Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 13
Zerando O Passado


Notas iniciais do capítulo

Julieta finalmente se libertando totalmente do passado.
Um outro olhar para a mudança de cores e a história dolorosa do passado com o filho.



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No meio da madrugada, subiram para os aposentos de Julieta e lá dormiram exaustos pelo prazer farrista que viveram naquele escritório.

Na manhã de domingo, Aurélio ainda dormia quando Julieta acordou sorridente. Durante o banho quente sentada na banheira pôde avaliar tudo que estava acontecendo em sua vida. Olhou para a mão esquerda sem as alianças velhas, olhou para o anel na mão direita e se abraçou comemorando a felicidade que enfim chegou para ela. Seu passado não refletia mais. Ela renasceu. Resgatada pelo amor de Aurélio se encontrou novamente com Julieta Sampaio e não tinha mais medo e nem vergonha do Bittencourt que carregava e que muito breve seria definitivamente expurgado de sua vida. Chegou a gargalhar sem som para não acordar Aurélio e quando olhou para o lado viu as vestes pretas sobrepostas ao balcão do banheiro.

Terminou seu banho. Vestiu o robe de seda preto e se encaminhou para a penteadeira. Abriu um porta joia pequeno e pegou uma pequena chave. Caminhou até o armário, abriu e sorriu discretamente enquanto os olhos ficaram marejados. Diante dela os vestidos coloridos do passado. Julieta manteve trancado por todos os anos de luto um rico guardarroupa repleto de vestidos de tecido fino. Predominava sobre os modelos a cor vermelha em seus mais variados tons. Era a sua cor. Gostava do vermelho, pois refletia a sua personalidade, a sua força e ousadia juvenil. Deixou escapar uma lágrima quando tirou um dos belos vestidos do armário. Com cuidado para ainda não acordar Aurélio, vestiu a peça escolhida e foi se olhar no espelho. O vestido não reluzia totalmente o vermelho, era um vinho ainda misturado ao preto, o decote deixava o colo à mostra como sabia que Aurélio gostava. A satisfação de liberdade estava em seu semblante refletido no espelho. Quando o noivo acordou se deparou com uma visão. Piscou os olhos para se certificar que não estava sonhando e só conseguiu dizer.

— Você está linda meu amor!

— Estou me sentindo estranha, eu carreguei o luto por tanto tempo que ele insistiu em fazer parte de mim. Eu me olho no espelho e não me reconheço.

— Julieta você linda de qualquer jeito, vestindo qualquer cor.

— Meu luto nunca foi por Osório, Aurélio. Sempre foi por mim, por tudo o que passei, e um protesto pelas mulheres que sofreram a mesma opressão que eu sofri. Esse espelho me mostra a nova Julieta, a Julieta que você resgatou. – ela se vira para olhar para Aurélio, e continua – A nova Julieta, não mais dona absoluta de suas emoções, mas livre para vivê-las em cada vão momento.

Aurélio sorriu e foi abraçar a futura esposa e beijou-lhe a testa.

— Eu estou quase pronta para a nossa partida. Só há mais um passo para esse ciclo se fechar antes de partirmos.

Aurélio olhou-a apreensivo.

— Camilo! Preciso conversar com meu filho. Você tem razão. Só a verdade é libertadora e seu amor me encoraja a contar a verdade para ele. Eu preciso dar esse último passo para enterrar esse passado e construir nosso futuro livre dessas marcas. Você iria comigo até o cortiço?

Aurélio inesperadamente carrega Julieta no colo.

— Levo nos meus próprios braços se for preciso meu amor! Eu te prometi que faria de tudo para te ver feliz e é isso que eu vou fazer. – ele oferece um selinho em sinal da sua cumplicidade.

Tomaram café juntos. Aurélio ainda se pegava hipnotizado pela beleza de Julieta, agora mais reluzente no vestido vermelho. Ela percebia os olhares dele e abaixava a cabeça um pouco sem graça. Não demoraram no desjejum. Julieta tinha pressa para falar com o filho. Havia adiado essa conversa por muito tempo e agora precisava de uma vez por todas se livrar daquele fardo do passado.

Já estava no meio da manhã quando chegaram ao cortiço. Camilo e Jane aproveitavam as folgas de Camilo no domingo para dormir até um pouco mais tarde. Estavam tomando café quando Julieta e Aurélio bateram a porta. Camilo atendeu.

— Mãe? Aurélio? Vocês por aqui? Nós não esperávamos...

— Camilo, vai ficar parado aí na porta? Convide sua mãe para entrar!

— Claro! Entrem! Mãe, você está diferente, não está... de preto... aconteceu alguma coisa?

— Bom dia meu filho. Bom dia Jane. Camilo eu estou aqui porque preciso ter uma conversa com você. A conversa que você sempre me cobrou e eu sempre fugi dela.

— Camilo eu vou com o senhor Aurélio até a padaria buscar alguns sonhos a mais para oferecer a sua mãe, voltamos logo.

Aurélio e Jane saíram.

— Mãe, o que está acontecendo? Eu nunca vi a senhora assim. É bem verdade que está até mais bonita, mas que conversa é essa que precisa ter comigo? Sente-se.

— Camilo, antes eu preciso que saiba que essa conversa é muito dolorosa e não a tivemos antes por fraqueza minha, mas agora estou aqui, despida de todos os meus conceitos, não mais como a viúva de Osório, tampouco como a Rainha do Café, mas como sua mãe para te expor a minha alma.

Camilo se abaixou para ficar mais próximo da mãe.

— Mãe está me assustando. A senhora é a pessoa mais forte que eu conheço? Que conversa é essa de fraqueza?

— Camilo... – Julieta respirou fundo, olhou para cima para que as lágrimas não escapassem dos olhos. – Você sempre me cobrou pelos abraços que não demos, os beijos que eu não soube dar, o toque de mãe que você nunca teve.

— Mãe, isso é passado. Eu senti sim a falta dessa forma de amor, mas eu entendi que o seu amor estava na sua força, na sua luta para me fazer um homem de bem. E apesar da ausência dessas demonstrações de carinho, você sempre esteve presente em todos os momentos importantes da minha vida. Mãe, nós já nos perdoamos pelas nossas diferenças, isso já não importa mais.

— Importa meu filho. Você tem o direito de saber tudo o que aconteceu comigo. Porque eu fui uma mãe que não soube te dar o carinho que você merecia. Camilo o seu pai era um homem muito... difícil.

— Difícil como? A senhora sempre me disse que ele foi um grande homem.

— Eu menti!

— Mentiu? Como assim mentiu? – Camilo se levantou.

— Menti porque eu tinha medo e vergonha também. Eu era inexperiente, tive você muito nova, eu não sabia ser mãe meu filho. Quando seu pai morreu estávamos falidos. Eu era mais nova do que você e fiquei viúva, tinha um filho pequeno para cuidar e um monte de dívidas para administrar.

— Mãe por que você nunca me disse isso? Eu pensei que quando meu pai morreu a senhora tinha herdado a nossa fortuna e soube continuar os negócios, é claro. A senhora sempre exaltou a imagem do meu pai pra mim. Eu sempre questionei a Deus por que levou um homem tão bom cedo deixando a mim e a senhora.

— A verdade é que a morte do seu pai foi um alívio!

— Um alívio? Mãe, por favor, me explica direito o que está acontecendo pelo amor de Deus! – Camilo se ajoelhou novamente aos pés de Julieta não entendo o rumo daquela conversa. Ele se sentia sem identidade, vendo sua história desmoronar com as palavras da mãe!

— Não chore meu filho. Seu pai não merece nenhuma lágrima sua ou de quem quer que seja. – Camilo olhava para ela atento, sem entender as palavras de Julieta. – A verdade é que Osório era um homem desprezível. Eu tinha só 15 anos quando meus pais acordaram o nosso casamento. Osório era muito mais velho. Eu tinha sonhos. Eu nunca quis aquele casamento e me senti injustiçada com ele vendo a minha vida ser ditada por meus pais. Eu resolvi romper o compromisso com ele.

Camilo nem piscava, mas tremia de nervoso ouvindo a confissão da mãe. Julieta respirou fundo novamente.

— Foi então... – ela fechou os olhos por um segundo respirou fundo mais uma vez – foi então que ele se aproveitou de mim. Ele se aproveitou da minha inocência, da minha ingenuidade e me marcou.

— O que a senhora está me dizendo? – Camilo se levantou furioso.

— Meu filho me ouve pelo amor de Deus. Eu preciso contar até o final! – Julieta falou mais alto do que a raiva dele o que fez o filho se aquietar novamente aos pés dela. Camilo agarrou as mãos da mãe em sinal de desespero por tudo o que já havia ouvido e tinha medo do que ainda havia por vir. Timidamente e com medo da resposta perguntou:

— A senhora se casou com o homem que a estuprou?

— Foi para isso que ele me violentou. Para que eu ficasse manchada. – Julieta já não continha mais as lágrimas. – Eu sentia tanta vergonha, oprimida, eu não tive escolha. Fui obrigada a me casar com ele. A verdade era que seu pai era um homem violento. Eu vivia machucada, me escondendo, ele me violentou durante todos os anos do nosso casamento.

— Mãe... espera... – Camilo também não tinha mais as lágrimas, estava vermelho de raiva e de tanto chorar. – Se meu pai era esse monstro e se te violentou durante todos os anos que vocês foram casados, você quer me dizer que...

Julieta chorava copiosamente também.

— Sim, meu filho. Infelizmente o ato pelo qual eu engravidei não foi por amor... mas olha... eu quero que você saiba – Julieta começou a enxugar as lágrimas – eu quero que você saiba que você foi a melhor coisa que me aconteceu na vida! Se eu estou aqui hoje foi por você meu filho. Foi por você que eu sobrevivi a todos esses horrores que seu pai me fez passar.

— Mãe eu estou me sentindo sem chão. Eu sou fruto de um estupro. Nunca fui desejado, planejado, sonhado, como normalmente os filhos são. Por isso que a senhora nunca conseguiu demonstrar o seu amor? Sempre que olhava pra mim era o meu pai que você via não é?

— Não diga isso meu filho! Jamais repita isso! Você não se parece em nada com o seu pai. Você é dócil, carinhoso, incapaz de fazer mal a uma flor. Olhar para você sempre me deu esperança e força para continuar a viver. Você era o meu motivo para seguir em frente, por você meu filho eu sobrevivi. Se eu vim aqui hoje é para te pedir perdão. Pedir que perdoe por esconder de você por tanto tempo o nosso passado e não te dar a chance de entender as minhas fraquezas e vergonhas. Perdão por ter sido fraca e ter sucumbido ao mal que o seu pai fez às nossas vidas.

— Mãe, eu que tenho que te pedir perdão por nunca ter tentado te entender. Por jogar nas tuas costas todo o peso das minhas frustrações. Perdão por não ter sido o filho que você merecia.

— Olha meu filho... se eu estou aqui e te contei tudo isso é porque quero de uma vez por todas zerar o nosso passado e recomeçar. Eu descobri que ainda há tempo. Eu descobri o amor e renasci para uma nova vida e eu quero que você esteja ao meu lado nesse recomeço. Nunca mais eu quero me afastar de você.

Camilo se levanta e convida Julieta a se levantar e a beija no rosto, recebe o beijo de Julieta, abraçam-se demoradamente e derramam todas as lágrimas que ainda restam para cicatrizar as mágoas do passado. O abraço de Camilo fica mais apertado, quase sufocando Julieta, mas era para compensar todos os abraços não distribuídos.

— Vamos ser feliz mãe!

— Vamos meu filho!

E começaram a rir misturando as lágrimas à risada gostosa proporcionada pela paz que a verdade traz. Ficaram por algum tempo ainda abraçados e rindo até que Jane bateu à porta. Eles então enxugaram as últimas lágrimas, Camilo perguntou com a cabeça e Julieta respondeu positivamente para que ele abrisse a porta. Estavam muito vermelhos por tudo que tinham chorado, mas não tinham mais vergonha e não queriam mais esconder suas emoções.

Camilo abriu a porta e recebeu o abraço de Jane. Aurélio correu para também abraçar Julieta. A emoção tomava conta de Camilo, Julieta e seus pares, uma atmosfera de felicidade tomava conta do pequeno cômodo no cortiço. Até que Aurélio rompeu o silêncio:

— Bom, eu acredito que todos nós estamos muito felizes porque finalmente vislumbramos um futuro de paz e harmonia juntos. Camilo eu estou muito feliz porque você e Julieta se entenderam e gostaria de fazer um comunicado.

— Aurélio... não, eu não tive tempo de...

— Julieta, por favor, se me permite. Eu sou um pouco tradicional e gostaria de fazer tudo como manda o figurino. – disse ele interrompendo Julieta. – Camilo, eu... pedi a sua mãe em casamento!

Jane e Camilo se olharam surpresos e sorriram.

— Ela já aceitou, mas eu gostaria de ter a sua aprovação.

Julieta estava completamente envergonhada. Sentia-se adolescente de novo com o primeiro namoradinho que pedia aos pais o consentimento para namora-la.

— Aurélio eu fico feliz que a minha mãe tenha encontrado você e mais ainda por você ter resgatado dona Julieta da escuridão que ela vivia. Minha mãe é uma nova pessoa e eu tenho certeza que você é o grande responsável por isso.

— Eu não fiz nada Camilo. O amor é o responsável. Ele nos transforma em alguém melhor. Eu amo a sua mãe e tenho certeza que ela me ama também, nosso amor é o culpado desse renascimento. E é por esse amor que eu quero viver todos os dias da minha vida ao lado da sua mãe.

— Eu nunca vi alguém tão devotado assim! – Exclamou Jane que estava em lágrimas com as declarações de amor de Aurélio por Julieta.

— Eu sou devotado a você Jane Benedito! – Exclamou Camilo beijando Jane. Todos riram.

— Mãe, eu acho que eu nem preciso perguntar se você está feliz. O seu sorriso já é a resposta que eu preciso. – Camilo abraçou mais uma vez Julieta. Ele se virou para o futuro padrasto – Aurélio, eu confio a você a vida da pessoa mais importante da minha vida, a mulher que me deu a vida, que fez quem eu sou hoje e por quem eu serei eternamente devotado em gratidão! Seu único compromisso é fazê-la feliz!

— Tenha a certeza que eu vou dar o meu sangue para honrar esse compromisso para sempre!

— Bom... então... VIVA OS NOIVOS!!! – Gritou Jane

— VIVAAAA!!!! – todos se abraçaram.

— E quando vai ser o casório? – Jane inocentemente perguntou. Aí foi a vez de Julieta falar surpreendendo a todos:

— Daqui 15 dias. Dia 22 de setembro, início da primavera, na nossa fazenda no Vale do Café! Eu espero que tudo bem para você Aurélio.

— Claro meu amor, por mim eu já me casava agora mesmo. Minha surpresa é porque achei que você gostaria de ter mais tempo.

— Não, pelo contrário, eu não quero mais perder tempo. Nossa felicidade não pode esperar.

— Então está marcado! Vamos todos ao Vale do Café para o casamento do ano!

— Camilo, eu e Aurélio pretendemos nos mudar definitivamente para o Vale do Café e você sabe meu filho, minha casa sempre será a sua casa. A casa aqui de são Paulo está a sua disposição e a nossa casa no Vale também estará sempre de portas abertas para vocês.

— Eu sei mãe. Eu e Jane somos felizes aqui no nosso cantinho, mas prometo que iremos pensar com carinho na sua oferta. Obrigado.

— Meu filho, eu não estava presente no seu casamento por um erro na nossa história, mas eu gostaria muito que você estivesse presente nesse dia importante para mim e Aurélio.

— Não só estarei presente mãe, como faço questão de leva-la até o altar.

Emocionada Julieta abraçou Camilo.

— Obrigada meu filho, por me perdoar inteiramente.

— Vamos ser felizes mãe, eu te prometo!

Encerrado o passado naquela manhã de domingo Julieta e Aurélio partiram para o Vale do Café em busca da tão falada felicidade que pregaram. O que eles não sabiam e também não esperavam era que Susana seguia no encalço deles. Ao voltar à casa de Julieta na tentativa de buscar alguns pertences a víbora descobriu que a ex patroa voltara ao Vale do Café.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Deixa seu comentário por favor. Bjs. Até o próximo capítulo.



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