A Rainha do Fogo escrita por gwenhwyfar


Capítulo 5
Quinto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/75870/chapter/5

No capitulo anterior...

- No carro maior sir Sai, há uma mesa de madeira gaulesa, presente de casamento para meu senhor Naruto. É um troféu de guerra, muito velho e valioso. Faça com que seja montado no maior salão de festas de Naruto. Antes, porém, mande preparar um quarto para a senhora Kushina.

Surpreendeu-se, achando que falara mesmo como uma rainha. Sai não pareceu relutar em aceita-la como tal. Fez uma profunda reverencia e disse:

- Imediatamente, minha senhora e rainha




Capitulo V


Durante a noite, grupos de viajantes de várias partes do país foram se reunindo nos portões do castelo. Sakura, da torre alta do castelo, via a multidão se aproximando do pátio da igreja.

- Parece uma festa – comentou ela virando-se para Kushina, que havia dormido no seu quarto, nessa ultima noite de virgindade.

- O casamento do Grande Kage, minha filha, é a maior festa do que qualquer outra desse país. – Sorriu Kushina e em seguida apontou – Olhe, lá estão os samurais de Orochimaru, com sua bandeira.

Talvez Hinata esteja com eles pensou Kushina, e Sakura animou-se com a alegria de uma menina:

- Quanta gente! Eu não imaginava que tinha tanta gente no país do Fogo!

- E você será a Grande Rainha de todos eles – disse Kushina e sentiu o olhar assustado da moça, por isso disse carinhosamente – É assustador, eu sei. Foi o que eu senti quando me casei com Minato.

E pensou novamente, com a insistência do pressentimento de mãe, que Naruto escolhera mal sua esposa. Sakura era bonita, inteligente, mas a rainha precisava ser mais que isso pra poder comandar todo o povo ao lado do marido. Talvez a moça fosse retraída e tímida demais para isso.

A Rainha era, nos termos mais simples, a esposa do Hokage, não apenas uma dona de casa – qualquer criado poderia cuidar do castelo – mas assim como as sacerdotisas de Atlântida, era um símbolo de todas as realidades do mundo, uma lembrança de que a vida era mais que guerras, combates e domínios. Mas também, Sakura era jovem e não tinha experiência de vida: talvez sua força se revelasse conforme o tempo.

- Vamos Sakura, Sai deixou criadas para ajudarem você, mas como mãe do Hokage seu noivo, acho mais adequado eu prepara-la para o casamento.

Assim Kushina tirou a toalete de Sakura da profusão de bagagens, amontoadas no canto do quarto. Enquanto a moça se banhava, ela foi arrumando as jóias e roupas da futura esposa de Naruto.

A moça parecia um anjo depois de vestida. Seu cabelo cingia a fronte em ondas soltas, brilhantes sobre a luz do sol, ofuscando quase o brilho da fina coroa de ouro. Seu vestido era de seda muito branca, as ondas voluptuosas do tecido escondia castamente as ondas naturais do corpo da moça. Dois braceletes de ouro puro, um no pulso, o outro na altura dos seios, delineava os braços e o um cinto de ouro, colocado um pouco acima da cintura, fazia de Sakura uma daquelas imagens de virgens da igreja, delicados e puros.

Sasuke veio buscá-las num resplandecente manto vermelho-vinho, escondendo quase o emblema do clã de atlântida a que pertencia, mas estava vestido para montar:

- Vai nos deixar Sasuke? – perguntou Kushina ao moço, que olhava para Sakura com admiração.

- Não senhora – respondeu ele, sem desviar os olhos dos de Sakura – Na festa de hoje, a cavalaria de Naruto irá fazer uma demonstração do seu poderio e eu vou comandar os homens, como capitão da cavalaria. Naruto acha que está na hora de mostrar seu plano ao povo.

E então cumprimentou a princesa, tomando o cuidado para não encostar mais que a ponta dos dedos nos da futura rainha. Kushina percebeu novamente aquele olhar desesperado, ansioso, que Sasuke lançava para Sakura, e o brilho no sorriso da moça.

Conversavam e ela não podia ouvir as palavras que trocavam, mas sabia que eram inocentes. Também, não precisavam de palavras. Kushina sentiu novamente aquele pressentimento de mãe, aquela certeza desesperadora que esse casamento não teria bons resultados e só provocaria sofrimentos.

Desceram pelos corredores do castelo, e a todo momento juntavam-se a eles nobres e parentes distantes do Grande Kage, formando uma grande procissão atrás da noiva. Na porta do castelo, esperavam dois rapazes. Vestiam um sobretudo negro, com detalhes vermelhos e Kushina se lembrou de que Sasuke e Sai usavam um desses também: seria uma espécie de distintivo dos guerreiros de Naruto?

- Onde está o Sai, irmão? – perguntou Sasuke abraçando cada um dos moços e olhando para o da direita. Esse moço era alto e musculoso, de olhar frio, mas apesar disso – pensava Sakura – se parecia muito com Sasuke.

- Ele deveria acompanhar a senhora Sakura ao altar. - Disse o moço da esquerda. Era muito alto, a pele clara tão cinzenta que adquiria um esquisito tom azulado. Carregava uma enorme espada nas costas e vestia-se com desleixo, apesar da armadura e armas estarem brilhando.

- Sai e Neji estão preparando Naruto para o casamento. – respondeu o irmão, Itachi, com uma leve censura em sua voz – Na verdade, achei que você também estaria entre eles Sasuke, vocês três são as pessoas de quem mais Naruto gosta. Então, devemos substituí-los como parentes da senhora Sakura.

E fez uma breve reverencia a Sakura e a Kushina.

- Tia, esse é meu irmão de criação, Kisame.

Kisame cumprimentou Kushina afável e Sakura fez um aceno cortes com a cabeça: Esse Kisame é o homem mais esquisito que já vi, ainda mais ao lado de homens como Sasuke e Itachi – pensava ela e acrescentou para o mais jovem dos Uchiha:

- Sasuke, se é seu desejo ficar com meu senhor e rei... – começou ela, mas foi interrompida por Itachi, que observou com um leve sorriso:

- Acho que você deve ir ficar com ele Sasuke. Como todos os homens no dia do casamento, Naruto está muito nervoso. Nosso Hokage pode lutar como o próprio Namikaze no campo de batalha, mas esta manha, ao se preparar para a sua noiva, não parece mais do que o rapaz que na realidade é!

Todos ali em volta riram do comentário e até mesmo Sakura sorriu, divertida. Achou graça, mas só por um momento. Pobre Naruto , pensava Sakura, este casamento é um sofrimento maior para ele do que para mim. Era apenas mais um dever penoso do Grande Kage, como comandar seus homens nas batalhas contra os rebeldes. Pelo menos dos rebeldes ele sabia o que esperar!

- Senhor Sasuke, prefere ficar ao lado do meu senhor Naruto? – perguntou ela.

Os olhos de Sasuke disseram-lhe claramente que queria permanecer ali com ela – Sakura aprendera em um ou dois dias ler essas mensagens silenciosas. Pela primeira vez, o rapaz parecia dividido entre desejos conflitantes.

- A ultima coisa que desejo é deixar sua compania senhora – disse ele sério – mas Naruto é meu primo e amigo...

- Deus me livre, se eu algum dia me interpor entre parentes – disse ela estendendo a pequenina mão – Com esse casamento você se torna meu primo e amigo. Vá até Naruto e diga-lhe...

Então parou, indecisa. Seria correto aquilo? Mas pelos céus, dentro de algumas horas seria esposa de Naruto, que importância teria se suas palavras parecessem muito ousadas, quando na verdade exprimiam uma preocupação real com o bem estar do Hokage?

- Diga-lhe que eu tenho prazer em lhe devolver seu mais fiel samurai, e que o espero com amor e obediência.

Sasuke sorriu. E aquele sorriso pareceu tocar o mais fundo da alma da moça, cujos lábios rosados se abriram também de prazer. Como podia se sentir tão ligada a ele? Toda a sua vida se concentrava e se esvaia pelos dedos, ao toque dos lábios de Sasuke. De repente, engoliu em seco, percebendo o que sentia. Apesar de todas as suas mensagens de amor e obediência ao Grande Kage, sentiu que daria a alma pra poder voltar atrás e dizer ao seu pai que só se casaria com Sasuke.

Não ouviu o que Sasuke lhe disse, apenas sentiu a mão dele deixar a sua. Sentiu-se então fria e vazia sem o toque quente do cavaleiro Uchiha. Kushina também pediu permissão para se retirar e ficou esperando impaciente, até que Sakura se espantou – A outra aguardava uma ordem sua para se retirar. Sua posição como Grande Rainha já era uma realidade.

Não ouviu o que disse, mas mesmo assim Kushina não prestava atenção. Querendo ser discreta, não pode correr pelo gramado, mas saiu andando rápido e acotovelando as pessoas em seu caminho, que seguiam para a cerimônia.

Todos vestiam suas melhores roupas, coloridas e alegres, mas Jiraya trazia suas roupas cinzentas de druida, como sempre.

- Meu pai...

- Kushina, minha filha – disse o Sannin e Kushina sentiu-se reconfortada. Ele sempre falava com ela, como se Kushina fosse ainda uma menina. – Pensei que estivesse fazendo companhia a noiva de Naruto. Como é bonita! Naruto descobriu um tesouro no seu reino.

- Meu pai – Kushina baixou a voz para que ninguém ouvisse, mas aumentou o tom de urgência – Quero saber uma coisa: haverá algum modo de Naruto desistir desse casamento com honra?

Jiraya mostrou-se consternado:

- Não, acho que não. As coisas já estão muito avançadas para que ele desista de Sakura sem provocar uma guerra. Teremos sido enganados, a moça seria impura, estéril ou...

E balançou a cabeça, desalentado.

- A menos que ela estivesse escondendo o fato de estar grávida de outro homem, não há mais nada que fazer, e Naruto já tem inimigos suficientes para enfrentar. Mesmo assim seria impossível não transformar Bunko em um inimigo. Porque pergunta, Kushina?

- Acho que ela é virgem e é muito religiosa. Mas eu vi a maneira que ela olha para Sasuke e como ele retribui. E isso poderá acabar em outra coisa senão sofrimento, quando a noiva está atraída por outro homem, e esse é o melhor amigo do noivo?

O Sannin olhou-a atentamente; seus velhos olhos continuavam perscrutadores como sempre.

- Ah, então é isso? Sempre achei que Sasuke tinha um encanto e uma atração excessivos para a sua felicidade. Mas é um rapaz honrado, afinal de contas, e pode ser que isso não passe de imaginação juvenil. Quando Sakura se casar e ela e Naruto tiverem se tornado marido e mulher na pratica, eles se esquecerão disso, ou se lembrarão como uma coisa que poderia ter sido.

- Eu diria que você tem nove casos em dez – respondeu Kushina – mas você não os viu, e eu vi.

O Sannin suspirou desalentado:

- Kushina, Kushina, sei que você está certa, mas não podemos fazer mais nada agora. Como você pode compreender, Naruto não está em condições de fazer inimigos e Bunko não seria adversário desprezível.

Jiraya fez um gesto impondo silencio ao protesto de Kushina, e disse firmemente:

- É melhor que ele se case com a moça, e eu diria isso mesmo se tivéssemos surpreendido ela e Sasuke na cama – o que não aconteceu e provavelmente não acontecerá.

- E o que faremos? – perguntou Kushina, torcendo as mãos.

O Sannin acariciou-lhe o rosto de leve:

- O que sempre fizemos filha. O que temos de fazer, o que os deuses nos mandam fazer. Nenhum de nós empenhou-se em encontrar sua felicidade pessoal, minha filha. Você se casou com Minato porque era preciso que Naruto nascesse. Seu amor por ele foi você e ele quem construiu.

Alguns retardatários cumprimentaram o Sannin e o carregaram consigo para a igreja. Kushina sozinha, refletiu sobre as palavras do pai e chegou a conclusão de que Jiraya estava certo. Era tarde demais para qualquer coisa e seria com Deus quisesse.

Entrou na igreja com dificuldade, e esgueirou-se para o seu lugar, na primeira fila, ajoelhando como o resto das pessoas. Mesmo com a cabeça baixa, Kushina podia enxergar Naruto, que entrou na igreja com Sai, Neji e Sasuke, vestindo um belo quimono masculino branco, com um sobretudo azul, usando como enfeite apenas a coroa fina do Hokage e a preciosa bainha vermelha, ricamente bordada, onde a espada lendária era guardada.

Podia ver Sakura ao seu lado, em seu delicado vestido branco, e ornada de jóias. Orochimaru, velho e magro, ajoelhado ao lado de Hanabi com seus dois últimos filhos. E como se um nota estranha vibrasse, na harmonia da celebração religiosa, uma mulher de compridos cabelos negros, tão negros que emitiam um reflexo azulado, ajoelhava-se meio atrás de Hanabi.

Kushina sentiu o coração acelerar ao contemplar Hinata: o que fazia uma princesa de Atlântida dentro de uma igreja? Mas agora podia ver Hinata: mudada, mais magra, mais bonita, vestida com simplicidade com um quimono escuro e sem nenhuma jóia.

Viu surpresa como a filha parecia ter mudado desde a coroação: parecia ter deixado de ser menina para ser mulher: o rosto magro não tinha mais aquele ar infantil e o pequeno corpo ajustado no quimono tinha curvas mais salientes, mais maduras.

Tentou se concentrar nas palavras do monge, mas sua atenção foi novamente interrompida. Não era por Sakura, embora Kushina estivesse bem consciente de que a moça procurava olhar a todo momento para Sasuke ao lado de Naruto.

Naruto, entre Sakura e Sasuke, também não prestava um pingo de atenção à homilia – Ele só tinha olhos para Hinata.


-------------------------




Hinata, de cabeça baixa junto a comitiva de Hanabi, escutava o serviço religioso com respeito, mas sem atenção. Os ensinamentos de Atlântida eram conflitantes demais para aceitar as palavras de outra religião.

Pensava naquele filho, Gwydion. Ele mal a conheceria agora. Quando Hinata tentava pega-o, ele chorava e esperneava, querendo voltar para o colo da ama de leite. Mesmo assim, a sensação dos bracinhos gorduchos em seu pescoço provocava-lhe remorsos, mas afastou esse pensamento – A criança nem sequer sabia que era ela sua mãe, cresceria pensando ser filho de Hanabi. Hinata ficava satisfeita com isso, apesar de não conseguir suprimir o sofrimento que isso lhe causava.

Naruto parecia másculo e belo; não lembrava mais aquele rapaz esguio que se aproximara dela, na caverna de Beltane. Parecia mais desenvolvido, de ombros mais largos.

Viu a noiva ao lado de Naruto, mas o que conseguia ver era somente o brilho róseo dos cabelos sedosos, por baixo do véu branco e da coroa de rainha. Para o bem de Naruto, desejava que aquela moça fosse como a Deusa para ele, e seu casamento não fosse apenas uma formula vazia.

Naruto levantou os olhos para a esposa e seu olhar pousou em Hinata. Ela viu seu rosto mudar e pensou, corando ao encarar os olhos azuis dele Reconheceu-me enfim! Então eu não devo ter mudado tanto quanto ele – ele passou de rapaz para homem e eu... Eu já era uma mulher e não mudei tanto.

Hinata esperava que a noiva de Naruto o amasse tanto quanto ele a ela. Em sua memória ecoavam as desoladas palavras do irmão – Durante toda a minha vida, lembrarei sempre de você, e a amarei e a abençoarei. Mas assim não devia ser. Era preciso que ele a esquecesse e pensasse somente nesse anjo branco com quem se casava.

Ao lado dele estava Sasuke. Como era possível que em tão pouco tempo Naruto mudasse tanto e Sasuke permanecesse intocado, inalterado? Não, ele também mudara – parecia triste e havia uma extensa cicatriz em seu rosto, que chegava até os cabelos.

Com um misto de esperança e medo, Hinata procurou Tsunade entre a comitiva de Atlântida. Ali estava o Sannin, velho e com a cabeça inclinada, como se estivesse rezando, e ao lado dele um homem ficava de pé, em atitude de desafio e destemor – Hidan, o bardo. Antes assim!

Porque Naruto se mostrava tão reverente? Não tinha jurado que não mostraria preferências a nenhuma das religiões? Sem duvida, aquele anjo branco e religioso não contribuía em nada com isso. Tsunade e Jiraya deveriam te-lo casado com uma mulher de Atlântida, não seria a primeira vez que uma sacerdotisa se unia a um rei. A idéia abalou-a, e rapidamente imaginou Konan se casando com Naruto. Pelo menos sua esposa teria a virtude cristã do silencio! Mordeu os lábios, desesperada para não rir alto.

A missa acabou. As pessoas começaram a se dirigir para a porta, para o banquete, mas os nobres e a família do casal ficaram para os parabéns. A um gesto de Sai, Orochimaru e sua comitiva se aproximou, mas Hinata não os acompanhou. Levantou os olhos e encontrou o olhar ansioso de sua mãe. Sabia, com um pressentimento parecido com a Visão, que se não fosse a presença do monge, estaria envolvida pelos braços de Kushina.

Procurou pensar o menos possível nela, consciente de que em sua presença teria de esconder a única coisa que ninguém, muito menos Kushina, jamais poderia saber. Quem era o pai de seu filho...

Orochimaru aproximou-se e Naruto o abraçou familiarmente.

- Agradeço por poder ter vindo ao meu casamento tio. E agradeço a você também tia, por ter me dado o seu filho para seu meu guerreiro e defensor nas batalhas...

Hanabi sorriu. Era bela ainda, pensou Hinata, muito mais do que Kushina.

- Você pode guardar meu agradecimento pra daqui a alguns anos, porque eu tenho ainda dois filhos mais novos que só falam do momento em que poderão servir o Grande Kage.

- Serão bem vindos, como foi seu irmão mais velho – disse Naruto cortesamente, com um pouco de impaciência e atravessou o salão a passos largos, indo diretamente para onde Hinata estava ajoelhada.

- Bem-vinda irmã – disse suavemente – Na minha coroação, prometi uma coisa, que agora resgatarei. Venha – e estendeu-lhe a mão. Hinata levantou-se, sentindo a pressão da mão de Naruto e a tensão que ela lhe provocava.

Ele levou-a até onde a moça branca estava ajoelhada, envolta naquela aura angelical.

- Minha senhora – disse ele sorrindo e Hinata não soube a quem ele se dirigia, por olhava de uma para a outra, e quando Sakura ergueu-se e tirou o véu, seus olhos encontraram os dela, num choque momentâneo de reconhecimento.

- Sakura, esta é minha irmã Hinata, rainha do clã Hyuuga, e princesa pela linhagem real de Atlântida. Quero que ela seja a primeira entre as suas damas, porque é a de mais alta linhagem aqui.

Hinata viu Sakura umedecer os lábios com a pequena língua cor-de-rosa, como a de um gato.

- Meu senhor e rei, a senhora Hinata e eu já nos conhecemos antes.

- O que? De onde? – perguntou Naruto sorrindo.

- Foi quando a rainha estava no convento de Glastonbury. Ela havia se perdido na névoa e acabou nas margens de Atlântida.

Como naquele dia distante, pareceu-lhe que uma nuvem cinzenta obscureceu o colorido do dia. Hinata sentiu, apesar da excelência de sua roupa, uma criatura grosseira, anã, terrena diante da brancura etérea e o rosado refulgente de Sakura.

A sensação durou apenas alguns segundos. A moça então aproximou-se e abraçou-a, beijando-a no rosto como convinha a uma parenta. Hinata sentiu que Sakura era frágil como um cristal precioso, ao contrario da solidez de que ela, Hinata, era dotada. Recuou, tímida e constrangida.

De pé ao lado de Naruto, sentiu Neji olha-la com espanto e reprovação. Ora, tinha todo o direito de estar ali também, afinal era irmã do rei!

- Espero que sejamos amigas, irmã – disse Sakura – Lembro-me que a senhora e o senhor Sasuke ajudaram-me quando eu estava perdida naquelas brumas terríveis. Tremo só de lembrar daquele lugar horrível.

E olhou para Sasuke, que estava atrás de Naruto. Hinata ficou imaginando as razões que teriam levado Sakura a dizer o nome de Sasuke. Chegou a conclusão de que ela não conseguia evita-lo. Parecia presa ao olhar dele... e Sasuke a olhava como um cão faminto olha para um osso sangrento.

Sentia a mão de Naruto ainda na sua e isso também era motivo de preocupação. Aquele elo seria rompido quando ele levasse a noiva para a cama. Ela então, se transformaria na Deusa, e ele não voltaria a olhar Hinata daquele modo tão perturbador. Era sua irmã, não sua amante!

Mas eu não rompi esse elo também. É claro que estive doente depois do nascimento de Gwydion, mas depois não senti a mínima vontade de cair como uma maçã madura na cama de Orochimaru, por isso me fiz a castidade em pessoa. Mas olhou para Sasuke, na esperança de interceptar a troca de olhares entre ele e Sakura.

Sakura segurou a mão de Hinata enquanto que com a outra pegava a mãe de Kushina:

- Daqui a pouco vocês serão como minha mãe e minha irmã. Não tenho nenhuma das duas e queria que vocês ficassem comigo enquanto as testemunhas assinam, mãe e irmã.

Por mais fechado que o coração de Hinata estivesse para Sakura, aquelas palavras espontâneas tiveram o efeito de enternece-la e ela retribuiu a pressão nos dedos pequenos e cálidos da rosada.

Kushina, ao lado de Sakura, estendeu a mão para tocar a de Hinata, que disse:

- Ainda não tive tempo de conversar com você mãe.

E com a outra mão, foi beijar a mãe como devido. Por um tempo permaneceram as três, Sakura, Kushina e Hinata abraçadas e ela pensou Todas as mulheres são irmãs para a Deusa.

- Bem pessoal – disse o Sannin, com satisfação – vamos firmar e testemunhar o casamento e daí podemos ir para as festas.

De pé, ao lado de Sakura, Hinata sentia a moça tremer durante as assinaturas. Suas lembranças voltaram-se para o dia da caça ao gamo: ela pelo menos tinha sido estimulada e excitada pelo ritual e mesmo assim tivera medo quando chegara na caverna. Num impulso de bondade, desejou poder aconselhar a jovem com um pouco da sabedoria de Atlântida que era transmitida as moças mais jovens, mas ela sabia que Sakura não lhe seria grata por esses ensinamentos. Frustrada, suspirou, sabendo que não podia falar.

A cerimônia simples terminou. Hinata assinou o nome como testemunha, observando como sua letra era firme e bem-feita ao lado da assinatura inábil de Sakura. Francamente, as irmãs do convento não ensinavam nada as noviças? Sasuke também firmou, assim como Neji, Kakashi, o rei Hizashi, que veio do país do oceano para testemunha, e o rei ***, irmão da mãe de Sakura, que vinha acompanhado de uma filha jovem.

- Minha filha Ino, sua prima, minha senhora e rainha. Peço-lhe que cuide dela aqui na corte.

- Ficarei feliz em ter uma parenta entre minhas damas – sorriu Sakura.

Hinata notou que Ino se parecia muito com Sakura, rosada e dourada, embora fosse um pouco menos radiante que a Haruno. Estava vestindo um quimono cor de palha, que amenizava a cor dourada de seus cabelos.

- Como se chama prima? – perguntou Sakura – E que idade tem?

- Ino senhora, e tenho quinze anos.

Fez uma reverencia tão profunda que se desequilibrou e Sasuke rapidamente a segurou. Corou profundamente e escondeu o rosto no véu e Sasuke sorriu com indulgência. Hinata sentiu uma dolorosa pontada de ciúme: não olhava para ela, não, olhava para esses anjos brancos e rosados, sem duvida a considerava pequena e feia também. E toda a sua bondade com Sakura se transformou novamente em ressentimento e Hinata teve que voltar-lhe o rosto.


-------------------------




Finalmente o banquete começou. Hinata, que agora tinha mais apetite do que na coroação de Naruto, sentou-se entre Kushina e Sakura e comeu de tudo. Os hábitos de Atlântida pareciam coisa do passado e ela bebeu até mesmo vinho, que realmente não apreciava.

Depois de algum tempo, Hidan preparou-se para tocar e várias pessoas se aproximaram da mesa real. A fama do bardo atravessava as fronteiras do Fogo! Hinata, enlevada como sempre lhe acontecia com a musica, de repente teve saudades de Tsunade. Pareceu que poderia perdoar e esquecer qualquer coisa naquele momento e até mesmo quando olhou para Sasuke – que como o guerreiro mais próximo de Naruto, sentava-se mais perto dele e os dois dividiam o mesmo prato – sentiu apenas amizade e carinho, como o companheiro agradável daquele dia esquecido em Atlântida.

A musica cessou, mas a voz sonora de Hidan ainda disse:

- Temos outro musico entre nós – disse ele – A senhora Hinata gostaria de tocar para nós?

- Será um prazer tocar sua harpa mestre – surpreendeu-se a moça, imaginando como Hidan poderia saber que ela estava morrendo de vontade de tocar.

- Ora – interrompeu Naruto, descontente – como poderia minha irmã tocar como um musico a serviço de toda essa gente?

Hidan pareceu ofendido, E com razão pensou Hinata, e se levantou de repente, irritada:

- Aquilo que o mestre harpista de Atlântida faz, eu tenho a honra de fazer também! Com a musica nos servimos apenas aos deuses!

E pegando a harpa de Hidan, sentou-se no banco ao lado de Naruto, que a encarava com um misto de surpresa e ciúme. Em seguida, com mais confiança, Hinata tocou uma canção do Norte, aprendida na corte de Orochimaru e sentiu-se grata pelo vinho que lhe limpara a garganta.

Tinha a voz de contralto, forte e profunda, e sentiu-se orgulhosa novamente. Sakura pode ser bela, mas eu tenho a voz de um bardo.

E até mesmo Sakura juntou-se aos muitos que a ouviam.

- Sua voz é linda irmã! Você aprendeu a cantar assim em Atlântida?

- Sim, a musica é sagrada. Não aprendeu algum instrumento musical no convento?

- Não, as irmãs diziam que uma mulher não deve levantar a voz para Deus – disse Sakura recuando um passo – Uma vez chegaram a me castigar por pegar um violão – lembrou-se com tristeza.

- Todos em Atlântida aprendem um pouco de musica – contou Hidan – mas muito poucos foram abençoados com o talento da senhora Hinata. As belas vozes nascem feitas, não são produtos de formação, por isso nós consideramos um dom divino.

E retomou o instrumento, começando a tocar uma musica alegre, com a qual os criados começaram a servir as sobremesas. Hinata pegou uma taça de vinho tinto e, como teria feito em Atlântida, ajoelhou-se e a ofereceu ao bardo. Hidan sorriu e convidou-a a sentar-se ao seu lado.

- Como está Tsunade? – inquiriu Hinata ansiosa. – Você a viu em Atlântida?

- Está bem, mas está muito envelhecida, sofrendo por sua causa. Você deveria voltar.

- Não posso... Mas me de noticias de Atlântida.

- Se você quiser noticias, terá de ir para lá. Faz mais de um ano que não piso na ilha, você sabe, Jiraya está me treinando para assumir o lugar de Sannin do Fogo e agora sou eu quem tenho que viajar por ele.

- Bem, você terá muito que contar a ela sobre esse casamento.

- Direi a ela que você está bem e que o filho dela se tornou o mais intimo guerreiro do Grande Kage... – disse Hidan com um sorriso sarcastico – Ora, e lá está Naruto, como se fosse Jesus em sua ultima ceia, com seus apóstolos, defendendo o cristianismo em todo o país.

- O Bispo mandaria açoitá-lo por blasfêmia se ouvisse isso – disse Hinata rindo.

- É um homem ignorante.

- Ora, só porque não tem ouvidos para a musica?

- Também – disse Hidan e ficou subitamente sério – Este momento não é propicio para um casamento.

Hinata estava tão afastada dos ensinamentos druidas, que não percebeu o que Hidan queria dizer. Mas ele apontou para o céu, explicando:

- A lua é minguante. Isso é mau augúrio mas o Bispo insistiu em realizar o casamento agora porque é dia de um dos santos deles, não lembro de qual. O Sannin falou com Naruto, dizendo-lhe que esse casamento não traria alegrias para ele, não sei porque – mas não teve como sustar o casamento, os preparativos estavam avançados demais.

Hinata sabia, instintivamente, do que Jiraya estava falando. Ela também notara o modo como Sakura olhava para Sasuke.

Ela me tomou Sasuke para sempre naquele dia pensou Hinata e em seguida surpreendeu-se. Teria sido capaz de quebrar um juramento para ter Sasuke naquele dia? Talvez se tivesse ficado com Sasuke, se tivesse quebrado seu juramento de virgindade, o coração de Sakura teria vindo intacto para Naruto, de modo que os dois fossem felizes juntos. Tsunade ficaria brava, mas arranjaria outra mulher para Naruto no final das contas.

Fazendo o certo, fiz o que era errado. Obedeci Tsunade e contribui para o naufrágio da felicidade desses três. E também o fracasso da minha felicidade.

- Senhora Hinata? – perguntou Hidan suavemente – Está se sentindo bem? Você está com uma cara estranha.

Ela sacudiu a cabeça, limpando a lagrima rebelde dos olhos. Será que Hidan sabia que ela havia sido de Naruto em sua coroação na ilha do dragão?

- Não tenho nada, mestre. Estou apenas preocupada com meu irmão. E tenho pena da mulher com quem ele esta se casando.

E sabia que estava sendo sincera. Apesar de todos os receios que tinha de Sakura, aos quais se misturavam ódio, sentia também pena dela – casava-se com um homem que não amava e amava um homem que não podia se casar.


-------------------------


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rainha do Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.