Eu, Ela e o Bebê escrita por Lara


Capítulo 20
Família


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Demorei, mas apareci com o capítulo. Desculpa mesmo, mas é que eu estava sem tempo e sem inspiração mais uma vez. E sem contar que meu notebook continua me dando dor de cabeça. Então, espero que possam me perdoar por ainda não ter respondido aos comentários e ter demorado com a atualização.

De qualquer forma, eu quero agradecer a Aninha, Marluci, Isabelle, maya, Mockingjay, Senhorita Queen E, Juliana Lorena, Tata Neves, Mirelequeen e Bruninha pelos comentários fofos e que me deram tanto apoio. Espero que gostem desse capítulo. Boa leitura...



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Capítulo XIX – Família

 

“Uma semana. Eu não podia evitar: contava cada segundo desde que Bernardo e eu nos entendemos. As pessoas meio que ficaram sabendo, isto é, o assunto foi andando de boca em boca até se espalhar. Na faculdade, meus colegas não conseguiam esconder comentários, mais fortes e mais frequentes até mesmo que a história do meu sequestro. Quem não gostou nem um pouco foi Gisele. Só não caímos num quebra-pau outra vez porque decidi ignorá-la, assim como fiz com as fofocas maldosas dela”.

Azul da Cor do Mar – Marina Carvalho 

 

O corredor do fórum estava movimentado. O vai e vem de advogados, promotores, réus, vítimas e testemunhas mostravam o quão agitado o dia estava sendo. Sentados em cadeiras no corredor, próximos ao tribunal onde seria realizada a audiência sobre o caso do assassinato da família Madson, Felicity, George e eu aguardávamos a chegada de Lindsay.

Ao que tudo indicava, a polícia encontrou uma pista onde comprovava que havia mais uma pessoa dentro da casa além da garota e sua família. Por esse motivo, uma segunda audiência será realizada para expor as novas informações sobre o caso. Sendo assim, esperava-se que o júri conseguisse chegar a verdade desse caso.

— Não, mãe. Não precisa. O Oliver vai me ajudar. Está bem. Tudo bem, mãe. – Felicity suspira, falando pelo celular com Donna. Ela se vira para mim e revira os olhos provavelmente impaciente pelos dramas da mãe. – Certo, mãe. O Oliver vai cuidar disso. Claro que eu posso fazer isso! Eu não sou a namorada dele à toa!

George, ao meu lado, começa a ri da convicção com a qual Felicity falava com a mãe. Reviro os olhos e dou de ombros. Não adiantava nada eu negar. Como um bobo, não havia nada que Felicity me pedisse que eu não fazia. E discutir com ela estava sempre fora de questão. Eu nunca conseguia ganhar um debate contra ela.

— Que namorado obediente. – Ironiza George e eu o encaro da mesma forma.

— Pelo menos eu tenho namorada. E você? – Questiono e ele leva a mão ao peito, em uma falsa pose de ofensa. Rio de seu teatro fajuto.

— Nossa. Não precisava apelar e jogar na cara esse fato doloroso. – Responde o rapaz e eu não consigo evitar não ri da brincadeira idiota que estávamos fazendo. – A sorte de vocês é que eu adoro ver vocês como um casal.

— É. Eu também gosto de nos ver como um casal. – Comento, observando Felicity terminar de conversar com a mãe pelo telefone.

— Tão doce que está me dando enjoo. – Provoca o ruivo e eu reviro os olhos, fazendo-o ri ainda mais.

— Engraçadinho. – Ironizo e ele dá de ombros, encarando-me divertido.

— Minha mãe vai me deixar louca. – Comenta Felicity, assim que desliga o celular. Encaro-a, confuso.

— O que foi? – Pergunto e ela encosta a cabeça em meu ombro. Passo meu braço por cima do ombro da loira e ela se aconchega melhor. Ela suspira e dá de ombros.

— Ela está tão animada com a ideia de ser avó que vai me enlouquecer. Quer comprar um monte de coisas desnecessárias e não para de me perguntar quando vamos fazer o quartinho de Thea. – Reclama com a voz manhosa. Rio de seu comportamento.

— Ela só está animada por você ter deixado ela participar da sua vida. E apesar de você  reclamar, eu tenho certeza que você também se diverte com as loucuras da sua mãe. Donna torna as nossas vidas bem mais alegres. – Comento e ela ri, dando-se por vencida. Mesmo reclamando tanto, eu sabia que ver a animação da mãe tem deixado Felicity muito mais feliz pela gravidez.

— Eu odeio quando você tem razão. – Resmunga a loira, dando um soco fraco em meu ombro.

George e eu começamos a ri e continuamos a conversar por mais alguns minutos. Assim que Lindsay chega, acompanhada pelo advogado, não demora muito a nos encontrar. O advogado resolve nos deixar à sós para conversar com alguns conhecidos e apenas nos cumprimenta com um rápido aceno. Provavelmente sabia que além de jornalistas, de certa forma, nós éramos amigos de Lindsay.

Felicity, George e eu nos levantamos e cumprimentamos a garota, que parecia ainda mais nervosa do que no dia da primeira audiência. No entanto, ela também parecia mais confiante e até mesmo exibia um sorriso ansioso, mas com um brilho de esperança. Felicity sorri e a abraça com carinho, quase como uma mãe consolando a filha. Após sussurrar algumas palavras de apoio, elas se separam.

— Obrigada por terem vindo. – Agradece, sorrindo. – Você está tão bonita, Felicity. Faz tanto tempo que nos vimos.

— Obrigada, Lindsay. Cada dia que passa, Thea está mais agitada e pesada. – Responde a loira, acariciando a barriga com um sorriso gentil. – Se não fosse por Oliver me ajudar com as coisas, acho que eu estaria com problemas.

— Soube que vocês finalmente estão namorando. – Conta a garota, sorrindo largamente. – Sempre soube que isso aconteceria. Vocês pareciam tão próximos naquela vez que estiveram em minha casa.

— Eles têm uma química muito estranha. Como se um conseguisse ler a mente do outro. Eu nunca vi um casal tão... perfeitos um para o outro. – Comenta George e Lindsay balança a cabeça freneticamente, como se entendesse exatamente o que ele dizia. – Chega a ser estranho estar no mesmo ambiente que eles, algumas vezes.

— Eu sei! – Concorda Lindsay, rindo. – Desde que eu os vi pela primeira vez, eu senti essa conexão deles, ainda que implicassem muito um com o outro. A troca de olhares e como eles estavam constantemente se tocando.

— Acho que todos desconfiavam que ficaríamos juntos. Tanta implicância não poderia ser em vão. – Respondo e as duas garotas riem, concordando com a minha sentença. – E como está se sentindo hoje?

— Bem, eu acho. – Afirma, sorrindo nervosa. – Muita coisa aconteceu nesses últimos meses e finalmente parece que poderei me livrar da retaliação pública e viver livremente. Eu nem mesmo consegui dormir essa noite.

— Eu imagino como deva estar se sentindo. – Comento, sorrindo compreensivo. – Não é a mesma situação que a sua, mas essa semana será o julgamento de meu pai, então...

— Eu soube do que aconteceu. Quando li a reportagem que você fez, quase não pude acreditar. Eu sinto muito por isso. Não deve ter sido fácil escrever todos os crimes pelos quais seu pai está sendo acusado. – Lamenta Lindsay e eu conseguia ver a sinceridade em suas palavras. Sorrio  fraco, agradecido pelo apoio da adolescente. – Desculpe perguntar, mas como descobriu toda a verdade.

— Rene Ramirez era meu melhor amigo na infância. Aparentemente, a única pessoa que ele acreditava que podia e deveria pará-lo seria eu. A cada assassinato, ele me dava pistas que me remetiam a algo de nossa infância. A última vez que nos vimos, eu sofri um trauma na cabeça e perdi uma parte das minhas lembranças. Somente no dia em que nós vivenciamos estar em um incêndio foi que me lembrei de tudo e consegui impedir que ele matasse meu pai também. – Resumo e ela me encara surpresa.

— Isso se parece tanto com um filme de ação. É inacreditável que vocês tiveram que passar por tanta coisa para impedir e resolver os assassinatos. – Comenta a adolescente, surpresa pelo fato narrado. – Eu realmente sinto muito, Oliver. Não deve ter sido fácil para você. Ainda mais porque sua mãe... e...

—  E eu não tenho mais nenhum parente vivo além de meu pai. Eu sei. Mas eu estou bem. Agora eu tenho minha própria família. – Digo, entrelaçando minha mão na de Felicity. – Eu tenho o meu próprio lar e isso é mais do que suficiente para mim.

— Vocês são tão fofos! – Exclama Lindsay com um grande sorriso no rosto. – A sua família é linda. Espero que um dia eu também consiga construir minha própria família e meu próprio lar, assim com você.

O rosto alegre da jovem não demora muito a se transformar em algo triste e melancólico. Observo Lindsay, sabendo exatamente o que ela sentia naquele momento. Quando a única pessoa que me restou na vida foi meu pai, eu me senti da mesma forma. Ele nunca foi presente. Nunca fez questão de se aproximar de mim. Preferia viver a vida com as amantes do que dedicar amor a mim. Então, ainda que secretamente, o meu maior desejo era encontrar um lar, me sentir completo.

— Você vai encontrar. Eu não tenho dúvidas disso. Se até eu, que era o solteiro com a pior fama na cidade fui capaz de encontrar o amor, eu tenho certeza de que uma jovem tão doce e com um futuro tão brilhante irá encontrar. Além disso, se precisar de ajuda, sempre terá a nós dois. – Afirmo e Felicity balança a cabeça, concordando.

— Você sempre poderá contar conosco, Lindsay. Lembre-se sempre disso.  Na nossa família, sempre há espaço para mais um membro. – Complementa Felicity, sorrindo com sinceridade.

— Obrigada. – Agradece Lindsay, com um sorriso afetado. Parecia um pouco emocionada com as nossas palavras. – De verdade. Muito obrigada. Vocês foram os primeiros a me darem uma chance de contar minha versão e a acreditarem em mim.

Ela então se joga sobre nós, abraçando-nos com intensidade. Ainda surpresos, correspondemos ao abraço da jovem de apenas dezesseis anos. Lindsay ainda era muito nova e teria um futuro complicado pela frente. Por causa do assassinato da família, ela teve que amadurecer muito rápido e ainda sofreria muitas acusações ao longo da vida. Ainda que se fosse comprovado que ela não teve culpa no crime, muitas pessoas ainda continuariam a julgá-la. Eu sabia melhor do que ninguém o que é isso.

— Sei que está com a cabeça voltada para a audiência e viemos aqui te dar todo apoio para o julgamento. – Começo, sorrindo sem graça, quando nos afastamos.

— Mas também querem fazer uma rápida entrevista comigo. – Supõe Lindsay com um sorriso divertido nos lábios.

— Lamentamos por isso. Mas acredite em nós quando dizemos que também viemos para te apoiar. – Fala Felicity, sorrindo envergonhada. – É só que...

— A sorte de vocês é que eu os considero meus amigos. – Brinca, rindo. Em seguida, Lindsay respira fundo e assume uma postura mais séria. – Está tudo bem. Eu sei que é o trabalho de vocês. Se não fosse pela reportagem de vocês, o júri não ficaria tão dividido e, talvez, nem mesmo aceitaria investigar um pouco mais o caso. O pessoal de Washington DC afirmaram que não foi fácil encontrar as provas. Meu advogado disse que se não fosse pelo meu pronunciamento, provavelmente, nós não conseguiríamos que o julgamento ocorresse aqui.

— Então tudo bem se gravarmos a sua entrevista? – Questiona George, pegando a câmera que estava dentro de sua mochila.

— Claro. Sendo vocês, eu me sinto muito mais confortável. – Afirma a adolescente e aquelas palavras me fazem sorrir.

Eu sabia e entendia perfeitamente que as pessoas sempre enxergam os jornalistas como seres desprezíveis nos quais não se devem confiar. A mídia costuma distorcer muitas notícias e fatos. Então, dificilmente as pessoas confiavam em nós. Mas ver o sorriso e o brilho de confiança vindo de Lindsay era a melhor recompensa que eu poderia receber pela minha profissão.

Saber que meu trabalho havia ajudado uma inocente que poderia acabar pagando pelo crime que não cometeu não tinha preço. Ainda que minimamente, eu havia mudado a vida de Lindsay. Expor a verdade é o dever de qualquer pessoa, mas ter a certeza de que ela havia escolhido a mim e que confiava em meu trabalho era inexplicável.

Assim começamos a entrevista com Lindsay, abordando as expectativas que ela tinha para o julgamento que ocorreria em menos de duas horas. Questionamos os sentimentos dela e como ela tem vivido nesses últimos meses desde que o crime aconteceu. No fim, ela realmente parecia estar conversando com amigos e não dando uma entrevista a um jornal qualquer da cidade.

Ao fim da entrevista, o advogado de Lindsay volta a aparecer e avisa que precisavam entrar para participar da audiência. Como está sendo realizada em uma outra cidade, nós da imprensa não poderíamos participar também, então tudo o que fizemos foi desejar calma e sorte a adolescente, torcendo para que a situação de Lindsay finalmente fosse resolvida.

Com muito trabalho para ser feito, seguimos para o jornal. Felicity e eu havíamos conseguido folga no dia anterior, então no mínimo que eu esperava era que Alec aparecesse com centenas de papéis na mão esperando que eu conseguisse mais informações sobre os casos da semana.

 

[...]

 

Domingo havia chegado muito mais rápido que o esperado. Como planejado, hoje seria o dia em que arrumaríamos o quarto de Thea. Com a proximidade do fim da gestação, a cada dia que se passava, mais ansiosa Felicity ficava. Fosse para ver e tocar no rostinho da garota ou o frio na barriga por experimentar pela primeira vez como é ser mãe, ela nem mesmo conseguia esconder o sorriso ao observar os móveis de bebê ainda empacotados no quarto onde seria transformado no cantinho de Thea.

— Isso é tão incrível. – Comenta, acariciando a barriga. – Eu não vejo a hora de ver esse lugar pronto!

 Felicity vestia uma macacão jardineira e uma blusa verde escura. Os cabelos estavam presos em um alto rabo de cavalo. Ela me encara sorridente e observa as paredes brancas do quarto. Nós colocaríamos papel de parede de listras finas de um rosa bem clarinho, quase creme. No chão seria colocado um carpete de veludo cor de creme quase marrom. A decoração seria completada com os móveis brancos e alguns nichos de madeira da mesma cor de diversos tamanhos. Além do berço, no quarto também teria um sofá cama e uma poltrona para que Felicity ficasse mais confortável ao amamentar.

Eu teria muito trabalho pela frente, mas estava animado com a ideia de ser responsável por cuidar da montagem do quarto de Thea. Eu sempre fui muito bom com esse tipo de atividade. Quando minha mãe decidiu fazer o quarto de minha irmã, lembro que eu me diverti muito ajudando os pintores e montadores no máximo que eu conseguia fazer aos nove anos de idade.

— Eu também estou animado. – Comento, pegando os materiais necessários para fazer a cola que usaria para colocar o papel de parede. – Não sei se é uma boa ideia você ficar aqui enquanto eu preparo a cola. O cheiro pode ser muito forte para você.

— Eu vou ficar bem. Além disso, você vai precisar de ajuda. – Afirma Felicity, dando de ombros.

De repente, a campainha da casa de Felicity toca. Ainda era seis e meia da manhã, então logo nos colocamos em alerta. Em pleno domingo, quem apareceria na casa da loira a essa hora da manhã. Preocupados, nós nos dirigimos a entrada da casa e somente no terceiro toque da campainha foi que abrimos a porta.

— Mãe? Tommy? Tio Alec? – Questiona Felicity, assim que a porta é aberta por completo. Observo as três figuras um tanto surpreso. Nós dois não esperávamos a presença de Donna, Alec e meu melhor amigo. – O que fazem aqui?

— Como assim, o que viemos fazer aqui? Nós viemos ajudar, Bolinho. Achou mesmo que nos deixaria de fora na melhor parte da gestação? – Pergunta Donna, entrando na casa com uma caixa em mãos. Ela beija a bochecha de Felicity e, em seguida, a minha. – Oliver, querido, como você está? Não me canso de admirar a sua beleza.

— Eu estou bem, Donna. Obrigado. – Agradeço, pegando a caixa que ela me estendia. – E você está radiante como sempre.

— Obrigada, querido. Eu trouxe alguns ursinhos para enfeitar o quarto. Eu tenho certeza que ficará lindo! – Exclama, animada.

— Obrigado por terem vindo. – Digo, enquanto coloco a caixa sobre o sofá da sala. Aproximo-me de Tommy e Alec e os cumprimento com um rápido abraço. – Apesar de surpreso, eu estou feliz que tenham vindo.

— Como sabiam que arrumaríamos o quarto hoje? E por que não nos disseram nada? – Pergunta Felicity, sem esconder a curiosidade típica da loira.

— Oliver me contou que não poderia sair comigo hoje porque estaria ocupado arrumando o quarto de Thea. Então eu contei para o pessoal do jornal e o chefe para a sua mãe. – Responde Tommy, dando de ombros.

— Como você é fofoqueiro, Tommy. – Acusa Felicity, rindo de meu melhor amigo.

— Foi por um bom motivo. – Responde o outro, levantando as mãos em sinal de redenção. – Achei que pudesse ser legal se todos nós trabalhássemos juntos.

— Além disso, Oliver ia acabar precisando de ajuda. Montar um quarto não é uma tarefa fácil e muito menos rápida. Se estão pensando em terminar em um dia, irão precisar de muita mão de obra. – Afirma Alec e somente nesse momento eu vejo que ele carregava algumas sacolas. – O pessoal do jornal confirmou que viria. Daqui a pouco eles devem chegar.

— Isso é sério? – Questiona Felicity, surpresa.

— Claro que é! Achou mesmo que nosso setor investigativo do Arrow News ia abrir mão de participar da nossa festa de montagem do primeiro quarto da nossa mascote? – Brinca Tommy, sorrindo divertido.

— Todos estão animados com a chegada de Thea. Quando Tommy contou que ajudaríamos a arrumar o quarto dela, todos se disponibilizaram a participar. E acho que dessa forma será muito mais rápido. – Completa Alec, passando o braço por cima dos ombros de Felicity, após colocar as sacolas ao lado da caixa onde deixei em cima do sofá. – Que tal nos mostrar onde irá dormir a nossa tão esperada princesa?

— Por aqui. – Responde Felicity, passando o braço pelas costas do tio, enquanto o guia pela casa.

— Obrigado, mesmo. – Agradeço a Tommy e a Donna que sorriem e dão de ombros após uma rápida troca de olhares.

E assim como eles haviam dito, não demorou muito para que os outros seis funcionários do setor – incluindo Kevin, o estagiário –, aparecessem na casa para ajudar com o quarto. Com todos reunidos, nós nos dividimos entre colocar o papel de parede, o carpete e a montagem dos móveis. Para evitar que tivessem contato com o forte cheiro da cola, Donna e Felicity foram lavar todas as inúmeras roupas que Thea ganhou e ficaram responsáveis por nos manter alimentados e bem hidratados, afinal, o dia estava bem quente.

Em meio a muitas brincadeiras, risadas e a imaginação, aos poucos, o quatro começou a ganhar sua forma. Alec estava certo quando disse que montar um quarto de bebê era demorado e exigia muitas pessoas. E essa tarefa se tornava ainda mais complicada quando Donna decidia que precisávamos incluir em nossa lista de móveis para decoração um lustre que ela mesma havia comprado.

Felicity se manteve afastada, mas ansiosa pelo resultado. Ao cuidar das roupas da filha, Donna afirmava que mais evidente seu amor por Thea se tornava. Eu evitava pensar muito no medo que eu sentia ao lembrar o quão assustador a paternidade poderia ser, porque na verdade, o que eu realmente temia era me tornar alguém como meu pai. Um homem frio e incapaz de amar uma pessoa.

Eu assumi a responsabilidade de ser o pai de Thea. Eu quero fazer tudo que meu pai nunca fez comigo. Quero ser o herói da garota, ser alguém que ela admire e tenha orgulho de apresentar aos amigos como pai. Por outro lado, o fato de não ter tido uma figura paterna por muito tempo me deixa receoso, ainda mais se tratando de uma garota. Eu simplesmente temia não ser bom o bastante para essa tarefa.

Minha mente estava sempre um caos, mas ouvir as histórias de Alec sobre as quatro filhas me deixava um pouco mais calmo. Depois de aceitar que eu não estava usando sua sobrinha, o homem vem sendo um grande mestre. Ninguém melhor do que Alec para explicar sobre o universo feminino, quando sua família é composta apenas por mulheres. De certa forma era reconfortante saber que até mesmo alguém com tanta experiência ainda cometia erros com sua filha mais nova.

Quando finalmente terminamos de montar o quarto de Thea, o relógio marcava um pouco mais de duas horas da manhã. Um a um, nossos amigos foram se despedindo até que restassem somente Tommy, Donna, Felicity e eu no quarto. Cansado demais até mesmo para ir para um lugar mais confortável, meu melhor amigo dormia sobre o carpete, sem nem mesmo se importar que acordaria com diversas dores no dia seguinte.

Felicity e eu estávamos sentados no carpete, encostados na parede em um completo silêncio. Nós admirávamos o resultado final daquele lugar de mãos dados, idealizando os dias de muitos choros e alegrias que aquele quarto provavelmente nos proporcionaria. Levo minha mão a barriga de Felicity e a acaricio, esperando alguma reação de Thea, que não demorou muito a vir.

— Ai, filha! – Resmunga Felicity, encolhendo de dor em um momento em que Thea deu um chute mais forte. A loira acaricia as costelas e murmura palavras sem nexo algum. – Eu sei que está animada com o papai te acariciando, mas não precisa descontar nas minhas costelas.

— Eu amo quando você me apresenta como “papai”. – Comento, sem conseguir esconder a minha felicidade ao ouvir aquela palavra com um significado tão doce.

Felicity sorri e encosta a cabeça em meu ombro, enquanto eu continuo a acaricia sua barriga. Dou um beijo no topo da cabeça da loira e assim que ela levanta o rosto, beijos seus lábios com carinho. Aquele momento era apenas nosso. Era algo difícil de explicar, mas eu sentia como se o mundo pertencesse apenas a nós dois.

No entanto, não permanecemos muito tempo namorando. Ao sentir que estávamos sendo observado, desvio o olhar para a porta e encontro Donna encostada no batente de madeira da porta com os braços cruzados. Ela continha um sorriso amável nos lábios e seus olhos expressavam uma doçura que eu havia visto somente nos olhos de Felicity. Percebendo que havia sido descoberta, Donna entra no quarto e se senta na parede oposta à nossa.

— Vocês formam uma família linda. – Comenta Donna com tranquilidade. Apesar de cansada, ela parecia relaxada. Era como se a visão de nós fosse um calmante que aliviava todas as suas preocupações. – Uma família que sempre sonhei em ter.

— Você também faz parte de nossa família, Donna. – Respondo, observando a loira mais velha com atenção.

— Não era disso que eu estava falando. – Afirma Donna, sorrindo fraco. – Eu estava falando sobre quando descobri que estava grávida de Felicity.

— Como assim, mãe? – Questiona a mais nova, confusa. – Do que você está falando exatamente?

— Eu não sei se você sabe, Bolinho, mas eu nunca realmente contei a verdade sobre o seu pai. – Fala Donna e Felicity endireita a postura no mesmo instante, ansiosa para saber a verdade sobre o homem. Minha sogra sorri e olha para o teto, pensativa. – Seu pai, na verdade, era um lutador e...

— Mãe. – Felicity a interrompe com uma expressão séria. No entanto, ao contrário do que imaginei, a voz de minha namorada soava calma e sincera. – A verdade, por favor. Eu não quero que crie história para fazer eu me sentir bem. Eu já sou adulta, serei mãe em poucos meses, então, por favor, só me conta a verdade.

Ao ouvir as palavras da filha, a pose animada de Donna se torna triste. Ela parecia carregar culpa e encarava as próprias mãos com a mente distante. Felicity e eu observávamos a mais velha, surpresos em como Donna parecia frágil naquele momento. Minha namorada até tenta abrir a boca algumas vezes, mas o choque ou até mesmo a falta de entendimento a fazia permanecer em silêncio.

— Você tem razão. Não tem mais sentido eu contar histórias divertidas sobre personagens de filmes para você acreditar que seu pai era incrível demais e que precisou ir embora por um bem maior. – Concorda Donna, suspirando em seguida. – A verdade é que eu não me orgulho das minhas atitudes, Bolinho. No entanto, eu nunca me arrependi das coisas que eu fiz. Ter você foi o meu maior presente e eu sempre serei grata por você me dar tanto orgulho.

“A verdade é que a história de como eu conheci o seu pai começa na periferia de Star City. Eu era uma adolescente rebelde que havia perdido a pouco tempo os pais em um acidente de carro, revoltada com o mundo, que não conseguia entender a magia de se estar vivo. Mas foi então que eu conheci Fernando. Ele era um homem divertido e misterioso, que conquistou meu coração de uma maneira inexplicável.

Sendo mais velho do que dez anos, tudo nele me atraia. Desde o sorriso fácil, os olhos azuis brilhantes ao cabelo ruivo e as sardas adoráveis em seu rosto. Fernando era de longe o mais bonito dos homens com quem tive contato. Ele vivia viajando entre Star City e Nova York à trabalho, mas ainda assim, ele fazia de tudo para ser presente. E então nós nos envolvemos. Ele foi o primeiro homem com quem dormi. Em pouco tempo, eu estava totalmente entregue a ele. E talvez esse tenha sido meu erro.

Quando eu descobri que estava grávida, eu me apavorei, mas pensei que Fernando me apoiaria. Ele sempre esteve ao meu lado e era um companheiro maravilhoso, que me ajudava a cuidar de Alec, que ainda estava começando a entrar na adolescência. No entanto, eu fui surpreendida com a descoberta de que ele era casado e possuía uma linda família em Nova York, composta pela esposa, mãe e dois filhos.

Eu me desesperei. Não sabia o que fazer. No final das contas, eu não passava de uma das inúmeras amantes com quem Fernando traia a esposa. Ele então me ameaçou. A esposa não podia descobrir sobre nosso romance e muito menos a existência de uma criança. Ele dizia que não estava pronto para lidar com mais um filho. Fernando comprou remédios e exigiu que eu abortasse, pois ele jamais assumiria a criança que eu carregava.

Depois de confirmar que eu faria o que ele havia pedido, Fernando me deixou e nunca mais voltou a me procurar. Ele desapareceu do mapa e nunca mais tive notícias dele. Por outro lado, eu não queria abortar. Mesmo assustada, eu ainda queria ter aquela criança. Então, sem pai e mãe para me orientar, com a cara e a coragem, comecei a procurar empregos para me sustentar e ainda dar de comer para Alec.

E foi então que você nasceu, Felicity. A criatura mais bela e que me trouxe tanto amor e luz a minha vida. Eu queria te dar o mundo. Queria te proteger de todos e ainda te fazer ter uma vida confortável. Mas não foi assim que aconteceu. As contas começaram a chegar, Alec exigia cada vez mais de mim e era como se eu nunca conseguisse dormir de verdade, porque ainda precisava cuidar de você.

Foi então que surgiu a oportunidade de fazer filmes pornô. Não era fácil encontrar dinheiro e eu precisava com urgência do valor do aluguel ou seria despedida. Roubar estava fora de cogitação, então, a minha única alternativa foi trabalhar como atriz pornô. E foi assim que eu entrei nessa profissão e de onde eu sempre tirava o meu sustento”. – Donna então levanta a cabeça e encara Felicity com os olhos lacrimejando. Era evidente a dor e a sinceridade com as quais as palavras saiam. – Eu sinto muito, Bolinho. Sinto muito por ter me envolvido com um homem casado, por ter te causado tanta vergonha e problemas na escola para você. Sinto muito por seu pai não ser o herói que você deve ter imaginado.

— Então você está me dizendo que meu pai era um canalha que se aproveitou de uma jovem e fugiu da responsabilidade apenas porquê achava que ele não poderia cuidar de um filho? – Comenta Felicity, com um sorriso amargo e irônico nos lábios. – Ele realmente foi um canalha. Agradeço a Deus por ele ter ido embora.

— Não está com raiva de mim, Bolinho? – Questiona Donna, assustada e surpresa ao mesmo tempo.

— E por que eu ficaria? Você não fez nada de errado, mãe. Foi enganada por um moleque covarde que só queria se aproveitar de você. De longe, você é a pessoa que mais admiro e sou grata em minha vida. Obrigada por ter cuidado de mim e por nunca ter desistido de mim, mesmo com todos os motivos do mundo. Você deu o seu melhor e me criou da melhor maneira que pude. Sinto muito se eu não reconheci seus esforços. – Felicity então se levanta com cuidado. A barriga já estava pesando e aos poucos ela estava perdendo o equilíbrio em algumas atividades. – Você é a minha heroína, mãe!

Emocionada, Donna se joga nos braços de Felicity e a abraça com todas as forças que tinha. O sentimento de alivio era perceptivo na forma como ela estava agindo. Observo a cena, feliz por ver que elas haviam se entendido. As duas sussurravam e compartilhavam declarações únicas entre mãe e filha. Desvio o olhar para o nome Thea escrito em uma das paredes com letras de madeira.

Felicity e eu não tínhamos exemplos de pais. Os dois foram grande malditos que resolveram seguir suas vidas de maneira egoísta sem nem se importarem com os outros. No entanto, nossas mães foram exemplo de mulheres que dedicaram suas vidas a darem tudo de si pelo seus filhos.

E era dessa forma que eu espero que Felicity e eu nos tornemos. Adultos responsáveis, prontos para amar uma pessoa com tanta intensidade que morreríamos por ela sem pensar duas vezes. Por esse motivo, observando o nome de minha futura filha, eu só torcia para que minha mãe, onde quer que ela esteja, possa me dar as forças e sabedorias que preciso para proteger e dar um lar a minha família.


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Notas finais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! O que acharam? Esse capítulo foi mais focado no próprio título dele mesmo. Eu espero que tenham gostado e que possam deixar a opinião de vocês. Em breve, eu responderei a todos os comentários, eu prometo. Mas, entretanto, todavia, faltam apenas mais dois capítulos para o fim da história. Espero finalizar EEB com muita doçura e satisfação. Enfim, muito obrigada por tudo meus amores. Até mais ♥

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