Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 42
XLII - Intervir




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Quando chegaram ao hall de entrada, um dos funcionários veio falar com Haziel. Rebeca virou-se para Ethan, e obviamente ele já sabia o que ela iria pedir.

— Não posso.

— Claro que pode! Você é livre para usar seus poderes, não é culpa sua que elas estavam conversando...

Ethan soltou uma risada e negou com a cabeça. — Eu também estou curioso, mas não posso ouvir. Se tivermos que saber de toda a história, Isabel nos contará.

Rebeca resmungou baixinho e tentou se distrair com outra coisa. Analisou a arquitetura do prédio, as decorações e pinturas. Uma delas havia um garoto de cabelos encaracolados que lembrou muito Gabriel, e automaticamente pensou nele, sentindo a saudade apertar o peito. Considerar sua vida sem ele era doloroso, ainda mais pelo motivo que o fez se afastar.

De repente, seu estômago se apertou de uma forma violenta, quase dolosa, percebendo que estava morrendo de fome. Sua última refeição foi as panquecas doces de Ethan, e o café da manhã parecia ter sido há dias. Aliás, parecia que ela não dormia há tempos. Agora que parara de se mexer, o cansaço estava tomando seu corpo. Estava tão entretida nas novidades que não sentiu fome, sede ou qualquer outra coisa.

— Você já está fora da sua dimensão há muito tempo — avisou Ethan, lhe tocando nas costas. — Precisa comer e descansar.

Rebeca não quis nem abrir a boca para retrucar. Claro que ela queria ficar ali para saber como as coisas estavam entre Isabel e Olívia e conversar com Haziel, porém, concordava muito com o que Ethan dissera.

Haziel voltou após se despedir do rapaz que conversava, olhou rapidamente para Ethan e observou Rebeca.

— Não se preocupe, teremos muitas oportunidades de conversar. Eu sempre estarei aqui, e sabe que pode me chamar se precisar — comentou, bondosamente.

Ela sorriu. — Eu sei. Agora eu concordo com Ethan, estou exausta.

— Vá descansar. Nos vemos outro dia.

Eles se despediram com um abraço apertado, e Rebeca seguiu Ethan para a outra saída do prédio. Desceram as escadas e pararam no meio do pátio.

— Para onde quer ir? — indagou Ethan, gentilmente.

— Posso ir para a sua casa?

— Claro.

No instante seguinte, estavam no cômodo branco da casa de Ethan. Ele se adiantou, indo na frente até a cozinha.

— Quer comer algo antes de dormir?

— Pode ser... — Rebeca se sentou na banqueta da ilha. — Que horas são em casa?

— Treze horas e vinte e dois minutos — respondeu ele abrindo a geladeira e pegando alguns itens.

— Ainda não consigo acreditar nisso, em como o tempo é tão diferente aqui e lá. — Deu uma risadinha.

— Bom, a diferença é enorme.

— É... Alguma novidade?

Ethan estava montando um sanduíche, passando uma pasta cremosa nas fatias do pão, que parecia ser integral, e colocando algumas folhas e outras coisas que Rebeca não conseguiu identificar. Deixou água fervendo em um bule e despejou nas duas xícaras, já com as ervas para o chá.

— Gabriel está ajudando Cecília na loja, mas está com a mente na carta que guardou na gaveta.

— Você acha que ele vai ler?

— Ainda não sei, ele não se decidiu. Não recusou a ideia de ler, entretanto, também não afirmou se vai. — Serviu o sanduiche em um prato para Rebeca e deixou a xícara ao lado. Ela prontamente começou a comer. — Também não quero te dar esperanças, mas acredito que ele esteja minimamente mais inclinado a afirmar que vai.

— Eu também não quero ter esperança... — E deu um bocejo depois de tomar um gole de chá. Tentou comer mais rápido para ir dormir logo.

— Já venho — falou Ethan, indo para a sala.

Rebeca terminou o lanche em mais três mordidas e tomou o chá enquanto pensava em Gabriel. Será que ele demoraria a ler? Se é que iria mesmo. Ela debruçou-se sobre o mármore branco, tentando imaginar como seria sua vida caso ele não lesse e não a perdoasse. Como seria na escola, na caminhada de volta, nos almoços de domingo... Talvez eles parassem de acontecer...

Alguns minutos depois, Ethan voltou, encontrando Rebeca cochilando. Ela não acordou, nem mesmo sentiu, quando foi pega no colo e colocada na cama. Estava exausta demais.

Assim que a cobriu, sentou-se ao seu lado e a observou, lembrando de todas as vezes que a viu dormir da mesma maneira. Cansada, triste e desorientada pela falta de Gabriel. Foram várias em cada vida, não bobas em algumas, e pesadas em outras. Eram coisas inevitáveis da vida. Nunca era perfeito por muito tempo. E, apesar de estar sempre por perto, Ethan nunca se intrometeu. Não acreditava ser certo, afinal, eles precisavam enfrentar seus desafios sozinhos, sem intervenção dele.

Ele continuava achando que não era certo, porém, estava começando a ficar cansado daquilo. Era sempre a mesma coisa. Estava cansado por Rebeca e por Gabriel, depois de tantas vidas, de tantos problemas, guerras, distâncias e as diversas coisas que sempre os atrapalhavam. Isso quando não eram eles mesmos que eram orgulhosos demais para ceder.

Talvez não tivesse problema se ele intervisse dessa vez. Não era como se houvesse um fiscal de intervenções Dyoeini. Ninguém o repreenderia por ajudar um jovem casal a se acertar.

Ethan sempre percebeu que, quando ficava perto de Rebeca, acabava pegando certas características dela, e uma delas era a hiperatividade.

Decidido, levantou-se e verificou rapidamente se Gabriel estava sozinho. Em um piscar de olhos, apareceu em seu quarto. O garoto estava tamborilando os dedos em sua escrivaninha e, ao virar, deu um grito de susto e bateu contra a mesa, indo para trás em uma reação automática.

— Desculpe...

— Não. Não. Eu não vou te ouvir.

— Você quer ler a carta, Gabriel.

— Você não sabe de nada... Pode saber, mas não eu quero saber. Não.

— Eu já vi essa cena milhares e milhares de vezes e vocês dois sempre acabam do mesmo jeito. Não seja tão duro dessa vez — pediu, delicadamente.

Gabriel cruzou os braços, sentindo a curiosidade bater sobre o que Ethan dissera, porém, se recusando em perguntar.

— Sei que você quer pensar por si próprio, não quer ser influenciado por mim ou por Isabel, mas você está perdendo um tempo que poderia estar com Rebeca, e você já pensou nisso em todas as suas vidas em que a conheceu. Que estava perdendo tempo, ao invés de estar com ela.

Sim, ele estava perdendo tempo. Sabia daquilo, e ainda assim, tinha medo de ler aquela carta e se decepcionar ainda mais. Tinha medo de sua própria reação sobre as palavras dela.

— Sabe, eu cansei de apenas observar vocês, se resolvendo ou não, durante todos esses milênios de vidas. Eu nunca fiz o que estou fazendo agora, e estou aqui, para tentar te convencer a ler. Só ler. Não estou aqui para te convencer a perdoá-la, ou ir atrás dela. Não. Só a ler a carta.

— Depois do que vocês fizeram, não sei se vale a pena.

— Não foi do jeito que você viu, Gabriel. Você viu cenas das mais diversas vidas que Rebeca teve, que eu tive. Nada daquilo é recente. Rebeca explicou isso na carta.

Baixando o olhar para o chão, Gabriel lutou consigo mesmo sobre aquela decisão. Ler ou não ler? Como aquelas cenas não eram atuais?

— Eu posso te mostrar tudo. Apenas depois de você ler. Tenho todo o tempo do mundo para esperar sua decisão.

— Ela sabe que você veio?

— Não. Ela está dormindo. Fez muitas coisas e estava exausta.

— Que coisas?

— Isabel a levou para conhecer sua casa, elas foram para Dyo, conheceram um amigo de Isabel que quase a hipnotizou, eu precisei intervir, depois fomos até Dy nos encontrar com Haziel... Muitas coisas.

Gabriel pensou, brevemente, que queria ter ido junto, mas lembrou do motivo que o fez estar ali, sozinho no quarto em um sábado à tarde.

Sons de passos no piso de madeira ecoaram pelo andar, apressados, e a porta do quarto foi escancarada por uma mulher que Ethan nunca tinha visto pessoalmente, a não ser...

— Oi, bebê! — exclamou ela, sorridente, correndo para abraçar Gabriel.

Ele arregalou os olhos e devolveu o abraço, totalmente espantado. — Mãe, o quê...

— Esqueci de falar “surpresa”. — Ela o apertou, fazendo sair um resmungo do seu filho. O soltou e se afastou, segurando seu rosto. — Ah, que saudade. Bom ver que sua vó não te contou a surpresa.

— Ela sabia...?

— Claro, seria ruim se viéssemos sem avisar, não acha?

— É, bom... — Seu olhar foi rapidamente para Ethan, fazendo sua mãe reparar no homem parado ali ao lado.

— Ah, me desculpe, sua vó não me avisou que você estava com um amigo. Olá, muito prazer, me chamo Gillian. — Ela estendeu sua mão para Ethan, que a pegou em um comprimento simpático.

— Ethan. Prazer em conhecê-la... — Ele evitou ler a mente daquela mulher, mas era impossível não ouvir, já que ela praticamente gritava a novidade que queria contar ao filho.

— Meu pai também veio? — perguntou Gabriel.

— Veio sim. Está lá em baixo. Ele preferiu não te assustar também. Será que você se importa se eu roubar meu filho por uns instantes? — Virou-se para Ethan com um sorriso.

— De forma alguma. Eu espero.

— Vem, vamos! — Gillian puxou Gabriel pelo braço para fora do quarto.

Dali de cima, Ethan ouviu as conversas animadas dos pais do garoto, que enrolaram um pouco para dar a notícia do porquê de estarem ali.

— Então, você tem alguma ideia? — Einar, pai de Gabriel, indagou.

— Do quê? — Gabriel soou confuso. Ele estava aturdido com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.

— Do por que estamos aqui.

— Ah... Vieram visitar o filho de vocês?

— Também — concordou Gillian animadamente. — E também viemos procurar uma casa.

— Vocês... querem morar aqui?

— Sim! Cansamos de ficar longe de você, já que você não quer voltar para a cidade. E além do mais, queremos ficar mais juntos do que nunca.

— Por quê...?

— Você vai ganhar um irmãozinho! — interrompeu ela, feliz da vida. — Ou irmãzinha, ainda não sabemos!

Gabriel observou seus pais com a surpresa estampada no rosto. — Hm... Legal.

— Que foi? Você sempre quis um irmão — disse Einar. — Não está feliz?

— Sim, claro. Estou sim. — Gabriel tentou animar sua voz. — Que bom que vocês resolveram morar aqui.

— Depois nós vamos sair por aí para ver as casas — falou Gillian. — Pode voltar para o seu amigo, viu?

Ele concordou e subiu para o quarto, ainda atordoado.


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