O sol ainda não havia despontado quando os encarregados começaram a chegar para a decoração do casamento. Um altar foi providenciado para a celebração e uma tenda branca foi armada no jardim. O jardim estava muito florido já naquele início de primavera. As flores no jardim davam o toque especial para a decoração daquele casamento matutino.

O noivo se preparava em seu quarto. Em sua companhia estavam Brandão e Jorge, seus melhores amigos e agora, padrinhos de casamento. Conversavam sobre as responsabilidades do casamento e a sorte de encontrar um grande amor, mesmo na fase da vida em que não se acreditava mais ser possível se apaixonar. Jorge havia se casado às pressas por conta da doença de Amélia, porém não se arrependeu, amava a esposa. Os três ali conversavam sobre o sentimento do casamento, eram como adolescentes embarcando numa nova aventura e tinham cara de bobo apaixonados por suas mulheres.

Julieta recebia suas madrinhas em seu quarto que a ajudavam na preparação. Sentada em frente ao espelho vestindo o robe preto de cetim, as amigas em sua volta, ela se lembrou do primeiro casamento e como tudo era diferente agora.

— Estou muito feliz que estejam compartilhando deste momento comigo. No meu primeiro casamento eu estava sozinha e infeliz. Quero agradecer a todas vocês por terem aceitado o meu convite e mais ainda por fazerem essa homenagem tão linda.

Emocionada Ema se ajoelhou segurando as mãos de Julieta.

— Eu quero dizer que estou muito feliz por tê-la como madrasta. Você fez do meu pai o homem mais feliz do mundo e eu só tenho a te agradecer. É com muito carinho que preparei essa homenagem para você. Foi fácil convencer as minhas amigas, que hoje são suas amigas também.

— Não cabe mais solidão na sua vida minha sogra! Agora você tem uma família enorme e amigos para sempre!

— Jane você está tão linda! Eu quase não podia imaginar você usando outra cor que não fosse azul!

— Ema soube captar a minha essência e fez um modelo com a minha cara.

— Ema fez isso com todas nós, nos deu vestidos que tem a nossa personalidade na cor que ela escolheu para te homenagear. – Elisabeta pontuou.

— Isso mesmo! Desenhei um modelo exclusivo para cada madrinha. Sei que cada uma de vocês tem as suas cores preferidas e por isso eu tentei colocar o estilo de cada uma nesses modelos, para que ao vestir vocês se reconhecessem. Eu mesma me sentiria estranha, não estou acostumada com cores fortes, mas procurei algo que me lembrasse quem eu sou. E, eu sei que sou suspeita, mas confesso que amei a experiência de usar uma cor totalmente nova!

— Eu também amei o vestido novo! E Brandão nem se fale, adorou! – falou Mariana empolgada.

— Darcy também adorou! Apesar de me ver sempre de vermelho sempre disse que esse vestido tem um brilho diferente, mas que já está louco para tira-lo!

— Hummmmm! – todas riram com a fala de Elisabeta. Era público e notório que estava radiante com a experiência do casamento com o Sr. Darcy Williamson.

— Vocês estão tão lindas todas de vermelho. Era a minha cor favorita na adolescência. Eu estou profundamente emocionada.

— Me inspirei nas suas rosas Julieta. Suas madrinhas hoje são as suas rosas que abrem o seu caminho até o altar. Rosas sem espinhos, apenas as flores para você, com todo o amor. É o nosso presente para você! – Elisabeta abraçou a amiga e madrinha.

— Meninas, agora que Julieta já está com os cabelos arrumados e a maquiagem pronta preciso que vocês saiam. Eu quero ter a honra de vestir a minha madrasta. Ah, e o vestido dela é uma surpresa para todos, inclusive para vocês!

— Ahhhhhh Ema, no melhor da festa você manda a gente embora? – Charlotte reclamou.

— Ema tem razão meninas, vamos sair para dar privacidade a Julieta. Precisamos encontrar nossos maridos e nos posicionarmos para a entrada dos padrinhos.

Todas saem deixando Ema e Julieta. Ema traz a caixa com o vestido de noiva um pouco mais para perto e abre a caixa revelando a Julieta o seu vestido para as bodas.

— Ema, eu não sei se terei coragem! Passei tantos anos da minha vida de preto. Acostumei a viver enlutada por tudo o que me aconteceu que não sei se saberei vestir outra cor que não seja preto.

— Julieta, você é a mulher mais corajosa que eu conheço. É impossível apagar o passado, mas é perfeitamente possível escrever um novo futuro. Tenha coragem para recomeçar! E não se preocupe, você não estará sozinha. Eu estarei ao seu lado para te dar força, porque juntas somos mais fortes!

— Obrigada filha, por tanto carinho e cuidado comigo. Eu não tive a sorte de ser sua mãe, mas quero me dê a honra de ser sua madrasta.

Ao ser chamada de filha, Ema ficou emocionada, mas olhou para cima para não derramar as lágrimas e borrar toda a maquiagem. Tratou logo de encorajar a madrasta a usar o vestido novo.

— Você é especial, merece esse recomeço! Não se preocupe, ficará tão linda nesse modelo que nunca mais vai se lembrar que usou luto. – Ema foi tirando o vestido da caixa e revelando o modelo.

Assim como o vestido das madrinhas, Ema buscou ressaltar a essência da modelo. Era sua característica como modista, colocar personalidade nos modelos que desenhava, e isso ela fazia como ninguém! A ousadia da enteada foi apresentar a Julieta um modelo off White. Escolheu a cor porque por costume o branco não era usado para mulheres que estava em segunda união, mesmo assim, queria ver a noiva de seu pai entrando na igreja como uma noiva manda o figurino. O modelo longo com renda sobreposta "off white" com decote ombro a ombro e mangas de renda bordadas e uma cauda rastejante. O colo de Julieta que Aurélio tanto amava ficaria desnudo. Com a ajuda de Ema Julieta foi colocando o novo modelo, mas uma lágrima teimosa insistiu em escorrer.

— Não pode chorar! Vai borrar a maquiagem!

Julieta riu!

— É de felicidade! Tanta que os olhos transbordaram!

Elas riram. Ema terminou de fechar o último botão de madre pérola nas costas do vestido.

— Pronto!

Julieta se virou para olhar no espelho. Sorriu.

— Falta só um toque final...

Julieta estranhou, mas logo Ema colocou em sua cabeça uma coroa de brilhantes.

— Agora sim! Está pronta pra entrar, Rainha!

 Os convidados iam chegando aos poucos e se acomodavam nos bancos sob a tenda armada no jardim. A cidade inteira estava presente. O casamento da Rainha do Café com o filho do Barão de Ouro Verde era o acontecimento na pacata Vale do Café. Padre Gregório, que por tantos anos fora o único amigo de Julieta, foi o escolhido para celebrar a união do casal.

Aurélio não conseguia esconder o seu nervosismo e era amparado por Jorge. O Padre já estava pronto, mas percebendo a tensão do noivo saiu do altar para tentar tranquilizá-lo.

— Não se aflija meu filho, sua noiva logo chega. Conheço Julieta, ela não desiste de nenhuma decisão!

— Eu sei Padre, mas foram tantas barreiras até aqui...

— Desafios que vocês conseguiram superar, o que só fortaleceu o amor de vocês. Hoje selarão esse amor na presença de Deus e dos amigos para sempre! Acalme-se ou vou precisar adiar o casamento porque o noivo desmaiou!

— Isso não Padre! Vou me acalmar! Obrigado por celebrar o meu casamento. É muito importante para Julieta que seja o senhor a nos dar a benção. Depois de tudo o que ela passou...

— Eu me sinto lisonjeado pelo convite, e muito feliz por vocês. Julieta merece ser feliz e o senhor foi especialmente escolhido por Deus para trazer a ela essa felicidade...

Enquanto eles conversavam, Ema chegou e disse no ouvido do pai que Julieta já estava pronta e poderiam começar. Não estava atrasada, era sempre pontual, mas Aurélio tinha a sensação que já estava esperando há horas.

O Padre voltou para o altar. A fila de Padrinhos se formou atrás do noivo. Ao sinal de Ema os músicos começaram a tocar ( https://www.youtube.com/watch?v=JrxGv3ADcv8 ).

Todos se levantaram para a entrada de Aurélio. Ele e Ema se olharam, Aurélio visivelmente emocionado, Ema sorriu e beijou a mão do pai e lentamente começaram o caminho até ao altar. Os olhos azuis de Aurélio brilhavam ainda mais com a emoção da caminhada até ao altar conduzido pela filha. Aos poucos a marcha foi diminuindo até que cessou.

Outra melodia começou em seguida (https://www.youtube.com/watch?v=Dy5dBGhouV0), era a entrada dos padrinhos. A procissão de padrinhos era formada por seis casais. Eles foram carinhosamente escolhidos para testemunharem no altar a união de Aurélio e Julieta. As madrinhas, por um pedido de Ema, usavam cada uma um modelo de vestido longo, mas todas em vermelho. Representavam as pétalas das rosas que Julieta tanto amava.

Cinco dos casais entraram na procissão intercalados entre os padrinhos da noiva e do noivo. O primeiro casal, padrinhos da noiva, era Darcy Williamson, sócio e amigo pessoal de Julieta e sua esposa Elisabeta Benedito Williamson, seguidos por Coronel Brandão e sua esposa Mariana Benedito Brandão, Charlotte Williamson, irmã de Darcy, e Olegário, antigo funcionário de confiança de Julieta e marido de Charlotte, Jorge e Amélia e por fim Ernesto, noivo de Ema entrou com Jane que aguardaria no altar a chegada de seu esposo. Todos se encaminharam aos seus lugares. Os convidados se sentaram à espera da noiva.

O silêncio não durou mais do que dois minutos, entretanto tempo suficiente para aumentar a expectativa de todos à espera da noiva. Logo a carruagem apontou a música iniciou novamente (https://www.youtube.com/watch?v=dkDYn56NKdM) para o trajeto da carruagem. Todos os convidados se levantaram e se viraram para acompanhar o veículo que trazia Julieta.

Dentro da carruagem Julieta suava frio. Não se lembrava de alguma vez ter ficado tão nervosa em alguma situação em público. O nervosismo era claro porque nos casamentos a atração principal é a noiva, todos ficam atentos aos mínimos detalhes do vestido do penteado da maquiagem, enfim, a noiva é a protagonista daquele espetáculo e Julieta nunca gostou de ser o centro das atenções. Percebendo o nervosismo da mãe, Camilo a tranquilizou:

— Não se preocupe, você está linda! Eu estarei do seu lado.

Julieta sorriu.

— Obrigada meu filho. Nunca estive tão nervosa.

— Eu sei! Mas posso te garantir que apenas alguns passos a separam da maior felicidade do mundo. Vá de encontro ao amor mãe e seja feliz! – falou isso e lhe deu um beijo na testa.

Julieta sorriu novamente e respirou fundo.

— Pronta?

— Pronta!

A carruagem parou atrás de uma cortina grandiosa colocada especialmente para a entrada da noiva. Camilo desceu da carruagem, abriu a porta para ela e a ajudou a descer. Estava deslumbrante. O menino nunca havia visto a mãe tão bonita e ficou bobo a admirando enquanto ela ajeitava o vestido. O filho lhe entregou o buquê de rosas vermelhas e ofereceu o braço esquerdo a ela. A marcha nupcial tocou (https://www.youtube.com/watch?v=Lc2nsVz13Bc&list=PL-X2XK92VlYViJvpFhSEmBNSj-Huv8K-U&index=7) as cortinas se abriram. Os convidados ficaram boquiabertos com a imagem de Julieta de noiva. Da entrada Julieta respirou fundo sabia que atraía todos os olhares, mas ela fixou o olhar nos olhos emocionados de Aurélio. Sorriu para ele e recebeu o sorriso dele de volta. O cortejo se iniciou. Julieta foi conduzida pelo filho ao altar. Aurélio a esperava. Entrava ali o grande amor da sua vida, com os olhos marejados ele a esperava. Na chegada, Camilo cumprimentou Aurélio:

— Estou te entregando a mulher mais importante da minha vida.

— Eu te prometo cuidar dela mais do que a minha própria vida.

Em seguida beijou a mão de Julieta:

— Seja feliz mãe!

Entregando-a para o noivo. Aurélio a recebeu com um beijo na testa e segurou-a pela mão.

O padre iniciou:

— Irmãos, hoje recebemos Aurélio Cavalcante e Julieta Sampaio dispostos a acolher a benção de Cristo sobre o seu amor conjugal. Por isso eu vou pergunto: é de livre vontade que pretendeis fazê-lo?

Os noivos se olharam e responderam juntos.

— Sim!

— Uni-vos as mãos direitas e manifestai a vossa vontade diante de Deus e da Igreja.

— Eu Aurélio, recebo a você Julieta, como minha legítima esposa, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida.

— Eu Julieta, recebo a você Aurélio, como meu legítimo esposo, e te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida.

— Após o compromisso que acabaram de firmar, recebam as alianças que usarão por toda a vida como um símbolo do compromisso e do amor de vocês.

Os músicos iniciaram (https://www.youtube.com/watch?v=zX2vmcIMg8M). A igreja se voltou para a entrada onde Estilingue, muito elegante era o pajem que trazia as grossas alianças gravadas com o nome de cada um e a data 22.09.1910. O dia do sonho realizado!

Estilingue distribuía sorrisos e fazia firula pelo caminho divertindo todos que esperavam a sua chegada até o altar. Ao final, ainda deu uma voltinha e mandou um beijinho para a assembleia. Ninguém conseguiu conter as risadas. Ele então finalmente entregou as alianças a Aurélio e beijou a mão de Julieta fazendo uma reverência à Rainha e saiu ao tempo de uma última piscadinha aos convidados.

O Padre abençoou as alianças com água benta.

— Abençoe o Senhor estas alianças, que ides entregar um ao outro como sinal de amor e de fidelidade.

— Amém.

Aurélio, colocando a aliança no anelar esquerdo de Julieta proferiu as seguintes palavras:

— Julieta, recebe esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

— Amém. – disse Ela fechando os olhos. Julieta se emocionou sorriu. Durante tanto tempo usou alianças que foram o fardo mais pesado que já havia carregado, símbolo de dor e sofrimento que marcou o seu passado, e agora, finalmente recebia a aliança do amor e da cumplicidade do seu escolhido. Não cabia em si de tanta felicidade. O noivo beijou-lhe a aliança selando o compromisso.

— Aurélio recebe esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Julieta repetiu o gesto, inclinou-se, fechou os olhos e beijou demoradamente a mão do esposo sobre a sua aliança. Abriu os olhos e sorriram.

— Confirme o Senhor, benignamente, o consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e Se digne enriquecer-vos com a sua bênção. Eu vos declaro casados! Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.

— Amém!

— Que não separe o homem o que Deus uniu.

Em volume baixo para Aurélio e os padrinhos que estavam no altar o Padre consentiu:

— Pode beijar a noiva!

Os músicos iniciaram o fundo musical para o momento mais aguardado da cerimônia (https://www.youtube.com/watch?v=HpefGNIwwmw). Todos sorriram e Aurélio e Julieta, pela primeira vez, trocaram um beijo em público. Um beijo um tanto quanto demorado, mas aplaudido de pé por toda a assembleia.

Camilo fez um pigarro com a garganta aos noivos para que interrompessem o beijo, já que estavam todos aguardando.

— Desculpem o incomômodo, mas filho tem dessas coisas!

Todos riram e Camilo continuou:

— Quero convidar a todos os presentes que permaneçam conosco, pois a festa continua meus amigos! Vamos celebrar o amor!

Todos aplaudiram e aguardaram o cortejo de saída dos noivos seguidos pelos padrinhos. (https://www.youtube.com/watch?v=lvecw4bQb9Q). Enfim estavam casados!