O Gato Vampiro escrita por Ayaka


Capítulo 17
Por quê? Por quê? Por quê?


Notas iniciais do capítulo

"Mesmo que respondas as minhas perguntas,
É muito tarde para voltar quem Eu era." - pensou o jovem



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Flashback ON

 

Eu ouvi gritos. Gritos que chamavam pelo meu nome. De repente meu corpo pequeno sobressaltou-se, como se soubesse o que estava a acontecer, mas meu cérebro continuava a dormir.

—Hummm? -questionei atordoado, levantando-me da cama. Talvez fosse imaginação.

Eu queria que tivesse sido.

Mas não foi.

Desta vez acordado, escutei os mesmos gritos.

Os gritos altos de dor da minha irmã mais velha.

Eu fiquei em pânico e com medo. Olhei rapidamente pela janela do meu quarto.

 Ao longe, vi algo a queimar.

 

Eu queria que fosse apenas “algo”.

Mas não foi.

Eu reconhecia aqueles cabelos castanhos curtos, os olhos e a voz…

É a minha irmã.

 

Era ela, lá ao longe. O corpo dela estava a queimar no fogo.

Porque estava queimando!?

 Corri para fora da casa em direção a onde ela estava.

Porque estão a fazer isto? O que ela fez!?

 

Antes que chegasse perto dela, algo me deteve, segurando no meu ombro. Olhei para cima e vi um homem conhecido que já vira várias vezes, com olhos vermelhos e dentes pontiagudos. Era um dos guarda costas do meu melhor amigo.

Nunca fiquei tão aliviado por ver aquele vampiro, agora tinha mais esperança. Será que está aqui para salvar a minha irmã?

Será que meu amigo vampiro também está aqui? 

 

—Rápido, salve a minha irmã! – pedi, ansioso e desesperado. Tínhamos que ser rápidos, antes que ela morresse.

 

Porém o vampiro não disse nada, nem se mexeu, apenas olhou para mim friamente e apertou o meu braço com força.

Fiquei confuso com aquilo, por que não vai salvar a minha irmã? Por que ele não me deixa ir?

Por que olha para mim daquela maneira?

 

Olhei de volta para onde minha irmã estava presa, a queimar à frente de muitas pessoas.

Mas o rosto dela já não era reconhecível, estava derretido em carne viva.

Seus olhos ainda permaneciam abertos, mas agora sem brilho. Mortos.

 

Meu corpo começou a tremer.

Por que estou a ver isto? Por que os aldeões estão a assistir isto!?

Eu tentava fugir do vampiro que não me largava. Ele nem me deixava desviar a cara do cenário horrível à minha frente.

 

Eu não queria vê-la morrer.

Eu não quero ver o fogo a consumir o resto do corpo.

 

De repente algo passou pela minha mente.

Onde está meu amigo? Será que ele está bem?

Eu questionei isso ao vampiro, respirando com dificuldade.

Ele apenas riu e virou a minha cabeça para a esquerda.

 

—Por que está rindo? Isto é sério. -falei irritado com ele enquanto virava-me a cabeça.

No entanto, fiquei quieto quando o vi. Eu vi o meu amigo no meio da multidão.

Ele está bem. Ele está bem. Por que não estaria? Ele é um vampiro.

Fiquei calmo durante uns segundos. Bem, pelo menos ele está bem.

 

Apesar de estar um pouco calmo, havia algo dentro de mim que tentava chamar-me atenção, que pedia para olhar com mais atenção. Subitamente, um pensamento veio à mente.

Senti um choque a percorrer pela minha espinha. Espera…

 Se ele estava ali, por que não salvou a minha irmã?

Por que continua ali, parado a olhar para o corpo dela ser queimado? Por que não faz nada!?

 

Fiquei muito zangado, não podia acreditar naquilo. O meu melhor amigo ficou parado a observar a minha irmã a gritar até a morte? Ele sabia o que estava acontecendo e mesmo assim não fez nada para salva-a?

Eu não acredito! Ele traiu-me!

 

Comecei a mexer-me mais agressivamente, tentando libertar-me do vampiro. Queria tanto dar um soco naquele traidor. Um soco não chega, teria que ser mil até que sofresse.

O guarda costas deve ter percebido o que eu estava a pensar fazer porque agarrou-me nos braços com mais força.

—Larga-me! -gritei com dor

—Não vais a lado nenhum, humano. -disse ele com um sorriso cruel.

 

Eu dei um pontapé nele, mas o vampiro apenas riu.

—Não sei porque o meu jovem mestre gosta tanto de vocês, humanos.

 

Antes que pudesse dar outro pontapé, algo afiado perfurou o meu pescoço.

Senti bastante dor, tanta que por momentos esqueci de tudo.

A minha vista começou a ficar turva e minha mente em branco. Só sentia a dor ecoando.

Até que uns olhos verdes se encontraram com os meus castanhos.

Verdes como a floresta.

Os verdes que assistiram a morte da minha irmã, os gritos dela.

Os olhos do traidor.

 

Eu queria muito arrancar aqueles olhos.

Eu queria, eu queria.

 

Eu quero. Eu vou arranca-los. Quero que desaparecem.

Não! Rápido, sai da minha frente!

Por que queres que saia? Ainda a pouco querias arrancar-lhe os olhos.

Sabes que é um traidor. Ele não a salvou.

 

Eu sei que é, mas…. Foi o meu único amigo. Não sou capaz de fazer isso.

Amigo? Os amigos verdadeiros não iriam observar os outros sofrer.

Olha como nem faz nada para te salvar desta dor, desta agonia.

Olha os olhos dele, apenas olhando para ti. Para nós.

 

Dói tudo, quero que pare.

Alguém que pare esta dor!

Pare, Pare!

 

Olha como ninguém ajuda. Nem salvaram a tua irmã, achas que iria ser diferente?

Todos viram ela a queimar como se fosse um espetáculo de círco.

Eles estão a olhar para ti com o mesmo olhar.

 

Adrien!  Ajuda-me!

Só quero que isto pare!

 

Por que o chamas? Olha para ele, ainda parado, ainda te observando.

Vendo como te descontrolas. Ouvido os teus gritos.

Mas agora já não és mais Tu, agora Eu sou tu... 

 

Ele viu o pânico dos aldeões e o sangue derramado nas Nossas mãos.

Nós destruimos tudo. Eles mereciam, eles mereciam morrer.

Não achas? Eu sei que sim. Nós somos o mesmo.

E o que ele fez?

Nada, não fez nada.

 

Por quê? Por que isto aconteceu?

Por quê? Por quê? Por quê?

Por que não fizeste nada, ADRIEN!?

 


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