Garoto dos Meus Sonhos escrita por gabis


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Eu podia não estar bem na hora em que esse capítulo foi escrito, então... Bom, foi divertido. Espero que gostem.



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Capítulo 24.

Durante os dois meses... e meio... seguintes, quase não nos falamos. Nos falávamos praticamente só pelo MSN. Claro que isso não impediu que Lippe me contasse do ‘brinquedinho’ que havia ganhado em seu aniversário: um carro.  Cerca de dois dias depois de ele ter me contado, Diego invadiu o MSN do irmão e me convidou pra uma espécie de festa de comemoração.

Quando chegou o dia da tal festa, eu ainda imaginava que era algo em família, ou entre amigos. Mal eu sabia que seria arrastada pra uma casa noturna. É, pois é.

O lugar estava lotado; a música era boa e até tinham pessoas interessantes. Mas é claro que minha ‘visão’ estava um tanto quanto embaçada por causa da presença de você-sabe-quem.

Curti a festa até cerca de 03:00h. Estava meio encostada no balcão, quando senti que alguém se arrastava atrás de mim.

_Oi... então... vê meus amigos? Eles me mandaram te perguntar se você quer ficar comigo...

Não quis acreditar quando meu cérebro uniu aquela voz arrastada e sem noção ao rosto do Felippe. Mas, quando me virei, não pude contestar. Era ele. E estava caindo, literalmente, de bêbado.

Me preparei pra xingá-lo da pior coisa que pudesse imaginar por estar há tão pouco na festa e já estar tão bêbado, mas assim que me virei, ele berrou:

_Oooopaa!!! É melhor do que eu pensavaaa!_Ele apontou pra mim e disse, ainda alto o bastante:_Babi! Eu não tinha te visto aquii!

O encarei, querendo acreditar que era apenas uma daquelas brincadeiras sem graça dele.

Me recusei a discutir e fiquei apenas o olhando. Achei que não poderia ficar pior e mais constrangedor, mas era o Felippe e ele estava bêbado... Conseguiu se superar. Começou a dançar totalmente fora do ritmo, com um dedo na boca e me chamado com o outro dedo.

_Lippe... Acho que você já bebeu demais. Vamos embora.

_Que? Eu nem bebi! Eu bebi só... Só assim, ó:_ Ele fez o sinal de 2 com a mão._Ou não foi só isso? É que o meu irmão me deu mais... uma, eu acho... Ou ele não deu? Eu não sei, não. Me ajuda, Babizinha. Quanto é assim..._ Ele fez de novo o sinal de 2_ mais assim:_ E fez o sinal de 3 com a outra mão. Antes que eu pudesse responder, ele baixou um dedo da mão que estava com 3 e levantou de novo, como se não tivesse certeza.

_São 5, Lippe. Ou 4...

_Aaah, você também nuum sabee! Ahaaa, espertiinha...

_É sério, para de beber.

_É sério, se quiser ficar comigo... estamos ae. Não é porque a gente já ficou que não podemos repetir... tipo, sem preconceito. Eeeu num me importo. Você é a namorada que não me ama mais, mas beleeeza, sem problema. To ae, de boa na lagoa... to na pista pra negócio, sacas?

_Hum... EX namorada.

_Aah éé... detaaalhe, detaalhe. Mas eaee, rola?

Ele levantou e abaixou as sobrancelhas algumas vezes. Uma careta muito sem noção, mas que mesmo assim não o deixava feio.

_Não, Felippe, não rola.

_Iiiih, então é quaaa... quaaa..drado, é?

_Aham.

_Aaah, então vamos dançaar!

E ele saiu dançando e tentando correr, tropeçando em tudo e esbarrando em todos. Como eu não ia andar atrás de um bêbado maior de idade, fiquei parada onde estava. Ou seja, o perdi de vista.

Cerca de uma hora depois, a música foi interrompida e um som agudo horrível tomou o lugar dela. Olhei pro palco a tempo de ver alguém arrancando o microfone da mão do DJ. Só podia ser um bêbado. Bêbado sempre é forte quando encasqueta com algo... Mas, sério. Tem que ser muito idiota pra fazer uma coisa dessas e... Calma aí... Eu conheço aquele idiota... Ah, não. O que ele vai aprontar agora?

_Atenção, nave mãe chamando; nave mãe chamando, nave m... mano, essa história de nave mãe é muito gay. Atenção, atenção! Senhoras e senhores, meninos e meninas, jovens e... enfim. Eu, euziinho aquii, quero cantar uma música. Quero que vocês olhem bem esse meu olhar verde e vejam que... que eu to sendo muito... muito... como é que se diz? Ah, muito sincero com relação ao que eu vou cantar. Porque o que eu vou cantar, fala de amor e... o que eu vou cantar? Ah, ta. Então... eu quero que vocês virem pra pessoa que ta do lado de vocês... aquela pessoa... especial, sabe? E digam: eu te amo, Babi. Digam isso pra pessoa que... Não, perae, isso eu que tenho que dizer. Eu te amo, viu Babi?

Tudo que eu fiz nesse momento foi baixar a cabeça e sair devagar entre as pessoas pra que ninguém me notasse. Pois é. Não deu certo.

_Babizinha, meeu amooooor, onde você ta indo? Eu ainda neem cantei!

O desgramado apontou pra mim lá de cima e aí TODO MUNDO me olhou. O que eu fiz? Abaixei a cabeça e quis abrir um buraco no chão.

Achei que ele desistiria de cantar, já que todos o encaravam, mas sua cara de pau era maior do que isso. Ele não ia desistir fácil assim. Aí ele começou a cantar. A música era bonita, mas sua voz arrastada ferrava tudo.

Olhei em volta, procurando por Diego. Por sorte, ele estava bem visível, na frente do palco, sacudindo as mãos no alto de um lado pro outro.

(http://www.youtube.com/watch?v=6PhvVk1QIoo - Vídeo da música, pra quem quiser acompanhar... XD)

_Pessoal, comiiigo! Eu teenho al-go a lhe diizeeer; eu teenho all-goo que voc...ê vai s...aber... Vamos lá, gente, mais alto!

(http://letras.terra.com.br/fused/1728102/ - Letra da música que o Lippe cantou)

Lippe berrou, praticamente, de cima do palco.

_Diego, pelo amor de Deus e pelo bem dessa gente e de nós mesmos. Tira. Ele. Lá. De cima!

_Eeeu não. Deiixa o menino ser felizz, po! Que você quer que eu faça? Que eu promova a nova banda? Eeeu não. Neem veem estragar a emoção do momento. Sente só...

E ele começou a cantar alto, sacudindo ainda mais os braços. Enquanto eu tentava convencê-lo, Lippe continuava pagando mico.

Desisti de mandar Diego resgatar o irmão e subi eu mesma no palco pra arrastá-lo lá de cima.

_Óóóó! Euu num falei quee ela me amavaa? Ta aí óó! Ela subiiu aqui!

_Felippe, desce daqui. AGORA.

_Falando assimm, com jeitiinho, eu atéé vou...

_Eu não to brincando, Lippe, desce! Você ta bêbado demais.

_Olha heein! Assimm eu gaamo!_Ele se virou de novo pras pessoas e disse: _Pessoaal, eu vou desceer um pouquinho ali, resolver uma coisinha, fazer uma coisa... Nãão, nada do que vocês pensaram... Enfiim, eu jáá voolto.

Tirei ele de cima do palco, finalmente, e tentei levá-lo até a saída. Foi difícil, já que ele tropeçava em tudo, inclusive nos próprios pés. Quando notou pra onde estávamos indo, parou, quase caiu e quase me levou junto. Mais irritada do que nunca, o olhei séria e ameacei:

_Um dia você vai ter que cuidar de um bêbado mais mala do que você, você vai me pedir ajuda e eu vou rir da sua cara. Seu grande... idiota! Você me paga, é sério!

_Babiziinha... Não se irriiite... Tudo isso... sabe pra que é? Pra tee enlouqueceer.

E ele fez a mesma dancinha ridícula do carinha do vídeo. Foi praticamente impossível não rir.

_Felippe, fica AQUI que eu vou pegar algo pra gente..._ E aí ele se sentou no chão, encostado na parede._Então, como eu ia dizendo, vou pegar algo pra gente beber.

Ele bateu palmas e me olhou animado.

_Obaa, maais cerveejaa!

_Não. Nem pensar.

_Maas se não foor cervejaa, eu...

Ele começou a se levantar, o dedo apontando pra qualquer lugar, mas caiu de novo no meio da frase. Virei as costas antes de ouvir o resto.

Comprei dois refrigerantes e voltei até onde ele estava. Sentei ao seu lado e entreguei o dele.

_Iisso aqui nuum é cerveeja não, moça... Iisso aquii faz maal, moça. Engooorda... Não que você seja gorda, mas isso engoorda... Ta tranquilo?

_Bebe isso logo, Felippe.

Foi só eu acabar de falar pro Diego aparecer com mais cerveja.

_Óóóó aíí! Ele é dos meeu! Ele é maano, ele nuum patifaa! Ele me trouxe maais cerveja!

_Eeu num trouxe pra ninguém! Essa é minhaa! Só minhaa!

_Quee nem a Babi? Que é sóó minhaa?

_Ela éé? Hum... Então devee ser que neem ela...

_Ei, ei. Eu fora, não sou de ninguém.

Os dois berraram ao mesmo tempo:

_Uuuiii!

Diego simplesmente virou as costas e saiu correndo que nem uma... uma... uma mula.

Lippe se virou e ficou me encarando. Fiquei meio perturbada com a proximidade, com o olhar dele... Ele suspirou e disse:

_Babizinha... Eu to maal...

_O que, como assim? O que você tem? Lippe, fala comigo!

Levantei correndo pra pegar uma água, ou qualquer coisa que pudesse ajudar, mas ele me puxou de volta e disse:

_Caalma, Babizinha... eu too mal de amooor... A mulheer que eu amoo, no casoo você... não me quer maais...

Preferi nem responder. Apenas sacudi a cabeça e permaneci sentada, pensando em como rebocar dois bêbados pra casa.

_Lippe, fica quietinho aí, não sai daí, que eu já volto. Não sai daí.

Fui até onde Diego estava e peguei com ele a chave da casa dos dois. Eu ia arrastar o Lippe pra casa antes que ele entrasse em coma alcoólico.

_Você vem também, Diego?

_Eeeu não. A festa mal começoou!

Revirei os olhos e virei as costas. Eu não tinha tempo pra discutir. Discutir com Diego naquele estado era apenas perda de tempo. Virei as costas a tempo de ouvir ele dizendo:

_Eu queroo é aprooveitaar a night!

Cheguei até onde tinha deixado Lippe e ele me olhou meio confuso.

_Ee o meuu manoo?

_Ficou ‘aproveitando a night’.

_Iiisso é uma iin...justiçaa! Se elee pode... Porque eeeuu não posso?

_Porque  você não tem condição nenhuma de ficar aqui, você tem que ir pra casa.

_Coomo ass...im euu não tenho condiição? Claaro que eu tenhoo!

_To vendo... ou melhor, ouvindo. Não consegue nem falar mais! Não quero nem te imaginar andando, agora que ta há um tempo sentado... Enfim. Levanta, eu vou te levar pra casa.

Ele levantou com uma certa dificuldade; teve que se segurar na parede e em mim pra conseguir levantar.

_Nóss vamoss com o meuu carroo?

_Claro que não. Nós vamos de táxi!

_Mass a chave do meu carroo tá... aqui..._Ele apalpou os bolsos da calça e me olhou com os olhos arregalados._Cadê a chave do meu carro? Ela tava aquiii, eu xuuro que taava! Euu sentii ela nãoo faz muito! Mas aí, agoora... puft, sumiu!

_Ela ainda deve ta aí, depois a gente procura. Vem, vamos embora.

_A gente procuraa, éé? Você vaii procurar noss meus bolsoos taambém?

_Deixa de ser idiota, Lippe. Vem!

No caminho até a saída, passamos por Diego outra vez. Ele parecia pior do que antes, mas nada estragava sua ‘felicidade’.

Já cansada e louca pra chegar em casa, fiquei entre chamar Diego e levá-lo pra casa e passar reto por ele e ir embora. Com um suspiro, mandei Lippe ficar no mesmo lugar, outra vez, e fui até Diego.

_Diego, tem certeza de que não quer ir embora?

_See eu tenhoo certeeza? Clarooo que euu tenhoo! A festa maal começou! Uhuu!

_Bem, você que sabe. Vou levar seu irmão; como eu disse pra ele antes, ele não tem condição de ficar mais aqui.

_Beelezinha!

_Diego, tem mesmo certeza? Você também não parece muito bem...

_Euu to ótimoo! See ele taa mal, é porquee ele é f...raco! Eeu sou f...orte; eeu não sou gêmeoo dele neem nadaa. Diga ao povo que fico! Entendeu? Eu fico!

Ele riu que nem um retardado da própria piada. Rolei os olhos e bufei. Voltei até onde Lippe estava e ele tinha voltado pro chão. Segurava um copo amassado e o encarava com a boca aberta.

_Quee horror... Comoo é quee pu...der...am fazerr algoo assim comm um copinho tãããão boniitinho?

Ele me olhou como uma criança que descobre que o passarinho de estimação fugiu.

_Caraa, aiinda davaa pra tomaar cervejaa aquii, saabia?

_Vem, Felippe.

_Siim senhora!

Ele tentou bater continência, mas acertou o dedo no olho. Ele tentou se fazer de vítima, mas eu o puxei pra cima e o fiz me acompanhar até a saída.

Estávamos passando pela porta. Óbvio que o estado em que Lippe se encontrava chamava a atenção de todos. Óbvio também que não deixaria de chamar a atenção dos seguranças. Um deles foi até simpático.

_A senhorita precisa de ajuda?

Mas é claro que o meu lindo ex namorado dificultaria as coisas.

_Quaalé que é, meermão! Ela é miiinhaa!_Ele bateu no peito e eu quis matá-lo._Sóó miinha!

O segurança segurou uma risada. Dei graças a Deus por ele estar, aparentemente, de bom humor e notar que Lippe era só mais um bêbado idiota e inofensivo.

_Deeu pra entenderr, meu chaapa? Lippe cambaleou até o homem, que era pelo menos 30cm mais alto que ele, e o encarou. O homem, que olhava na minha direção, virou o rosto pra ele. Lippe se intimidou e rapidamente mudou o tom._Tuudo beelezaa aí, amizaade? Sabe que... euu seempre acheei que vocêss, seguraanças, guaardas e afinss, palavra bonita essa, né? ‘Afins’... Enfim. Eeu sempree acheei quee vocêss fosseem de... de... daaquela cooisa que faaz velaa e derreetee no foogo... Cera! Issae. Seempree achei quee vocês foossem de cera!

O segurança rolou os olhos e eu, com o rosto completamente quente e vermelho, agarrei o braço de Felippe e o puxei.

_Vamos, seu estrupício!

_Estru... o que? Quee isso aí quee voocê me chaamou? É caarinhooso né, amor? Euu seii que éé!

O ignorei. Não valia a pena discutir. Ele nem ia lembrar disso quando acordasse. Fui até o ponto de táxi rebocando Lippe — ou ao menos tentando — e é claro que, ao entrar no carro, ele não podia deixar de dar o ar da graça.

_Boa noite._O taxista disse e esperou que respondêssemos, ou ao menos informássemos o endereço. Quando fui responder ao cumprimento, Lippe se meteu.

_Booa nooite pra queem? Eeu posso saaber? É pra miim, pra voocê, oou praa ela? Poorque... Se foor pra miim... Minha nooite nuum tá mais boa nãão... Ela me tirou lá de dentroo! Tava booa atéé ela mee tirar dee lá. See for praa você... quee boom, se a sua noite ta booa, quee bom, de coração. Parabéns, mano, de verrdaade. Agora, see for praa ela... Euu num seii se a nooite delaa tava booa... Sóó seei quee isso mee pareceeu uma caantada... E eeu queroo deiixar beeem claaro... Que ela é MINHAA!_Ele bateu outra vez no peito. Sacudi a cabeça, incrédula._Sóó miinha! Ela éé miinha e dee maiis ninguémm! Mess...moo!

_Olha, por favor, ignore ele. Ele está totalmente bêbado...

_Eeu nuum to bêbadoo! Eu sóó beebi aassim:_Ele fez o sinal de 3 com uma mão e de 2 com a outra._Eeu nuum to bêbaado, euu to apaixonadoo. Ee ela nãão mee quer maais!

_Cala a boca, Felippe. Enfim. Ele está bêbado e não sabe o que fala.

Informei o endereço da casa de Lippe e o motorista virou-se para frente outra vez, finalmente arrancando o carro. Permanecemos boa parte do caminho em silêncio. O motorista estava disposto a fazer o que eu tinha dito e Lippe parecia estar recobrando a lucidez. Ele olhava fixo para o encosto do banco do carona. Até que...

_Baabiiziinha... Vocêê me aama?

Ignorei.

_Heein Babiiziinha... mee amaa? Vaai, diiz que me amaa, Babiizinha!

Tentei continuar ignorando, mas ele perguntou mais 7 vezes. Como já estava irritada demais, resolvi dizer a ele o que ele queria ouvir e, de certa forma, o que eu ainda sentia.

_Ta bom, Felippe. Amo. Feliz agora?

_Aaagora simm...

E aí ele deitou a cabeça no meu ombro.

Achei que Lippe tinha dormido e me preocupei com isso, pois seria mais difícil se ele estivesse com sono na hora de descer. Mas aí ele voltou a falar.

_Baabiziinha... Iiisso signifiica... Quee nóss..._Ele apontou de mim pra ele e vice-versa algumas vezes; me encarou e então completou a pergunta... ou quase._Eu e você... você e eeu... A miinha pessooa e a suua... a suua pessoa...

_Que nós voltamos? Não, Lippe..._Infelizmente, acrescentei em pensamento_Isso não significa que nós voltamos.

_Mooooço, para o carro!

O motorista freiou bruscamente. Se eu não estivesse de cinto, teria dado de cara no encosto do banco.

_O que foi, rapaz?

_Eeeu vouu descerr ee aíí você mee atroopela! Poorquee ela meentiiu! Elaa nãão me amaa! Elaa não me queer mais! Niinguémm me amaa! Ninguémm me queer! Ooh, muundo crueel!

Ele tentou tirar o cinto e descer, mas eu o segurei e, agindo por impulso, vendo que seria a única maneira de ele parar de drama e nos permitir chegar em sua casa, o beijei rapidamente. Ele sorriu de forma completamente...idiota e voltou a se encostar no meu ombro, fechando os olhos e colocando a mão na boca.

_Eela me beijoou! Eela me beeijooou!

Pedi desculpas ao motorista, que nos olhava aborrecido e pedi pra que ele seguisse em frente.

Quando chegamos, paguei a corrida e, com muita dificuldade, tirei Lippe do carro. Entramos em sua casa e a primeira coisa que ele fez foi se atirar no sofá.

_Não senhor! Você vai tomar banho. Eu vou preparar algo pra gente comer.

_Eeu nuum vou tomaar banhoo. Eeu to comm sonoo! Eeu vouu dorrmiir!

_Lippe, não. Você tem que comer antes, pelo menos. Se não, vai entrar em coma alcoólico.

_Coma alcoólico? See é de co...mer, comoo é quee é alco...o...oólico? Heeein? See beem que... See é alcoóliico... deeve seer bom... Aliiás... o quee é coma alcoólico? Eeu numm seei o quee é issoo não, moça! Aqui nuum tem isso nãão, moça!

_É ruim, Lippe. Muito ruim.

_Éééé? Eeu nuum queroo isso nãão, moça. Eentãão eeu num queero!

_Então vai tomar banho!

_Tá... Maas euu nuum seei se consigo...

_Consegue sim. Vai.

_Mee ajuuda aquii.

O ajudei a se levantar e o levei até a escada. Ele parou no pé da escada e o olhou como se fosse a primeira vez que o fizesse.

_Iiii... É aaaltoo...

Ele tinha razão. Era alto demais pra alguém naquelas condições subir sozinho. O segurei pela cintura e mantive a maior distância possível. Subi as escadas devagar, o arrastando. Cara, porque ele tinha que estar tão mole? Isso o fazia parecer ainda mais pesado.

Entramos no quarto dele e isso fez algumas lembranças faiscarem na minha cabeça e algumas borboletas há um tempo adormecidas se agitarem em meu estômago.

_Pega uma roupa e vai pro banho. Te espero aqui até você sair, pro caso de precisar de qualquer coisa.

Ele me olhou malicioso. Totalmente safado e... sexy. Se ele estivesse sóbrio eu seria capaz de cmeter uma loucura.

_Quaalqueer cooisa?

_Seu banana, você entendeu. Não enrola mais. Vai.

Ele se sentou na beira da cama, virado pro guarda-roupa e o ficou encarando.

_Eeu numm seei que rooupaa col...oco...

_Qualquer uma. Você vai dormir.

Ele me olhou chocado.

_Doormirr? Quee dorrmir o quee! Eeu vou praa night! Nuum vou? Nãão é praa isso quee você me trouuxe em casaa? Pra muudar de rooupa ee ir pra feestaa?

_Claro que não, panaca. Eu te trouxe pra tomar banho, comer e dormir.

_Aaaaah, Baabiizinha! Vaamos pra night! Peerae, vou liigar pros brothers praa saaberr qual aa boa da noite.

Antes que eu pudesse fazer algo pra impedir, ele já estava com o telefone na orelha e, por incrível que pareça, já tinham atendido.

A conversa durou menos de 30 segundos. Não foi exatamente uma conversa, já que Lippe tinha a testa enrugada numa expressão de confusão e tudo que eu ouvia do outro lado eram risadas. Ele desligou e me encarou, perplexo.

_Tão tuuuudo bêbado! Bêbado! Vê see pode! Sair pra night praa beber!

_Pois é, né? Que horror.

_Ééé! Tsc... tsc.

_E aí, já pegou a roupa?

_Nãão... Peega praa mim, amoor?

_Tá, tá, eu pego. Vai indo pro banho que eu levo lá.

Ele não respondeu. Olhei pra ele. Ele estava com a cabeça baixa e meio dormindo.

_Felippe!

_Ooi! Eu, aquii!

_Ai, Deus, já vi que vou ter que te ajudar até a tomar banho!

_Ooopaa! Vai, é?

_Ajudar, só. Vem.

O puxei pelo braço e o arrastei até o banheiro, com a roupa que tinha pegado debaixo do braço. Entramos no banheiro e ele prontamente tirou a camisa. Oh, Deus... Será que meu autocontrole se manteria intacto?

_Aagoora, você viira pra láá, porque eu voou tirar a caalça... Eeu teenho vergonhaa...

Aham, Lippe, senta lá. Além do que... bem, não tinha muito o que esconder, né... Enfim. Revirei os olhos e virei. Sempre lembrando: não valia a pena discutir.

_See bem quee... Nhaa, nãão, nãão preecisa viirar...

_Já foi, Lippe?

_Jáá siim... maas euu nuum vou fiicar pelado nãão!

Me segurei pra não rir. Foi difícil.

_Ta, que seja.

Liguei o chuveiro e o mantive frio afim de que Lippe voltasse ao normal. Quer dizer, voltasse a ficar sóbrio, porque ele nunca foi normal.

Lippe entrou no box e eu fiquei parada, observando suas costas e... bem, prefiro não comentar. Ele colocou apenas a ponta do dedo mindinho debaixo do chuveiro e berrou, o retirando logo em seguida. Uma coisa bem gay.

_Aii, Babizinhaa! A água ta tãão geladiinha...

Ele fez bico. Oh, céus. Porque bêbados precisam ter tantas tendências homossexuais?

_Nem ta nada, vai, entra debaixo do chuveiro.

Disse isso e o empurrei.

_Aii, Babizinhaa! Tá muitoo frioo aquiie! Vemm me esquentaar, veem!

A proposta era tentadora, mas é claro que eu ia me controlar.

_Deixa de ser besta, anda logo que a gente não tem a noite inteira. Você ainda tem que comer.

_Aaah, veem!

E aí ele me puxou, com os dois braços. Preciso dizer que eles são MUITO fortes? Sério, pra que fazer isso com a Babizinha? Ele era muito gostoso, era difícil resistir. Comecei a estapeá-lo, mas óbvio que ele era mais forte do que eu. Tudo que ele fazia era rir.

De repente, Lippe afrouxou o aperto e colou seu corpo ao meu. Ele apoiou a cabeça no meu ombro e beijou meu pescoço. Me afastei, relutante, e o encarei. Ele me olhava sério. Parecia, finalmente, estar sóbrio. Ele segurou meu rosto com a mão esquerda e puxou levemente meus cabelos. Me colocou, literalmente, contra a parede, o corpo ainda colado ao meu, e se aproximou mais, sempre alternando o olhar entre minha boca e meus olhos. Com a mão direita, ele se apoiou na parede ao lado do meu rosto e... puft. A mão escorregou e ele deu com a sua cabeça na minha. Seria cômico se não tivesse doído tanto.

_Aaaaaaaaaai, meu Deeeeeus! O queee que eu fiiiiiiz!!

Ele deu um beijo estalado e babado na minha testa, onde sua cabeça tinha batido. E aí começou a soprar.

_Chega, Lippe, chega. Já vai passar a dor.

Eu duvidava disso, mas tudo pra ele parar com aquilo.

_Nããoo se preocupaa, que quando casar, sara. Ta tranquilo?

Ele perguntou, com o polegar levantado.

_Aah, tá bom. Valeu pela dica. Pode deixar que eu vou lembrar a dor de continuar aqui até o dia em que eu me casar.

_Eeu possoo facilitar as coisaas pr...a v...ocê. Quer casar comigo, Babiziinha?

Quase engasguei. E depois tive uma crise de riso. Ele se controlava pra manter a pose séria. Eu não duvidava que ele fosse capaz de se ajoelhar e segurar minha mão.

_Tipoo, a gentee casa agoora! Daí meelhora!

Não respondi, pois continuava rindo. Ele começou a rir também.

_Oolha heein... quem cala... haan... quem cala... con... con... Enfim. Aceita.

Eu apenas revirei os olhos e o ajudei a terminar o banho.

Depois de finalmente ter conseguido ‘dar banho’ em Lippe, é que notei que estava completamente encharcada.

_Lippe... Eu não posso dormir assim... Quer dizer... Acho que você notou que eu vou dormir aqui, porque... É tarde pra eu ir sozinha pra casa e você não tem condições de me levar... Enfim. Eu preciso de uma roupa sua; uma camisa, sei lá.

_Cla-claro. Alii, naqueela gavetaa.

Ele apontou uma gaveta de seu roupeiro e eu fui até ela, o deixando no banheiro pra que se vestisse. Abri a gaveta e peguei uma de minhas camisas preferidas nele. Uma flanela. É.

_Lippe, pode ser essa?

_Poooode! Essaa vai fiicar ótimaa em você!

Ele ficou meio gay falando daquele jeito, mas eu não pude deixar de notar um certo tom de malícia em sua voz. Lippe saiu do banheiro e eu entrei. Troquei de roupa e prendi os cabelos num coque desajeitado. Não estavam tão molhados a ponto de precisar de secador, mas eu não ia correr o risco de acordar com um ninho de mafagafos na cabeça.

Saí do banheiro e ele estava deitado olhando pra cima. Uma perna esticada e a outra dobrada. Um braço pra fora da cama e o outro em cima da barriga. Totalmente largado. Totalmente Felippe.

_Você devia comer...

_Amanhãã eu como... proometo.

_Certo... Bom, hum... Se precisar de mim, estarei no sofá. Não hesite em me chamar.

_Eeei eei, esperaa! Eu to bêbado mas não sou tãoo indelicadoo assim a pontoo de te deixarr dormiir no sofá! Eeu também não possoo dormir láá, mass eu me ajeeito aquii peloo chão!

_Não, capaz, Lippe, não precisa!

_Eentãão..._Ele me olhou com cara de safado. Mau sinal._Só oo que reesta, Babizinhaa, é você dormir aquii, ó:_E bateu na cama ao seu lado._Do meeu ladinhoo...

Não era, de todo, uma má ideia. Era realmente melhor do que o sofá e, do jeito que estava, Lippe só tinha condições de dormir, agora.

_Bem, Lippe... Eu posso até dormir aí com você, mas... Nós só vamos dormir.

_Euu não dissee nadaa, sua maliciosaa!

_Não disse, mas pensou que eu sei.

_See você sabee que eu penseei... É porquee pensou tambéém!

Resolvi ficar calada, se não acabaria admitindo que ele tinha razão. Deitei ao seu lado e ele logo reclamou.

_Táá caloor aqui...

Não sei se foi tudo caso pensado ou se saiu sem querer, mas assim que disse isso, Lippe tirou a camisa, levando com ela o meu ar. Eu o tinha visto apenas com uma peça de roupa há alguns minutos, mas isso não importava. Cada vez que eu via Lippe realizar o simples movimento de tirar a camisa, era como se fosse faltar oxigênio na Terra.

Ele permaneceu deitado de barriga pra cima e eu me virei pro outro lado, encolhendo as pernas e logo me arrependendo e voltando a esticá-las. Afinal, eu não estava de calça... Er. Em seguida ele levantou, jogou a camisa no chão, apagou a luz e voltou a se deitar, sei lá eu como, exatamente na mesma posição de antes.


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Notas finais do capítulo

Não foi o melhor, mais bem escrito nem nada... Mas com certeza foi o mais longo e o que eu mais me diverti escrevendo. Imaginando, então... Aiai.

Não vou me desculpar por ser longo, pois depois do tempo que eu fiquei sem postar, acho que o mínimo que eu tinha que fazer era postar com mais frequência e capítulos consideravelmente grandes... Enfim.

Amanhã tem mais, aproveitem (=