermione, a atual ministra da magia, incontáveis sessões de estudo e de avaliação minuciosa dos procedimentos tomados após a Segunda Guerra Bruxa e que passou por toda a burocracia que levou à abolição dos Dementors como guardas em Azkaban, até que ele e o calado filho dos Malfoy encontraram o seu lugar como membros do Wizengamot.

Vinte e dois anos e já em tamanho cargo? Que começo de vida mais maravilhoso! Era quase certo que não havia história de sucesso que tivesse sido executada de modo mais perfeito, não fossem eles da casa de Salazar Slytherin. O próprio Wizengamot, sucessivamente envelhecido e menos recetivo a novidades, parecia satisfeito com a injeção de sangue novo e também com o entusiasmo juvenil que eles traziam, próprio de quem nunca tinha trabalhado antes.

Albus Severus era o filho prodígio dos Potter, pronto, era um facto. Durante toda a sua vida a função dele era superar as expectativas enquanto a de Lily era desapontar: não era algo que ela fazia ou que deixava de fazer, apenas não esperavam algo dela.

Lily estava perfeitamente ciente disso, obrigada, e por isso foram várias as vezes naquela noite em que esteve tentada a dirigir na direção oposta à casa dos pais, não estivesse o pequeno convite a pesar-lhe no bolso traseiro. Tinha chegado naquela mesma manhã, cedo demais na sua opinião, fadando-lhe a um dia inteiro de mau humor e ansiedade.

Não podia fingir que algo daquilo era novidade. Já faziam semanas que os pais falavam nisso e Lily até ajudou a escolher a decoração… Ainda assim, esperava que quando o dia finalmente chegasse, ela fosse conseguir escapar como vinha fazendo nos últimos anos. Não estava preparada para tanta insistência por causa de uma imitação de festa que eles nem sequer compreendiam.

Por outro lado, sabia que Ginny apenas queria a sua família reunida, e Lily era capaz de compreender isso.

Então ela vestiu o vestido mais brilhante que tinha, tão comprido que mesmo com os saltos tocava no chão e passou um batom vermelho escuro que raramente utilizava, para destacar dos tons pastéis e prateados que lhe envolviam. Deixou que lhe prendessem o cabelo num apanhado com largos cachos e, como a mulher independente que era, guiou o seu velho fusca azul para a casa dos pais.

Foi só quando adentrou o jardim que o som lhe chegou aos ouvidos: música, risos, copos e talheres batendo. O mundo começou a girar de repente e ela sentiu o sangue fugir-lhe das bochechas. Talvez se demasiasse ali ela poderia ir para casa, o que não seria mau de todo.

Respirou fundo. Ela era capaz de fazer aquilo. Concentrou-se a dar passos pequeninos, um na frente do outro, até finalmente adentrar o salão.

Que Deus perdoasse a sua mãe por arrastá-la para esses eventos porque ela certamente não se sentia capaz de fazê-lo. Ela odiava ali estar. Pareciam todos muito inquietos na sua presença, como se a qualquer momento ela os pudesse contaminar com a doença da não-magia, observando-lhe sem o menor pudor e contribuindo brutalmente para um estranho sentimento de claustrofobia e insegurança, imaginando que deveria ser o mesmo sentimento de um bichinho em exposição. Quiçá, um animal exótico que ninguém sabia verdadeiramente o que era, mas que não se cansavam de rir e dar palpites.

Havia copos com bebida logo na entrada e Lily serviu-se de um, despejando o líquido rapidamente. O sabor era rico e adocicado e ela apercebeu-se que seria fácil demais beber em excesso. Sentia-se um pouco mais confiante.

A última vez que aparecera num evento desses, James ainda não tinha partido para a Bulgária, onde estava a tirar a sua especialização em Dragonologia. Ouvia dizer com frequência que ele andava a tirar uma outra especialização, bem diferente, em mulheres e homens europeus e que era deveras difícil saber qual a sua maior paixão. Ela sorriu, sentindo falta do irmão. Sempre se sentia mais protegida quando James estava por perto. Ele adorava ser o centro das atenções e com o seu jeito excêntrico e explosivo era como se nunca houvesse espaço para notarem o aborto dos Potter. E, caso houvesse, James dava sempre um jeito neles.

— Lily.

Ela virou-se, baixando o segundo copo que levara aos lábios. Ela sempre seria capaz de reconhecer aquela voz, e Lily só se apercebeu o quanto sentia saudades dela quando sentiu braços envolverem-lhe.

— Mamãe. — respondeu, devolvendo o abraço. Só quando se afastou é que se apercebeu o quão deslumbrante ela estava. O seu vestido preto de veludo possuía mangas compridas, num toque extra de elegância, e era um contraste surpreendente com a cor dos seus cabelos. Não apenas isso, como ela também emanava confiança e força por cada poro e parecia completamente preparada para dar uma coça caso alguém ousasse sequer mexer com a sua maravilhosa flor. Será que ela se sentia desapontada por Lily não ter herdado o seu sentido de luta?

— Como estás meu bem?

— Linda — respondeu Harry, beijando-lhe o topo da cabeça. — Como todas as mulheres desta família.

Ginny sorriu.

— Estou ótima — Lily finalmente disse, mas logo resolveu acrescentar, — mas não vou ficar muito tempo.

— Lils…

— Eu estar aqui não muda o que sinto e muito menos o que sou. Estou aqui pela família, por Albus. — Sorriu zombateiramente — E estou aqui porque ameaçaste me cortar a mesada.

Ginny riu sonoramente, não parecendo se sentir culpada.

— Não é verdade. Marcel podia ter vindo, sabes.

É, Lily sabia, eles deixaram claro. O celular vibrou no interior da sua bolsa, e ela sabia que era Marcel. Já perdera conta de quantas vezes ele tentara lhe contactar naquela noite, mas ela continuava a evitar o aparelho. Ela também sentia necessidade de enviar-lhe uma mensagem, talvez dizer-lhe que pelo menos a bebida era de qualidade e que fazia intenção de continuar bebendo enquanto ele se preocupava miseravelmente com a sua condição psicológica. E, bem, ele devia. Porque por mais que Lily tentasse juntar os cacos, como prometera que faria, ela ainda se sentia irremediavelmente quebrada, ainda se sentia a abominação da noite, ainda sentia que algo importante demais lhe fora roubado, e não havia absolutamente nada que pudesse fazer. Nunca houvera. Lily apenas existia, e muito bem na maior parte do tempo, mas ali… Ali ela era apenas miserável. Ali ela era só perda, só dor. Ali, humilhação corroía-lhe o interior, como todas as vezes que estava rodeada de feiticeiros. E ela não queria transmitir essa imagem a Marcel. Ela queria apenas continuar sendo a bailarina furiosa e alegre que ele conhecia. Lily não queria Marcel ali porque era mais fácil separar as suas duas vidas.

— Sabes que prefiro que ele não venha. — admitiu. Percorreu o olhar pelo salão, finalmente percebendo que embora cheio, ainda havia muito espaço por onde circular, e Lily suspirou aliviada, o sentimento claustrofóbico diminuindo um pouco. Os pais haviam feito a sua parte, sabia. Eles sempre faziam. — Eu vou tentar encontrar o Al.

Eles trocaram olhares entre si.

— Lily, diverte-te. Não conduzas se beberes, preparamos algumas poções caso precises de ficar sóbria. — Hesitou, antes de acrescentar. — Ou podes ficar cá em casa, afinal tens o teu quarto.

Ela não respondeu, pois sabia que era lhe impossível aceitar qualquer uma das opções. Ela não queria. Afastou-se dos pais com um pequeno sorriso, finalmente deixando os olhos vagarem pelo local. Lily reconheceu algumas caras — família — e recusou educadamente os convites para chegar mais perto com pequenos gestos.

Não lhe ocorria ninguém que fosse para uma festa para estar se escondendo, mas ali estava ela, duas horas depois, parcialmente bêbeda e comendo que nem uma condenada enquanto rezava para que não fosse tudo parar à barriga.

Deveria estar verdadeiramente distraída, pois quando sentiu um encontrão no ombro, não forte, mas um leve e muito sutil toque, ela sobressaltou-se, demasiado assustada. Procurou em redor, temendo se ter metido num ambiente congestionado sem nem se ter apercebido…  Mas não estava.

— Mas que merda? — sussurrou entre dentes, lançando um olhar irado para a pessoa que havia acabado de a tocar.

Só ao ouvir o chiar irritado é que o rapaz olhou para trás. Possuía traços finos, o nariz longo e tudo nele puxava a palidez; a pele, os olhos acinzentados, o cabelo loiro a puxar o esbranquiçado. Tinha rugas a formarem-se na testa por franzir as sobrancelhas e Lily reparou no momento em que ele levantou os olhos de si para outro ponto atrás dela.

Ele era alto e mantinha os ombros muito eretos, o que lhe conferia um certo ar de superioridade que irritou Lily profundamente, por isso lhe virou as costas antes que ele tivesse a possibilidade de dizer alguma coisa.

E então, do nada, antes que pudesse sequer dar um passo, ali estava Albus, com um sorriso a brincar-lhe nos lábios.

— Reparei que já conheceste Scorpius.

— Malfoy? — disse, finalmente associando o rosto pálido à família. Não tinha muitas recordações dele, talvez as raras ocasiões em que acompanhara os irmãos a King’s Cross ou alguma visita no verão. Quando Lily voltou a olhar para trás, já não estava lá ninguém. — Tenho a certeza que se foi desinfetar agora.

Albus revirou os olhos.

— Ele é uma boa pessoa.

— E puro-sangue.

— Para alguém que não gosta de rótulos estás a colocar uns bem pesados, Lils.

Ela suspirou.

— Desculpa. — Trincou a língua, contudo não conseguiu evitar acrescentar: — Mas manda-lhe ter mais cuidado por onde anda para a próxima.

 Albus mandou-lhe um olhar aborrecido e Lily levantou as mãos em sinal de rendição.

— Não sei porque fico com saudades tuas. — afirmou irónico. — Fico muito feliz que tenhas vindo.

— E eu fico muito feliz por ti. Sei o quanto tens te esforçado para isso. É um feito deveras impressionante, uh? Um assento no Wizengamot. Há quem tente anos a fio e não consiga. Sempre foste o melhor.

— Mamãe subornou-te para dizeres isso?

— É possível.

Ele riu.

— Devias aparecer mais vezes cá em casa sabes?

— Tu também podias aparecer mais vezes. — Disse Lily, e deu de ombros. — Tilly faz anos na sexta e somos capazes de arranjar algo mais forte do que isso. — Afirmou, levantando o copo que tinha na mão.

Ele passou a mão pelos cabelos, nervoso.

— Não falo com Tilly há demasiado tempo. Não sou bom para ela.

Lily calou-se, sabendo que tinha um fundo de verdade. Não queria chamar Tilly para aquele mundo, quando sabia o quão doloroso podia ser e com certeza não queria vê-la com o coração partido pelo irmão. Albus estava comprometido com o trabalho e por mais que a amiga deixasse escapar umas dicas ocasionais sobre ele, provavelmente o melhor seria Lily não se envolver nisso.

Mudou de assunto.

— Não tens de ir ler uns versos ou algo do género?

— Já seria de se supor, não é? Merda de eventos culturais. — Resmungou ele, colocando as mãos nos bolsos das calças.

— James faz falta, não faz? — adicionou ela.

— Preferia quando era ele o centro das atenções.

Ela sorriu, partilhando o sentimento com o irmão. Eles eram muito parecidos nisso. Lily deixou se envolver pela música que preenchia o local, que era sutil e harmoniosa, sabendo que já tinha tido o suficiente pela noite.

Assim que atravessou as portas, o ar fresco raspou-lhe o rosto. Soube bem. Era um forte contraste com o bafo de lá de dentro e não carregava o odor carregado da bebida. Lá dentro era sufocante, cá fora era libertador.

Quando Lily finalmente deu partida no seu carro, sentiu um peso sair-lhe dos ombros e outro acumular-se no coração. Ela não sentira saudades de casa.


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Notas finais do capítulo

Wizengamot - Suprema Corte dos Bruxos, é parte da estrutura de governo do mundo mágico.

Não se esqueçam de comentar! Temos um montão de informação nesse capítulo... Marcel, Tilly, Scorpius, as reações de Lily... O que acham disto tudo? Admito que possa estar pesado, mas é até começar verdadeiramente a história.
Beijinhos e até mais um!



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