Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 43
XLIII – Trilha




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Ethan levou o susto quando, de repente, ouviu o choro de Rebeca. Antes que resolvesse voltar para casa, parou para ver o que estava acontecendo. Ela ainda dormia e estava sonhando com Gabriel, vendo as mesmas cenas de quando ele a deixou no quintal de casa.

Ele se segurou para não voltar apenas para confortá-la. Sabia que não adiantaria muita coisa. Precisava tentar convencer Gabriel a ler a carta, pelo menos essa notícia poderia dar a Rebeca.

O garoto entrou no quarto, perdido em pensamentos.

— Parabéns. Vai ser irmão mais velho. — Ethan sorriu.

— É... — Gabriel esfregou o rosto com as mãos. — É coisa demais para pensar.

— Você sabe que pode facilitar um pouco sua vida... — Viu ele andando até perto do criado-mudo e se lembrou da garrafa de água. Não era sua intenção fazer com que ele bebesse, mas as coisas estavam pedindo por aquele pequeno empurrão.

Estranhamente, Gabriel sentiu a garganta secar, sentindo sede. Sua mão foi diretamente para a garrafa e, sem pensar, abriu a tampa e tomou todo o liquido em um único gole.

Teria sido mais fácil fazer isso desde o início, pensou Ethan.

Enquanto rosqueava a tampinha, seu olhar vagou para a gaveta, quase como se conseguisse ver o papel ali, apenas esperando por ele. Desviou o olhar diversas vezes, e Ethan não precisou dizer mais nada. Gabriel deixou a garrafa na cama e foi pegar a carta. Desdobrou o papel, se sentou no colchão e respirou fundo antes de começar a ler.

Suas sobrancelhas se moviam para cima, para baixo, ora juntavam, ora voltavam. Suas expressões iam de raiva para angústia, tristeza, receio, confusão...

Quando acabou, deixou o papel ao seu lado e passou as mãos no rosto novamente, sem saber o que fazer. Sabia que só a carta não era suficiente, ainda mais agora que Ethan disse que poderia mostrar. Não precisou falar, e Ethan sentou ao seu lado, segurando sua mão.

Gabriel fechou os olhos e se concentrou nas imagens que começaram a surgir em sua mente.

 

Rebeca abriu os olhos, assustada, já se sentando na cama. Soltou o ar pela boca, percebendo que tinha sonhado com o que acontecera. Seu rosto estava molhado, e ela o enxugou com os pulsos, virando-se para olhar pela janela, procurando uma distração. Dali, viu o mar e o sol, bem acima no céu.

— Ethan? — chamou, sem obter resposta. Sabia que não precisava gritar e, se ele não respondeu, é porque não estava ali. Talvez tivesse tido uma emergência e precisou sair por um período breve.

Se sentindo um pouco agoniada, Rebeca levantou, calçou seus sapatos e foi para o térreo. Da cozinha, viu o cômodo branco e, por um momento, ponderou se ela conseguiria sair dali sozinha, sem precisar depender do dono da casa.

Caminhou até lá e parou no centro da sala. Pensou por alguns segundos em como poderia sair dali e se lembrou do portal que fizera aparecer duas vezes. Será que ali ele também apareceria? Não custava tentar. Se concentrou, pensando para onde poderia ir. Para casa? Para a casa de Isabel? Ou de volta para Dy?

Sua intenção estava clara. Ela queria sair, só não tinha certeza para onde.

Demorou um pouco para perceber que uma porta surgira na parede, como se estivesse aberta e com uma cortina esbranquiçada, leitosa. Não era como os portais que fizera, onde conseguia ver o outro lado. Talvez estivesse daquele jeito por conta de sua indecisão, então seria melhor focar em um lugar.

Ela queria saber como estavam as coisas entre Isabel e Olívia, porém, não sabia se elas ainda estavam em Dy. Se Rebeca fosse para lá, pelo menos poderia pedir ajuda a Haziel.

Decidindo-se, visualizou o pátio de entrada da clínica, e o portal tomou forma. Conseguia ver árvores floridas do outro lado. Rebeca se sentiu orgulhosa, e o atravessou animadamente, saindo em uma pequena área aberta entre as árvores, que se estreitava em uma trilha, ao norte.

As árvores formavam um muro mais à frente, e o único caminho era a trilha. Rebeca nunca vira aquele lugar, mas imaginou que estivesse em algum outro canto do jardim da clínica. Andou para a trilha e a seguiu, ouvindo o som dos pássaros passeando acima de sua cabeça e viu, mais a frente, que a havia outra trilha seguindo para a esquerda, além da mesma que continuava para o norte.

Não havia qualquer sinalização, e Rebeca começou a achar que estava em um labirinto. Tentou se manter calma, afinal, estava perto de Haziel. Ela se colocou naquela situação, agora precisava sair, sozinha, e encontrá-lo.

Resolveu seguir reto. Felizmente o sol estava à pino, fazendo com que a floresta parecesse convidativa e alegre.

Poucos passos depois, a garota conseguiu ver um espaço entre as arvores e, chegando perto, notou que haviam duas árvores gigantescas, uma de cada lado da trilha. Olhando à direita, viu uma casa pequena, cheia de plantas trepadeiras floridas. A porta dianteira estava fechada, e ela se perguntou se havia alguém morando ali. Talvez fosse bom pedir ajuda sobre o caminho.

Continuou a trilha pelo meio e, antes de passar pelas duas árvores, bateu em algo invisível. Uma barreira. Tateou, estranhando por não conseguir ver absolutamente nada, e seguiu para a direita, para dar a volta. Mesmo depois da árvore, a barreira continuava sabe-se lá até onde. Rebeca não conseguia nem chegar perto da casinha.

— Ah, que ótimo...

Um barulho alto chamou sua atenção. A porta da casa se escancarou e uma figura de pele acinzentada saiu de lá encarando Rebeca como se ela fosse uma assassina. Ela, por sua vez, sentiu um arrepio na espinha de medo, assim como aquela sensação de fascínio que sentiu por Ludevik. Aquele cara também era Turnkstein.

— Como você entrou aí? — Ele perguntou, cauteloso, dando passos lentos em direção a ela.

— Eu não sei... Eu peguei um portal e acabei parando lá trás... — respondeu Rebeca quase de forma automática.

— Impossível. Não é qualquer um que pode entrar aqui.

— E-eu estava indo para Dy...

— Eu sei. Acabei de falar que não é qualquer um que pode entrar — repetiu ele, seriamente, deixando Rebeca ainda mais sem graça. — O que veio fazer aqui?

— Ah... — Ela piscou. Sua mente estava começando a ficar embaralhada. — Eu... vim procurar uma amiga...

— Quem é sua amiga?

— ... Isabel.

— Não tem nenhuma Isabel em Dy.

Rebeca queria explicar o que aconteceu, porém, não conseguia organizar seus pensamentos. Seu olhar estava preso no daquele homem, o que apenas piorava sua situação. Ela sabia o que aconteceria se continuasse ali.

— Você é dyotrreini — observou ele, com certa estranheza, como se não conseguisse entender como aquela garota foi parar lá. — Como você chegou aqui?

— Portal... — Rebeca se forçou a falar, perdendo cada vez mais a noção do que pensava. — Eu estava na... Ethan. Na casa do Ethan.

— Não conheço nenhum Ethan. Acho melhor você começar a explicar.

O rapaz se aproximou de Rebeca, sem qualquer restrição da barreira invisível, e lhe segurou o braço delicadamente, como se quisesse a orientar. No mesmo instante, ela apagou completamente.

Mesmo que tivesse perdido os sentidos, começou a andar junto do homem, que a guiava. Quem visse de fora, acharia que ela estava bem, andando e falando normalmente.

— Tudo bem... Você é dyotrreini? — começou ele, casualmente.

— Sim.

— O que veio fazer aqui?

— Encontrar Isabel.

— Ela trabalha em Dy?

— Não.

— De onde ela é?

— Dyo.

Ambos entraram na casa, em uma sala com janelas grandes, uma mesa de carvalho com quatro cadeiras, repleta de livros e arquivos, e algumas estantes nas paredes laterais.

O rapaz fez Rebeca se sentar em uma das cadeiras e se sentou na outra, ao seu lado, ficando de frente para ela.

— Onde você está?

— Dy.

— Não, você está em Dyo. Nos limites da dimensão. Como você chegou?

— Por um portal.

— Como uma dyotrreini conseguiu um portal?

— Eu pedi, e ele apareceu.

Ele suspirou. — Assim você complica as coisas... Vai ter que ficar aqui até alguém chegar para te levar.

Rebeca não concordou, não retrucou. Não teve nenhuma reação, a não ser continuar encarando o turnkstein.

— Você não parece ser perigosa, mas nunca se sabe... Por acaso você tem algum poder?

— Eu consigo sentir o que você sente com um contato físico.

— E como você conseguiu esse poder?

Ela hesitou alguns segundos. — Eu conquistei.

— Conquistou, é...? Qual seu nome?

— Rebeca.

— Meu nome é Minor. Sou o guardião desta fronteira para Dy... Isso nunca aconteceu comigo... Talvez seja melhor... — pensou consigo. Minor levantou e foi até uma das portas na parede da direita. — Entre aqui nesta sala. Vou deixá-la sozinha para que desperte.

Obedientemente, Rebeca pôs-se de pé e foi até a sala. Minor puxou o trinco da porta, a trancando, e voltou aos seus afazeres.

Alguns minutos depois, Rebeca começou, aos poucos, a voltar a sentir tanto sua mente quanto corpo. Conseguiu sentir seus pés no chão, os dedos formigando levemente. Foi recobrando a consciência e olhou ao redor do cômodo vazio, tentando se lembrar de onde estava.

Piscou de forma sonolenta, se sentindo dopada. Tudo parecia distante demais e aquilo não era uma sensação boa.

Tentou lembrar de alguém importante. Algum nome que poderia chamar. O único que estava fresco em sua cabeça era seu próprio, e Minor, sem saber a quem pertencia.

Ela esticou os dedos das mãos e as olhou. As fechou em punho e, mais uma vez, olhou ao redor, ficando mais atenta. Então, se lembrou do turnkstein que encontrara na barreira, e automaticamente pensou que ele a sequestrara. Ela estava dentro da casa? Em outro lugar? Onde exatamente era? Aquele lugar não era Dy, disso ela tinha certeza, mesmo que não soubesse por quê.

Foi até a janela, tentando encontrar um jeito de abri-la para fugir, mas não havia abertura, nem trinco, nem nada.

Sentindo um desespero começar a surgir, começou a chamar por Ethan.

Ethan, me ajuda! Eu... Eu não sei onde estou exatamente. Eu acho que estou em Dyo... Em uma... fronteira? Fronteira em Dyo...!

ETHAN!

Rebeca esperava que ele aparecesse em um piscar de olhos, entretanto, não foi o que aconteceu. Gritava em sua mente, para não correr o risco de chamar a atenção do outro homem, mas em vão.

Será que aquela casa tinha o mesmo escudo protetor do banho público de Roma?


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