Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 9
Sonho ou Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

De volta a SP Julieta se da conta da sua realidade. O Vale do Café parecia um sonho da qual agora ela acordou. Tem que enfrentar a ira de Camilo na busca pelo perdão dele e tem um difícil encontro com Aurélio.

A foto de capa desse capítulo é da Maravilhosa Anne do FC aurieta.reina
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Naquele mesmo dia Julieta e Aurélio partiram para SP. Não foram juntos. Por causa de Julieta ainda não tinham uma relação assumida, situação que Aurélio esperava que mudasse logo. Queria gritar para o mundo inteiro ouvir a paixão que sentia por ela, mas prometeu que respeitaria o tempo dela e assim o fez. Recebeu um convite dela para jantarem no dia seguinte.

Aurélio seguiu para a casa de Jorge e Julieta para a sua mansão.

Julieta conseguiu com Jorge o endereço do Cortiço onde Camilo estava morando e na manhã seguinte foi bem cedo atrás do filho. Ela não era mulher de deixar para depois para resolver os problemas. Ao bater na porta do endereço dado por Jorge, maior foi a sua surpresa. Foi recebida por Jane Benedito.

— Desculpe-me, eu pensei que Camilo morasse nesse quarto. – falou isso enquanto ia saindo.

— Camilo mora aqui Dona Julieta! – falou Jane antes que ela se afastasse mais. – Camilo Bittencourt é meu marido e mora nesse quarto. No momento não está porque foi à padaria, mas se quiser entrar para tomar um suco, uma água e aguardar, pode ficar à vontade.

— Eu não quero nada. Ter vindo aqui foi um erro.  – Julieta vai saindo, mas se arrepende. Antes de Jane fechar completamente a porta ela volta.

— Desculpe. Eu vou aceitar. Obrigada.

— A casa é modesta, nada que se compare a sua mansão, mas é o suficiente para mim e Camilo. Darcy nos presenteou com a mobília e o aluguel conseguimos pagar com o salário de Camilo. Eu ajudo nas despesas trabalhando como lavadeira.

— Parecem que vocês são felizes aqui. Você deve me odiar Jane, depois de tudo o que e falei para você, sobre você.

— Não dona Julieta. Eu não guardo mágoa no meu coração. A senhora é mãe de Camilo, é minha sogra, não tenho ressentimentos.

— Mesmo depois de tudo o que eu fiz vocês passarem. Você pode ter certeza que eu me odeio por isso.

— Não faça isso! Não se mortifique. Eu entendo a senhora. Eu imagino o esforço que foi criar um filho sozinha, sendo dona de um império tão grandioso. Não a culpo por ter sonhado para Camilo outra esposa, alguém da alta sociedade, que tenha tido a melhor educação e privilégios. Eu não sou nada disso dona Julieta, nem nunca serei. Eu sou apenas uma menina simples do interior, letrada, com alguns conhecimentos e muita vontade fazer o bem a quem esteja à minha volta, principalmente à Camilo.

— Jane, o seu coração é o mais nobre que já conheci. Desculpe-me minha querida por demorar tanto a perceber isso. Você é o maior presente que a vida deu a Camilo. Ele tem muito mais amor ao seu lado do que eu pude dar ele durante a vida inteira.

Camilo mexe na maçaneta da porta do quarto, que está trancada.

— Jane meu amor, abra por favor, sou eu. Eu esqueci a chave.

— Eu não tenho do que desculpar a senhora. Desculpe-se com Camilo, seja sincera com os seus sentimentos, como foi comigo. E depois, perdoe-se também para encontrar a paz. Estou indo meu amor.

Jane abriu a porta e Camilo não esperou para entrar, ali mesmo entregou a ela uma flor que acabara de colher e a beijou com paixão. Julieta assistia a cena e sorriu disfarçadamente. Nunca tinha visto o filho tão feliz. Jane, sem graça, interrompeu o beijo.

— Camilo, você tem visita.

Camilo entrou no quarto que de tão pequeno da entrada mesmo pôde ver Julieta sentada lhe esperando.

— Vou deixar vocês a vontade.

Com a saída de Jane, um silêncio constrangedor invadiu o quarto. Camilo estava surpreso com aquela visita, mas não podia dizer que estava feliz em rever a mãe. Sentia-se profundamente magoado com os mandos dela em sua vida que estava bem melhor sem ela na vida dele.

As atitudes de Julieta obrigaram Camilo a crescer como homem, agora se sentia responsável pela própria vida e também pela vida de Jane e pela família que estava construindo com ela. Empregou-se como proletário na fábrica têxtil de Ludmila, única que lhe deu emprego depois que Julieta fechou as portas de todas as oportunidades que poderia ter. Ela era implacável em suas decisões, o havia deixado sem dinheiro, sem oportunidades, sequer seus pertences pessoais ela preservou fazendo uma fogueira com tudo que era de Camilo. Agora estava ali na frente do filho, arrependida de suas atitudes erradas e disposta a pedir perdão. Julieta tentou quebrar o silêncio:

— Como vai, meu filho?

— Como a senhora pode bem ver estou muito bem.

— Eu sofri um atentado no Vale do Café.

— Eu fiquei sabendo, mas eu como eu previa a senhora se sairia muito bem.

— Filho, eu quase morri. Se não fosse...

— Se não fosse?

— Deixa pra lá... o que importa é que ao ver a morte de perto eu pude reavaliar minhas atitudes com você. Eu errei muito com você filho e estou aqui para me desculpar e pedir o seu perdão.

— Muito fácil e conveniente não é dona Julieta? É muito fácil fazer tudo o que a senhora fez, me expulsar de casa, me tirar todo o seu dinheiro, todas as oportunidades de emprego e depois vir aqui pedir desculpas e ficar tudo bem! Tudo isso porque mesmo? Só porque eu me apaixonei por alguém que a senhora desaprovou, que a senhora julgou não ser conveniente pra mim. Pois saiba que Jane é a melhor pessoa que eu poderia ter encontrado na vida. O amor mais puro que alguém poderia sentir. Ter casado com ela foi a melhor coisa que fiz em toda a minha vida.

— Vocês se casaram?

— Claro! A Jane é mulher direita e o amor da minha vida, casar com ela foi a decisão mais acertada que eu tomei até hoje!

— Você nem me convidou para o seu casamento. Nem ao menos me avisou.

Camilo perde a calma que lhe é peculiar e grita com a mãe:

— Para quê? Para a senhora destruir mais uma vez a melhor oportunidade que a vida me deu! A senhora despertava em mim os piores sentimentos, de raiva, vingança, ódio, rancor. Jane desperta o que há de melhor em mim. Ela é só amor. E é com o amor de Jane que eu quero ficar!

Com os gritos de Camilo, Jane, assustada entrou para ver o que estava acontecendo. Encontrou o filho exaltado, chorando, mas de raiva e Julieta caída aos prantos. Ela não queria, mas está fragilizada demais para esconder seus sentimentos. Não consegue controlar suas emoções e

— Camilo você vai se arrepender de me atirar essas atrocidades.

Num gesto final de clemência. Ela se põe de joelho diante da nora e do filho.

— Jane me desculpe por tudo que fiz, hoje eu sei que fui muito injusta com você. Tenho certeza que o seu coração é bom o suficiente para um dia conseguir me perdoar.

— O que é isso dona Julieta, levante-se por favor.

— Não! Por favor me deixe aqui! Não tenha pena de mim.

— A senhora não precisa me pedir desculpas. Eu não a culpo por querer o melhor pelo seu filho. As mães estão protegidas porque seus atos são sempre por amor. Não guardo nenhuma mágoa do passado e desejo que possamos ter uma convivência pacífica de agora em diante. Camilo, te aconselho a perdoar sua mãe. Ela está sendo sincera. O seu coração é bom, perdoe-a.

— Jane o seu coração é o mais puro que eu já conheci, mas eu sinto muito meu amor, eu não consigo atender o seu pedido. Só de lembrar tudo que a minha mãe fez para separar a gente.

— Você nunca vai me perdoar? Vocês são felizes aqui Camilo, me dê a oportunidade de me redimir dos meus erros.

— Sim, eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Não como a senhora que vive cercada de luxo, mas tem que amargar uma vida solitária, eu, como a senhora bem pode ver, não tenho luxo nenhum, mas a mulher que eu amo e os meus amigos por perto! Acho que no final tenho mais riquezas que a senhora! Passar bem dona Julieta. – Camilo saiu do quarto sem olhar para trás.

Jane ajudou Julieta a se levantar.

— Dona Julieta. Dê um tempo a Camilo. Ele ainda está muito magoado, mas irá perdoa-la eu tenho certeza.

— Obrigada pelo seu apoio Jane. Mesmo depois de tudo o que eu fiz para você, a sua bondade é magnânima e só me faz ter a certeza do quanto errada eu estava. Eu não sou uma má pessoa, reconheço os meus erros. Espero que eu possa ter uma nova oportunidade de mostrar o quanto eu estimo você e o seu casamento com Camilo.

— Teremos outras oportunidades sim. Tenho certeza que um dia estaremos todos juntos como uma família.

Julieta sorriu e abraçou Jane. Comovida com tanto amor e um fio de esperança deixou o cortiço direto para a mansão.

Aurélio teve um dia cheio de trabalho com Jorge. Depois de dois dias afastados cuidando dos negócios no Vale do Café, voltava a capital cheio de vontade de se firmar como profissional. Não escondia que sua animação tinha um motivo a mais, Julieta também estava em São Paulo e foi se acertar com o filho. Aurélio desconfiava que esse era o principal empecilho que o afastava de sua amada. Imaginava que quando estivesse tudo bem, eles finalmente poderiam assumir para os filhos e para o resto do mundo o amor que sentiam.

— Julieta foi ver Camilo hoje. Espero que Camilo perdoe a mãe e eles se acertem.

— Não sei não meu amigo, Camilo não parecia muito disposto a falar com a mãe quando eu fui falar com ele.

— Julieta tem uma missão difícil, mas ela sempre se supera nos seus desafios! Vai conseguir, tenho certeza!

— Aurélio você é o cara mais apaixonado que eu conheço. Não consegue nem disfarçar sua admiração por Julieta! Espero que se ela se acerte logo com o filho para vocês casarem logo!

Os dois riram. Aurélio por um momento parou para pensar naquelas palavras... casar com Julieta seria um sonho! Dormir e acordar com ela todos os dias era tudo o que queria nesse momento, mas sabia que devia esperar pelo tempo dela.

Deixou os pensamentos felizes em Julieta de lado, concentrou-se no trabalho porque queria acabar o quanto antes. Pela primeira vez iria jantar com Julieta. Sabia que não era um jantar romântico como gostaria, mas só o fato de estar perto dela já era suficiente para deixa-lo muito feliz.

Findado o expediente no escritório, Aurélio nem esperou por Jorge para tomar uma cerveja como de costume. Foi direto para a casa. No caminho comprou flores para Julieta. Um buquê de rosas vermelhas. Só de olhar para as rosas já se lembrava do rosto dela e da pele tão macia quanto as pétalas das rosas.

Saiu logo de casa. Estava adiantado, mas preferia assim. Vestiu o terno preto de corte italiano que lhe caia como uma luva. A cor escura da vestimenta deixava seus olhos azuis mais reluzentes. Parecia um verdadeiro Rei indo ao encontro de sua Rainha.

Ao chegar na casa de Julieta foi recebido por Mercedes.

— Boa noite senhor Aurélio. Dona Julieta pediu para avisar que já vai descer. O senhor aceita um cálice de vinho enquanto aguarda?

— Aceito sim Mercedes, obrigado.

Mercedes era discreta. Trabalhava na casa de Julieta há muitos anos. Apesar de Aurélio tentar disfarçar, ela logo percebeu o sorriso diferente no semblante dele, mas fingiu que não viu. Tratou de servir logo o vinho para ele e enquanto se preparava para sair Aurélio disse.

— Mercedes, ninguém mais chegou ainda? Onde estão os outros convidados?

— Não sei não senhor. Dona Julieta ordenou que colocasse apenas dois lugares à mesa. Com licença. – Ao falar isso, deu as costas à Aurélio com um sorriso maroto no rosto de quem gostou de dar a informação que ele tanto queria saber! Enfim, estaria a sós com Julieta.

Mercedes mal se retirou totalmente da sala e Julieta apontou no topo da escada. Ao vê-la, Aurélio se levantou, e caminhou até a escada, ficou no final da escada hipnotizado pela beleza e elegância dela descendo os degraus.

Julieta vestia preto como sempre, belíssima, usava um vestido de mangas compridas transparentes, um decote discreto e uma gargantilha de renda preta decoravam o pescoço da Rainha do Café, o par de brincos de ônix e diamantes completavam os enfeites. Antes de terminar o último degrau Aurélio a recebeu.

— Está especialmente elegante esta noite, linda, se me dá a honra de dizer.

Ele lhe entregou as flores e a beijou no rosto, mas aproveitou que estavam sozinhos e deu um beijo demorado na bochecha e terminou encostando o rosto dele no dela. Julieta recebeu com um sorriso triste e com a cabeça baixa disse:

— Obrigada.

Aurélio não entendeu.

— O que foi? Não gostou das flores?

Julieta sorriu discretamente.

— São lindas, as mais lindas que eu já recebi. – Abaixou a cabeça novamente.

Ele segurou levemente no queixo dela e a fez levantar a cabeça.

— Ei, não fique triste. Seja lá o que está acontecendo, eu estou aqui com você.

— Eu não fui bem-sucedida com Camilo. Jane me perdoou, mas Camilo sequer me ouviu.

— Calma Julieta, espere um pouco. Camilo vai entender que seu pedido de perdão é sincero. Tenho certeza que vocês vão se acertar. Olha, se você não estiver se sentindo bem, não quiser jantar, eu entendo. Posso ir embora e voltar um outro dia se você quiser.

— Não! Por favor fique. Desculpe a minha falta de ânimo, eu estou muito feliz porque está aqui, apenas não esperava tanto rancor de Camilo.

Encaminharam-se para a mesa de jantar. Aurélio puxou a cadeira para Julieta e depois ocupou o seu lugar.

— Eu entendo que hoje não seja propriamente um jantar romântico, mas é o nosso primeiro jantar juntos, então proponho que deixemos os nossos filhos um pouco de lado e falemos um pouco mais de nós. – Falou isso enquanto beijava suavemente a mão dela.

— Eu não tenho muita coisa interessante para falar sobre mim.

— Isso é o que você acha, pois eu acho exatamente o contrário! Acho que temos muita coisa interessante para conversar.

O jantar foi muito agradável. De fato, eles conversaram durante toda a noite. Aurélio perguntava muito sobre os gostos de Julieta, queria saber mais sobre ela. Ela achava graça no interesse dele. Realmente achava sua vida sem nenhum interesse para outra pessoa. Não tinha tantas coisas a falar sobre si.

Diversos assuntos permearam aquele delicioso encontro, falaram sobre amenidades, gostos particulares. Descobriram que tinham mais do que pensavam em comum. Gostavam de música, literatura e teatro. Trocaram experiências sobre diversos lugares que viajaram e outros que gostariam de conhecer. Aurélio conhecia muito bem Londres, já Julieta Paris e os dois nunca tinham ido à Veneza, mas compartilhavam do mesmo desejo de conhecer a cidade.

A conversa saiu da mesa de jantar se estendeu para um licor no escritório. Quando Julieta foi até a prateleira buscar um livro para mostrar a Aurélio o seu autor preferido, foi surpreendida por um abraço dele e um beijo na nuca. Ele a envolveu por trás e beijou a nuca dela o que fez Julieta suspirar e sussurrar... “Aurélio”

— Desculpe-me por esse afronte, mas eu não podia mais me segurar, foi mais forte do que eu.

Percebendo que Julieta não oferecia resistência à sua ousada investida, a colocou de frente para ele e a beijou com mais fervor as bocas se queriam e se conquistavam a cada movimento. Mudaram de posição. Aurélio investiu em descer um pouco mais com a sua boca procurando o pescoço de Julieta o que a fez suspirar um pouco mais alto e soltar até um leve gemido. Ele fazia o caminho de volta do pescoço até a boca dela novamente. Ela correspondeu. Há muito tempo que já não resistia mais aos lábios quentes de Aurélio, mas quando sentiu que estava para perder totalmente o controle da situação ela o empurrou, o que causou até um certo estranhamento a ele.

— Eu ainda não estou pronta. – Falou isso de costas para ele, uma lágrima insistiu em cair.

Aurélio permaneceu em silêncio com uma expressão incrédula. Ele se aproximou dela, tocou-a no rosto para fazer-lhe virar e percebeu que ela chorava.

— Eu já lhe disse que vou lhe esperar o tempo que for, me desculpe se eu fiz algo que lhe magoou ou lhe afrontou, por favor não chore!

— Não é culpa sua... Aurélio eu... – Ela não conseguia falar. Desviou o olhar para baixo, mas logo voltou para ouvi-lo.

— Eu senti que o seu corpo deseja o meu tanto quanto o meu te deseja. No Vale do Café, você estava tão minha e de repente aqui você refugou. Eu simplesmente não entendi, mas me desculpe, eu não quis te magoar.

Julieta respirou fundo, olhou para cima buscando coragem.

— Aurélio o meu corpo reage ao seu, isso é inevitável, mas aqui eu ainda não posso, não consigo, talvez não consiga nunca.

— Se você me deseja tanto quanto eu te desejo, mas não consegue se entregar pra mim, por que não me conta o que aconteceu no seu passado? O que aconteceu que te faz agir assim?

— Aquele dia você me fez recordar quem um dia eu fui, Julieta Sampaio, uma menina sonhadora, romântica, que sonhava em encontrar um grande amor. Naquele dia você resgatou uma porção de mim que eu jurava que não existia mais, pois eu enterrei meus sonhos quando tudo aconteceu.

Aurélio ainda não entendia muito bem as palavras dela, mas fazia esforço para não interromper.

— Minha vida foi planejada pelos meus pais. Eu fui prometida a Osório Bittencourt quando eu tinha ainda 15 anos. Ele era um homem asqueroso, 30 anos mais velho do que eu e sem nenhum escrúpulo. Quando eu decidi não levar adiante aquele relacionamento ele não aceitou ser contrariado e não respeitou a minha vontade. – Julieta era forte, mas lágrimas, mesmo contidas, insistiam em cair.

Aurélio quase não suportou ouvir aquilo, não admitia que um homem não respeitasse uma mulher, estava horrorizado com o que estava ouvindo, não podia imaginar uma atrocidade tão grande.

— Julieta, não chore mais. Eu estou aqui com você. Não precisa me contar mais nada se você não quiser. Eu te respeito acima de tudo.

— Por favor Aurélio, deixe-me continuar. Agora que comecei eu preciso soltar isso até o fim. Eu preciso falar ou irei explodir, já não aguento mais esse fardo do passado.

Aurélio enxugou as lágrimas dela e pegou um copo de água para ela e ficou em silêncio até que ela retomasse a falar.

— Quando eu desisti de me casar disse a Osório que estava tudo terminado entre nós e que aquele casamento não iria acontecer, ele... – Julieta pressionou os lábios e fechou os olhos, procurando as palavras, respirou fundo novamente. Não existia outra palavra para o que tinha que dizer. – Ele me estuprou!

— O quê? Que canalha! – Aurélio estava indignado.

— Ele me marcou por toda a vida pela minha atitude de rebeldia, me violentou no ato para que eu nunca mais ousasse a contraria-lo. E... – Aurélio não podia acreditar que ainda existia mais coisa a ser ouvida. Sentia ódio quase incontrolável, porém calou-se para deixa-la continuar, entretanto, não conseguia esconder as lágrimas.

— E, nesse ato de violência dele, eu fiquei grávida e fui obrigada a me casar, mesmo meus pais sabendo que fui violentada por ele. É isso, Camilo é resultado de um estupro. É essa a verdadeira história Aurélio, por isso eu nunca consegui ser uma boa mãe, a mãe que Camilo merecia ter e acho que nunca conseguirei também ser a mulher que você merece ter ao lado.

Aurélio estava devastado. Sentia tanto ódio do homem que fez mal a Julieta que não conseguia se conter. Levantou tomado pela raiva!

— Desgraçado! A sorte dele que não está aqui, porque se estivesse eu mesmo o matava! Aliás, eu devia mata-lo de novo!

— Calma Aurélio! Não há mais nada a fazer em relação a isso. Felizmente Deus o levou cedo. A vida desregrada que ele escolheu antecipou a sua morte e trouxe o meu alívio! – Aurélio se sentou novamente aguardando o desfecho.

— O resto da verdade é que com a morte dele, ao contrário do que todos pensam, eu não herdei uma fortuna. Eu apenas herdei promissórias e dívidas. Eu estava arruinada e com um filho para criar. Então, a conclusão disso tudo é que esse Império que todos acham que eu recebi do Senhor Bittencourt, na verdade foi construído por mim. Custou-me muito tempo, trabalho, dedicação, mas o preço mais alto que paguei foi a relação com Camilo. Nunca fui uma boa mãe. Muito cedo tive que deixá-lo no colégio interno porque eu não sabia lidar com tudo o que a maternidade envolvia, principalmente, eu não sabia dar o carinho de mãe. Além disso, eu precisava me concentrar nos negócios e, ao menos nessa tarefa, eu consegui me sair bem! Levantei esse império que todos conhecem e infelizmente tenho que sustentar o sobrenome maldito que herdei dele e hoje eu sou Julieta Bittencourt, a Rainha do Café. – Julieta se sentou, exausta pelo enorme esforço emocional que precisou fazer para contar toda a verdade para Aurélio.

Ele se aproximou, de pé com o corpo inclinado e as mãos apoiadas nos braços da poltrona que ela estava, a olhou nos olhos, ainda tinha os olhos marejados...

— Eu já te admirava, sempre te admirei, desde o primeiro dia que te vi, pela mulher que você é, pelo império que administrava, pela criação de Camilo, fazendo tudo isso sozinha...

— Por favor não tenha pena de mim Aurélio. – Julieta o interrompeu. – Eu cresci na adversidade e nela me fortaleci. Talvez eu tenha endurecido demais, mas foi a forma que eu encontrei para me defender. Pode ir embora agora, não preciso de piedade, eu prefiro ficar sozinha. Poucas coisas me dão medo na vida, e com certeza, solidão não é uma delas. – Julieta segura o rosto de Aurélio e beija os lábios dele ternamente – Siga o seu caminho meu querido e encontre uma mulher que seja completamente livre para você e não alguém que carregue tantas correntes quanto eu.

Aurélio a põe de pé ainda mantendo seus olhos fixos nos olhos dela, eles trocam um abraço emocionado.

— Nunca mais diga isso. O único lugar do mundo que eu quero estar é nos teus braços, quero morar no teu abraço. Eu te amo e se depender de mim, eu vou te proteger de todo o mal do com a minha própria vida.

— Mas eu não estou pronta Aurélio, talvez nunca esteja.

— Eu já te disse, eu espero o tempo que for. Eu quero te fazer feliz.

— Desde que cheguei de volta em SP me dei conta do que me tornei. O Vale do Café e tudo que vivemos lá me pareceu mais um sonho, aqui eu enfrento o pesadelo da minha realidade. O que me tornei. A implacável e incansável Rainha do Café, essa mulher enlutada que enfrenta esse mundo de homens para manter de pé o império que construiu sozinha e que todos creditam ao seu falecido marido as glórias! Uma mulher que abandona o único filho a própria sorte e sequer consegue tocá-lo e se reconciliar com ele. Uma mulher que mesmo diante do homem mais adorável do mundo que tem o maior amor que já conheceu, que mesmo desejando-o como nunca desejou alguém, não consegue se entregar. Porque insistem em ficar comigo? Vai embora, você merece uma mulher livre para amar você.

— Julieta eu sou amado por você. Graças a você eu encontrei um novo sentido na vida. Levantei do tombo da minha família e busquei as minhas chances e hoje eu sou um novo homem. Hoje eu acordo todos os dias por você. Foi por você que eu não desisti de mim e sendo assim eu não desistirei de você. A confiança que você depositou em mim hoje, só faz crescer o meu amor por você. É ao seu lado que eu quero ficar!

Aurélio buscou os lábios de Julieta e ela se entregou apaixonadamente ao beijo. Ela permitiu os carinhos mais ousados dele. Beijos no pescoço, ela sentia o hálito quente dele nos ouvidos o que a fazia arrepiar. Ele dava mordidinhas no queixo, novamente voltando a boca dela, mas ele mesmo percebeu que estava sendo ousado demais e interrompeu:

— Desculpe-me. Eu me excedi. Eu vou embora. Prometo que não vou mais ultrapassar nenhum limite.

— Você não fez nada que eu não quisesse também. Meu corpo reage ao seu mesmo que minha cabeça tente controla-lo. Eu quero você, como nunca quis nada em minha vida, mas sendo quem eu sou, depois de tudo o que eu te contei, eu não consigo, não agora, talvez nunca consiga.

— Não tem problema, eu o que eu tenho de você já me faz muito feliz... porque eu fico com o seu beijo, com o seu cheiro, com a lembrança do seu corpo junto ao meu, e com o seu olhar que me fez ser um homem melhor. Agora eu devo ir, boa noite... meu amor. – Falou isso beijando o rosto de Julieta.

— Boa noite. – Ela sorriu.

Aurélio saiu da casa de Julieta ainda horrorizado com tudo que tinha ouvido. Não se conformava com todo aquele sofrimento que Julieta passou. Desejava poder protege-la de todo o mal do mundo e que nunca mais ela passasse por nenhuma tristeza. Não podia fazer nada contra o crápula do falecido marido de Julieta, mas havia uma coisa que podia fazer. Falar com Camilo. Estava decidido, no primeiro raiar do sol iria ao Cortiço procurar o filho de Julieta para uma conversa de homem para homem. Daquilo dependia a felicidade de Julieta, que era sinônimo da felicidade dele também.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Deixa seu comentário pra mim! Beijos, até o próximo capítulo!



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