À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 2
Cores e notícias cinzas


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hallo hallo, povo! Como vão vocês nessa segunda pré feriado? Alguém aí quer um cap novo pra passar o tempo? Então vamos dar uma pequena volta ao passado e ver como Heitor conheceu essa (gótica/emo suave -q) que é menina Camila.
Boa leitura ;)



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Era começo da manhã, o dia seguinte após uma forte tempestade atingir a cidade. Eu e a equipe de reportagem estávamos no Jardim Nova Lima para fazer uma denúncia de uma ponte, muito mal construída pela prefeitura, e que caiu devido a força do rio, que subiu em consequência da chuva.

— Heitor, vamos entrar no ar em três, dois… — Fui avisado e comecei a me posicionar, com o microfone já na mão e a visão fixa na câmera. — Um…

Ouvi pelo ponto que estava em meu ouvido a voz do apresentador no estúdio.

— E vamos com Heitor Fragoso, para saber mais informações sobre o bairro Jardim Nova Lima — disse a voz do apresentador no meu ponto. Mantive o olhar na câmera. — Bom dia, Heitor, como está a situação por aí?

— Bom dia, Alvarenga. Como podem ver, a situação aqui no bairro é caótica. — O câmera mudou o foco da lente mais para o lado, para o rio. — A única ponte de acesso do bairro ao centro da cidade foi levada devido à força da água com a chuva de ontem. O nível do rio continua alto, porém, a prefeitura não deu o alerta para os moradores se retirarem do local — anunciei o fato, com uma expressão séria, tentando não demonstrar muitas emoções. Por dentro, eu achava isso revoltante. Um dos desafios de ser repórter era me mostrar impassível em meio a algumas situações que faziam minha empatia gritar. — Como vocês podem ver, os moradores improvisaram uma forma de atravessar o rio. — Comecei a andar em direção à ponte caída, junto do cinegrafista. — É uma situação bem precária. O cinegrafista está filmando mais à frente e é visível que a madeira usada pelos moradores é frágil.

— A prefeitura ainda não deu nenhum retorno sobre a situação, Heitor? — o apresentador questionou do estúdio. — Essa ponte improvisada parece estar a ponto de desabar a qualquer instante.

— Até o momento nenhum retorno, Alvarenga. — Apertei o ponto no ouvido, para poder ouvir melhor. Aquilo estava muito baixo. Coisas de reportagem ao vivo. — Vamos saber a opinião de alguns moradores sobre a situação.

Fiz sinal para um pequeno aglomerado de pessoas que estavam presentes ali. Curiosos, pessoas querendo apenas aparecer e ter seus segundos de fama ou reclamar da situação.

— Vou falar aqui com a dona Helena. — Fui mais para o lado e a senhora, já antiga no bairro, parou ao meu lado. Eu conversei com alguns moradores antes de entrar no ar, para me informar melhor sobre a situação. — A senhora me disse que vocês já tinham falado com a prefeitura sobre essa ponte, certo?

— Sim, a gente já foi lá pra reclamar várias vezes…

A senhora iniciou suas reclamações sobre a situação do bairro, negligenciado pela prefeitura.

A reportagem seguia e resolvi entrevistar mais alguns moradores, aproveitando que muitos estavam ali, para finalizar a transmissão. Uma moça de cabelos negros atravessou a ponte com dificuldade, por estar carregando o que pareciam ser quadros debaixo dos braços. Decidi aproveitar a oportunidade para entrevistá-la.

— Com licença, o que… — A moça se esquivou rapidamente da vista da câmera, andando num passo rápido. Talvez ela não quisesse aparecer na televisão. Nem todos gostam de serem entrevistados.

Decidi ignorar o fato e, para me ajudar, o cinegrafista começou a filmar mais da ponte improvisada.

— Ao que parece, a prefeitura apenas tentou “tapar um buraco” aqui no Jardim Nova Lima, em vez de dar-lhes uma solução. Até quando nossos cidadãos serão enganados com falsas promessas vindas de nossos governantes? — Iniciei uma fala tensa, olhando fixamente para a lente da câmera. — Voltaremos em breve ao bairro Jardim Nova Lima e veremos se a prefeitura substituirá a passarela por uma ponte digna. Heitor Fragoso para o Link Jucás. — Encarei a câmera, até que me foi dado o sinal e a reportagem declarada encerrada.

Suspirei, entregando o microfone para um dos meus colegas de equipe. Deveria esperá-los dar um jeito nos equipamentos, para então irmos embora. Parei, colocando as mãos na cintura e olhando ao redor. Era de certa forma irônico o contraste desse bairro, com as ruas de asfalto quebrado, uma ponte mal feita e casas simples, com a região onde eu morava atualmente, com casas de muros altos… Meus olhos pararam em uma figura sentada sob a sombra de uma marquise. Caminhei um pouco em sua direção e vi que estava ao lado de quadros. Aproximei-me ainda mais, curioso em vê-los.

Cheguei mais perto e vi uma moça sentada, com os joelhos erguidos e a visão fixa no chão, parecendo perdida em seus próprios pensamentos. Parei e comecei a observar sua arte. Os quadros eram de cores vibrantes, em sua maioria com o que parecia ser arte abstrata, misturando formas que eu não conseguia compreender, junto de uma profusão de cores. Um outro era uma mistura de todas as cores mais escuras da paleta.

— Esses quadros são seus? — perguntei para a moça, que continuou encarando o chão. — São pinturas muito interessantes…

Ela finalmente pareceu perceber a minha presença ali.

— Desculpe… — pediu em uma voz um pouco baixa. Finalmente ergueu o rosto para mim, com a pele pálida e parte do olho coberto por uma franja escura. Acho que já a vi antes… — Obrigada pelos elogios. Quer comprar um quadro?

— Não, não… — A morena pareceu murchar um pouco com minha resposta. — Eu achei interessante as suas pinturas e resolvi dar uma olhada. — Parei, cruzando os braços e observando os últimos quadros presentes. Fui seguindo o olhar para o lado, até parar na moça. — É um ponto bem incomum pra vender coisas do tipo, não acha? Digo…

— Não gosto muito da cidade. É muita… gente — comentou em um tom de desgosto e seu olhar escuro, marcado por um delineador pesado, cruzou com o meu por breves instantes. Até ela desviar rapidamente, parecendo interessada em uma das próprias pinturas.

— Talvez lá você tivesse mais oportunidades para…

— Heitor! — Ouvi Carlos, o responsável pela equipe de som da reportagem, me chamar. — 'Bora. A gente tem que gravar mais uma reportagem pra essa semana. — Fez um sinal em direção ao carro da produção e cumprimentou a jovem ao meu lado com um aceno de cabeça.

— Bem, até mais. — Ela assentiu com a cabeça, voltando a encarar o chão novamente. — Espero te encontrar de novo por aí. Quem sabe um desses seus quadros não fique bom na minha sala? Minha parede está muito vazia — confessei e ela deu um breve sorriso com minha sinceridade.

Despedi-me da moça misteriosa e fui embora em direção a van de reportagem.

Sai da loja com minha sacola de roupas, pronto para me dirigir ao meu carro, que estava estacionado algumas quadras mais à frente. No meio do caminho, resolvi aproveitar para observar as vitrines das lojas próximas.

Caminhei até chegar na praça, porém, não virei à esquerda, em direção ao meu carro. Havia algumas barracas de ambulantes e decidi dar uma olhada, em busca de algo barato e interessante. Apesar de estar numa condição financeira melhor, em comparação com alguns anos atrás, mantinha alguns hábitos. Eu gostava da vida mais simples, apesar de tudo.

Caminhava por entre as barracas, observando desde roupas a produtos como relógios. Até as barracas começarem a diminuir e eu resolver voltar. Quando vi alguém familiar sentada na pequena mureta que separava o concreto da grama.

Parei, observando os quadros. Havia alguns novos, porém, a maioria parecia ser os mesmos. Será que ela não conseguira vender nada no Jardim Nova Lima e resolveu mudar o ponto?

— Interessado em um quadro, senhor… Heitor? — Movi os olhos para a voz que falava comigo e vi a mesma jovem, com um breve sorriso a brincar-lhe nos lábios.

— Acho que estou ficando famoso, para ser reconhecido nas ruas — comentei, parando em frente a um dos quadros, de uma explosão de cores. Elas pareciam formar algo, que eu até então não conseguia decifrar o que era. Apesar de tudo, era interessante.

— Eu só assisto bastante os telejornais.

— Aí temos uma artista bem informada. Quanta custa esse quadro? — perguntei e ela respondeu-me o preço. — Sim, eu vou levá-lo. Preciso de um pouco mais de cores na minha sala, como te disse da última vez. — A moça sorriu e se levantou para dar um jeito no quadro. — Não se preocupe, eu levo assim mesmo. Meu carro está estacionado logo ali.

Dei o dinheiro a ela e esperei até que me devolvesse o troco.

— Espero que minha pintura traga um pouco mais de cor à sua casa — desejou-me em um tom simpático. Apesar de tímida, ao que parecia, ela tinha um sorriso simpático e uma voz doce, mesmo que baixa.

— Talvez eu volte para comprar mais algum quadro um dia desses. — Guardei o troco no bolso e passei os olhos, novamente, pelos quadros, pensando em qual deles ficaria bem nas paredes brancas da minha casa.

— Talvez eu faça quadros novos. — Dito isso, voltou a sentar-se na mureta, prendendo os dedos nas mangas do moletom escuro que usava.

— Sendo assim, acredito que você me verá mais vezes por aqui.

Com isso, ela sorriu. Essa foi uma das primeiras conversas com quem, mais tarde, se tornaria minha namorada. Camila, a moça sombria e misteriosa, sempre em volta das cores explosivas de suas pinturas.


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Notas finais do capítulo

Ester:
E assim surge um grande romance, de uma aprendiz de Pablo Picasso e um jovem Heitor (Bonner) -n
Por hoje é só, pessoal! Nos vemos na próxima segunda, nessa história que conquistou o coração sombrio de muita gente -q
Até lá o/

Entusiasta:
Conhecer um grande amor no ambiente de trabalho, nada mais natural!
E então, o que estão achando? A história ainda está sendo escrita, podem opinar :3 Nos vemos na próxima segunda! Infelizmente. Sempre quis postar mais capítulos, me sinto solitária quando não converso com as pessoas por comentários -q