Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 11
O inimigo mora ao lado


Notas iniciais do capítulo

Continuando a nossa história. Mais uma vez gostaria de lembrar ao leitor que aqui eu faço uma releitura da trajetória de Aurélio e Julieta, mantendo fielmente as características desses personagens, entretanto não necessariamente acompanhando os acontecimentos da novela. Outros personagens são inseridos para ajudar no enredo. Espero que gostem do capítulo, boa leitura!
OBS: A arte da capa é do IG @eve_mullerova segue lá gente que os edits são maravilhosos!



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Naquela noite Aurélio e Julieta se entregaram ao amor mais do que seus corpos podiam aguentar. O seu corpo já conhecia o dele, mas pela primeira ela conseguiu entregar sua alma também. Ela expurgou seus medos, rompeu de forma definitiva com o passado, foi plenamente dele, consciente de quem era, e principalmente, de quem se tornara. Finalmente ela era inteiramente Julieta Sampaio Bittencourt. Com toda a sua essência romântica da doce Julieta Sampaio que estava adormecida e que redescobrira no Vale do Café, e com todas as marcas que o maldito sobrenome Bittencourt trouxe com ele. Julieta não se sentia uma vítima, pelo contrário, as provações que passou e venceu a constituíram como mulher, a bela e a fera por quem Aurélio se apaixonara!

O amor de Aurélio a resgatou da escuridão que a assombrava desde que Osório tomou a vida dela. Osório Bittencourt não a matou puxando o gatilho de uma arma, teria sido mais fácil se assim tivesse feito, mas ele preferiu tortura-la durante a relação, deixando dores entranhadas no corpo de Julieta. Foram anos de tormento sendo violentada por aquele que lhe devia proteção e respeito. Ela aguentou calada a sua dor. Camilo era o único motivo que a manteve viva. Era por ele que abria os olhos. Todas as vezes que pensou em acabar com o seu sofrimento e tirar a própria vida era no sorriso de Camilo que encontrava força para continuar. Julieta viveu anos naquele inferno. Desde que resolveu romper com o prometido ela foi violada em seus desejos e vontades. Osório a tomou pela força e minou todos os sonhos coloridos da juventude de Julieta. A partir daí ela vestiu o luto, não só na roupa, mas na alma. Ela morria todas as vezes que ele a tocava.

Após o casamento forçado ela elegeu o preto como forma de protesto. O preto era sua clausura. Cobria cada parte do seu corpo por acreditar que era ela a culpada dos ataques que sofria. Era a maneira dela de gritar ao mundo que não concordava com a crueldade das pessoas principalmente contra as mulheres. Era um grito mudo. Ninguém sabia. Somente ela ouvia. Nunca mais se permitiu sorrir. Nem mesmo o sorriso de Camilo ela conseguia corresponder. A dor que carregava a impedia. Olhar para Camilo era sentir vergonha dela mesma.

Durante os anos de casamento, ela e Osório tinham quartos separados, o dele era ao lado do dela, mas todas as noites ele fazia questão de lembra-la que era o seu marido e que tinha direitos sobre o corpo dela. Julieta nunca se entregou, mas todas as noites tinha que estar pronta para ser usada. Por algum tempo se debateu, mas ele era sádico e sentia prazer em vê-la sofrer, então ela parou de reagir, apenas aceitou o seu destino. Ficava parada, muda, rezando para que o animal se satisfizesse logo e a deixasse em paz. Quando ele terminava, a deixava lá, machucada com dores no corpo e na alma e ia para rua atrás de mais diversão.

Durante muito tempo ela chorou, depois as lágrimas secaram e apenas lhe sobrou a vergonha da vida que teve com Osório, tinha vergonha de ser quem era. Ela morreu para a vida, enterrou-se no seu luto. Encontrou forças no trabalho. Com a benção da morte do marido, ela se viu desafiada pela vida a se levantar. Aceitou o desafio e encontrou uma sobrevida. Construiu o império dos Bittencourt, tornou-se a Rainha do Café, o que as pessoas não imaginavam era o caminho tortuoso que atravessou para chegar lá. Cultivou espinhos. Matou o amor. Amava Camilo, mas nunca soube demonstrar em um abraço ou sorriso. Transferiu para o filho a dor que sua alma sentia. Era muito jovem, não sabia ser mãe, muito menos, uma boa mãe. Preferiu mostrar a ele que o amor dela estava na força que ela tinha para vencer os desafios. Engoliu todos os preconceitos que o mundo de homens que vivia lhe proporcionou. Ninguém jamais imaginou que ela era responsável por todo aquele império que levava o nome Bittencourt, o sobrenome que tanto odiava e era obrigada a carregar.

Sem esperar nada mais da vida, ela foi surpreendida por um presente, Aurélio chegou e a resgatou, ele devolveu a ela a alegria de viver. Trouxe com ele uma segunda chance. Não conseguia direito entender como ele era tão disponível ao amor, e menos ainda, porque a escolhera. Ela sempre foi tão fria, mas ele trouxe o calor. Derreteu o coração da Rainha do Café que agora se via rendida aquele amor. Deitada nos braços dele expurgou seus medos e voltava a sonhar. Dormiam exaustos de se amarem e com sorrisos que denunciavam a felicidade que sentiam por terem um ao outro.

Suzana passou a pior noite da sua vida. Ao lado do quarto de Julieta mal conseguiu dormir ouvindo gemidos de prazer durante a noite toda. Se os seus olhos não tivessem presenciado o início da festa que se deu na própria sala da casa ela mesma teria invadido o quarto de Julieta acreditando que havia intrusos fazendo uma orgia na casa da Rainha do Café. Entretanto, sabia que a festa era particular e proporcionada pela própria Rainha, destinada a um fazendeiro falido que derretera o coração gelado da patroa.

A inveja consumia Suzana, além de rica e poderosa, Julieta agora tinha um homem lindo do seu lado, e pelo movimento que se ouviu a noite toda, um homem que sabia agradar uma mulher! Agora lhe restavam a sua inveja e a sua astúcia para pensar em algo que separasse aquele insuportável casal. A felicidade de Julieta era definitivamente algo que não estava nos planos dela. Além disso, Aurélio era advogado, ao se unir a Julieta não demoraria muito para descobrir que sua parceira de negócios não era tão parceira assim. Só de pensar nessa possibilidade sua ira aumentava ainda mais. Saiu de casa ao raiar do sol para respirar e traçar sua melhor estratégia para acabar de uma vez por todas com aquele enlace.

Já passava do meio da manhã quando Julieta e Aurélio davam os primeiros sinais de despertar. Ele acordou primeiro, mas permaneceu em silêncio apenas venerando sua amada. Ela abriu os olhos e o flagrou sorrindo e olhando para ela.

— Acordou e não disse nada, ficou apenas me olhando.

— Eu acreditei que estava sonhando, só isso.

— Parece um sonho mesmo, do qual eu não queria acordar! – disse isso já se levantando.

Aurélio a puxou de volta.

— Então não acorde! – ela sorri e ele sorri maliciosamente de volta.

Julieta retribui o sorriso malicioso e o puxa da cama.

— Acordar é preciso, para viver e para voltar a sonhar! Vem acordar comigo! Eu não quero nunca mais acordar sozinha e você faz parte dos meus sonhos todos os dias!

Agarraram-se e se beijaram. Julieta o conduziu até o banheiro de seu quarto. Ali preparou uma imersão com espumas e sais de banho enquanto Aurélio enchia a futura esposa de carinho. O banheiro estava tomado pelo calor da água e dos corpos desejosos daqueles dois. O fogo que os consumia ardia mais do que a própria caldeira que esquentava aquele ambiente.

Aurélio vestia uma camiseta fina. Julieta caminhou até ele com o olhar sedento para os seus beijos novamente e se abandonou na boca de Aurélio. Enquanto o beijava lascivamente tratou de tirar a camiseta dele passando as mãos por baixo da roupa e subindo lentamente revelando o abdômen do amado. Aurélio sentiu o corpo arrepiar de desejo. Julieta sabia provocar os seus instintos mais profundos. Depois de uma noite tórrida de amor em que Julieta se entregou completamente aos seus desejos ela lhe surpreendia novamente. Era provocadora, insinuante e o amor da sua vida, não tinha a menor dúvida.

Ele delicadamente aceitou o convite da amada provocando a se despir também. Puxou o laço do robe preto que ela vestia revelando parte do corpo dela ainda escondido pela camisola preta que ela vestia. Beijou cada parte descoberta do corpo dela e tirou cuidadosamente a alça da camisola, fazendo-a deslizar pelo corpo de Julieta até ser abandonado no chão. Ele continuava a beija-la e levou as mãos para tirar a última peça de roupa que ele ainda vestia, mas encontrou as mãos dela primeiro. Ela foi mais rápida. Pararam. Ele olhou para baixo e olhou para ela novamente. Ela sorriu olhando fixamente para ele. Ele sorriu de volta. Ela sem pensar mais desnudou o amado por completo. Renderam-se aos braços um do outro. Julieta se abandonou no amor de Aurélio. Sorria com os beijos dele. Inclinava levemente a cabeça para trás revelando um pouco mais do pescoço que Aurélio prontamente beijava. Entregou o seu corpo e retribuiu as carícias que ele lhe proporcionava. Cada vez que se entregavam a paixão confirmavam o amor que invadiu aqueles corações sem pedir licença e trouxe com ele a felicidade que Julieta jamais imaginou poder sentir. O sorriso era marca registrada daquela nova mulher, renascida no amor dele e fortalecida no poder daquele sentimento. Sentia-se mais forte do que nunca. Sentia-se viva e pronta para sua nova chance de viver!

Imersos nos braços um do outro na água quente ele estava encostado e a colocou em sua frente. Não parava um segundo de acaricia-la.

— Quando vamos oficializar nosso casamento?

— Aurélio, eu não tenho pressa. Essa noite já marcou para mim o começo da nossa vida juntos. O casamento é apenas uma formalidade.

— Mas eu tenho pressa. Pode ser só uma formalidade e eu também não preciso de um documento para confirmar o nosso amor, mas eu quero dar todos os passos com você.  Eu quero que você seja a minha esposa e dividir com você todo o resto dos meus dias. E...

— E...?

— Eu gostaria de voltar ao Vale do Café. Hoje eu tenho uma carreira aqui, mas eu pertenço àquele Vale. Aqui eu me sinto um estranho. Não sei se você concordaria com isso. Você tem a sua casa...

— Mas é claro que sim! O Vale do Café se tornou especial para mim. Foi lá que eu te encontrei. Foi lá que eu renasci. A minha casa é onde você estiver, espero que pense assim também!

Julieta achou graça. Tudo o que viveram até ali e especialmente aquele momento íntimo de um banho a dois comprovava o que eles já sabiam, não precisavam de nenhum documento para sacramentar aquele amor. Aurélio já era muito mais do que seu esposo, era seu grande amor. A confirmação não veio através de um documento, mas quando ele não desistiu dela.

Entre os planos para o casamento, beijos e carícias passaram aquela final de manhã. Arrumaram-se juntos. Trocavam sorrisos. Desceram juntos para o café. Julieta não tinha nem receio dos olhares curiosos dos empregados. Era feliz e queria que o mundo soubesse disso.

O café da manhã já foi próximo da hora do almoço. A mesa estava repleta de pães, brioches, doces, frutas, sucos, e, claro, com o café mais aromático e fresquinho passado na hora. Aurélio sentou-se ao lado direito de Julieta. Procurava a servir e descobrir as preferências da sua amada. Durante todo o tempo ela distribuía sorrisos para ele. Ele a tocava e retribuía os sorrisos. Conversavam sobre amenidades quando a campainha da casa de Julieta tocou. Estavam tão entretidos aos olhares e carinhos que não ouviram. Foram interrompidos por Mercedes.

— Dona Julieta, me desculpe atrapalhar o café da senhora, mas é que tem uma senhora lá na porta que insiste em falar com o senhor Aurélio.

— Comigo? Quem é Mercedes?

— Ela disse que se chama Josephine e que precisa urgentemente falar com o senhor. O que eu faço senhora?

Julieta e Aurélio se entreolharam. Julieta respirou fundo.

— Manda entrar Mercedes. Peça para que aguarde na sala.

Mercedes tratou de cumprir a ordem da patroa.

— O que será que Josephine quer e como me descobriu aqui?

— O que ela quer não sei, mas você estava acompanhado da Rainha do Café, não seria difícil te descobrir. É melhor ir logo descobrir o que ela quer com você.

Julieta se retirou da mesa seguida por Aurélio e foram até a sala onde Josephine os aguardava. Ela forçava um choro, de tão convincente merecia um prêmio de melhor atuação! Nesse instante Suzana adentrou a sala principal percebendo a grande movimentação que se formava ao redor daquela estranha encapuzada ali. Com a cabeça arejada resolveu voltar a casa para colocar em ordem os pensamentos. Além disso, teve sorte ao encontrar um antigo amigo que lhe deu bons conselhos em relação a como separar casais apaixonados. O sorriso maldoso voltou à boca dela. Tentou ali sem sucesso saber quem era a estranha, mas não precisou perguntar, bastou assistir:

— Aurélio, graças a Deus que eu te encontrei! – Falou isso abraçando Aurélio que não correspondeu, claramente incomodado com a ousadia dela – Desculpe-me por vir até aqui, mas eu o procurei no escritório sem sucesso.

— Eu não tinha clientes agendados para hoje. – Soltou-se do abraço apertado de Josephine.

Julieta serrava os olhos, também estava incomodada com a presença de Josephine. Pensava que queria voar no pescoço daquela descarada e tira-la dos braços de Aurélio num puxão de cabelo, mas a boa educação a impedia de agir impulsivamente.

— Pois é, por isso tomei a liberdade de procura-lo aqui. É uma questão de vida ou morte!

— Acalme-se Josephine. Mercedes traga um copo d’água para ela. – Julieta a convidou a sentar.

— Aurélio será que podemos conversar num lugar mais reservado? É uma história um pouco constrangedora e eu preciso de orientação profissional para saber como agir.

Ainda sem graça pela situação embaraçosa criada por Josephine, Aurélio se dirigiu a Julieta.

— É... Julieta, será que posso usar o seu escritório para conversar com Josephine? A ética profissional impede que as conversas com clientes sejam abertas aos desconhecidos sem a permissão do interessado.

Mesmo com raiva pela intromissão daquela mulher, Julieta permitiu.

Encaminharam-se para o escritório. Na sala Suzana observava cada passo de Julieta e a nítida fisionomia de ódio expressada pela amiga. Sorriu desdenhosamente. Afinal, sem querer descobrira um motivo de irritação naquele odioso romance. Surpreendeu-se ao ver Julieta apaixonada e agora estava mais surpresa ao vê-la com ciúmes do amado. Não a julgava por isso, Josephine poderia mesmo ser uma ameaça, logo percebera que a loira tinha uma presença marcante onde chegava e era dona de uma beleza estonteante.

— De onde saiu essa doidivana?

— Josephine é uma amiga de faculdade de Aurélio.

— Amiga? E tem faculdade? Moderna, não é? Eu não sei não, mas ela me pareceu um pouco mais íntima...

— Suzana o que você quer dizer com isso?

— Nada minha amiga, apenas achei muito estranho o modo como essa mulher se comportou com Aurélio, e na nossa frente. Deve ser só impressão minha.

Imediatamente Suzana percebeu que Julieta ficou ainda mais mexida com o veneno destilado por ela. Ela não conseguia parar de sorrir. Deixou Julieta intrigada ali na sala e foi fazer o que sabia fazer de melhor, espiar atrás da porta, chegou a tempo de ouvir toda a ladainha de Josephine.

— Então Josephine em que posso lhe ajudar?

— Os filhos do meu falecido marido me ameaçam.

— Como assim? Seja mais objetiva.

— Os filhos dele não se conformam por eu ter herdado uma boa parte da fortuna que ele deixou, como nós não tivemos filhos eles ameaçam a minha vida para ficarem com tudo.

— Josephine, mas pelo o que eu entendi você já teve acesso a herança e já está usufruindo dela não é?

— Sim, mas eu tenho medo do que eles possam fazer comigo.

— Nesse caso eu não posso fazer nada. O meu conselho é que você pegue o dinheiro e aproveite para fazer uma viagem até as coisas esfriarem. Eles vão esquecer e parar de te importunar.

— Mas Aurélio...

— Infelizmente não posso te ajudar. O processo de partilha, que seria a minha parte como advogado, já foi realizado. Esse tipo de ameaça sem nenhum indício de crime não é tutelado. E se eu não posso te ajudar com mais nada, acho melhor você ir embora.

— Ah, claro! Mesmo assim, obrigada por me ouvir. Eu vou seguir o seu conselho e providenciar uma viagem, passar uma temporada fora de São Paulo será ótimo para eles esquecerem que eu existo! De qualquer forma, obrigada pela ajuda e me desculpe se te causei algum transtorno. Até logo. – Josephine saiu do escritório, irritada, pois não conseguiu a atenção que pretendia de Aurélio e continuava com o seu problema com os filhos do ex-marido.

Suzana tratou de sair logo dali para não ser vista! Estava radiante! Acabava de descobrir o caminho para separar o advogado fazendeiro da sua galinha dos ovos de ouro. Em breve teria Julieta livre das garras dele! Ela saiu pelos fundos da casa de Julieta e foi encontrar Josephine no jardim.

— Josephine!

A loira parou o passo apressado e se virou. Suzana correu para se aproximar.

— Espera, eu gostaria de falar com você.

— Eu estou com pressa, posso ajudar em alguma coisa?

— Eu acho que eu posso ajudar você, mas eu não posso falar aqui! Como faço para te encontrar?

— Pode me ajudar? Quem é você?

 - Uma amiga. – Josephine olhou incrédula. – Sou amiga de Julieta e agora sua amiga também. Acredito que posso te ajudar, mas preciso conversar com você em outro lugar.

— Aqui está o meu cartão, mas não demore, devo partir logo desse endereço.

— Amanhã mesmo te procurarei!

Josephine saiu da casa intrigada com o contato de Suzana. A megera esperou a loira partir para voltar a residência, entrou pelos fundos novamente e tratou apenas de espionar mais um pouco os enamorados. Aurélio chegava de volta à sala. Encontrou Julieta tomando uma xícara de café.

— Um café amargo eu aposto! – falou ele sorrindo.

— Você me conhece, sabe que eu gosto sem açúcar!

— Eu sei bem... – Aurélio tentou se aproximar, mas sentiu uma certa resistência dela. – Meu amor, o que houve? Não me diga que está assim por causa dessa visita indesejada de Josephine.

— O que ela queria? – Indagou Julieta ignorando totalmente a declaração de Aurélio.

— Nada demais. Não convém abrir uma consulta com cliente, mas como confio em você posso dizer: Ela disse que está sendo ameaçada pelos enteados e queria uma medida jurídica.

— E você? Aceitou o caso?

Ele sorriu, a noiva parecia realmente incomodada.

— Não há o que aceitar! Recomendei que ela saísse de São Paulo para que eles a esquecessem, era o mais apropriado. Eu não vislumbro nenhuma medida jurídica para protege-la, não sem nenhuma ameaça iminente. – dito isto Aurélio encerrou o assunto.

— Mas e se...

— Meu amor, eu ainda estou em êxtase por tudo que começamos a viver juntos, não vamos perder nosso primeiro dia como noivos falando de Josephine. Ela já foi embora e não vai mais nos importunar!

Julieta sorriu. Aurélio tinha o dom de desarma-la.

— Você tem razão. – ela se aproximou dele, sentou-se de lado em seu colo e o beijou. – Desculpe-me pela minha insegurança, é porque ao seu lado penso que estou vivendo um sonho e eu tenho medo de acordar e perceber que não era real.

— Pois eu sou real e mais real ainda é o meu amor por você. Não tenha mais medo. Estarei sempre ao seu lado até o fim dos meus dias. – Beijaram-se perdidamente apaixonados.

Suzana que ouvia tudo...

— Ahan!

Eles se soltaram. Julieta ruborizada saiu rapidamente do colo do amado e pôs-se prontamente de pé como um soldado. Aurélio permaneceu sentado.

— Suzana que indiscrição.

— Ora Julieta me desculpe, eu não queria atrapalhar, mas percebo que o romance de vocês não é segredo para ninguém não é mesmo? Permitem-se carícias tão afetuosas e... digamos... profundas em lugares públicos que tenho certeza que você não se importa de contar para a sua amiga.

— Primeiro que não estamos em um lugar público, esta é a minha casa. Segundo, eu não dei essa liberdade para você! Entretanto, sim, não é segredo para ninguém: Eu e Aurélio vamos nos casar!

— Ahhh! – Soltou Suzana tentando disfarçar seu enjoamento por tanto açúcar derramado nas palavras de Julieta. – que bela notícia minha amiga, você que era tão... reclusa... prestes a se casar novamente! Parabéns aos noivos! E... já marcaram a data?

— Ainda não, mas por mim já me casaria com Julieta amanhã!

Julieta sorriu.

— Precisamos de um tempo para nos organizar e voltar ao Vale do Café.

— Ah! Pretendem voltar ao Vale do Café? Interessante... Bom, que seja em breve o casório então! Felicidades aos noivos! – Falou isso e foi saindo da sala. – Isso é o que vamos ver – sussurrou baixinho apenas com ela mesma.

— Eu sei que Suzana já está em sua vida há muito tempo Julieta, mas ela não me inspira confiança.

— Suzana nunca foi uma amiga. Eu sempre a mantive por perto, mas como parceira de negócios. Durante muito tempo fizemos uma dupla boa. Ela sempre foi impetuosa e eu estrategista, conquistamos e avançamos muitas terras que hoje formam o meu império do café.

— Bom, pode ser uma desconfiança boba, mas ela não me parece ser uma boa pessoa para se ter por perto. De qualquer forma, a partir de agora eu estarei ao seu lado para te proteger de quem quer que seja. – Sorriu e beijou a futura esposa.

— Eu nunca tive isso em minha vida, carinho e proteção de quem quer que seja, muito menos vinda de um homem! Obrigada por me amar!

— Não me agradeça. Essa é uma das tarefas mais fáceis que eu já executei. Eu que tenho que te agradecer por acreditar na felicidade que eu te prometi.

— Eu exijo contrato vitalício! – os dois riram. Abraçaram-se e trocaram mais um beijo apaixonado.

— Meu amor eu adoraria dar início ao resto dos meus dias hoje aqui com você, mas tenho muita coisa a resolver, ainda não posso ficar para sempre aqui morando no seu abraço.

Julieta sorria a cada intervenção de Aurélio. Ela definitivamente não sabia mais manter a austeridade que possuía. Estava sempre desarmada na presença dele.

— Pensei que não tinha clientes hoje.

— Não tenho, mas preciso falar com Jorge, tenho uma proposta para ele. Quero agilizar nosso retorno ao Vale do Café. Tenho certeza que lá seremos plenamente felizes. Não vejo a hora de contar a Ema e ao meu pai que vamos nos casar.

— Eu também quero contar a Camilo. Ele e Jane são a minha família.

— Em breve formaremos a nossa família meu amor, com Camilo, Ema, seus respectivos cônjuges, os filhos dos nossos filhos... o Barão, e... – Aurélio parou de falar.

— E? O que foi? Por que parou de falar? Quem mais falta nesse seu desenho da nossa família?

— Nada meu amor, foi só um devaneio que passou pela minha cabeça. – Julieta olhou-o ainda com ar de questionamento. – Eu ia falar e nossos filhos... mas fiquei com medo da sua reação. Não se aflija, foi apenas um pensamento que sobrevoou a minha cabeça, e por alguns segundos nos imaginei sendo pais novamente.

Julieta mais uma vez sorriu.

— Oh meu amor, eu acho lindo a sua forma romântica de ver a vida. Eu adoraria ser mãe de um filho seu, mas infelizmente isso não será possível. Já não sou mais tão jovem, fui mãe muito nova. Agora eu creio que nos resta apenas esperar por nossos netos!

Aurélio entrelaçou seus braços na cintura de Julieta e ficou admirando a beleza dela. Disse sorrindo olhando com ternura para a sua amada.

— Não se preocupe meu amor, a mim basta você para eu ser feliz. E eu espero te trazer a felicidade completa também. Além disso, dizem que ser avô é ser pai duas vezes, então que venham nossos netos! – Eles sorriram e se deram outros beijos.

Já passava do meio da tarde quando Aurélio conseguiu deixar a casa de Julieta. Estavam tão apaixonados e perdidos nos abraços e beijos que trocavam que era difícil se separarem. Mesmo querendo ficar, ele precisou saiu.

Após a saída de Aurélio Julieta se fechou no escritório. Ficou com uma pulga atrás da orelha depois das palavras de Aurélio sobre Suzana. Passou a tarde toda trancada buscando os últimos contratos fechados com a intermediação da parceira. Se Aurélio estivesse certo em suas desconfianças, previa grandes problemas pela frente.

Aurélio rumava à casa de Jorge. Precisava conversar com o amigo e parceiro para acertar uma possível possibilidade de voltar ao Vale do Café. Atendia vários clientes da região e queria propor uma sociedade com atendimento exclusivo e mais próximo. Além disso, a possibilidade de estar na região certamente lhe possibilitaria a prospecção de novos clientes fazendeiros.

Antes, porém, desviou o caminho. Tinha um outro destino antes de chegar a casa do amigo advogado. Parou numa joalheria. Queria comprar um anel de noivado para sua amada. Ele e Julieta já eram maduros e haviam vivido outras histórias antes daquela que estavam começando a escrever, mas Aurélio tinha uma vontade juvenil de dar todos os passos com ela. Escolheu um anel com diamantes que brilhava tanto quanto o sorriso de Julieta. Sorriu. Lembrou-se dela e desejou que amada gostasse do presente. Questionado pela vendedora se escolheria as alianças também ele respondeu que preferia que sua noiva fosse com ele para escolher, afinal usariam por toda a vida. Pegou a caixinha de veludo preta e saiu da loja radiante.

Jorge e Aurélio haviam se dado aquela sexta-feira de folga dos clientes. Jorge tinha aproveitado para ir ao cinema com Amélia, sua namorada, mas ele a deixara cedo em casa. A noite começou a despontar quando Aurélio chegou. Jorge estava lendo um livro na sala.

— Que bom que eu o encontrei cedo em casa meu amigo. Pensei que estaria passeando com Amélia.

— Fomos ao cinema no meio da tarde, mas tão logo acabou o filme eu a deixei em casa, mas e você? Desde ontem que não lhe vejo! Saiu para passear com uma certa Rainha do Café e está chegando só agora! – os dois riram.

— Pois é Jorge. É sobre isso que eu quero lhe falar.

— Diga meu amigo. O que houve? Não vai me dizer que brigou com Julieta...

— Não, muito pelo contrário. Eu e Julieta, vamos nos casar!

— Mas que notícia maravilhosa Aurélio! Quem diria, você conseguiu dobrar a Rainha do Café! É muito bom lhe ver apaixonado novamente. O inimaginável é que se apaixonaria por Julieta, a algoz de sua família! E agora irão se casar! Parabéns meu amigo, ótima notícia!     

— É verdade! Eu jamais imaginei que fosse me apaixonar novamente, menos ainda por Julieta Bittencourt! Mas não mandamos no nosso coração não é mesmo? E o meu foi completamente arrebatado por ela. Sinto-me como um jovem de 18 anos apaixonado pela sua primeira namorada!

— Eu imagino!

— Jorge, mas o que quero falar com você, além de dar essa notícia é sobre a nossa parceria.

— O que aconteceu Aurélio? Não me diga que pretende desfazer nossa parceria? Eu imagino que agora que vai se casar não vá ficar sem um emprego.

— Claro que não Jorge. Justamente ao contrário. Eu quero lhe propor uma sociedade. Nós temos muitos clientes na região do Vale do Café e eu pretendo me casar e voltar ao Vale. Essa cidade é grande demais para mim Jorge, e é lá no nosso Vale que eu me sinto em casa.

— Eu imaginei que não se acostumaria com a vida na capital. Você tem razão temos muitos clientes na região do Vale do Café e cidades vizinhas.

— Exatamente. Se estivermos mais próximos das necessidades dos nossos clientes agilizamos o atendimento das demandas. Melhorando nosso atendimento tenho certeza que ganharemos na prospecção de novos clientes expandindo nossa carteira. Eu mesmo pretendo fazer visitas aos fazendeiros da região.

— Eu não sei se é o casamento, mas vê-lo animado assim é inspirador! Eu concordo que com você no Vale do Café como uma filial de nosso escritório prestaremos um atendimento muito mais rápido e eficaz aos nossos clientes e ainda ganharemos com a possibilidade de agregar novos clientes. Genial a ideia! Para mim negócio fechado! – falou estendendo a mão selando o negócio.

— Que bom Jorge! Obrigado pela confiança mais uma vez! Espero não decepcionar!

— Você nunca me decepcionou Aurélio, muito pelo contrário, sempre superou as expectativas. Usou bem mais de conhecimentos jurídicos para resolver as demandas por aqui. Sua sensibilidade e experiência de vida trouxe um ar renovador ao escritório que era de meu pai. Seu jeito novo de resolver as pendências na base da conciliação triplicou nossa carteira aqui na capital e tenho certeza que fará um ótimo trabalho na região do Vale do Café. Por mim tem carta branca para partir quando quiser.

— Obrigado mais uma vez meu amigo. Quero partir o mais cedo possível. Não vejo a hora de estar com Ema e meu pai e agora com Julieta para sempre!

— Você está com a cara mais boba que eu já vi em um homem Aurélio! Esse seu olhar e sorriso de apaixonado não deixa esconder sua felicidade! Muito feliz por você amigo. – ficaram rindo! – Acho que as novidades merecem um brinde, me acompanha? – falou abrindo uma garrafa de uísque que estava no buffet. Aurélio fez que sim.

— Então à felicidade do novo casal e à nossa sociedade! Vida longa aos noivos e à nossa parceria de negócios! Saúde!

— Saúde! – Fizeram o brinde de cavalheiros. – Bom, mas agora você me dê licença que eu preciso tomar um banho e pegar algumas coisas. Daqui a pouco volto para a casa de Julieta e...

— E? – Jorge olhou intrigado, mas já sorrindo prevendo a resposta.

— E não me espere para jantar, nem para o café amanhã! – falou saindo e rindo à toa!

— Já entendi meu amigo! – falou achando graça de Aurélio.

De volta à casa de Julieta, Aurélio encontrou a noiva debruçada em pilhas de papeis sobre a mesa do escritório. Estava linda concentrada no seu trabalho. Os óculos de aros finos um pouco mais para baixo dos olhos. Achou graça de como ela analisa os documentos e ao mesmo tempo falava com suas anotações. Ficou ali na porta admirando-a por um tempo.

Julieta ruborizou quando percebeu que estava sendo observada pelo noivo.

— Está aí há muito tempo? Eu não lhe vi chegar.

— Eu acabei de chegar. Estou aqui há tempo suficiente para admirar a minha noiva em seus afazeres negociais e ficar aqui admirando ainda mais a sua beleza e competência.

— Aurélio eu estou tão perdida nesse mar de contratos que não sei se minha competência será suficiente para analisar tantos papéis. Será que você pode me ajudar?

— Meu amor é claro que eu posso te ajudar, mas você acha que convém eu analisar documentos referentes às suas negociações. Não quero que nada atrapalhe a nossa relação.

— Aurélio você será meu futuro marido, e também é advogado, não há outra pessoa no mundo em quem eu confie mais que seja competente para analisar esses documentos do que você. Ocorre que depois de sua desconfiança sobre Suzana eu resolvi pegar todos os últimos contratos que fechamos para verificar se tudo está com conformidade.

— Sendo assim, obrigado pela confiança meu amor. Posso começar agora mesmo a te ajudar.

Aurélio sentia-se feliz pela confiança que Julieta depositava em seu trabalho, entretanto um pouco frustrado porque tinha planejado realizar o pedido oficial de casamento e uma noite romântica com a noiva, mas entendia a angústia de Julieta e precisava ajuda-la para devolver-lhe a paz.

Dividiram a madrugada analisando àqueles documentos. Entre um olhar e um beijinho e outro se concentravam em analisar minunciosamente cada linha daqueles contratos. Já era quase de manhã quando Aurélio chegou a conclusão que ele já desconfiava e que Julieta mais temia.

— Não há dúvidas Julieta. Suzana fecha negócios superfaturados em seu nome. Está muito claro que as notas apresentadas não estão de acordo com os contratos fechados.

— Se você soubesse como eu estou me sentindo uma burra. Eu sempre estive à frente estrategicamente decidindo o que seria comprado e vendido, por isso avançamos tanto, mas os pagamentos sempre foi Suzana que realizava. O que eu não entendo é ela sendo interessada também porque cometia essas fraudes?

— Ora Julieta, certamente esse caixa dois que Suzana praticava não era para doações a uma Igreja!

— Você tem razão! Você tinha razão o tempo todo! Acho que eu tinha tanto medo da completa solidão que fechei os olhos para todas as práticas escusas da Suzana com medo de manda-la embora! Ela sempre representou muito bem o papel de boa amiga!

— E agora o que vai fazer?

— Manda-la embora!

— Agora? Mas a noite já está avançada!

— Não me importo! O que ela fez foi grave demais e não posso mantê-la aqui nem por um minuto sequer!

Julieta subiu com fogo nas ventas e rumou em direção ao quarto ao lado do seu. Aurélio seguiu a noiva. Julieta esmurrou a porta de Suzana até ser atendida.

— O que foi Julieta, o que aconteceu?

— Ponha-se daqui para fora Suzana! Não quero nunca mais ver a sua cara!

— Julieta, o que foi minha amiga? O que foi que eu fiz? O que está acontecendo aqui?

— O que esse senhor disse ao meu respeito?

— Aurélio não me disse nada, apenas me ajudou a comprovar a cobra que você é. Saia daqui imediatamente! Eu espero não ter que repetir essa ordem!

— Está bem Julieta, estou vendo que está muito nervosa. Espere ao menos amanhecer o dia para que eu possa me recompor e procurar um lugar para ir!

— Eu não quero você nem mais um minuto nesta casa Suzana! Há anos você mente para mim, usufruiu da minha casa, da minha convivência, da minha confiança, mantendo um punhal cravado nas minhas costas durante todo esse tempo! É como se eu dormisse com o inimigo ao meu lado novamente durante todo esse tempo. Primeiro foi Osório, agora você Suzana. Saia imediatamente daqui.

— Julieta piedade!

— Ao sair deixe as chaves e esqueça todas as contas que eu abri para você em todos os estabelecimentos de luxo desta cidade.

Suzana não teve outra alternativa a não ser abandonar a casa de Julieta ainda no meio da madrugada. Saiu com a camisola que usava conseguindo tempo apenas de vestir um chinelo e um robe. Deixou as chaves na mesinha da sala e enfrentou a madrugada fria de São Paulo. Desnorteada e sem entender o que havia acontecido olhou para trás apenas para jurar vingança:

— Essa humilhação não ficará impune dona Julieta Bittencourt! Você despertou o inimigo que morava aí do seu lado e estava adormecido por anos de convivência pacífica. Você fazia o que eu queria e vivíamos tão bem... poderia continuar tudo como estava... mas não, você quis que fosse diferente, pois bem, agora você e seu amado falido terão o que merecem e me pagarão em dobro essa dívida! Aguardem notícias minhas queridos!


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Se puder deixa o comentário para mim que é muito importante para a continuação dos próximos capítulos. A nossa história está acabando e já está me dando uma dorzinha no peito, mas tem muita coisa para acontecer ainda! Espero que continuem aqui comigo! Um beijo, obrigada por ler!



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