Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 12
Sonhos


Notas iniciais do capítulo

Insistentemente eu escrevo que meu propósito é dar um novo olhar à história de Julieta e Aurélio. Não escrevo a novela, mas meu foco é o desenrolar de uma história só deles. As músicas e poesia usada nesse capítulo não foram compostas à época da história, aqui há uma licença poética para usar no texto declarações de amor que eu acho intertemporal. Espero que gostem do capítulo. Boa leitura!



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Julieta acreditava que Suzana foi expulsa daquela casa e da vida dela para sempre. Ainda lhe custava acreditar que ela foi enganada pela víbora por tanto tempo. Entretanto sentiu um alívio por expurgar de vez o mal de sua vida.

Eles aproveitaram a paz da saída de Suzana para namorar e fazer planos. Estavam acordados ainda até os primeiros raios de sol invadir o quarto, o desejo e o amor era a força revigorante da qual eles se alimentavam. Conversavam sobre o futuro próximo, pretendiam partir para o Vale do Café ainda naquele final de semana. Ela estava deitada no peito dele e ele deslizava suavemente as mãos pelos braços dela, não cansava de acarinha-la.

— Eu quero apenas me despedir de Camilo, e deixar as portas abertas para o meu filho voltar a se aproximar de mim.

— Camilo já se aproximou meu amor. Ele aceitou suas desculpas e te perdoou. Agora está apenas cuidando da vida dele, trabalhando, construindo a própria família. Nós criamos os filhos para o mundo e Camilo voou do seu ninho!

— Eu sei... me dá uma dor no peito pensar nisso, mas você está certo. Camilo trabalhando como operário em uma fábrica é culpa minha. Eu fechei as portas para o meu filho. Apesar do perdão dele, sinto que ainda há mágoas por todo o mal que eu causei.

— Julieta, só a verdade é libertadora. Camilo precisa saber a verdade da sua história, do passado dele para vocês finalmente recomeçarem zerados com esse passado de dor...

Julieta subitamente desencostou do peito de Aurélio e o interrompeu:

— De jeito nenhum Aurélio. Camilo jamais pode saber a verdade sobre o meu passado. Ele sofreria demais por saber que engravidei por uma violência que sofri... vai se sentir indesejado, culpado... Aurélio, você...

— Eu jamais revelaria o seu segredo. – foi a vez de Aurélio interromper olhando profundamente nos olhos dela. – É preciso que saiba que não concordo, eu acredito que a verdade é libertadora e só através dela a sua relação com Camilo vai ser inteira... mas, eu te amo, te respeito e serei fiel a você por toda a minha vida.

Ela se emocionou ao ouvir aquelas palavras. Beijou Aurélio em agradecimento àquela cumplicidade. Emocionou-se pela generosidade da vida em lhe dar de presente um homem gentil e maravilhoso.

— Não chore meu amor. – disse ele ao findar o beijo.

— É de alegria. Estou recebendo uma nova chance da vida, você chegou para ficar e eu nem sei se mereço tanta felicidade.

— Claro que você merece, a vida deve isso a você! E eu sou o homem mais feliz desse mundo por ser eu o escolhido para te fazer feliz!

Aurélio ficou sorrindo. Julieta acha graça do sorriso dele.

— Por que sorri tanto assim?

— Quem diria que Julieta Bittencourt estaria assim, tão minha abandonada nos meus braços.

Julieta se virou novamente para ele:

— Ninguém... ninguém diria, porque eu mesma não acreditava que isso fosse possível... eu não acreditava que existia um amor tão grande e que eu seria capaz de amar alguém tão profundamente como eu amo você.

Aurélio sorriu e se emocionou com as palavras dela.

— Eu também te amo Julieta, mais do que a mim mesmo.

Beijaram-se. Primeiro lentamente, os lábios se tocavam e se soltavam intercalados com sorrisos. Encararam-se e voltaram aos beijos.

Agora os lábios se ardiam novamente. Julieta tomou a iniciativa e se deitou por cima dele. Ele sorriu maliciosamente, sabia que ela queria novamente. O perfume de Julieta o entorpecia de desejo. Ela o desejava tanto quanto ele. Aurélio prendeu os cabelos dela que caíram escondendo o rosto e admirou a futura esposa. O sorriso dela trazia mais luz do que aquela manhã que adentrou o quarto. Respondeu ao beijo dela. As mãos de Julieta desabotoavam o pijama dele convidando-o ao prazer. Prontamente ele desamarrou a camisola dela e novamente seus corpos desnudados se tocaram. Entregaram-se novamente ao amor.

Ela era incansável. Depois que conheceu o verdadeiro amor queria aproveitar cada momento daquela nova vibração. Sentia-se rejuvenescida. A chegada de Aurélio foi a chance que a vida lhe deu de recomeçar uma nova história.

Junto com todos os males do passado foi expurgada também a velha Julieta, amarga, austera, infeliz. Habitava em seu peito um fogo ardente de viver tudo o que lhe foi roubado na juventude. Uma vontade enorme de ser feliz e fazer feliz todos ao seu lado, principalmente Aurélio, responsável pela chegada do amor e pela transformação da sua vida.

Exaustos pela tórrida noite de amor que durou até ao amanhecer adormeceram na posição que mais gostavam, ela protegida nos braços dele.

Acordaram próximo ao horário do almoço. Julieta acordou primeiro e não quis acorda-lo logo. Ela tinha uma força juvenil. Dormiu poucas horas, mas já se sentia renovada para um dia inteiro de vida! Olhou para o amado dormindo na sua cama e sorriu sozinha, que vontade enorme de viver que sentia!

Ele tinha trabalhado durante toda a madrugada, primeiro analisando infinitos contratos para descobrir as armações de Suzana. Assim que mandaram a víbora embora, foi a vez de Aurélio cuidar de Julieta! Era normal que estivesse cansado! – Julieta riu mais ainda e saiu do quarto. Foi até a cozinha. Providenciou uma bandeja para o café, mas foi interrompida por Mercedes:

— Senhora, o que quer que eu prepare para o café da manhã. A senhora não costuma ficar até tão tarde no quarto, por isso resolvi esperar suas ordens.

Julieta riu. Realmente não tinha o hábito de ficar no quarto por muito tempo, mas ultimamente era o lugar que mais queria estar!

— Não se preocupe Mercedes, no momento não preciso de você aqui. Eu mesma quero preparar essa bandeja.

A empregada sorriu para a patroa e a deixou à vontade para se aventurar na sua cozinha. Ficou feliz por ela. Nunca tinha visto Julieta tão bem humorada de manhã.

A Rainha do Café agora subia as escadas com todo o cuidado do mundo com uma bandeja na mão, preocupada em não tropeçar e derrubar tudo no chão. Nunca tinha feito isso na vida e era um pouco desajeitada. Enfim chegou ao quarto sem acidentes pelo caminho. Deixou a bandeja no banco à frente da cama e se engatinhou sobre os lençóis para acordar o noivo.

Com beijos suaves de bom dia Aurélio despertou e o sorriso dela já iluminou o seu dia.

— Bom dia meu amor!

— Bom dia Julieta! Não sei o que fiz de tão bom para o Universo, mas acordar com o seu sorriso é o maior presente que eu poderia receber!

Ela continuou sorrindo.

— Deixei você dormindo um pouquinho mais. Acho que depois de... – ela corou – depois da nossa noite você precisava descansar. – continuou sorrindo, mas com vergonha abaixou a cabeça.

— Essa noite e cada momento nosso juntos são especiais. Estou muito feliz por estar ao seu lado. Exausto! Confesso! – falou debochando de si mesmo, deixando ela envergonhada. – Mas profundamente renovado por esse seu sorriso – levantou o rosto dela segurando no queixo e deslizando sua mão até o lado da bochecha esquerda e recebeu de volta o carinho na sua mão.

— Bom... mas como nem só de sorrisos vive um homem eu trouxe o café!

— Café na cama pra mim? Isso não vale... sou eu que tenho que fazer isso pra você!

— Eu nunca tive isso em toda a minha vida... o cuidado carinhoso de um homem por mim e muito menos essa vontade de cuidar de alguém. Você cuida tão bem de mim, me deixa cuidar um pouco de você também.

Aurélio sorriu.

— Deixo! Mas só se você me prometer que todos as manhãs você me acorda com esse sorriso lindo.

— Prometo! - Julieta selou a promessa com um beijo.

— Então vamos ao meu café da manhã!

— Eu mesma preparei! Como eu disse, eu nunca fiz isso, mas resolvi arriscar... espero que goste!

— Ai meu Deus... quer dizer que virei cobaia então senhora Julieta?! – disse ele debochando da tentativa da noiva, deixando-a apreensiva. – Mas olha, pra quem nunca fez isso na vida, você se saiu muito bem... está tudo perfeito meu amor! – beijando-a e lhe oferecendo na boca um pedacinho do morango mordido pra ela terminar.

Entre beijos e guloseimas matinais eles terminaram aquela manhã bem no início da tarde. Não sentiam o tempo passar, mas o relógio disparava quando estavam juntos.

Julieta passou o resto do dia no escritório organizando documentos e livros de contabilidade para levar ao Vale do Café. Providenciou também o pedido de uma linha telefônica para a sua residência no Vale. Não sabia quanto tempo ia passar por lá, aliás, provavelmente não voltaria mais a são Paulo, apenas para reuniões ou algo urgente a resolver com o Governador do Estado.

Já era por volta de seis da tarde quando por alguns segundos Julieta parou o que estava fazendo e sorriu pensando na sua vida no Vale do Café ao lado de Aurélio, imaginou-se velhinha tocando no piano a música favorita dele. Tirou os óculos e fechou os olhos. Imaginou Camilo e Ema chegando com seus companheiros e filhos, o Barão e todos juntos numa grande confraternização cercada de amor. A imaginação tornou-se mais real. Respirou fundo e sentiu o prazer da felicidade que o futuro lhe prometia. Abriu os olhos, mas o sorriso permanecia ali.

Do lado de fora, Aurélio estava observando a noiva. Ela estava entretida em seus pensamentos e não percebeu que ele estava ali. Quando ela abriu os olhos tomou a liberdade de interrompê-la.

— Precisa de ajuda meu amor?

— Aurélio? Eu não sabia que estava aí.

— Acabei de chegar. – ele não quis constrange-la.

— Eu só estou organizando as coisas para levar ao Vale do Café, afinal minha ida agora é sem data prevista de volta.

Animado com a resposta da noiva ele caminhou até o lado da mesa que ela estava e a beijou. Beijaram-se fervorosamente. Os corpos se desejavam incansavelmente. Julieta, mesmo compenetrada no trabalho, não mais fugia dos desejos que sentia. Ela correspondeu às iniciativas dele e o beijou de volta lascivamente. Invertendo as posições que se encontravam Aurélio afastou os papeis e livros que estava sobre a mesa e colocou Julieta sentada sobre a mesa do escritório. Beijando o pescoço dela ao mesmo tempo que abria os primeiros botões do vestido deixando a mostra o colo perfeito de Julieta ele subitamente parou.

— O que é que eu estou fazendo! Julieta me desculpe! É que...

— Aurélio...

— Eu te desejo tanto que me descontrolei... me desculpa meu amor. O meu corpo reage ao chegar perto do seu, mas saiba que meu amor é gentil e verdadeiro, eu te amo e te respeito em primeiro lugar.

— Calma Aurélio, está tudo bem. Você não me desrespeitou. Eu te desejo tanto quanto você a mim. Não se sinta constrangido. Estamos noivos, vamos nos casar em breve.

— Mas eu não quero que você se sinta obrigada a nada. Estou aqui para te amar e te fazer feliz.

Ela segurou nas mãos dele.

— É por isso que eu te admiro cada dia mais. Você sempre soube me amar e me respeitar!

Ele a beijou rapidamente e já saía apressado, ainda envergonhado por sentir que ultrapassou os limites com a noiva, mas feliz com as palavras dela.

— Aurélio... – ele olhou para trás – não precisa ir embora... – Ela desceu da mesa, ele voltou, ela segurou o rosto dele com as duas mãos e repetiu a declaração que já havia feito entre os lençóis: - Eu te Amo Aurélio – falou com todas as letras, olhou profundamente nos olhos dele, como se quisesse dizer junto: “acredite porque eu nunca fui tão sincera em toda a minha vida”. Isso não precisou dizer. Ele sentia.

— Eu também te amo Julieta, profundamente, como jamais pensei que seria capaz de sentir a essa altura da vida.

Beijaram-se, mas ele insistentemente interrompeu:

— Maassss... a senhora acabou de me lembrar uma coisa muito importante... – Julieta olhou incrédula, não podia acreditar que foi interrompida novamente! – Estamos noivos! Sendo assim, merecemos um jantar de noivado! Então não quero atrapalhar mais suas tarefas e espero que esteja pronta às nove da noite! – Beijou-a rapidamente e saiu.

Julieta ficou ali sorrindo, mas sem entender direito. Suspirou. Enfim, voltou aos documentos esquecidos e um pouco espalhados em cima da mesa. Queria o quanto antes se livrar daquela tarefa chata. Encontrar-se com o amado novamente era o seu maior desejo naquele momento, afinal Aurélio a abandonou sedenta por seus carinhos. Também tinha planos para aquela noite.

Aurélio saiu do escritório direto para a cozinha. Procurou Mercedes e pediu gentilmente que preparasse um jantar especial para Julieta. Deixou o menu por responsabilidade dela exigindo apenas que fosse um cardápio leve mas favorito de Julieta, que ele ainda não sabia, mas que a empregada de tantos anos com certeza sabia. Pediu também que preparasse uma mesa pequena no canto da antessala e que ficasse num pequeno buffet ao lado da mesa, assim ele mesmo poderia servir o jantar. Por fim, ainda pediu que tudo fosse iluminado com luz de velas.

Avisou Mercedes que iria sair, mas que voltaria logo, tinha um pouco menos de três horas para o jantar combinado com Julieta. Pediu a Tião que lhe levasse à casa de Jorge. O gentil motorista de Julieta prontamente atendeu e ficou esperando o futuro patrão. Aurélio entrou rapidamente, tomou um banho e vestiu o smoking. Pegou o anel de noivado que estava no paletó do terno que vestia anteriormente e saiu.

No portão encontrou Jorge chegando que caçoou do amigo:

— Quem te viu, quem te vê hein senhor Aurélio! Agora que namora uma certa Rainha do Café só vive de trajes de gala!

— Hoje é um dia especial Jorge! Vou pedi-la em casamento!

Jorge soltou um boa sorte entre uma gargalhada e outra!

Aurélio embarcou no carro e pediu a Tião para que fizesse outra parada antes de seguir para a casa de Julieta. Voltou ao Carlino. Procurou ao amigo gerente da casa para pedir-lhe um favor. Pediu que os músicos da casa o acompanhassem. Com duas ordens dele, Aurélio foi prontamente atendido.

Agora sim estava tudo pronto. Rumou em dois carros para a casa de Julieta. Chegou dez minutos antes do horário combinado. Os músicos se posicionaram embaixo da janela de Julieta. Ela não sabia exatamente como devia se vestir para a ocasião, mas era naturalmente linda. Enquanto Aurélio checava a arrumação do jantar, ela dava o toque final. Leves borrifadas de perfume e o enfeite no coque arrematavam o visual da Rainha do Café. O vestido preto, porém com um decote ousado e com os ombros amostra revelavam uma Julieta mais livre e pronta para novas experiências que o amor estava lhe proporcionando. Já se preparava para descer, quando ouviu a música da sua janela.

Esperou um pouco mais para entender se a música que ouvia era mesmo o que estava pensando. A melodia suave e a brisa da noite entraram juntas pela janela do quarto a fazendo arrepiar não sabendo ao certo se de frio ou de emoção. Tomou coragem para olhar ainda não acreditando que era para ela, mas ao avistar Aurélio, acompanhado dos músicos que produziam aquele doce som não estava enganada. Aí pensou que era um sonho, mas a música foi ficando um pouco mais baixa e Aurélio logo interrompeu o seu pensamento:

— Meu amor, espero que depois disso não desista de se casar comigo, mas eu não encontrei outra forma de lhe dizer isso:

A música voltou a ficar um pouco mais alta e Aurélio, envergonhado, tomou coragem e começou:

Eu tenho tanto pra lhe falar

Mas com palavras não sei dizer

Como é grande o meu amor por você

E não há nada pra comparar

Para poder lhe explicar

Como é grande o meu amor por você

Nem mesmo o céu nem as estrelas

Nem mesmo o mar e o infinito

Nada é maior que o meu amor

Nem mais bonito

Me desespero a procurar

Alguma forma de lhe falar

Como é grande o meu amor por você

Nunca se esqueça, nem um segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você...

Julieta não conseguia esconder a emoção que estava sentindo. Achou graça no início da timidez dele em cantar para ela, mas até que ele cantava bonitinho. Naquele momento, o que menos importava era a afinação do noivo. Ela estava extasiada com tamanha delicadeza da surpresa. Quando pensou que não poderia mais ser surpreendida, Aurélio trazia sempre algo novo que lhe arrancava lágrimas de felicidade. Ele realmente queria lhe provar que estava ali para fazê-la feliz.

A música foi ficando baixa novamente e ele emendou:

De tudo, ao meu amor serei atento antes

E com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure

O fundo musical parou. E ele sozinho, com a voz embargada pela emoção finalizou sua declaração pausadamente:

Mas como é grande... o meu amor...

Por... vo... cê

Ele foi aplaudido pelos músicos. Ela sorriu o aplaudindo também e saiu da janela. Ele abriu a porta, os músicos entraram tocando a música da serenata suavemente e ele ficou aos pés da escada esperando para recebê-la. Ela desceu as escadas segurando pomposamente o vestido, a postura perfeita. Ele se hipnotizava cada vez que ela descia as escadas, no último degrau ele a recebeu, com um beijo.

— Julieta, eu sei que esse não é o melhor jantar de noivado que você poderia ter, pois sequer estão presentes nossos entes mais queridos, nossos filhos, meu pai e nossos e amigos... – ele se ajoelhou, e, ao invés de segurar a mão direita da noiva, ele segurou à esquerda, e ao invés de lhe oferecer o anel de noivado começou suas palavras tirando lentamente as duas alianças que ela usava, símbolo do primeiro casamento de Julieta.

— Mas eu quero saber se você aceita romper definitivamente com o seu passado. Aceita esse homem apaixonado, que está aqui no seu presente, ajoelhado aos seus pés pedindo para recomeçar e construir com você o nosso futuro. – ele terminou de tirar as alianças dela e Julieta não conseguia mais segurar as lágrimas. Sentia que uma tonelada havia saído das suas costas com a retirada daquelas alianças. O peso das dores e marcas do passado se esvaía de uma vez por todas de sua vida. Usava aquelas alianças por costumes da época. Ao enviuvar era de praxe que o viúvo usasse a aliança do cônjuge falecido. O que ninguém imaginava era o fardo que Julieta carregou para sustentar aquele casamento de faixada. Ninguém poderia imaginar o quanto aquele costume lhe custava todos os dias. Enfim, Aurélio chegou para ficar e mudar definitivamente a sua história. O amor dele resgatou Julieta da escuridão em que encontrava. Libertou-a de todos os males e dores e a transformou numa mulher mais leve, com sede de viver e de amar infinitamente.

Ele guardou no bolso as velhas alianças de Julieta e pegou uma pequena caixinha preta de veludo, abriu e um solitário de diamante reluziu diante dos olhos, segurou a mão direita dela e sorrindo continuou.

— Eu quero saber se você, Julieta Sampaio, aceita se casar comigo? Ser minha esposa e juntar nossas vidas em uma só, para sempre?

Julieta sorrindo entre lágrimas só conseguiu dizer.

— Eu aceito.

Ele colocou o anel no dedo dela, com os olhos fechados beijou-lhe a mão e se levantou. Emocionado diante da noiva olhou-a profundamente nos olhos:

— Eu te prometo que viverei todos os dias da minha vida para fazer você feliz! – e beijou Julieta.

Os músicos pararam de tocar e também emocionados com aquela demonstração de amor começaram a aplaudir o novo casal. Saíram do beijo um pouco constrangidos pela presença dos artistas apenas sorriram. Aurélio fez um último pedido aos rapazes.

— Por favor, uma música para a primeira dança com a minha futura esposa.

Rapidamente se posicionaram e iniciaram a melodia mais linda que Julieta já havia ouvido. Eles começaram a tocar “tale as old as time” e respeitosamente Aurélio se inclinou e estendeu a mão direita convidando Julieta a dançar com ele. Mesmo envergonhada pela presença dos músicos e não estar propriamente em um baile estendeu a mão de volta ao noivo. Aurélio se manteve em posição de dança, segurou firmemente Julieta e a conduziu pela sala. Julieta sentiu como se não houvesse mais nada em volta, só ela e Aurélio e música que os conduzia.

Ao fim da música, sorriram, Aurélio beijou a mão de Julieta e se inclinou agradecendo a noiva pela dança. Despediram-se dos músicos e se encaminharam à mesa de jantar preparada por Mercedes. Aurélio puxou a cadeira para ela sentar, e a serviu. A cada gesto de carinho Julieta se apaixonava mais pelo futuro marido. Até conhecê-lo desconhecia tamanho sentimento por um homem, mas já o amava tanto que chegava a doer o peito esmagado pelo sentimento que de tão grande já não cabia mais ali. Às vezes não falava nada, ficava ali apenas admirando cada detalhe que ele pensou para agradá-la. Estava tão surpreendida que não tinha palavras para agradecer tantos presentes.

Aurélio serviu o jantar, mas estranhou Julieta tão pensativa.

— O que foi meu amor? O jantar não está ao seu gosto?

Julieta suspirou.

— Não tenho palavras Aurélio. Qualquer coisa que eu diga será muito pequeno perto do tamanho do agradecimento que você merece. O jantar tem até meu prato preferido.

— Ah, mas isso foi graças a Mercedes, eu ainda não sei todas as suas preferências, mas posso te garantir que vou dedicar a minha inteira para saber cada uma! – do seu canto da mesa mandou um beijo para a amada que retribuiu o beijo.

Passaram boa parte da noite conversando, rindo, falando dos filhos e de como seria a vida de no Vale do Café. Julieta contou que queria fazer mais pelo Vale, sentia necessidade de levar para a pequena cidade um pouco do progresso da capital para que os moradores tivessem acesso a cultura e a modernização. Aurélio se sentia orgulhoso da noiva e feliz por perceber que ela também queria se estabelecer no Vale, lugar especial para ele, onde se sentia verdadeiramente em casa.

Ao final da sobremesa e algumas taças de vinho depois eles se preparavam para subir quando Julieta segurou o noivo antes dele começar a subir a escada.

— Aurélio, espere. Não vamos ainda. Tem uma coisa que quero lhe mostrar.

Ele voltou e foi encaminhado por ela até o escritório.

— Julieta, eu sei que você é incansável com o seu trabalho meu amor, mas tem certeza que o que quer me mostrar não pode ser amanhã?

— Sente-se. – disse ela ignorando a fala do noivo. Ele se sentou e ela trancou a porta. Encaminhou-se para a poltrona em que ele estava ergueu levemente o vestido e sentou de frente para ele. – Te chamei aqui para continuarmos uma conversa que começamos hoje à tarde. – segurou as mãos dele e colocou-as atrás do pescoço onde se encontrava o fechecler do vestido, enquanto ela se inclinou levemente e beijava a nuca respirando lentamente próximo ao ouvido causando arrepios no amado.

— Julieta... meu juízo talvez tenha sido um pouco abalado pelo vinho, mas...

Beijou-o. Olhou-o nos olhos e disse sem medo – Eu nunca mais adiarei os meus desejos por você. – Beijou-o novamente e sussurrou no ouvido dele. – Eu quero que perca o juízo agora Aurélio.

Ao comando dela Aurélio abriu o vestido e a beijou a boca. Enganchou seus braços pela cintura dela para que ela permanecesse na mesma posição em que estava: sentada de frente para ele. Segurando-a firmemente ele se levantou e a colocou sobre a mesa do escritório. Não se importaram mais em manter a organização do móvel, derrubaram os blocos de anotações e até um pequeno abajur que estava sobre a mesa que por sorte não quebrou, mas provocando um grande barulho. Riram do pequeno acidente, e suspiraram num compasso coordenado e entregaram-se novamente aos beijos. Ela gostava de morder o lábio inferior dele. De vez em quando aproveitavam para tomar fôlego entre um beijo ardente e outro, pois as bocas queimavam de paixão.

Despiram-se com velocidade, o vestido de Julieta, foi mais fácil, um fechecler, uma fita e cinco botões separam o corpo de Aurélio da pele de Julieta. Entretanto o noivo estava muito vestido. Julieta tirou a gravata, o paletó, desabotoou a camisa, porém ainda encontrou uma camiseta a qual perdeu um pouco a paciência e a rasgou. Eles riram novamente.

E naquele escritório, palco de tantas decisões, ela tomou a mais importante da sua vida: “não adiar mais os seus desejos”. Finalmente ela entendeu as palavras de Aurélio na primeira vez que se encontraram ali: ela podia sonhar! Ainda havia tempo! E o sonho de felicidade ao lado dele fazia-a mais forte como nunca sentiu antes!


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Notas finais do capítulo

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