Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 14
Os preparativos


Notas iniciais do capítulo

Os dias que antecederam ao casamento de Julieta e Aurélio.



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Ao chegarem ao Vale do Café aproveitaram a primeira noite juntos e sozinhos na fazenda, porque sabiam que a casa estaria cheia dali em diante. Comemoraram juntos o noivado, brindaram o amor e todas as novas oportunidades que a vida os apresentavam. Na segunda-feira bem cedo Julieta já colocou a casa em movimento, afinal tinha menos de 15 dias para fazer uma festa de casamento. Providenciou a instalação de uma linha telefônica na casa o que facilitaria a movimentação dos negócios.
Aurélio trouxe o Barão e Ema para morar na fazenda com eles. Ema estava namorando o senhor Ernesto Pricielli e logo deveria se casar e formar a sua família, mas enquanto isso não acontecia foi morar na fazenda para continuar próxima do pai e do avô. A casa que comprara com o dinheiro que o pai havia deixado seria sua para o começo da vida. O Barão a princípio não gostou da mudança, ainda não aceitava o relacionamento do filho com a responsável pela derrocada de sua família.
Sentados na sala de estar, Julieta, Aurélio, o Barão, Ema e Ernesto aguardavam o jantar.
– Eu não concordo com esse noivado. Aurélio você não tinha o direito de trair a sua família. Julieta foi a responsável por eu perder tudo!
– Ora vovô, dona Julieta não foi responsável pela sua derrocada. A culpa de nossa falência foi do senhor mesmo. A sua cabeça dura nos levou a falência!
– é isso mesmo papai. Julieta não tem culpa do senhor ser teimoso e atrevido nos negócios!
Julieta só observava a conversa animada dos Cavalcante, e ria discretamente. Estava sempre de mão dadas com Aurélio.
– Mas o que é isso? Estão todos contra mim? Você está vendo o que você fez, sua viúva negra sem coração! Além de tomar minha fazenda, agora tomou a minha família também! Bom, mas se bem que não é mais viúva tão negra, porque o preto aí anda disfarçado... Deus do céu... antes parecia um urubu, só andava de preto, agora parece mais um pavão reluzente de tantas cores que resolveu juntar!
– Eu entendo sua agonia Barão, deve ser difícil para um homem na sua idade entender que a sua algoz, já que prefere me ver assim, ama o seu filho e é profundamente amada por ele!
Aurélio ficou todo cheio com a declaração em público da noiva, Julieta jamais havia exposto o seu sentimento assim.
– Aurelinho vai permitir que essa... que a sua... que a sua noiva fale assim comigo?
– Papai Julieta tem razão. Eu a amo profundamente e vamos nos casar em 15 dias, então o senhor tem bem pouco tempo para aceitar isso.
– Por falar nisso, dona Julieta...
– Ema... eu serei esposa do seu pai daqui a pouco, e, portanto, sua madrasta, que tal se acostumar a me chamar só de Julieta. Esqueça essa formalidade querida.
– Está bem... Julieta. Eu acho que está muito em cima para organizar uma festa como vocês merecem, mas eu quero ajudar na preparação se você permitir. Tenho experiência em organizar festas aqui no Vale e acho que posso ser útil.
– Por favor, eu conto com você para ter uma festa de casamento organizada em tão pouco tempo! Eu não tenho a menor experiência e tenho certeza que você se sairá muito melhor do que eu nessa tarefa.
Mercedes interrompeu a conversa e comunicou que o jantar está servido.
Todos se encaminham para a sala de jantar e o Barão já se dirige a cabeceira da mesa quando é interrompido:
– Papai, onde o senhor pensa que vai?
– Ué Aurelinho, eu sou um Barão, eu vou para onde é o meu lugar, o lugar mais importante da mesa.
– Papai, na casa de Julieta, quem senta na cabeceira da mesa é ela e não um Barão falido!
Julieta apenas assistia a cena achando graça do Barão.
– Onde já se viu? Eu, um Barão do Império, tendo que me sujeitar a sentar ao lado de uma cascavel que se autointitula Rainha e que sequer nobre é.
– Não se preocupe Barão do seu lado da mesa também servimos sobremesa!
Todos riram. Encabulado o Barão ficou resmungando ainda baixinho.
Após o jantar, Ema e Julieta trocavam informações sobre o que a Rainha do Café pretendia para a sua festa de casamento, enquanto Ernesto, Aurélio e o Barão jogavam baralho do outro lado da sala. Julieta se levantou para ir até a cozinha dispensar os empregados para que fossem descansar e Ema tomou a liberdade e rascunhou um modelo de vestido de noiva que imaginava para a futura madrasta. Era habilidosa com os desenhos e rapidamente conseguiu traçar a ideia que tinha na cabeça. Ao retornar a sala, Ema mostrou a Julieta o modelo arrancando lágrimas da Rainha do Café.
– É lindo Ema, mas eu não sei se ficaria bem. Talvez as pessoas me achem um pouco ridícula.
– Julieta você é jovem ainda, não é porque já tem uma história que deve esconder a sua juventude. Vejo que ensaia sair completamente do luto. Quer oportunidade melhor do que essa?
Julieta olhou para Aurélio que estava do outro lado da sala e sorriu.
– Está bem. Amanhã mesmo traga o costureiro. Eu não garanto que usarei o vestido, mas pelo menos vamos providenciá-lo.
Todos se preparavam para dormir e Aurélio encontrou Ema zanzando pelos corredores dos quartos.
– O que está fazendo aqui minha filha? Pelo o que sei o seu quarto fica do outro lado. O senhor Ernesto já lhe deu boa noite lá embaixo.
– Claro papai! Por que me toma? Eu estava apenas indo ver se meu avô precisava de mais alguma coisa. E o senhor? O que faz perambulando por aqui?
– Ora, eu estou indo buscar uma água na cozinha!
– Ah... sei.... então não se esqueça que a escada fica desse lado, nesse sentido que o senhor seguia é o quarto de Julieta.
– Claro minha filha! É para esse lado aí mesmo que eu estava indo!
Frustrada na sua tentativa de visitar o namorado no meio da noite, Ema voltou para o seu quarto. Constrangido Aurélio seguiu para a cozinha, e demorou um tempo para se certificar que não teria mais surpresas no meio da noite. Quando percebeu que o silêncio imperava correu na ponta dos pés para o quarto de Julieta.
– Demorou meu amor!
– Desculpe Julieta, mas fui flagrado por Ema no caminho daqui e tive que desviar para a cozinha!
Julieta riu.
– Acha que ela te reprovaria por dormir com mulher com quem vai se casar?
– O namorado dela está aqui essa noite, digamos que eu quero ser apenas um exemplo.
– Aurélio, você não pode controlar mais a vida de Ema. Ela é ajuizada, não cometa o mesmo erro que eu cometi com Camilo, confie na sua menina.
– Nela eu confio, eu não confio nele! – eles riram.
Beijaram-se. Julieta mordeu o lábio inferior de Aurélio. Ele riu. Era um sinal que já conhecia. Julieta se ajeitou ao lado dele e o beijou tirando a camiseta. O convite estava aceito. Eles se amaram.
Faltando uma semana para o casamento os preparativos estavam a todo vapor e agitavam o pequeno Vale do Café. Não se falava em outro assunto que não o casamento da Rainha do Café e do filho do Barão de Ouro Verde.
Camilo veio da capital com Jane e se hospedou na fazenda com Julieta tornando a felicidade daquele momento mais completa. Ema e as irmãs Benedito visitavam Julieta e a enchiam de mimos e conselhos para o casamento. A fazenda de Julieta nunca esteve tão movimentada. Era um entra e sai de hóspedes e serviçais para todos os lados. Até mesmo o Barão, mesmo tentando manter sua pose de ranzinza estava gostando daquela farra.
Com a agitação da cidade passou Susana conseguiu retornar ao Vale sem se fazer perceber. Trouxe com ela uma companhia da capital, Josephine, convencendo a moça que precisava sumir de são Paulo que o Vale seria um bom esconderijo, além de poder conseguir fisgar de volta o fazendeiro que perdeu no passado. Hospedaram-se na casa de Xavier e ficaram aguardando o melhor momento para atacar. Susana queria a todo custo se vingar de Julieta e aproveitou que o malfeitor da cidade também queria a cabeça da Rainha do Café e tratou logo de aliar. Xavier tinha, além dos interesses em derrubar Julieta, um desejo por Susana o que facilitou a vida da serpente em convencê-lo a hospedar ela e Josephine.
As notícias do casamento corriam toda a cidade, não sendo difícil para Susana acompanhar toda a movimentação da Rainha do Café. Ela conhecia muito bem a viúva Bittencourt e sabia que Julieta era forte demais para bater de frente com ela, a forma mais eficaz de atingir Julieta de uma forma fatal era acertar em cheio os seus pontos fracos: Camilo e Aurélio, as duas pessoas que Julieta mais amava.
Passavam-se os dias e conforme se aproximava o casamento de Julieta estava mais difícil de conter os ímpetos de Josephine. A intenção de trazê-la ao Vale foi de atrapalhar a felicidade estúpida de Julieta, mas ela estava dando tanto trabalho com sua impulsividade que Susana começava a se arrepender da ideia.
Josephine dava suas escapadas da casa de Xavier para ficar por dentro dos acontecimentos da fazenda Bittencourt. Ao saber que a despedida de solteiro de Aurélio iria acontecer na própria fazenda com os homens mais importantes da cidade tratou logo de se encaminhar para lá. A despedida aconteceria na casa anexa à fazenda já que na casa grande as mulheres se encontravam para a despedida de Julieta e para os retoques finais nos preparativos do casamento. Ao chegar na fazenda Josephine seduziu um empregado com promessas sexuais e conseguiu que ele prometesse colocar um sonífero na bebida de Aurélio no último drink de despedida. Sabia exatamente o que iria fazer, mas precisava que ele estivesse desacordado para executar o seu plano. E assim foi feito. No último brinde levantado pelos homens, Aurélio tomou a bebida batizada. Os cavalheiros ao brindarem e tomarem suas bebidas em gole único trataram de deixar o nubente sozinho para que fosse descansar para o grande dia.
Aurélio tentou sair da casa em direção a casa grande, porém sentiu os olhos pesarem e a cabeça tombar, desistiu de sair. Decidiu se deitar até a zonzeira passar. Cambaleando chegou até ao quarto mais próximo da saída e caiu na cama com a roupa do corpo. Josephine havia combinado com o criado que assim que as mulheres fossem embora da casa grande ele deveria avisar Julieta que Aurélio a chamava na casa anexa. Josephine tinha pouco tempo para execução do seu plano, mas com tudo calculado não precisava mesmo de muito tempo. Tratou de despir Aurélio e cobri-lo com o lençol e em seguida se despiu e entrou embaixo dos mesmos lençóis. As costas nuas de Josephine permaneciam amostra. Permaneceu ali até que Julieta chegasse e não precisou esperar muito. Logo a Rainha do Café entrou na casa.
Estranhando o silêncio do local, Julieta chamava por Aurélio entrando e procurando pelo noivo. A porta do quarto estava entreaberta e ao abrir completamente a porta a luz do corredor iluminou aquela cena montada especialmente para o seu flagrante.
Aurélio e Josephine nus em cima da cama. Julieta precisou se apoiar na porta para não cair do salto. As pernas perderam a força. Uma dor aguda bateu no seu peito. O grito veio imediatamente, mas ela calou a própria boca. Virou-se para a porta e abandonar aquela cena terrível que se formou diante de seus olhos. Saiu correndo dali batendo a porta da casa. Caiu em posição quadrupede no chão. Chorou. Sentou e olhou para o céu. Estava incrédula. Não acreditava no que seus olhos acabavam de presenciar. Aurélio deitado com uma outra mulher. Nus. Não podia ser. Não podia acreditar. Aquele não era o seu Aurélio. Pediu a Deus para que se estivesse no meio de um pesadelo que acordasse logo, e parece que Deus ouviu imediatamente suas preces. Chorando muito e com a vista embaçada viu ao longe algo que brilhava no chão. Engatinhou até o item luminoso e viu um vidrinho pequeno de sonífero vazio abandonado no meio do mato. Olhou para o céu novamente e agradeceu. Enxugou as lágrimas, arrumou o vestido, e acelerou de volta à casa anexa. Entrou batendo a porta novamente. Josephine que ouvia todo o movimento tratou de se fingir de morta no sono mais profundo que conseguiu fingir, mas não foi suficiente para enganar Julieta.
A Rainha do Café tratou de tira-la do lado de Aurélio puxando-a pelos cabelos o que a fez uivar de dor. Aos gritos de sua louca Josephine foi posta para fora arrastada por Julieta até ao batente da porta de entrada.
– Nunca mais se meta entre mim e Aurélio ou eu acabo pessoalmente com a sua vida! Vá embora do Vale aqui é pequeno demais para nós duas e eu não quero dar esse aviso de novo!
Arremessou as roupas de Josephine porta à fora e bateu com sua maior força na cara da loira. Tratou de voltar ao quarto onde estava Aurélio e com muito esforço conseguiu acorda-lo e vesti-lo. Sem saber o que estava acontecendo, zonzo e com dor de cabeça, Aurélio balbuciou.
– Minha cabeça dói meu amor, eu acho que o último drink não me fez bem.
– Eu sei o que não te fez bem, mas venha comigo, eu vou cuidar de você meu amor. Apoie-se em mim que eu vou te levar de volta para a casa.
Julieta deu um banho gelado nele e deu um café bem forte e amargo conseguindo reanimar o amado. Ela contou o que aconteceu. Envergonhado, Aurélio não parava de se desculpar.
– Meu amor me perdoe. Eu não lembro de nada depois do último drink. Lembro que os amigos foram saindo e eu quando tentei sair me senti muito zonzo e resolvi deitar, depois disso eu apaguei.
– Josephine te dopou meu amor e depois montou uma cena para que eu acreditasse que vocês dormiram juntos.
Aurélio se emocionou.
– Mesmo diante de todas as evidências dessa cena montada diante dos seus olhos você confiou em mim meu amor...
– Aurélio você já me provou a sua fidelidade e eu não tenho dúvida do seu amor por mim. Eu confesso que Josephine conseguiu me abalar, porque ela é linda, exerce um domínio sobre os homens, a carne é fraca, enfim... por vários motivos ela poderia pegar qualquer um que estava naquela casa, mas não você, não o meu Aurélio, fiel a mim e que me prometeu a felicidade para sempre. Além de tudo, ela é burra. Deixou para trás a prova que faltava para a materialidade do crime, o frasco do sonífero!
– Fico feliz por você acreditar na felicidade que eu te prometi meu amor. Nas condições que Josephine me colocou eu não teria chance de me defender, mas você me resgatou!
– Eu exijo contrato vitalício senhor Aurélio Cavalcante!
– Amanhã assinaremos esse contrato meu amor! Amanhã selaremos nosso compromisso de felicidade eterna! Senhora Julieta Sampaio Cavalcante!
– Agora vamos dormir porque não quero ser uma noiva com olheiras amanhã. Já me chamam de viúva negra, bruxa, cascavel, aí irão me chamar de urso panda também!
– Vamos dormir sim, mas hoje vou dormir no meu quarto.
– Aurélio, qual é o sentido disso?
– O sentido é que amanhã você se tornará minha esposa e nossa noite de núpcias será especial. Então esta é a última noite que dormiremos separados, a partir de amanhã e até o fim de nossas vidas dormiremos juntos. Vou para o meu quarto! Boa noite meu amor, mais uma vez muito obrigado por me resgatar da cobra loira! – ele falou dando um beijo terno nos lábios de Julieta.
Ainda incrédula pela atitude do noivo, não sabendo se achava graça do costume de dormir separado do noivo na noite anterior ao casamento ou se ficava com raiva porque depois de tudo o que passou ser obrigada a cumprir convenções àquela altura do campeonato.
– Boa noite.
E viu Aurélio sair porta afora.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura. Deixe seu comentário se puder! Beijos, até o próximo.



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