Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 3
Mais uma xícara de café, por favor


Notas iniciais do capítulo

Mais um encontro de Aurieta.
Aurélio Cavalcante e Julieta Bittencourt agora estão de volta ao Vale do Café.



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MAIS UMA XÍCARA DE CAFÉ, POR FAVOR

De volta ao Vale do Café, Aurélio só pensava em Julieta, como aquela mulher de atitudes tão duras arrebatara o seu coração daquela maneira? Deitado em sua cama com a janela aberta olhava para o céu estrelado e pensava em Julieta. A luz da lua cheia entrava em seu quarto iluminando aquele corpo cansado da viagem, porém de alma renovada. Há anos não se sentia tão feliz.

Em São Paulo, Julieta também já estava recolhida aos seus aposentos. De pé ao lado da janela do quarto também via a beleza do céu estrelado e a lua cheia que ofuscava os olhos de tão linda. Também pensava em Aurélio. Pensava em tudo o que havia acontecido, desde aquele beijo no baile, totalmente inesperado, que tirou sua tranquilidade, até aquela tarde despretensiosa de trabalho, quando Aurélio apareceu novamente e ela não pôde resistir mais. Por mais que sua razão dissesse palavras de afastamento, seu corpo a denunciava. Nunca conheceu um homem com tamanha sensibilidade. O seu abraço era o mais confortante que já havia sentido e o seu beijo o mais avassalador que já tivera. Sentia-se completamente encantada com aquela demonstração de carinho. Estar nos braços de Aurélio era tudo que verdadeiramente queria naquele momento, mas sabia que não poderia.

Na primeira hora da manhã Aurélio se levantou e se arrumou. Sentia-se animado para um novo dia, com esperanças de resolver os problemas que lhe afastavam de Julieta. Ansioso, mal podia esperar para encontrar seu pai e conversar sobre estratégias que seriam traçadas dali em diante. Sabia que o Barão de Ouro Verde era duro na queda e não seria tão fácil conseguir dobrá-lo. Não entendia muita coisa dos negócios da família já que durante a vida o seu pai o afastou da cultura do café e o mandou estudar e cuidar de cavalos, seu maior hobby. Apesar disso, entendia que os negócios com Julieta estavam terrivelmente no vermelho e não havia muito o que ser feito.

Na mesa do café encontrou o Barão já lendo o jornal e fazendo o desjejum.

— Bom dia papai. O dia está lindo hoje, o senhor não acha.

— Bom dia só se for pra você que tem a vida ganha e não tem que se preocupar com nada.

Aurélio nem se incomodou com o mau humor de praxe do Barão. Tomou o seu lugar, à esquerda do Barão e recomeçou:

— Não é verdade que não me preocupo papai. Ontem mesmo estava em SP...

— É, eu sei. Mandei você pra SP atrás de Ema e achei que tinha sido abandonado pelos dois. Fiquei dias aqui recolhido a minha solidão sem sequer receber notícias de vocês.

— Ora papai, pare de exageros, foram só dois dias de ausência. Aliás, papai, na busca por Ema na capital acabei encontrando por acaso Julieta Bittencourt.

— Eu não quero saber daquela mulher. Aquela senhora usurpadora da nobreza, pensa que é da realeza e se autointitula Rainha. Ainda por cima tem a audácia de ameaçar a tirar minhas terras.

— É sobre isso mesmo que eu quero falar com o senhor.

— Aurélio eu já falei que não quero falar sobre isso. Quem aquela mulher pensa que é? Porque eu sou um Barão legítimo, nomeado pelo próprio Dom Pedro II.

— Ela é a Rainha do Café papai e dona de uma dívida astronômica que temos com ela como o senhor sabe muito bem. E... – E dona do meu coração Aurélio pensou, mas não se atreveu a dizer em voz alta. – E, o prazo que Julieta nos deu está se esgotando e temos que dar uma resposta a ela.

— Eu não vou vender minha propriedade a ela. E ela também não vai conseguir nada, só passando por cima de mim.

— Papai, tem que haver uma solução razoável pra isso. Precisamos urgente de um plano. O prazo que Julieta nos deu termina amanhã as cinco da tarde. E se vendermos parte do café estocado?

— Se vendermos o café às pressas não conseguiremos nem metade do valor que ele vale e mesmo assim, ainda não seria suficiente para saldar a dívida toda com Julieta. Aurélio, você nunca cuidou disso, o que está tentando fazer agora? Arruinar-me de vez?

— Eu só estou preocupado papai e tentando ajudar de alguma forma. Posso tentar levantar mais um empréstimo no banco.

— Não temos mais crédito no banco. Os últimos valores levantados foram para garantir a safra que estamos plantando. Somente com a colheita será quitada e poderá ser renovada a operação financeira. Aurelinho, fique quieto, bem se vê que não entende nada dos negócios, deixe comigo.

Aurélio, preocupado, continuou ali ainda tentando palpitar outras alternativas, sem sucesso com o Barão. Só lhe restava a esperança de que o pai realmente soubesse o que estava fazendo. Vencido pelo cansaço da conversa Aurélio pediu permissão para se ausentar da mesa. Já que não conseguira nenhum resultado satisfatório iria fazer o que mais gostava e lhe era indicado naquele momento, cavalgar. Saiu sem rumo com o seu cavalo, pelo menos domar um cavalo era o que mais sabia fazer.

Em São Paulo, o dia começava cedo também para a Rainha do Café. O sol nem havia nascido ainda quanto Julieta já estava de pé se arrumando. Ela era muito bonita e ainda bem jovem apesar de já ter filho criado e ser viúva. Durante seu casamento, e mesmo após a morte do marido, a amargura da vida lhe envelheceu um pouco mais e aparentava ter mais anos do que a real idade que tinha. Ao ficar viúva, adotou vestes pretas que não se permitia tirar. Fazia questão de manter o par de alianças na mão esquerda e o preto em sinal de respeito ao falecido marido, mesmo que aquele traste não merecesse nem um ato respeitoso.

Apesar disso, estava especialmente deslumbrante aquele dia. Julieta era uma mulher vaidosa. Naquele dia buscou no guardarroupa exclusivamente preto um vestido que estava esquecido. Tinha um leve e discreto decote, suficiente para dar uma pequena amostra do seu colo. As joias escolhidas, uma gargantilha, anel e um par de brincos de pedras pretas cuidadosamente lapidadas e feitas exclusivamente para Julieta, dignos de uma verdadeira Rainha. Ela estava pronta para voltar ao Vale do Café.

Ao descer as escadarias da mansão, chamou a atenção dos empregados que estavam a postos esperando suas ordens, inclusive de Suzana que não deixou de reparar que a amiga vestia algo diferente, sobretudo um sorriso no olhar que não era de costume em Julieta.

Julieta tratou com Suzana de antecipar sua volta ao Vale do Café. Ordenou que ela cancelasse os compromissos previstos e a representasse naqueles inadiáveis. Acertou que após cumprir todos os compromissos pendentes deveria lacrar a mansão e também retornar ao Vale do Café, pois a mudança seria por tempo indeterminado. Julieta iria na frente para adiantar as negociações das terras da Fazenda Ouro Verde. Partiu com Tião, seu motorista, e Mercedes, sua cozinheira, deixando para trás Suzana com Petúlia, a Governanta.

Aurélio tirou aquele dia para se retirar da presença de todos. Precisava ficar a sós com os seus pensamentos. Somente ele na companhia do cavalo subiu o alto da montanha mais alta do Vale do Café e ali tinha uma visão privilegiada de toda a cidade. Procurou a sombra de uma árvore e ali adormeceu. Despertou desnorteado sem a noção de quanto tempo estava ali, mas com a felicidade de ter sonhado com Julieta, e em seu sonho, não tinha problemas, podiam estar juntos sem dúvidas e angústias. Do alto da montanha viu bem de longe um carro que passava levantando a poeira da estrada. Seu coração bateu mais forte de novo. Seria Julieta que estaria já de volta ao Vale? Apressado, levantou-se, montou no cavalo e saiu na máxima velocidade que o animal podia suportar.

A estrada até o Vale do Café era longa, entretanto, especialmente naquele dia, Julieta não se incomodara com a distância. As longas oito horas se passaram tão depressa que Julieta nem reclamou da viagem, o que surpreendeu Tião e Mercedes, que ao longo de tantos anos nunca tinham visto a patroa tão bem disposta. Ao chegar no Vale, ainda tinha sol, mas já era fim de tarde. Os empregados trataram logo de acomodar a Rainha. Julieta reclamou de um pouco de dor de cabeça e pediu uma xícara de café à Mercedes, daquelas bem forte como gostava.

Enquanto esperava a bebida sentou-se ao piano para relaxar. Tocar era um dos grandes prazeres que tinha na juventude, mas a vida de empresária aos poucos foi engolindo os pequenos prazeres da vida. Entretida pela música, foi interrompida por Mercedes com a sua xícara de café.

— Me desculpe interromper senhora, mas aqui está o seu café, se não vai esfriar. Forte e sem açúcar como a senhora gosta.

— Obrigada Mercedes.

Julieta pega a xícara toma um gole do café. Era impressionante a relação que tinha com a bebida. Só o aroma forte já fazia com que sua dor de cabeça a deixasse. Colocou a xícara sobre o instrumento e retornava as primeiras notas da música de Choppin quando ouviu baterem à porta.

Mercedes retornou para abrir, anunciou o Senhor Aurélio Cavalcante e se retirou discretamente.

Julieta parou depressa a música assustada com o anúncio.

Aurélio estava encantado em rever Julieta. Nem no seu melhor sonho podia imaginar que a encontraria assim tão rápido. E vê-la ali, deslumbrante ao piano, era mais apaixonante do que nunca. Pôde ouvir algumas notas antes de Julieta parar bruscamente, ela tocava uma de suas melodias preferidas, a mesma que Ema tocava quase todos os dias depois do jantar. Após os segundos de paralisia com todo aquele encantamento, Aurélio se pronunciou:

— Boa tarde dona Julieta.

— Boa tarde senhor Aurélio, o que o traz aqui?

— Eu vi seu carro passar pela estrada, estava cavalgando e resolvi voltar para vê-la.

— O senhor não cansa de ser insistente? – Pergunta Julieta visivelmente incomodada com a presença de Aurélio.

— Não estou entendo a colocação. Ontem a senhora...

— Ontem o senhor invadiu a minha casa em São Paulo e hoje está aqui plantado na minha sala no Vale do Café.

— Julieta, porque tem que ser sempre assim? Porque não podemos conversar civilizadamente sem que eu seja atacado com pedras todas as vezes que tento conversar com você? Por exemplo, vejo que está tomando café, porque não utiliza a sua ótima educação e me convida para uma xícara de café e estabelecemos uma conversa no mínimo cortês, só para variar um pouco. – Provoca Aurélio.

Julieta se irritava pela calma que Aurélio aparentava, pois ela estava visivelmente abalada com a presença inesperada dele. Não esperava encontra-lo antes das cinco da tarde do dia seguinte, quando venceria o prazo para pagamento da dívida do Barão.

— Mercedes. – Gritou Julieta.

Mercedes apareceu quase que instantaneamente.

— Pois não, senhora.

— Mercedes, traga mais uma xícara de café, por favor.

— Forte e com açúcar, por favor. – Pediu Aurélio.

Enquanto esperavam, Julieta pegou sua xícara de café e deixou o piano. Aurélio ficou acompanhando com os olhos cada movimento dela. Como aquela mulher de coração tão duro e palavras cortantes guardava uma beleza tão delicada e estonteante. Pôde reparar que especialmente naquele dia estava ainda mais bonita. Continuava com as roupas negras, mas vestia um modelo que deixava um discreto pedaço de pele aparecendo sob o decote. Nunca tinha visto Julieta assim. Ele tinha que fazer um esforço enorme para não ser flagrado com olhar fixo no colo de Julieta, pois era mais forte do que ele. Imaginava-se acariciando aquela pele cheirosa, beijando a boca dela e escorregando seus lábios por cada detalhe daquela mulher. Encontrava-se num estágio de quase transe em meio a tantos pensamentos e foi acordado abruptamente:

— Senhor! Senhor!

— Oi. - Respondeu Aurélio depois de um tempo, pois estava totalmente inebriado pelos pensamentos que lhe estavam na cabeça.

— Aqui está senhor, sua xícara de café. Trouxe o açúcar para que o senhor mesmo se sirva.

— Ah, sim. Muito obrigado Mercedes.

Mercedes colocou tudo na mesinha de centro em frente a Aurélio e se prostrou ao lado de Julieta.

Permanecendo um silêncio constrangedor entre os 3 naquela sala, o que foi rapidamente cortado por Julieta:

— Mercedes, pode ir. A noite já está caindo e você deve estar cansada da viagem, pode se recolher.

— A senhora não vai mais precisar de mim?

— Por hoje não. Pode ir. E avise ao Tião que também não vou mais sair hoje.

— Está bem senhora, boa noite. Boa noite senhor Aurélio.

— Boa noite. – Eles responderam.

Mercedes como num passe de mágica desapareceu daquela sala e enfim, Julieta e Aurélio estavam completamente sozinhos.

Aurélio ia se servindo do café colocando um pouquinho do açúcar trazido por Mercedes. Mexia lentamente com o olhar fixo em Julieta e um leve sorriso, oferecendo a ela o café.

Com a maior cara de desdém que conseguiu fazer, Julieta sorriu apenas com o canto de boca, quase não mexendo os lábios e levantando sutilmente a sobrancelha direita firmemente o indagou:

— Agora que estamos só nós dois, pode me explicar o que o senhor está fazendo aqui?

Aurélio terminando de mexer seu café...

— Quer açúcar?

— Ora, mais que atrevimento.

— Atrevimento porque te ofereci açúcar?

— Atrevimento de novamente vir atrás de mim, me seguir pela estrada e me cercar quando eu mal cheguei ao Vale do Café. Vamos, me diga, o que o senhor veio fazer aqui?

— Ora, depois de tudo que aconteceu conosco em São Paulo acredito que não precisamos dessas formalidades mais. Não precisa ficar me chamando de senhor toda hora. – Levantou a xícara oferecendo um brinde.

— Acho que o senhor está enganado sobre os acontecimentos.

— Estou enganado? Como assim estou enganado? O que foi agora? Vai dizer que eu novamente forcei o beijo que aconteceu? Ou vai dizer que me beijou por pena de novo? Ou pior, vai dizer que nada daquilo aconteceu e que eu estou sonhando? Qual vai ser dessa vez?

— O senhor é insuportavelmente insistente e inconveniente. Foi seu pai que arquitetou essa estratégia para me fazer desistir de tomar a fazenda?

— Por que tem que ser sempre assim?

— Assim como? Eu não sei do que o senhor está falando.

— Porque quando nos encontramos, principalmente assim como estamos agora, só nós dois, não podemos agir de forma natural?

— O que seria o natural para o senhor agora?

— Primeiro, o natural, depois de TUDO o que aconteceu entre nós, seria ao menos você parar de me chamar de senhor. Depois você poderia ser um pouco mais cortês com as visitas e não recusar um brinde que eu propus. Quer açúcar?

— Não, obrigada. Gosto do café puro.

— Imaginei. O meu é levemente adocicado para quebrar o amargor, mas manter o sabor forte do café.

— Então vamos brindar o quê? O que estamos comemorando? O sucesso da expansão das minhas terras no Vale do Café amanhã com a tomada da fazenda Ouro Verde?

— Não Julieta! Podemos comemorar algo muito mais interessante, podemos comemorar a vida! Brindemos esse nosso reencontro que eu não imaginava que seria tão logo.

Eles levantaram suas xícaras com a mão esquerda e mantiveram os olhos fixados um no outro, brindavam suavemente e beberam um gole sem tirar os olhos um do outro. Terminado o brinde que Aurélio fazia tanta questão, Julieta voltou a sua rispidez, parecia alimentada pelo café amargo que tomara:

— Satisfeito? Já teve o seu brinde, já pode me dizer a que veio, ou melhor, sair pela mesma porta que entrou.

— Vejo que seu café era mesmo amargo não é minha querida. Como fazer para quebrar essa barreira que você insiste em colocar entre nós dois? O que falta para você liberar as suas emoções como aconteceu em São Paulo? Será que não seria um pouco de açúcar no seu café?

— O senhor só pode estar brincando... Eu sou dona absoluta das minhas emoções! O que aconteceu em São Paulo... – ela hesitou. Lembrou num flash de segundos dos últimos acontecimentos em SP, do baile, do dia seguinte em sua casa...

— Diga Julieta... o que aconteceu em São Paulo?

— O que aconteceu em São Paulo foi um momento de fraqueza. Nada que tivesse que ser levado a sério.

Aurélio salta do sofá em que estava e se coloca ao lado de Julieta:

— Ah, sei. E o que está acontecendo agora também é um momento de fraqueza? – Sussurrou ele no ouvido dela.

Julieta sentiu um arrepio dos pés a cabeça e não teve tempo de responder. Não precisava. Seu corpo respondia por ela. Apenas fechou os olhos e sentiu a respiração de Aurélio ao sussurrar aos seus ouvidos, a beijar cada parte do seu rosto, ele mordiscava sutilmente seu ouvido, beijava o seu pescoço, pesquisava lentamente onde o corpo de Julieta mais gostava de seu toque, quanto mais ele investia, mais Julieta se entregava àquele homem... eis que finalmente aquelas bocas se encontraram novamente.

Julieta já provara o beijo de Aurélio, mas naquele momento ele estava ainda mais especial, seus lábios ardiam de paixão o que despertava em Julieta um desejo que não conhecia. Ela não sabia o que estava fazendo ao certo, não coordenava mais suas ações, apenas sentia.

Os beijos se intensificaram, o fogo da paixão incendiava aqueles corpos entregues. As bocas não se desgrudavam. Ele afroxou a gravata e tirou o paletó, mas os olhos não soltavam dela. Os braços de Julieta agora escorregavam pelas costas dele. Já Aurélio a envolvia nos seus braços e colava o corpo dela junto ao dele. Os corações batiam aceleradamente juntos.  O tempo parou para que eles pudessem desfrutar daquele momento. Beijaram-se até perderem o fôlego, mas, quando as mãos de Aurélio alcançaram o fechecler do vestido dela, Julieta o interrompeu.

— É melhor isso parar por aqui.

— Julieta não tem sentido o que está falando. Somos adultos, estamos sozinhos, sabemos muito bem o que estamos fazendo e o que estamos sentindo. Eu quero você e seu corpo me diz que você também me quer.

— Aurélio não podemos agir como dois jovenzinhos desvairados. Nós não podemos fazer isso.

— É por causa de meu pai? Por causa da dívida da fazenda?

Julieta tenta se recompor no sofá e afasta levemente Aurélio.

— Há muito mais de mim que você não sabe.

— Eu não entendo você.

— Não precisa entender... melhor assim. Por favor, vá embora... e de uma vez por todas esqueça tudo o que aconteceu e não se aproxime mais de mim, isso nunca mais vai se repetir.

— Você só pode estar brincando. Por que está fazendo isso comigo? Por que está fazendo isso com você? Dê uma chance pra sua felicidade, a vida não precisa ser tão amarga assim. Diga que foi uma mentira o que vivemos até aqui. Vai enganar a mim e a você mesma que não sente nada por mim?

— O senhor confunde os meus pensamentos com essa insistência. Por favor, pare. Eu já disse que não há nenhuma relação possível entre mim e o senhor. E eu não tenho mais nada a dizer. Por favor, vá embora.

— Tem certeza que é isso mesmo o que você quer? Porque por mais que seus olhos digam o contrário eu vou respeitar a sua vontade.

— Sim Aurélio, vá embora e entenda de uma vez por todas que não é possível qualquer relação entre nós dois que não sejam os negócios em comum que temos. Amanhã as cinco em ponto estarei nas suas terras para tomar o que é meu por direito.

Profundamente triste ele recebeu aquelas palavras como uma sentença de morte. Jamais havia sentido uma paixão tão grande por uma mulher, e agora perdia aquele amor, sem ao menos saber o que tinha feito de errado. Mas, não ia mais insistir, se Julieta não correspondia ao mesmo desejo que ele tinha, o seu dever era respeitá-la.

— Tá bom, eu já entendi. Que tolice a minha acreditar que a tão temida Rainha do Café, senhora Julieta Bittencourt poderia se apaixonar por mim, um cara que não entende de negócios e só sabe amar profundamente a sua família e falar dos seus mais sinceros sentimentos. Perdoe o meu jeito insistente. O que eu sinto por você tomou conta de mim e eu não pude controlar, mas, eu já entendi o seu desejo, e, assim, como sempre, seja feita a vontade da Rainha do Café. – Aurélio se inclinou num gesto de cumprimento às ordens reais.

Pegou o paletó que havia caído no chão da sala e ao sair ainda olhou pra Julieta como uma última súplica de “não me mande embora da sua vida” – os olhos dele encontraram os dela, as respirações ainda estavam descompassadas, mas Julieta desviou o olhar inclinando levemente a cabeça para baixo, o que fez Aurélio perder todas as esperanças dela voltar atrás naquela decisão. Saiu deixando a porta aberta e sumindo com o seu cavalo na escuridão da estrada.

Finalmente Julieta pôde libertar as lágrimas que ela prendia. Ficou ali, chorando, como há anos não se permitia chorar. Fechou a porta da sua casa e do seu coração para o homem mais sensível que já tinha conhecido.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.
Mandem notícias!